ERASMO DE ROTERDÃ
(Pensamentos)

 

 

 

Erasmo de Roterdã

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo é sobre Herasmus Gerritszoon, mais conhecido, no Brasil, como Erasmo de Roterdã. Para variar, não comentarei nada sobre os pensamentos que selecionei de Erasmo para compor este estudo, mas não posso deixar de comunicar que não concordo nem aprovo inteiramente algumas de suas reflexões. Mas vale a pena conhecer este humanista neerlandês, pois há muita coisa interessante e sobremodo educativa nos seus escritos.

 

 

 

Breve Biografia de Erasmo

 

 

Erasmo de Roterdã ou Rotterdam (nascido Gerrit Gerritszoon ou Herasmus Gerritszoon; em latim: Desiderius Erasmus Roterodamus; Roterdã, 28 de outubro de 1466 – Basiléia, 12 de julho de 1536) foi um teólogo e um humanista neerlandês.

 

Erasmo, em seu tempo, foi um dos maiores críticos do dogma católico romano e da imoralidade do clero. Mas não deixou de atacar também o movimento protestante de Lutero. Professor de Língua Grega na Universidade de Oxford, na Inglaterra, ele percorreu as principais universidades da Europa.

 

Pouco se sabe ao certo sobre sua família. Há informações de que era filho ilegítimo de um padre chamado Gerard com uma mulher conhecida apenas como Margareth, ambos vítimas da peste de 1483.

 

Erasmo teve a melhor educação possível em seu tempo, em mosteiros religiosos. Chegou a ser admitido como monge aos 25 anos, mas nunca exerceu o sacerdócio.

 

Estudou na Sorbonne, em Paris, que começava a receber a influência da cultura clássica renascentista vinda das cidades-Estado italianas, onde esteve entre 1506 e 1509.

 

Sua principal obra, o Elogio da Loucura, de 1509, defendia a tolerância e a liberdade de pensamento e denunciava as ações da Igreja. Seus livros em latim, grego, holandês, inglês, francês e italiano atraíam leitores por toda a Europa. Perseguido por suas idéias, o pensador procurou refúgio em Basiléia, ns Suíça, onde estava rodeado de amigos e pôde se expressar livremente.

 

Em 1516, Erasmo publicou uma nova edição e tradução para o latim do Novo Testamento, feita a partir dos manuscritos originais. Este trabalho, editado com anotações do tradutor, serviu de base para os estudos da Bíblia produzidos pelos protestantes durante a Reforma. O Novum Instrumentum Omne, Diligenter ab Erasmo Rot. Recognitum et Emendatum foi dedicado ao papa Leão X. Na segunda edição, o termo Testamentum foi usado em vez de Instrumentum. O termo ficou mais familiar porque foi usado pelos tradutores da versão da Bíblia do Rei James, da Inglaterra.

 

Erasmo foi chamado a tomar partido entre Martinho Lutero e a Igreja Católica, mas se recusou. Ele tinha uma simpatia pelos pontos principais da crítica luterana à Igreja, mas não quis se comprometer e disse que não era um inimigo do clero. Como resultado, Erasmo viu-se em conflito com ambas as grandes facções religiosas.

 

Durante a sua vida, as autoridades da Igreja católica nunca chamaram Erasmo para justificar as suas opiniões. Em 1535, um ano antes de sua morte, o Papa Paulo III intentou elevá-lo à condição de Cardeal, mas Erasmo recusou alegando a sua avançada idade e o seu estado de saúde. Curiosamente, após a sua morte, os sociopsicopatas do Santo Ofício da Igreja Católica Romana colocaram seus escritos no Index Librorum Prohibitorum – uma lista de livros proibidos pela Igreja. Eu fico só matutando: e se Erasmo tivesse topado ser purpurado e recebido o barrete cardinalício, ad laudem omnipotentis Dei et Sanctæ Sedis ornamentum... In nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti? Para maior glória de Deus onipotente e o bem da Santa Sé... Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo? Como seria? Teriam os sociopsicopatas do Santo Ofício os testículos roxos o bastante para meter a obra de Erasmo no Index? Bolas! Tudo é política; tudo é momento; tudo é hipotético. Tudo é mesmo uma grande ilusão. Mas, morreram todos; ninguém ficou para semente. Erasmo continua vivo!

 

 

 

Pensamentos Roterdanianos

 

 

 

Duas coisas, sobretudo, impedem que o homem saiba ao certo o que deve fazer: uma é a vergonha, que cega a inteligência e arrefece a coragem; a outra é o medo, que, indicando o perigo, obriga a preferir a inércia à ação.

