Rodolfo
Domenico Pizzinga
—
Uma esmolinha, tenha piedade de mim!
— Dou pra você e tiro da minha
família?
— Só uma moedinha, tenha
caridade por mim!
— Não posso; tenho que trocar
a mobília.
—
Uma esmolinha, pelo amor de Deus!
— Não dou; vá trabalhar,
vagabunda.
— Só uma moedinha, pelo amor
de Deus!
— Não dou; chegue pra lá,
sua imunda.
—
Uma esmolinha, pruma mãe faminta!
— Arrede; não encha; não
atravanque.
— Só uma moedinha, pruma
mãe faminta!
— Ô fedorenta: cale a boca,
se manque.
—
Uma esmolinha, meu, por compaixão!
— Vou acabar lhe enchendo de porrada.
— Só uma moedinha, meu, por
miseração!
— Tome esta. Agora, chore aí
na calçada.
—
Oh!, por favor, meu,
não me bata!
— Bato sim; você tem que aprender.
— Respeite minha filha; não
me bata!
— Azar o dela; quem mandou nascer?
—
Que Deus perdoe sua insanidade!
— Deus me ama; eu sou um trabalhador.
— Espero que você mude
sua mentalidade!
— Vou lhe bater até você
mudar de cor.
................................
O tempo
passou, passou, passou...
E o cruel-bem-posto-na-vida perdeu tudo.
Na mesma calçada, esmolando, lembrou
da mãe negra. E, de pejo, chorou
mudo!