Paradoxo de Epimênides

 

Fernando Pessoa
e
Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

O Paradoxo de Epimênides (poeta, filósofo e místico grego que viveu em meados dos anos 600 a.C.) é um enigma sem resposta que forma um paradoxo, semelhante ao Paradoxo do Mentiroso. Ao tentar responder ao enigma, encontram-se informações que se ligam umas às outras, mas não levam a resposta alguma. O Paradoxo de Epimênides pode ser enunciado de várias formas. Uma delas é a enunciada a seguir:

Era uma vez um acusado que disse: — Enquanto a minha mentira não for desvendada, continuarei mentindo.

Em seguida o juiz disse: — Se o acusado mentir, seu advogado também mentirá.

Por fim o advogado disse: — Quem for capaz de desvendar a minha mentira dirá a verdade.

Afinal, quem está a mentir?

 

 

 

 

 

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.1

 

 

Oh!, somos todos fingidores!

Fingimos ao sabor do cagar,

Se, talvez, prazeres ou dores

Fazemos nos outros brotar.

 

 

E vivemos como amadores!

Se chega ao fim a chalaça

E neblinam as colores,

Rogamos ao Pai uma graça!

 

 

Depois, seguimos andores.

Interrompidos, contristados,

Humilíssimos pedidores,

De joelhos: abaixados.

 

 

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No sem-fim, mil vapores?

 

 

 

E rogamos a Deus uma graça!

 

 

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Nota:

1. PESSOA, Fernando. Autopsicografia. In: Obra Poética e em Prosa. Volume I; Poesia. Introdução, organização, biobibliografia e notas de António Quadros e Dalila Pereira da Costa. Porto: Lello & Irmão Editores, 1986, p. 314.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.fotoseimagens.etc.br/
foto-imagem_lago-sob-neblina_2745.html

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Epim%C3%A9nides

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Paradoxo_de_Epim%C3%A9nides

 

Música de Fundo:

It Was a Very Good Year
Compositor: Ervin Drake
Intérprete: Francis Albert Sinatra