 

O espírito do homem é feito de maneira que lhe agrada muito mais a mentira do que a verdade. Fazei a experiência: ide à igreja, quando aí estão a pregar. Se o pregador trata de assuntos sérios, o auditório dormita, boceja e se enfada, mas se, de repente, o zurrador (perdão, o pregador), como aliás é freqüente, começa a contar uma história de comadres, toda a gente desperta e presta a maior das atenções. Como é fácil esta felicidade! Os conhecimentos mais fúteis, como a gramática por exemplo, adquirem-se à custa de grande esforço, enquanto a opinião se forma com grande facilidade, contribuindo, tanto ou talvez mais, para a felicidade. Se um homem come toucinho rançoso, de que outro nem o cheiro pode suportar, com o mesmo prazer com que comeria ambrosia, que tem isso a ver com a felicidade? Se, pelo contrário, o esturjão causa náuseas a outro, que temos nós com isto? Se uma mulher, horrivelmente feia, parece aos olhos do marido semelhante a Vênus, para o marido é o mesmo do que se ela fosse bela. Se o dono de um mau quadro, besuntado de cinábrio e açafrão, o contempla e admira, convencido de que está a ver uma obra de Apeles ou de Zêuxis, não será mais feliz do que aquele que comprou por elevado preço uma obra destes pintores e que olhará para ela, talvez, com menos prazer?

 

Não haveria, pois, diferença alguma entre os sábios e os loucos, se não fossem mais felizes estes últimos. Sim, porque estes são felizes por dois motivos: o primeiro é que a felicidade dos loucos não custa nada, bastando um pouquinho de persuasão para formá-la; o segundo é que os loucos são mais felizes mesmo quando estão juntos com muitos outros. Ora, é impossível gozar um bem quando se está sozinho.

 

E foi por essa razão que o grande Arquiteto do Universo proibiu que o primeiro e lindo par de esposos, por ele feitos e unidos em matrimônio, provassem o fruto da árvore da ciência do bem e do mal, sob pena de sua desgraça e morte. É a melhor prova de que a ciência é o veneno da felicidade.

 

Não há nada de tão absurdo que o hábito não torne aceitável.

 

Rir de tudo é coisa de tonto; não rir de nada é coisa de estúpido.

 

O amoroso apaixonado já não vive em si, mas no que ama; quanto mais se afasta de si para se fundir no seu amor, mais feliz se sente. Assim, quando a alma sonha em fugir do corpo e renuncia a se servir normalmente dos seus órgãos, podeis dizer, com razão, que ele enlouquece. As expressões correntes não querem dizer outra coisa: «Não está em si...» «Volta a ti...» «Ele voltou a si...» E quanto mais perfeito é o amor, maior é a loucura e maior é a felicidade. O que será, pois, essa vida no céu, à qual aspiram tão ardentemente as almas piedosas? O espírito, mais forte e vitorioso, absorverá o corpo; isto será tanto mais fácil quanto mais purificado e extenuado tiver sido o corpo durante a vida. Por sua vez, o espírito será absorvido pela Suprema Inteligência, cujos poderes são infinitos. Assim se encontrará fora de si mesmo o homem inteiro, e a única razão da sua felicidade será de não mais se pertencer, mas de se submeter a este soberano inefável, que tudo atrai a si. Uma tal felicidade, é certo, só poderá ser perfeita no momento em que as almas, dotadas de imortalidade, retomem os antigos corpos. Mas, como a vida dos piedosos não é mais do que a meditação sobre a eternidade e como que a sombra dela, conseguem saborear e antegozar o perfume de tal vida. Isto não é mais do que uma gotinha em comparação com a fonte infindável da felicidade. Todavia, é preferível a todos os prazeres da Terra, mesmo que se fundissem em um só, de tal modo o espírito supera a matéria e o invisível o visível! Esta é a promessa do Profeta: «Os olhos não viram, os ouvidos não ouviram, o Coração não sentiu as delícias que Deus prepara para os que o amam.» Tal é esta loucura que não acaba, mas que se aperfeiçoa com a passagem para a outra vida. Aqueles que tiveram o privilégio tão raro de tais sentimentos, experimentam uma espécie de demência: falam sem coerência, pronunciam palavras sem sentido e a cada instante mudam a expressão do rosto. Ora tristes, ora alegres, riem, choram, suspiram. Em resumo, estão fora de si. Quando voltam a si, não sabem dizer onde estiveram, se estavam ou não no seu corpo, despertos ou adormecidos, o que ouviram, o que disseram ou o que fizeram. Só se recordam como que através de um sonho ou de uma nuvem. Sabem somente que foram felizes durante tal loucura. Lamentam ter regressado à razão e sonham poder viver eternamente nesta loucura. E apenas saboreiam um ligeiro gosto da felicidade futura!

