Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

As Esposas

 

 

 

 

O mais nobre prædicamentum

é a iluminante liberdade.1

Em qualquer que seja o momentum:

 

 

O H. sapiens não chegou até aqui

para se arquear e dobrar seus joelhos,

e, menos ainda, para dar uma de tatuí

ou para caramujar como os borrelhos.

 

 

Aquele que vive amedrontado,

choroso, se será salvado ou se não,

morrerá como viveu: no estado.

 

 

Portanto, é preciso pôr de lado

toda e qualquer inquietação.

2

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Talvez eu tenha forçado um pouco a barra dizendo que o mais nobre prædicamentum (categoria) é a iluminante liberdade. Mas como já digitei e o soneto está pronto, ficará assim. Mas reconheço que há prædicamenta (categorias) que são fundamentais. Entretanto, raciocine comigo: poderá haver, por exemplo, categoricamente, humildade, caridade e bondade sem liberdade? Humildar, fazer caridade e esforçar-se para ser bom porque, para, se... é pueril e não adianta absolutamente lhufas nem bulhufas! O Universo é categórico; não é hipotético.

2. A priori, não há nada sacramentado. A posterirori, depende de cada um. É por isto que existe o Devachan. Leia a explicação que o Mestre Kut Hu Mi deu em uma de suas cartas: Mal é um termo relativo, e a Lei de Retribuição é a única Lei que nunca erra. Portanto, todos os que não desapareceram no seio do pecado irremissível e da bestialidade vão ao 'Devachan'. Mais tarde, terão que compensar, voluntária ou involuntariamente, pelos seus pecados.* Entretanto, recebem os efeitos das causas que geraram. O 'Devachan' é um estado, digamos, de intenso egoísmo, durante o qual o Ego (combinação do Sexto e Sétimo Princípios) colhe a recompensa do seu altruísmo na Terra. Está completamente mergulhado na felicidade de todos os seus afetos pessoais, preferências e pensamentos terrenos, e recolhe o fruto de suas ações meritórias. Nenhuma dor, nenhuma pena, nem mesmo a sombra de uma aflição obscurecem o brilhante horizonte de sua incontaminada felicidade, porque é um estado de perpétuo 'mâyâ'. Vai ao 'Devachan' o ego pessoal, mas beatificado, purificado, santificado. Todo Ego que, depois do período de gestação inconsciente, renasce no 'Devachan' é necessariamente tão puro e inocente como uma criança recém-nascida. O fato de haver renascido comprova, já por aí, a preponderância do bem sobre o mal em sua velha personalidade. E, enquanto o 'karma' (do mal) fica temporariamente suspenso, para segui-lo mais tarde em sua futura encarnação terrena, ele só leva ao 'Devachan' o 'karma' de suas boas obras, palavras e pensamentos.

* Pecado, neste fragmento, deve ser entendido como violação de uma Lei Cósmica, consciente ou inconscientemente (como é o caso, por exemplo, da destruição da Natureza e do assassinato voluntário cometido com premeditação contra os nossos irmãos animais para os mais diversos fins). Não tem o sentido religioso e estático de que se não houver arrependimento e perdão concedido o indivíduo irá penar eternamente em um inferno ou em algo parecido, sem possibilidade futura, por assim dizer, de remissão por compensação e compreensão, ainda que a palavra remissão não seja adequada para explicar o funcionamento da Lei da Retribuição. Melhor mesmo é se pensar primeiro em compensação involuntária e inconsciente, porque ao nascer a compreensão as formas de compensação podem, em muitos casos, ser escolhidas voluntária e conscientemente. O que não existe mesmo é paraíso e inferno definitivos. Na verdade, eles estão em nossos Corações como criações temporárias derivadas de nossos pensamentos, palavras e atos.

 

Observação:

A animação em flash As Esposas foi elaborada a partir de um anexo que recebi em um e-mail. Não conheço o autor, mas são dele os direitos legais e autorais da animação.

 

Fundo musical:

Se Todos Fossem Iguais a Você
Compositores: Antônio Carlos Jobim & Vinícius de Moraes

Fonte:

http://www.beakauffmann.com/mpb_s.html