Sobre
sua estada em Paris: Durante esse tempo de antagonismos, pela
manhã me sepultava entre eletrômetros e provetas e anoitecia
nos bares, com os delirantes surrealistas. No Dome e no Deux Magots, alcoolizado
com aqueles enviados do caos e da transgressão, passávamos
horas elaborando cadáveres refinados.
Sobre
sua obra Sobre
Heróis e Tumbas:
Quando decidi usá-lo
em meu romance, não era, de modo algum o desejo de exaltar Lavalle,
nem de justificar o fuzilamento de outro grande patriota como foi Dorrego,
mas, sim, de conseguir através da linguagem poética o que
jamais se consegue através de documentos de partidários e
inimigos: tentar penetrar nesse coração que abriga o amor
e o ódio, as grandes paixões e as infinitas contradições
do ser humano em todos os tempos e circunstâncias, o que só
se consegue através do que se deve chamar de poesia, não no
sentido estreito e equivocado que é dado em nosso tempo à
esta palavra, mas, sim, em seu mais profundo e primordial significado.
Eu
sou um anarquista! Um anarquista no sentido melhor da palavra. O povo crê
que anarquista é aquele que põe bombas, mas anarquistas foram
os grandes espíritos, como, por exemplo, Leon Tolstoi.
A
esperança não será a prova de um sentido oculto da
existência, uma coisa que merece que se lute por ela?1
Creio
que a verdade é perfeita para a Matemática, para a Química,
para a Filosofia, mas, não para a vida. Na vida, contam mais a ilusão,
a imaginação, o desejo, a esperança.2
A
vaidade é um elemento tão sutil da alma humana que a encontramos
onde menos se espera: ao lado da bondade, da abnegação, da
generosidade!3
Os
best-sellers estão para a Literatura como a prostituição
está para o amor.
Estamos
próximos, mas, estamos há uma distância incomensurável;
estamos próximos, mas, estamos sós.
Quem
sabe, se o que nós fizemos até agora é, simplesmente,
supervalorizar a sensatez, que, com freqüência, é simples
mediocridade?
O
homem não pode se manter humano a esta velocidade; se viver como
um autômato será aniquilado. A serenidade, uma certa lentidão,
é tão inseparável da vida do homem como a sucessão
das estações é inseparável das plantas ou do
nascimento das crianças. Estamos no caminho, mas, não a caminhar,
estamos em um veículo sobre o qual nos movemos incessantemente, como
uma grande jangada ou como essas cidades satélites que dizem que
haverá. E ninguém anda a passo de homem, por acaso algum de
nós caminha devagar? Mas, a vertigem não está só
no exterior; nós a assimilamos na nossa mente, que não pára
de emitir imagens, como se também fizesse zapping [prática
do telespectador que muda freqüentemente de canal por meio do controle
remoto ou afliceta no dedinho]. Talvez,
a aceleração tenha chegado ao coração que já
lateja em um compasso de urgência para que tudo passe rapidamente
e não permaneça. Este destino comum é a grande oportunidade,
mas, quem se atreve a saltar para fora? Já nem sequer sabemos rezar
porque perdemos o silêncio e também o grito. Na vertigem, tudo
é temível e desaparece o diálogo entre as pessoas.
O que nos dizemos são mais números do que palavras, contém
mais informação do que novidade. A perda do diálogo
afoga o compromisso que nasce entre as pessoas, e que poderá fazer
do próprio medo um dinamismo que o vença e que lhes outorgue
maior liberdade. Mas, o grave problema é que nesta civilização
doente não há só exploração e miséria,
mas, também, uma correlativa miséria espiritual. A grande
maioria não quer a liberdade, teme-a. O medo é um sintoma
do nosso tempo. A tal extremo que, se rasparmos um pouco a superfície,
poderemos verificar o pânico que está subjacente nas pessoas
que vivem sob a exigência do trabalho nas grandes cidades. A exigência
é tal que se vive automaticamente sem que um sim ou um não
tenha precedido os atos.
Ser
original é, de certo modo, dar a conhecer a mediocridade dos outros.
Viver
consiste em construir recordações futuras.
A
vida é tão curta e o ofício de viver tão difícil,
que, quando começamos a aprendê-lo, temos de morrer.4
As
modas são legítimas nas coisas menores, como o vestuário.
No pensamento e na arte, são abomináveis.
O
artista deve ser uma mistura de criança, de homem e de mulher.
Buster
Keaton e Joe E. Brown
Arte
e Literatura se unificam naquilo a que chamamos poesia
As
ficções salvam os que as escrevem e os que as lêem.
Um
bom escritor exprime grandes coisas com pequenas palavras; pelo contrário,
o mau escritor diz coisas insignificantes com palavras grandiosas.