 

 

Dave O'Brien (Reefer Madness)

 

Só a loucura tem a virtude de prolongar a juventude, embora fugacíssima, e de retardar bastante a malfadada velhice.

 

O amor recíproco entre quem aprende e quem ensina é o primeiro e mais importante degrau para se chegar ao conhecimento.

 

Em grande parte, os maridos são como as mulheres os fazem.

 

Não merece o doce quem não experimentou o amargo.

 

Os males que não são percebidos são os mais perigosos.

 

Voltemos à feliz espécie dos loucos. Passada a vida alegremente, sem medo ou pressentimento da morte, emigram diretamente para os campos elísios, e vão deleitar com as suas facécias as almas ociosas e pias. Comparai, agora, ao destino do louco ou de um sábio à vossa escolha. Citai-me um modelo de sabedoria que tenha gasto a sua infância e a juventude no estudo das ciências, e que tenha perdido o mais belo tempo da sua vida em vigílias, cuidados e trabalhos sem-fim, e que se tenha privado, para o resto da sua vida, de todos os prazeres. Vereis que foi sempre pobre, miserável, triste, tétrico, severo e duro para consigo mesmo, insuportável e desagradável para com os outros, pálido, magro, servil, envelhecido antes do tempo, calvo antes da velhice, votado a uma morte prematura. Que importa, aliás, que morra, se nunca chegou a viver! Tal é o belo retrato deste sábio.

 

É muito mais honesto estar nu do que usar roupas transparentes.

 

A primeira fase do saber é amar os nossos professores.

 

Dizei-me, por obséquio: um homem que odeia a si mesmo poderá, acaso, amar alguém? Um homem que discorda de si mesmo poderá, acaso, concordar com outro? Será capaz de inspirar alegria aos outros quem tem em si mesmo a aflição e o tédio? Só um louco, mais louco ainda do que a própria loucura, admitireis que possa sustentar a afirmativa de tal opinião. Ora, se o excluirdes da sociedade, não só o homem se tornará intolerável ao homem, como também, toda vez que olhar para dentro de si, não poderá deixar de experimentar o desgosto de ser o que é, de se achar aos próprios olhos imundo e disforme, e, por conseguinte, de odiar a si mesmo. A Natureza, que em muitas coisas é mais madrasta do que mãe, imprimiu nos homens, sobretudo nos mais sensatos, uma fatal inclinação no sentido de cada qual não se contentar com o que tem, admirando e almejando o que não possui: daí o fato de todos os bens, todos os prazeres e todas as belezas da vida se corromperem e reduzirem a nada. O que adianta um rosto bonito, que é o melhor presente que podem fazer os deuses imortais, quando contaminado pelo mau cheiro? De que serve a juventude, quando corrompida pelo veneno de uma hipocondria senil? Como, finalmente, podereis agir em todos os deveres da vida, quer no que diz respeito aos outros, quer a vós mesmos, como — repito — podereis agir com decoro (pois que agir com decoro constitui o artifício e a base principal de toda ação), se não fordes auxiliados por este amor-próprio que vedes à minha direita e que merecidamente me faz as vezes de irmã, não hesitando em tomar sempre o meu partido em qualquer desavença? Vivendo sob a sua proteção, ficais encantados pela excelência do vosso mérito e vos apaixonais por vossas exímias qualidades, o que vos proporciona a vantagem de alcançardes o supremo grau de loucura. Mais uma vez repito: se vos desgostais de vós mesmos, persuadi-vos de que nada podereis fazer de belo, de gracioso, de decente. Roubada à vida esta alma, languesce o orador em sua declamação, inspira piedade o músico com suas notas e seu compasso, ver-se-á o cômico vaiado em seu papel, provocarão o riso o poeta e as suas musas, o melhor pintor não conquistará senão críticas e desprezo, morrerá de fome o médico com todas as suas receitas. Em suma: Nereu aparecerá como Tersites, Faão como Nestor, Minerva como uma porca, o eloqüente como um menino, o civilizado como um bronco. Portanto, é necessário que cada qual lisonjeie e adule a si mesmo, fazendo a si mesmo uma boa coleção de elogios, em lugar de ambicionar os de outrem. Finalmente, a felicidade consiste, sobretudo, em se querer ser o que se é. Ora, só o divino amor-próprio pode conceder tamanho bem. Em virtude do amor-próprio, cada qual está contente com seu aspecto, com seu talento, com sua família, com seu emprego, com sua profissão, com seu país, de forma que nem os irlandeses desejariam ser italianos, nem os trácios atenienses, nem os citas habitantes das Ilhas Afortunadas. Oh!, surpreendente providência da Natureza! Em meio a uma infinita variedade de coisas, ela soube pôr tudo no mesmo nível. E, se não se mostrou avara na concessão de dons aos seus filhos, mais pródiga se revelou ainda ao lhes conceder o amor-próprio. Que direi dos seus dons? É uma pergunta tola. Com efeito, não será o amor-próprio o maior de todos os bens?

