Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

Não espere que as coisas aconteçam como você deseja, mas tolere [estoicamente, com imperturbabilidade] que elas aconteçam como acontecem ou como têm de acontecer, e você permanecerá bem. (Epicteto). Esta máxima de Epicteto não pretende significar que davamos ficar à-toa na vida... pra ver a banda passar. Não podemos viver e ficar a ver o tempo passar na janela, pois isso é jogar a vida no lixo. Então, imperturbabilidade mística é uma coisa estoicamente desejável; indiferença e inércia são egoísmos profanos completamente diferentes. E esperar que aconteçam milagres ou que os outros resolvam as coisas por nós é o que pode haver de pior e de mais irresponsável.

 

 

Objetivo do Trabalho

 

Este trabalho tem por objetivo apresentar uma pequena coletânea de ensinamentos do esquecido Estóico Epicteto, que praticamente viveu para responder a duas perguntas: Como viver uma vida plena, digna e feliz? Como ser ou tentar se tornar uma pessoa com qualidades morais elevadas? Este trabalho é, por assim dizer, uma espécie de Encheiridion1 do Encheiridion, originariamente compilado por Fávio Arriano, no século II d. C. (92-175)..

Embora o pensamento de Epicteto hoje quase não seja conhecido – como decorrência do declínio da cultura clássica e do interesse decrescente pela Filosofia e por temas metafísicos – ele teve uma substantiva influência nas idéias dos principais pensadores da arte de bem viver durante muitos séculos. Acredito, por isso, que meditar sobre alguns de seus ensinamentos abrirá um pouco mais a Janela que nós, místicos e espiritualistas, estamos empenhados em tentar abrir em nossos Corações, em nossas vidas (e Vidas) e em nossas Caminhadas pessoais e coletivas. Como costumo dizer: às vezes, quando menos esperamos, a Janela de nossa alma se escancara. Um texto, uma frase, um pensamento, uma informação, uma boa indicação, na hora certa, e até incerta, podem funcionar como uma espécie de catalisador cósmico inesperado. Mas é preciso ter energia e coragem para agüentar o giro!

 

 

 

 

Todavia, este texto nada contém de original, isto, obviamente, no que concerne a qualquer acréscimo ou comentário meu; ele é apenas o resultado de um estudo que fiz sobre o pensamento de Epicteto, e que, hoje, estou partilhando, com muito prazer, com todos. E não há qualquer mérito nisso, ainda que todos os trabalhos que tenho feito sejam uma espécie de obrigação mística prazerosa, mas impreterível, que me impus. Todavia, como sempre informo, fiz pequenas edições nos excertos dos diversos trabalhos que estudei, mas não modifiquei absolutamente nada do pensamento do autor, que foi originariamente compilado das exposições orais de Epicteto assistidas por Fávio Arriano, no século II d. C. (92-175).

 

 

Biografia Resumida de Epicteto

 

picteto, foi um filósofo e professor grego que nasceu escravo entre 50 e 60 d. C., em Hierápolis, Frígia, no extremo oriental do Império Romano, e que morreu livre em Nicópolis por volta de 135/138. Por ter nascido escravo, não se cansava de ensinar: A liberdade é o único objetivo que tem valor na vida. Para Epicteto, um dos grandes mestres do Estoicismo2, uma vida feliz e uma vida virtuosa são sinônimos, e felicidade e realização pessoais são conseqüências naturais de bem pensar e da prática permanente de atitudes virtuosas e categóricas (o vocábulo ou conceito categórico – Imperativo Categórico3 – é de origem kantiana, que segundo alguns autores apresenta uma certa analogia com o termo bíblico Mandamento, mas se aplica muito bem a Epicteto e ao seu pensamento).