A
História não é mecânica, porque os homens são
livres para a transformar.5
O
imperativo de não torturar deve ser categórico, não
hipotético. A tortura é um mal absoluto, não relativo;
não existem torturas maléficas e torturas benéficas.
Toda
a obra de ficção é catártica.
Eu
escrevo para procurar o sentimento da existência, senão, estaria
morto.
Ao
que parece, a dignidade da vida humana não estava prevista no plano
da globalização.
Se
cruzarmos os braços, seremos cúmplice de um sistema que tem
legitimado a morte silenciosa.
A
vaidade é tão fantástica, que nos induz a nos preocupar
com o que irão pensar de nós, depois de estarmos mortos e
enterrados.
A
maravilha é que os homens continuam a lutar e a criar beleza no meio
de um mundo bárbaro e hostil.
Deus
existe, mas, às vezes, dorme. Seus pesadelos são a nossa existência.6
Sempre
tive medo do futuro, porque no futuro, entre outras coisas, está
a morte.7
A
maneira de contribuir para a proteção da Humanidade é
não se resignar.
Deus
é um pobre diabo, com um problema muito complicado para Suas forças.
Luta com a matéria como um artista com a sua obra. Às vezes,
em algum momento, consegue ser Goya, mas, geralmente é um desastre.
O
mundo é uma sinfonia, mas, Deus toca de ouvido.
Um
criador é um cara que em algo perfeitamente conhecido encontra aspectos
desconhecidos. Mas, acima de tudo, é um exagerado.
É
sempre o outro que nos salva. E, se atingimos a idade que temos, é
porque os outros foram incessantemente salvando nossas vidas.8
Ironicamente,
modificando a famosa frase de Marx, já disse em várias entrevistas
que a televisão é o ópio do povo.9
Nada
do que foi voltará a ser, e as coisas, os homens e as crianças
não são o que foram um dia.
Haverá
sempre um homem, apesar de sua casa estar desarrumada, que se preocupa com
o Universo. Haverá sempre uma mulher que, embora o Universo entre
em colapso, esteja preocupada com a sua casa.
Discute-se
se Salvador Dalí foi autêntico ou farsante. Mas, qual é
o sentido de se dizer que alguém passou a vida fabricando uma farsa?
Tudo
indica que a Terra está a caminho de se tornar um deserto superpovoado.
O mundo nada pode contra um homem
que canta na miséria.
Não há nenhum homem
absolutamente livre. Ou é escravo da riqueza, ou da fortuna, ou das
leis, ou das pessoas, que o impedem de realizar sua própria vontade.
O homem que pede aos deuses a morte
é um louco. Na morte, não há nada tão bom quanto
as misérias da vida.
Na
bondade [misericórdia]
estão compreendidos todos os gêneros de sabedoria.
É
sempre um pouco sinistro voltar aos lugares que testemunharam um momento
de perfeição.
Por
que essa mania de querer encontrar explicação para todos os
atos da vida?10
Cada
manhã, milhares de pessoas renovam sua busca inútil e desesperada
por trabalho. São os excluídos – uma categoria nova
que nos fala tanto da explosão demográfica como da incapacidade
da Economia, para a qual o único que não conta é o
ser humano.
A
dura realidade é uma desoladora confusão de formosos ideais
e de torpes realizações, mas, sempre haverá alguns
teimosos – heróis, santos e artistas – que, em suas vidas
e em suas obras, atingem fragmentos do Absoluto, e que nos ajudam a suportar
as repugnantes relatividades.
Infelizmente,
nestes tempos em que se perdeu o valor da palavra, a arte também
foi prostituída, e a escrita se reduziu a um ato semelhante ao de
se imprimir papel-moeda.
O
que se pode fazer com 80 anos? Provavelmente começar a perceber como
deveríamos ter vivido e as três ou quatro coisas que valeram
a pena.
Privar
uma criança do direito à educação é amputá-la
desta primeira comunidade, na qual vão sendo amadurecidas as utopias.
Viver
sem crer é como executar o ato sexual sem amor.11
Quanta
solidão e quanta dor existem na História da Arte pela incompreensão
e pelo ressentimento dos medíocres!
A
razão não serve para a Existência.
Para
ser humilde se necessita grandeza.
A
Arte não é terapia, mas, é terapêutica.
A
busca de uma vida mais humana deverá começar pela educação.