 

Pode querer bem aos outros quem não quer bem a si mesmo?

 

Para ganhar é preciso gastar.

 

Quanto mais ignorante, mais irresponsável e mais irrefletido é um médico, maior é a sua reputação, mesmo entre os príncipes mais poderosos.

 

Se há alguém que desastradamente tenha se iludido, tomando-me por Minerva ou pela Sabedoria, bastará olhar-me de frente, para logo me conhecer, sem que eu me sirva de palavras, que são a imagem do pensamento. Não existe em mim simulação alguma; mostro por fora o que sou no coração. Sou sempre igual a mim mesma.

 

A pior das loucuras é, sem dúvida, tentar ser sensato em um mundo de loucos.

 

Os grandes escritores nunca foram feitos para suportar a lei dos gramáticos, mas, sim, para impor a sua.

 

Devemos respeitar o casamento enquanto é um purgatório, e dissolvê-lo quando se tornar um inferno.

 

Os maiores males infiltram-se na vida dos homens sob a ilusória aparência do bem.

 

Aquele que conhece a arte de viver consigo próprio ignora o aborrecimento.

 

Nenhum animal é mais calamitoso do que o homem, pela simples razão de que todos se contentam com os limites da sua natureza, ao passo que apenas o homem se obstina em ultrapassar os limites da sua.

 

Cada momento da vida seria triste, fastidioso, insípido, aborrecido, se não houvesse prazer, se não fosse animado pelo tempero da loucura.

 

Os homens que se entregam à sabedoria são, de longe, os mais infelizes. Duplamente loucos, esquecem que nasceram homens e querem imitar os deuses poderosos, e, a exemplo dos Titãs, armados com as ciências e as artes, declaram guerra à Natureza. Ora, os menos infelizes são aqueles que mais se aproximam da animalidade e da estupidez. Tentarei fazer-vos entender isto, usando, em vez dos argumentos dos estóicos, um exemplo crasso. Haverá, pelos deuses imortais, espécie mais feliz que os homens a quem o vulgo chama loucos, parvos, imbecis, cognomes belíssimos, na minha opinião? Esta afirmação poderá, a princípio, parecer insensata e absurda e, no entanto, nada há de mais verdadeiro. Tais homens não receiam a morte, e – por Júpiter! – isto já não representa pequena vantagem! A sua consciência não os incomoda. As histórias de fantasmas não os aterrorizam, nem os afetam o medo das aparições e espectros, nem os males que os ameaçam ou a esperança dos bens que poderão vir a receber. Nada, em resumo, os atormenta, isentos dos mil cuidados de que a vida é feita. Ignoram a vergonha, o medo, a ambição, a inveja e chegam mesmo, se são suficientemente estúpidos, a gozar o privilégio, segundo os teólogos, de não cometerem pecados. Passai agora em revista – ó louco sábio – todas as noites e os infinitos dias em que a inquietação crucifica a tua alma. Olha bem para todos os aborrecimentos da tua vida e tenta compreender, enfim, de quantos males eu liberto os meus loucos. Acresce ainda que não só passam o tempo em divertimentos, risos e canções, como levam a todos os que os rodeiam o prazer, os seus jogos, o divertimento e a alegria, como se a indulgência divina os tivesse destinado a afastar a tristeza da vida humana. Além disto, quaisquer que sejam as disposições de uns para os outros, todos os reconhecem como amigos; procuram-nos, adoram-nos, acarinham-nos, gostam de conversar com eles, permitem-lhes que tudo digam e tudo façam. Ninguém os tenta prejudicar, e os próprios animais ferozes evitam lhes fazer mal, como se, instintivamente, os soubessem inofensivos. Estão, com efeito, sob a proteção dos deuses, e, sobretudo, sob a minha égide, rodeados pelo respeito universal.

 

Repetindo: Essencialmente, a felicidade consiste em se [querer] ser o que se é.

 

 

Ser o que se é não significa
ser para sempre o que se é.

 

 

Segundo a definição dos estóicos, a sabedoria consiste em ter a razão por guia; a loucura, pelo contrário, consiste em obedecer às paixões. Mas, para que a vida dos homens não seja triste e aborrecida Júpiter deu-lhe mais paixão do que razão.

