ESCOLHIDOS E FAVORITOS

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

Ninguém deveria conjecturar

que é escolhido ou favorito;1

todos deveríamos, sim, tornar

nosso disco rígido maxibendito.

 

Ninguém deveria se dedicar

em deslocalizar montanhas;

todos deveríamos nos esforçar

em deixar de ser tataranhas.

 

Ninguém deveria pretender

sobre as águas a pé andar;

todos deveríamos o objeto ter

 

Ninguém deveria esperar

milagres e arrebatamentos;

todos deveríamos nos aplicar

em atenuar abaixamentos.

 

Ninguém deveria expectar

uma fatual Parúsia de Jesus;

todos deveríamos desinfectar

o bodum e o pestilento pus.

 

Ninguém deveria paraliticar

ante perturbatórias aporias;

as Leis ocultas nas alegorias.

 

Se de joelhos continuarmos,

a encarnação terá sido desútil.

Mas, se para dentro olharmos,

haveremos de atenuar o fútil.

 

A vida tem três propósitos:

sairmos da caverna da ilusão,

transmutarmos os compósitos

e nos livrarmos da ignoração.

 

Muito tenho me empenhado

para transmitir estes conceitos,

 

 

 

 

 

 

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Nota:

1. Isto tudo é mesmo uma chatice chata, chatíssima e alucinantemente chatérrima! E, de tanto falar nisto, eu acho que estou ficando meio chatureba; mas é preciso. Então, vamos nessa: não há escolhidos nem favoritos; não há predestinação para a direita nem para a esquerda, nem a montante nem a jusante; não há salvação nem condenação por isto ou por aquilo, ou pior, porque já foi decidido a priori por sei-lá-quem, que alguns pensam que sabem quem é o tal do sei-lá-quem, mas que ninguém pode saber quem é o sei-lá-quem, simplesmente porque não existe este tal de sei-lá-quem, nem aqui pertinho, nem lá longinho, nem onde Judas perdeu as sandálias havaianas. Nunca houve, não há, nem jamais poderá haver essa coisa pueril, absurda, preconceituosa e esdrúxula de povo escolhido de Deus ou malta predestinada a queimar na fogueira do anhangüera, simplesmente porque... Porque não pode. E acabou-se. Como poderia haver? Por quê? Com base em quê? Tudo conversa-fiada para boi dormir, mas que, desgraçadamente, faz com que muitos acreditem piamente, e encham as sacolinhas dos religiocratas com a bufunfa suada do labor diário, no fundo, mandinguentamente, fazendo negócios com Deus! Isto, muito mais do que pueril e absurdo, é lamentavelmente revoltante, tanto da parte de quem instiga, quanto da parte de quem mastiga. Ou será que, em decorrência desta manobra ilícita – maracutaia mesmo! – algum bocó imagina que, sei lá onde, mas, provavelmente, sentado em uma nuvem, haja um assevino (assessor divino), escolhido a dedo, selecionando minuciosamente e escrevinhando em um livrinho: este, porque pagou o trízimo em dia e colaborou sem chiar, foi escolhido e será arrebatado; estoutro, porque foi infiel e zuraco, foi desescolhido in limine, e vou mandá-lo direto para o buraco quente do arrenegado. Aquele, porque prometeu e cumpriu direitinho, vai para a lista dos favoritos; aqueloutro, porque peidorreia, eructa e fede a bode velho, vai para a lista dos proscritos. Esse aí, porque arrumou um calo no joelho de tanto rezar, me dá pena, e ficará ao nosso lado; essoutro, porque trocou de religião, não vale a pena, e vou largá-lo por aí a esmo abandonado, a pão mofado e a laranja apodrecida. Ora – caramba! – ninguém decide ou escolhe por nós; somos nós que decidimos e escolhemos por meio do nosso mais ou menos conseqüente livre-alvedrio. Se quisermos, poderemos nos escravizar aos Irmãos das Sombras; ou, se desejarmos, poderemos optar por servir desinteressadamente aos Irmãos da Grande Loja Branca. O carnê é nosso, e nossa é a responsabilidade, ou seja; isto é entre nós e nossa consciência, e, em princípio, ninguém interfere. Por tudo isto, entretanto, não devemos esquecer: água que não se move apodrece e cobra que não anda não engole sapo. Mas, que encher as sacolinhas de óbolos dos religiocratas não adianta lhufas, isto não adianta mesmo lhufas de lhufas. Agora, se você tem alguma dúvida sobre esta argumentação, não tem importância: tenha bons pensamentos, seja digno e só faça o bem, que, no tempo certo e na hora própria, tudo estará resolvido.

 

 

 

 

 

Músicas de fundo:

All the Way
Composição: Jimmy Van Heusen (música) & Sammy Cahn (letra)
Interpretação: Kenny G
One for My Baby (and One More for the Road)
Composição: Harold Arlen (música) & Johnny Mercer (letra)
Interpretação: Frank Sinatra

Fonte:

http://www.mp3chief.com/music/
one-for-my-baby-ella-fitzgerald/

 

Páginas da Internet consultadas:

http://graphicleftovers.com/graphic/priest/

http://pensadorlivre-bill.blogspot.com.br/2011/
04/qual-diferenca-entre-ser-escolhido-por.html

http://www.webweaver.nu/
clipart/halloween/ghosts2.shtml

 

Direitos autorais:

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