Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

A Escola de Atenas (1510/11)1
(Raffaello Sanzio, 1483-1520)
Vaticano, Stanza della Segnatura

 

 

Na vida post mortem haverá (auto)consciência?2

Na vida post mortem estará assegurada a inteligência?

Na vida post mortem será mantida a individualidade?

Na vida post mortem haverá algum tipo de continuidade?

 

Para um Místico, essas coisas não têm qualquer interesse;3

seu comportamento moral não muda um erre ou um esse.

Seus imperativos morais4 tendem a se confundir com a Ética,5

que é eterna, boa, bela, perfeita, justa, impessoal e estética.6

 

 

 

 

_____

Notas:

1. Platão, um dos grandes filósofos da Antigüidade, representando a filosofia abstrata e teórica, segura uma cópia do seu livro Timæus e aponta para o alto, para o mundo das formas ideais...

2. Na obra A Chave para a Teosofia, Helena P. Blavatsky informa: ... a Ética é a alma da Religião-Sabedoria, e foi, um dia, propriedade comum dos Iniciados de todas as nações... O Buddhismo exotérico... representado pela Igreja do Sul, nega totalmente a existência de qualquer Divindade e qualquer vida 'post mortem' consciente, ou mesmo qualquer individualidade autoconsciente no homem que o sobreviva.

3. Por que, simplesmente, ele não vive ou age em função dessas coisas. Não é o que tiver que ser será; apenas um Místico não se preocupa com hipoteticidades, no sentido de direcionar suas ações para a obtenção de perdões, regalias ou lugares especiais depois da morte. Para um Iniciado, essas coisas são mesquinhamente ridículas.

4. Sempre categóricos. O imperativo categórico, em termos gerais, é uma obrigação incondicional, ou uma obrigação que temos independentemente da nossa vontade ou desejos (em contraste com o imperativo hipotético). Segundo Immanuel Kant (1724-1804), todas as obrigações morais devem seguir o imperativo categórico: Age de tal modo que a máxima da tua ação possa se tornar princípio de uma legislação universal.

5. A Moral é humana; a Ética é cósmica ou universal. A grande questão dialético-metafísica é se o Universo é ético (bom, belo, perfeito, justo, impessoal e estético) e teleológico, ou se essas categorias (e outras mais) são transposições da consciência humana para o próprio Universo, assim como os conceitos de bondade, providência, onipotência etc. foram e são transferidos para todos os deuses criados pelo homem. A teleologia é qualquer doutrina que identifique a presença de metas, fins ou objetivos últimos guiando a Natureza e a Humanidade, considerando a finalidade como o princípio explicativo fundamental na organização e nas transformações de todos os seres da realidade. A teleologia, enfim, estuda os fins últimos da sociedade, da Humanidade e da Natureza.

No aristotelismo, para quem as coisas servem a um propósito, a teleologia é a doutrina fundamentada na idéia de que tanto os múltiplos seres existentes, quanto o Universo como um todo direcionam-se, em última instância, a uma finalidade que, por transcender a realidade material, é inalcançável de maneira plena ou permanente. A teleologia busca responder o para-quê de todas as coisas. Aristóteles tinha uma resposta: para o Motor Imóvel. Em uma palavra: Deus. Aristóteles situa a ciência da praxis em uma perspectiva de estrutura teleológica para a investigação e a determinação de seu fim, de seu objetivo — o aspecto formal como fim-em-si-mesmo. O Bem-em-si-mesmo é o fim a que todo ser aspira, resultando na perfeição, na excelência, na arte ou na virtude. Todo ser dotado de razão aspira o Bem como fim que possa ser justificado pela razão. (Teoricamente, okay; o que se está assistindo no mundo todo tem demonstrado exatamente o oposto.)

No hegelianismo, a teleologia é a teoria segundo a qual o processo histórico da Humanidade – assim como o movimento de cada realidade particular – é explicável como um trajeto em direção a uma finalidade que, em última instância, é a realização plena e exeqüível do espírito humano.

Precisamos, então, chegar a um acordo em relação a tudo isso. Primeiro: haverá um Motor Imóvel ou Deus como queria Aristóteles? Segundo: haverá metas, fins ou objetivos últimos guiando a Natureza e a Humanidade? Quem guia? Terceiro: haverá um direcionamento para uma finalidade predeterminada? Quem direciona? Quarto: haverá um trajeto em direção a uma finalidade que seja a realização plena e exeqüível do espírito humano? O que é realização plena e exeqüível do espírito humano? Temos que ter muito cuidado para não metermos na cabeça idéias preconcebidas, sem amparo Místico derivado de uma experiência pessoal, que nos façam rolar para um abismo de incompreensões. Por isso, muito cuidado, por exemplo, com os Buddhismos exotéricos espalhados por aí, mais confundindo do que explicando.

Estou rouco de tanto digitar que a Verdade (ainda que sempre e irredutivelmente relativa) está dentro (in Corde); jamais poderá ser encontrada fora. As religiões, de uma maneira geral, deturparam os Mistérios por interesses meramente temporais e seculares; sempre, para auferirem todas as vantagens possíveis, divulgaram a idéia absurda e interesseira que os seres humanos têm prazo de validade e defeito de fabricação. Isto é um ponto final que não permite qualquer conciliação. É por isso que, por exemplo, o Imperator Christian Bernard, FRC, em sua carta anual aos estudantes da AMORC, divulgada esta semana, denuncia mais uma vez as perseguições contra os Rosacruzes na França e uma série de difamações contra o Rosacrucianismo. Não interessa, jamais interessou e não sei se um dia interessará a liberdade de pensamento, conforme é ensinada na Sociedade Teosófica, na AMORC e em outras Fraternidades, nomeadamente as Rosacruzes.

6. Estética é a parte da Filosofia voltada para a reflexão a respeito da beleza sensível e do fenômeno artístico. No kantismo, a Estética estuda os juízos por meio dos quais os seres humanos afirmam que determinado objeto artístico ou natural desperta universalmente um sentimento de beleza ou sublimidade. No hegelianismo, a Estética estuda a beleza artística, que apresenta em imagens sensoriais, ou representações sensíveis, a verdade do espírito, do princípio divino, ou da idéia.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Immanuel_Kant

http://www.educ.fc.ul.pt/icm/icm2000/icm33/Rafael.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Teleologia

 

Fundo musical:

Vivace op 7 (Chopin)

Fonte:

http://www.piano-midi.de/chopin.htm