 

Mas, já é tempo de que, seguindo o exemplo de Homero, passemos, alternadamente, dos habitantes do céu aos da Terra, onde nada se descobre de feliz e de alegre que não seja obra minha. Primeiro, vós bem vedes com que providência a Natureza, esta mãe produtora do gênero humano, dispôs que em coisa alguma faltasse o condimento da loucura. Segundo a definição dos estóicos o sábio é aquele que vive de acordo com as regras da razão prescrita, e o louco, ao contrário, é o que se deixa arrastar ao sabor de suas paixões. Eis porque Júpiter, com receio de que a vida do homem se tornasse triste e infeliz, achou conveniente aumentar muito mais a dose das paixões do que a da razão, de forma que a diferença entre ambas é, pelo menos, de um para vinte e quatro. Além disto, relegou a razão para um estreito cantinho da cabeça, deixando todo o resto do corpo presa das desordens e da confusão. Depois, ainda não satisfeito com isto, uniu Júpiter à razão, que está sozinha, duas fortíssimas paixões, que são como dois impetuosíssimos tiranos: uma é a cólera, que domina o coração, centro das vísceras e fonte da vida; a outra é a concupiscência, que estende o seu império desde a mais tenra juventude até à idade mais madura. Quanto ao que pode a razão contra estes dois tiranos, demonstra-o bem a conduta normal dos homens. Prescreve os deveres da honestidade, grita contra os vícios a ponto de ficar rouca, e é tudo o que pode fazer; mas os vícios riem-se de sua rainha, gritam ainda mais forte e mais imperiosamente do que ela, até que a pobre soberana, não tendo mais fôlego, é constrangida a ceder e a concordar com os seus rivais.

 

Um cumprimento gentil e delicado, muitas vezes, apaga a inimizade e cria a amizade.

 

Toda tolice, por mais grosseira que seja, sempre encontra sequazes.

 

O Cristianismo, hoje, em lugar de pregar Jesus Cristo, deixa no esquecimento o seu Nome e o põe de lado com leis lucrativas, altera a sua doutrina com interpretações forçadas e, finalmente, o destrói com exemplos pestilentos.

 

Uma guerra gera outra; uma vingança puxa outra.

 

Se colocares em um prato de uma balança as vantagens e no outro as desvantagens, perceberás que uma paz injusta é muito melhor do que uma guerra justa.

 

 

 

 

Não há prazer em possuir algo sem companhia.

 

O lobo talvez mude a pele, mas nunca a alma.

 

O melhor modo de venerar os santos é imitá-los.

 

Definir-me seria dar-me limites, e minha força não conhece nenhum limite.

 

Um mal não é um mal para quem não o sente. Que te importa se todos te vaiam, se tu mesmo te aplaudes?

 

Na minha opinião, o homem é tanto mais feliz quanto mais numerosas são as suas modalidades de loucura.

 

Mesmo que tivesse cem línguas, cem bocas e férrea voz, não poderia enumerar todos os tipos de loucos nem todas as formas de loucura.

 

Quem se insurge em geral contra todos os aspectos da vida não deve ser inimigo de ninguém, mas unicamente do vício em toda a sua extensão e totalidade.

 

Coisa muito decorosa é zelar pelo próprio nome.

 

Quando Plutão pareceu hesitar se devia incluir a mulher no gênero dos animais racionais ou no dos brutos, não quis, com isto, significar que a mulher fosse um verdadeiro bicho, mas pretendeu, ao contrário, exprimir com esta dúvida a imensa dose de loucura do querido animal. Se, porventura, alguma mulher meter na cabeça a idéia de passar por sábia, só fará se mostrar duplamente louca, procedendo mais ou menos como quem tentasse untar um boi, malgrado seu, com o mesmo óleo com que se costumam ungir os atletas. Acreditai-me, pois, que todo aquele que, agindo contra a natureza, se cobre com o manto da virtude, ou afeta uma falsa inclinação, ou não faz senão multiplicar os próprios defeitos. E isto porque, segundo o provérbio dos gregos, 'o macaco é sempre macaco, mesmo vestido de púrpura.' Assim também, a mulher é sempre mulher, isto é, é sempre louca, seja qual for a máscara sob a qual se apresente.

 

Não tens quem te elogie? Elogia-te a ti mesmo.

 

Tudo o que fazem os homens está cheio de loucura. São loucos tratando com loucos. Por conseguinte, se houver uma única cabeça que pretenda opor obstáculo à torrente da multidão, só lhe posso dar um conselho: que, a exemplo de Timão, se retire para um deserto, a fim de aí gozar à vontade dos frutos de sua sabedoria.

 

Não posso deixar de manifestar um grande desprezo, não sei se pela ingratidão ou pelo fingimento dos mortais.

 

Com efeito, o que é definir? É encerrar a idéia de uma coisa nos seus justos limites. E o que é dividir? É separar uma coisa em suas diversas partes. Ora, nem uma nem outra me convém. Como poderia me limitar, quando o meu poder se estende a todo o gênero humano? E, como poderia me dividir, quando tudo concorre, em geral, para sustentar a minha divindade? Além disto, por que haveria de me pintar como sombra e imagem em uma definição, quando estou diante dos vossos olhos e me vedes em pessoa?