A
televisão nos tantaliza, como que nos enfeitiça. Este efeito,
entre mágico e maléfico resulta, penso, do excesso de luz
que nos toma com sua intensidade. Então, não apenas é
difícil se afastar dela, como também perdemos a capacidade
de olhar e de ver o cotidiano.12
Estremeceu-me
uma notícia que li esta manhã no jornal. Recortei-a e guardei-a
em uma das gavetas de meu arquivo, entre esses tantos retalhos que nestes
anos têm me ajudado a viver. Uma mulher, em um inverno rigoroso, vestindo
apenas uma camiseta e uma calça, fugiu de um hospital psiquiátrico
no desejo de procurar seu companheiro. Aproveitando uma distração
do maquinista, furtou uma locomotiva e, fazendo-a funcionar sem dificuldade,
começou sua odisséia. Ele havia trabalhado na ferrovia e a
ensinara a conduzir trens e 'muitas outras coisas'. 'Se vocês soubessem
o que é o amor, me deixavam continuar', dizia ao policial que a deteve,
e, enquanto a levavam para a delegacia, aos prantos desesperados, gritava:
'Você nunca fez nada por amor?' Quão mais humanos são
esses gestos que os de tantos indivíduos que correm pela cidade toldados
por seus projetos! Quis resgatar esta história dentre meus papéis
porque, de certo modo, quando a razão nos leva à beira da
psicose coletiva, atos como este são o mais parecido com uma salvação.13
A
diferença entre um romancista e um louco é que o primeiro
pode ir até a loucura e voltar.
Se,
apesar do medo que nos paralisa, recuperássemos a fé no homem,
tenho certeza de que poderíamos vencer o medo que nos paralisa como
a covardes.
O
que posso fazer? Este é meu destino. Há tempos me resignei
a este destino de solidão, ao qual me condenei por minha independência
política e por minha resistência a apoiar movimentos de moda,
tanto no plano político como no literário.
Salvar
o mundo é uma grande tarefa para quem trabalha no rádio, na
televisão ou escreve nos jornais; uma verdadeira proeza, possível
de realizar quando é autêntica a dor que sentimos pelo sofrimento
alheio.14
Milhares
de homens perdem a vida trabalhando – quando podem – acumulando
amarguras e desilusões, mal conseguindo se sustentar por mais um
dia na mais precária situação, ao passo que quase todo
indivíduo que chega a um cargo de poder, em poucos meses, troca seu
modesto apartamentinho por uma luxuosa mansão, com fabulosos automóveis
na garagem. Como é que essa gente não tem vergonha?
Neste
caminho sem saída que hoje enfrentamos, a recriação
do homem e seu mundo surgem não como uma escolha entre outras, mas,
como um gesto tão impreterível quanto o nascimento de uma
criança quando é chegada a hora.
Dada
a natureza do homem, uma autobiografia é inevitavelmente mentirosa.
E unicamente com máscaras, no carnaval ou na literatura, os homens
se atrevem a dizer suas (tremendas) verdades últimas.
Sim,
tenho uma esperança demencial, ligada, paradoxalmente, à nossa
atual pobreza existencial e ao desejo, que descubro em muitos olhares, de
que algo grande nos consagre a cuidar com empenho da Terra em que vivemos.
Há
certos dias em que acordo com uma esperança demencial, momentos em
que sinto que as possibilidades de uma vida humana estão ao alcance
de nossas mãos. Hoje é um desses dias.
Q Q Adianta?
e deitar,
dormir e roncar?
Adianta
o quê
supor e crer,
e não
sacudir nem mexer?
Nicas
cai(rá) nonosso
colo.
Esperar
é marcar autogolo.
E marcar
autogolo é perder
e dar
leitinho ao ant(i)-ser.
O
In Sæcula
não espera:
precisamos
domar a fera,
se tencionamos
progredir
e nossa
Voz Interior ouvir.
Isto
é mais do que óbvio,
todavia,
há tanto pacóvio!
Ninguém
será arrebatado.
Repito,
refalando, repetindo
(neste
visitar-de-novo
infindo),
já
que, pospomos, olvidando
que é
já-agora!
Não quando!
Se
você ler Rudolf Steiner,
lerá
repetecos em contêiner.
Ensinando,
Steiner repete...
E
quem bebe Steiner deflete!
Então,
eu repetirei até pifar,
para
todos poderem se livrar.
Eu-mesmo,
que sou pobre,
batalho
para ficar – desnobre.
Devemos
dar graças à Vida,
pelas
cicatrizes e cada ferida,
pelos
romances malogrados,
pelos
projetos não-realizados.
Vida
que nos oferece tanto!
Vida
que proporciona adianto!
Vida
que dá sem nada pedir!
Vida
ontem + hoje + devenir!
Enfim,
preste toda atenção,
preciso
acabar esta ralação:
faça
o que tiver que ser feito,
para
desintegrar cada defeito.
Doa
quanto tiver que doer,
prima facie,
sempre, seu Ser.
De pedra,
não se munge leite;
de zizânia,
não se faz azeite.
Devemos
dar graças à Vida!