Como viver uma vida plena, uma vida feliz? Como ser uma pessoa com boas qualidades morais? Responder a estas duas perguntas fundamentais foi a paixão e a meta de Epicteto, que acreditava que a finalidade primordial da Filosofia é a de auxiliar as pessoas a enfrentar os desafios da vida e a lidar com dignidade, tranqüilidade, comedimento, excelência e nobreza as perdas, as decepções e as mágoas que essa mesma vida e a convivência inevitavelmente impõem a todos nós. Conforme está explicado no livro A Arte de Viver, para Epicteto, a questão não é agir bem para conquistar os favores dos deuses ou a admiração dos outros, mas adquirir serenidade interior e, conseqüentemente, liberdade pessoal duradoura. Excelência moral é um empreendimento com oportunidades iguais para todos em qualquer ocasião, ricos ou pobres, instruídos ou não. Não é território exclusivo dos 'profissionais espirituais', como os monges, os santos e os ascetas. Nesse sentido, os ensinamentos de Epicteto não contêm critérios abstratos de verdade; adotou, ao contrário, a proháiresis, ou seja, a pré-escolha ou pré-decisão, que é a decisão ou a escolha de fundo que o homem faz (ou deverá fazer) e com a qual fica determinado e estabelecido o diapasão do seu ser moral. A verdadeira e autêntica proháiresis – ato de razão, juízo cognoscitivo, capacidade de antecipação e escolha prévia – coincide com o grande princípio de sua filosofia, que distingue as coisas que estão em poder do homem das coisas que não estão, estabelecendo que o bem está exclusivamente nas primeiras.

Apesar de, como Sócrates, não ter deixado escritos filosóficos, os ensinamentos de Epicteto influenciaram profundamente os primeiros pensadores cristãos, pois, no fundo, seu pensamento admite que a liberdade deve coincidir com a submissão à Vontade de Deus. E assim, em Epicteto, o tema ou crença do parentesco do homem com Deus apresenta conotações fortemente espiritualistas e, de certo modo, em muitos aspectos, verdadeiramente cristãs. Os aspectos principais do seu pensamento foram preservados, como já foi dito, graças aos esforços de um de seus mais dedicados alunos, o historiador Fávio Arriano.

 

 

Ensinamentos de Epicteto

 

 

Apegue-se ao que é espiritualmente superior sem fazer caso do que as outras pessoas pensem ou façam. Mantenha-se fiel às suas verdadeiras aspirações, não importa o que esteja acontecendo em torno de você.

É impossível para um homem aprender aquilo que ele acha que já sabe.

A verdade triunfa por si mesma; a mentira necessita sempre de cumplicidade.

Nada de grande se cria de repente.

Perturbam aos homens não as coisas, senão a opinião que delas têm.

Não busque a felicidade fora, mas, sim, dentro de você; caso contrário nunca a encontrará.

Qualquer pessoa capaz de irritá-lo se torna seu mestre; ela consegue exasperá-lo somente quando você se permite ser perturbado por ela.

Aprenda sobre a vontade da Natureza. Estude-a, preste atenção a ela e, então, torne-a sua.

Se sou forçado a morrer... a ir para a prisão... a sofrer o exílio... o que me impede que seja alegremente e de bom humor?

Não espere que as coisas aconteçam como você deseja, mas tolere [estoicamente, com imperturbabilidade] que elas aconteçam como acontecem ou como têm de acontecer, e você permanecerá bem.

Lembre de que você é um ator em uma trama, do modo como apraz ao autor designá-lo. Se seu papel é curto, represente-o curto; se é longo, represente-o longo. Se ao autor agrada que você atue como um homem pobre, como um coxo, como um governador ou como um soldado, cuide para representar da forma indicada, naturalmente. Pois esta é a sua obrigação: representar bem o personagem que lhe foi designado...

O mal não é um elemento natural no mundo, nos acontecimentos ou nas pessoas. O mal é um subproduto da negligência, da preguiça e da distração; surge quando perdemos de vista nossa verdadeira meta na vida.

Adquira logo um caráter e uma forma para você se conduzir, de tal forma que possa a conservar, seja sozinho, seja acompanhado. Seja sempre silencioso ou fale simplesmente o que for necessário; e fale sempre em poucas palavras.

A vida não é uma série de episódios aleatórios e sem sentido, mas um todo ordenado e refinado que segue leis, em última análise, compreensíveis [e justas, ainda que essa justiça não possa ser compreendida pela maioria dos seres humanos].