 

Haverá no mundo coisa mais doce e mais preciosa do que a vida?

 

A felicidade da velhice supera a da meninice. Não se pode negar que a infância é muito feliz; mas, nesta idade, não se tem o prazer de tagarelar, de resmungar por trás de todos, como fazem os velhos, prazer que constitui o principal condimento da vida. Outra prova do meu confronto é a recíproca inclinação que se nota nos velhos e nos meninos, e o instinto que os leva a manterem entre si boas relações. Assim é que se verifica que 'todo semelhante ama o seu semelhante.' De fato, estas duas idades têm uma grande relação entre si, e não vejo nelas outra diferença senão as rugas da velhice e a porção de carnavais que os primeiros têm sobre a corcunda. Quanto ao mais, a brancura dos cabelos, a falta dos dentes, o abandono do corpo, o balbucio, a loquacidade, as asneiras, a falta de memória, a irreflexão, numa palavra, tudo coincide nas duas idades. Enfim, quanto mais entra na velhice, tanto mais se aproxima o homem da infância, a tal ponto que sai deste mundo como as crianças: sem desejar a vida e sem temer a morte.

 

Assim, pois, as armas dos papas não consistem todas naquelas doces bênçãos de que fala São Paulo e das quais são eles tão avaros. Consistem elas em interdições, suspensões, gravames, anátemas, pinturas vingadoras e naquele terribilíssimo castigo pelo qual um beatíssimo padre pode mandar à vontade qualquer alma para o inferno. Os nossos Santíssimos Pais de Cristo e os seus vigários-gerais nunca empregam com maior zelo este espantoso castigo do que no caso daqueles que, à instigação do demônio, tentam diminuir ou danificar o patrimônio de São Pedro. Dizia este bom apóstolo ao seu Mestre: — Deixamos tudo para seguir-Te. — Compreendereis que grande sacrifício fez o pobre pescador! Foi a fortuna o que ele conseguiu em virtude dessa renúncia; é por isto que Sua Santidade glorificada possui terras, cidades e domínios, e percebe impostos e taxas. E é, sobretudo, para defender e conservar esta rica aquisição que os pontífices romanos costumam condenar as almas. É verdade que nem ao menos poupam os corpos, e, inflamados pelo zelo de Jesus Cristo, desfraldam a bandeira de Marte e, sem piedade, empregam o ferro e o fogo para sustentar as suas razões.

 

 

Ron Perlman (Salvatore)
– O Nome da Rosa

 

 

Assim como a Igreja cristã foi fundada com sangue, confirmada com sangue, dilatada com sangue, assim também os papas a governam com sangue, como se nunca Jesus Cristo tivesse existido para protegê-la e sustentá-la. A guerra é, por natureza, tão cruel, que muito mais conviria às feras do que aos homens; tão insensata que os poetas a atribuíram às fúrias do inferno; tão pestilenta que corrompe todos os costumes; tão iníqua que a fazem melhor perversos ladrões do que homens probos e virtuosos; finalmente, tão ímpia que nenhuma relação possui com Jesus Cristo nem com sua moral. Isto não impede que alguns pontífices abandonem todas as funções pastorais para se consagrar inteiramente a este flagelo da Humanidade. Entre estes papas guerreiros, encontram-se até velhos que agem com todo o vigor da juventude, que nenhuma consideração têm pelo dinheiro, que suportam corajosamente a fadiga e não têm o menor escrúpulo em fazer subverter as leis, a religião e a Humanidade. Mas, não faltam eruditos aduladores para dar a este manifestíssimo delírio o nome de zelo, piedade, valor. E acham razões para provar que desembainhar a espada e cravá-la no coração de um irmão não é absolutamente infringir o grande mandamento da caridade para com o próximo.

 

Os padres deveriam se lembrar que a tonsura significa a obrigação de viver livres de qualquer paixão humana, para se consagrarem totalmente às coisas do céu. Muito longe de fazerem tais reflexões, incidem em toda sorte de volúpia, e julgam cumprir plenamente os seus deveres e as suas obrigação de praticar o bem, como dizem eles, quando murmuram, às pressas e entre os dentes, o ofício divino. Santo Deus! Aposto que não há nenhuma divindade que queira escutá-los e, muito menos, que possa compreendê-los.

 

É verdade que Jesus Cristo mandou que os apóstolos arranjassem uma espada, mas não das que servem de instrumento fatal nas mãos dos ladrões e dos parricidas, e, sim, de uma Espada Espiritual que penetrasse até ao fundo do Coração, que extirpasse todas as paixões mundanas, a fim de que só a piedade reinasse e dominasse no ânimo.

