O
Sol brilha mais do que nunca para os habitantes da Terra. Pelo menos,
os cientistas nunca o viram brilhar tanto, desde os anos 1960. É
o que mostra uma série de estudos publicados na última
edição da revista científica Science:
http://www.sciencemag.org
De
acordo com os pesquisadores, a superfície da Terra tem recebido
mais radiação solar do que costumava antes dos anos
1980. E a culpa por isso não é da estrela.
As
mudanças que vemos no Sol são mais de uma ordem de
magnitude menores do que as que vemos na superfície terrestre,
explica Martin Wild, do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça,
autor de um dos estudos.
As
conclusões de seu grupo vêm de estações
de monitoramento de incidência de radiação espalhadas
pelos cinco continentes.
E
os resultados são consistentes com os obtidos
por Rachel Pinker, da Universidade de Maryland, e colegas, em outro
estudo, feito com medições de satélites.
Segundo
os cientistas, entre os anos 1960 e 1980 se viu uma redução
da radiação que atinge o solo, fenômeno apelidado
de escurecimento global (global dimming, em inglês).
Agora, a partir dos anos 1990 a tendência parece ter se revertido.
Seja
lá o que esteja causando essas flutuações,
se não está acontecendo no Sol, só pode estar
ocorrendo na atmosfera terrestre. Wild vê nisso uma boa e
uma má notícia. A boa é que em muitas partes
do mundo a atmosfera se tornou mais limpa, parcialmente por conta
de controle de poluição eficiente, que permite que
mais luz solar atinja a superfície, diz. Em compensação,
continua Martin Wild, o escurecimento solar não está
mais lá para contrabalançar o crescente efeito estufa.
Eu acho que é importante diferenciar o período dos
anos 1960 aos 1980, em que o escurecimento mascarou o aquecimento
global, e o período mais recente dos anos 1980 aos 2000,
em que não houve mais escurecimento para contrabalançá-lo.
A
mesma edição da Science também retoma
uma velha controvérsia: o brilho da Terra em si está
aumentando ou diminuindo? Por
um estudo publicado na revista no ano passado, ele estava aumentando.
Mas,
agora, um novo estudo, liderado por Bruce Wielicki, do Centro de
Pesquisa Langley, da NASA (National Aeronautics and Space Administration),
mostra o contrário: o brilho da Terra estaria diminuindo.
Quem, afinal, tem razão?
O
atual estado da questão é controverso, diz Enric
Pallé, autor do estudo do ano passado. Wielecki e seus
colegas encontraram uma redução, mas nosso grupo e
outro estudo independente encontram a mesma tendência que
vimos no período 1998-2004, afirmou. Além
disso, os dois estudos que aparecem na ‘Science’ agora
parecem confirmar nossos resultados e contradizer as estimativas
de mudanças do albedo [brilho] terrestre com base
em satélite [o estudo de Wielecki] nesse período
de tempo. Então há evidência de que nossos dados
não estão completamente errados.
Para
John Seinfeld, pesquisador do Caltech, na Califórnia, que
escreveu com outros dois autores um comentário sobre os estudos,
na mesma Science, a questão é controversa,
e não dá para confiar em nenhuma das conclusões.
Somos
todos responsáveis!