 

A Religião Católica se coaduna perfeitamente com a loucura e não tem a menor relação com a Sabedoria [ShOPhIa].

 

Platão definiu a FiloShOPhIa como sendo a meditação da morte, porque tanto a FiloShOPhIa como a morte destacam nossa alma das coisas visíveis e corporais.

 

Não há presente melhor do que o bom conselho.

 

Muitos te odiarão se te amares a ti próprio.

 

O desejo de escrever desenvolve-se escrevendo. O gosto pela escrita cresce à medida que se escreve.

 

O estudo é o melhor viático da velhice.

 

Nada é tão ranzinza e tão pedante como julgamentos dos homens uns dos outros.

 

A Natureza garante que os males do conhecimento não se espalhem progressivamente pela Humanidade.

 

 

 

 

A mente do homem é formada de tal sorte que é muito mais suscetível à mentira do que verdade.

 

Você poderá livrar Lutero de sua estante queimando os seus livros, mas a mente dos homens não se livrará de suas idéias.

 

Lutero foi culpado de dois grandes crimes: atingiu o Papa em sua coroa e os monges em sua barriga.

 

Uma boa parte de um discurso consiste em saber como mentir.

 

Só um intelecto sem escrúpulos não dá à Antigüidade a devida reverência.

 

Qual será a diferença entre aqueles que, na Caverna de Platão, que só se maravilhavam com as sombras e as imagens dos objetos, e o Filósofo que emergiu da Caverna e que passou a ver as coisas como elas são?

 

Se eles resolverem me atacar com um exército de seiscentos silogismos e eu não me retratar, eles me acusarão de heresia.

 

A maioria dos príncipes, hoje, é constituída de homens ignorantes da lei, quase inimigos de seu povo, só cuidando das suas conveniências pessoais. São libertinos sem um pensamento voltado para os interesses de seus países, tudo fazendo exclusivamente visando o lucro para satisfazer seus desejos pessoais.

 

Nunca dê um conselho antes que lhe peçam.

 

O mundo inteiro é meu templo. Nunca faltará um sacerdote enquanto houver homens.

 

Aquele que evita a mó evita a refeição.

 

Tolos são sem-número.

 

Todo mundo odeia um prodígio porque detesta uma velha cabeça sobre os ombros de um jovem.

 

O que é popularmente chamado de fama não é nada; apenas um nome vazio e um legado do paganismo.

 

A guerra é doce para aqueles que não passaram por ela.

 

Um homem é um homem, um deus ou um lobo.

 

Não fique tão animado com o ruído que você fez.

 

A humildade é a verdade.

 

Grande avidez na busca da riqueza, do prazer ou da honra não pode existir sem pecado.

 

Nada há nos reinos da Natureza, de sagrado ou de profano, dos quais o lucro não possa ser espremido.

 

Convide um homem sábio para jantar e ele irá aborrir os comensais com seu sombrio silêncio ou com perguntas cansativas e amolantes. Convide-o para dançar e você terá um camelo saracoteador. Leve-o para um divertimento público e sua expressão facial será o suficiente para estragar o entretenimento de todo mundo.

 

Um valentão sempre acaba topando com outro mais valente do que ele.

 

 

 

 

Nunca se troca a Constituição de um povo sem perturbações.

 

Feliz de quem nada deve!

 

Dissimular, enganar, fingir, fechar os olhos aos defeitos dos amigos ao ponto de apreciar e admirar grandes vícios como grandes virtudes, não será, acaso, avizinhar-se da loucura?

 

Não discutas com um louco, porque, então, serão dois loucos a discutir.

 

Em nenhuma outra ciência se despreza tanto o vulgo profano como na Matemática, que consiste em triângulos, quadrados, círculos e outras figuras geométricas semelhantes, que se sobrepõem umas às outras, confundindo tudo como um labirinto. Por fim, a Matemática atordoa os idiotas com diversas letras dispostas como um exército em ordem de batalha e subdivididas em várias companhias.

 

O homem inteligente não urina contra o vento.

 

Realmente não tenho paciência com aqueles que dizem que a excitação sexual é vergonhosa e que os estímulos eróticos têm a sua origem não em a Natureza, mas no pecado. Nada está tão longe da verdade.

 

Em um país de ceguetas, quem tem um olho é rei.

 

Eu sou um amante da liberdade. Eu não vou e não posso servir a um partido.

 

Se há alguma verdade na lenda popular que o Anticristo nascerá de um monge e uma freira (que é a história que as pessoas continuam contando), quantos milhares de anticristos o mundo já deve ter!

 

Eu sou um cidadão do mundo conhecido por todos e para todos um estranho.

 

Existem mosteiros onde não há qualquer disciplina e que são piores do que bordéis. Há outros em que a religião nada mais é do que um ritual. Estes são piores do que os primeiros, pois o Espírito de Deus não está neles, e eles estão infla[ma]dos com justiça própria.

 

Duvido que se possa encontrar um único indivíduo em toda a Humanidade livre de algum tipo de demência. A única diferença é de grau.

 

Acredite que você tem, e você tem!

 

A sorte favorece os audazes.

 

Um constante elemento de prazer deve estar misturado com os nossos estudos, de modo que nós pensemos na aprendizagem como um divertimento, em vez de um tipo de escravidão. Nenhuma atividade pode ser continuada por muito tempo, se, até certo ponto, ela não oferecer prazer ao participante.

 

Não se sinta culpado por possuir uma biblioteca. Sua biblioteca é o seu paraíso.

 

O tempo tira o sofrimento dos homens.

 

Um homicídio faz um celerado; milhares de homicídios fazem um herói.

 

 

Josef Vissarionovitch Stalin (1878 – 1953)

 

 

De maneira geral, os homens se acham felicíssimos no seu delírio.

 

Para o homem feliz todos os países são sua pátria.

 

Sócrates dizia que nada se deveria pedir aos deuses, com exceção do bem.

 

Não saber nada é a maior felicidade da vida.

 

Se você continuar pensando sobre o que você quer ou deve fazer ou o que você espera que aconteça, você não fará nada, e nada irá acontecer.

 

Aquele que permite a opressão compartilha do crime.

 

Esconder o talento não traz reputação.

 

Quando tenho um pouco de dinheiro, compro livros. Se sobrar algum, compro roupas e comida.

 

É a amizade dos livros que me fez muito feliz.

 

Só se costuma defender a verdade quando não se é atingido por ela.

 

Programa humanista de Erasmo de Roterdã: a) viver sem guerra; b) os governantes (príncipes antimaquiavélicos) devem ser pessoas com saber (e não com dinheiro); c) nenhuma 'guerra santa' (em nome de Deus); d) convivência pacífica das diferentes religiões, sob a égide da igualdade; e e) contra a corrupção eclesiástica.

 

Implicações pedagógicas do programa humanista de Erasmo de Roterdã: a) adaptação da aula de língua latina às capacidades cognitivas da criança; b) primazia do treino do pensamento em detrimento da memorização; c) comunidades de ensino; e d) rechaço ao castigo corporal.

 

Ilumine com a sua Luz, e as trevas desaparecerão por si mesmas.

 

 

 

 

 


Páginas da Internet consultadas:

http://biografias.netsaber.com.br/
ver_biografia_c_962.html

http://www.whynotgif.com/gif/clown-73

http://www.quotesdaddy.com/
author/Desiderius+Erasmus/5

http://www.quotesdaddy.com/
author/Desiderius+Erasmus/4

http://www.quotesdaddy.com/
author/Desiderius+Erasmus/3

http://www.quotesdaddy.com/
author/Desiderius+Erasmus/2

http://www.google.com.br/imgres?

http://www.quotesdaddy.com/
author/Desiderius+Erasmus

http://en.wikiquote.org/wiki/
Desiderius_Erasmus

http://www.english-spanish-translator.org/

http://edsongil.files.wordpress.com/2008/03/
erasmorenascimentohumanismoeloucura.pdf

http://www.ronaud.com/frases-pensamentos
-citacoes-de/erasmo-de-rotterdam

http://www.frasesypensamientos.com.ar/
autor/erasmo-de-rotterdam.html

http://fraseamentos.com/
frases/erasmo-de-rotterdam/

http://www.amoreamor.com/
frases-do-autor-erasmo-de-rotterdam--21.html

http://www.pbase.com/
erichmangl/image/1057628

http://media.photobucket.com/

http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/elogio.pdf

http://www.migalhas.com.br/mig_leitores.
aspx?cod=74311&datap=4/10/2009

http://pensador.uol.com.br/
autor/erasmo_rotterdam/

http://pensador.uol.com.br/
principais_ideias_de_erasmo_de_roterda/

http://pensador.uol.com.br/
autor/erasmo_de_rotterdam/

http://www.citador.pt/textos/a/
erasmo-de-roterdao

http://pt.wikiquote.org/wiki/
Erasmo_de_Roterd%C3%A3o

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Erasmo_de_Roterd%C3%A3o

 

Música de fundo:

She's Funny That Way
Composição: Neil Moret & Richard Armstrong Whiting
Interpretação: Nat King Cole

Fonte:

http://www.4shared.com/mp3/kCd95r3s/
01_Nat_King_Cole_Shes_Funny_Th.html