 

Se você está tocado pelo surgimento de um prazer prometido, cuide para não ser sobrepujado por ele... Coloque em seu pensamento duas coisas: aquilo de que desfrutará prazer e o que isso pode lhe acarretar de arrependimento e de reprovação assim que dele desfrutar; e ponha, a seguir, em oposição a isso, como você iria se alegrar... se se abstivesse. Muito embora isso lhe pareça uma satisfação oportuna, preste atenção se a sedução e a força agradável e atrativa não o dominarão; mas calcule, ao contrário, como seria bem melhor ter a consciência de haver ganho uma tão grande vitória.

A presunção e a empáfia são incompatíveis com o caminho de um verdadeiro filósofo [ou de um Iniciado].

Siga todos os seus impulsos generosos. Não os questione, especialmente quando um amigo precisar de você. Aja em benefício dele. Não hesite!

A condição e a característica de um filósofo é que ele espera toda dor ou benefício de si mesmo... Ele suprime todo desejo dentro de si e transfere seu repúdio apenas para aquelas coisas que frustram o uso adequado da sua própria capacidade de escolha e o exercício de seus poderes ativos para algo que é verdadeiramente bom; se ele aparenta ser estúpido ou ignorante, ele não se importa. Em uma palavra: ele vigia a si mesmo como um inimigo, alguém em uma emboscada.

Dentro da Ordem Divina, cada um de nós tem um compromisso particular. Descubra qual é o seu e siga-o fielmente.

Não devemos acreditar na maioria que diz que apenas as pessoas livres podem ser educadas; mas, sim, crer nos filósofos que dizem que só as pessoas educadas são livres.

Toda questão tem dois lados, um dos quais agüentará se o pegarmos, e outro, não. Se seu irmão pecou contra você, não pegue a questão por este lado – o de que ele pecou contra você mas sim por este outro: que ele é seu irmão, seu companheiro de nascença [e de Jornada], e você a estará pegando pelo lado que agüentará o peso.

Os que buscam a Sabedoria [ShOPhIa4] acabam compreendendo que, embora o mundo às vezes nos recompense por motivos errados ou superficiais, o que realmente importa é quem somos essencialmente e como estamos evoluindo.

Não fale sobre suas aspirações espirituais com pessoas que não as apreciarão. [Não faça proselitismo]. Mostre seu caráter e seus compromissos com dignidade pessoal somente através de suas ações.

O primeiro passo para viver com Sabedoria é renunciar à vaidade.

Se alguém disser que certo indivíduo falou mal de você, não procure justificações para o que lhe é censurado; antes, tem como norma simplesmente as seguintes palavras: Esse indivíduo ignora todos os outros defeitos de que sou portador. Assim, só se dá a murmurar os meus defeitos que lhe são conhecidos...

A felicidade e a liberdade começam com a clara compreensão de um princípio: algumas coisas estão sob nosso controle, outras não. Só depois de lidar com essa questão fundamental e aprender a distinguir entre o que você pode e o que você não pode controlar, é que a tranqüilidade interna e a eficácia externa se tornam possíveis.

A boa fortuna, como os frutos maduros, deve ser gozada antes que seja tarde.

Só a educação liberta.

O caminho para a felicidade é parar de se preocupar com o que está além do nosso poder.

Dedique ao menos metade de suas energias para se livrar de desejos ocos, e muito breve verá que ao fazê-lo há de receber maior realização e mais felicidade.

Se você pretende fazer alguma coisa, transforma em hábito a sua pretensão. Se não pretende, você deve se abster de fazê-la.

Evitemos fazer o papel de zombeteiros e de trocistas, porque tais defeitos nos farão cair insensivelmente nas maneiras baixas e grosseiras, e farão com que as pessoas percam a consideração que sentem por nós.

Fortaleça-se com contentamento, pois isto é uma fortaleza inexpugnável.

Na prosperidade é fácil encontrar amigos; mas na adversidade é a mais ingrata das tarefas.

Nada de grande se cria de repente.

O homem sábio é aquele que não se entristece com as coisas que não tem, mas se rejubila com as que tem.

Se se apresentar uma oportunidade de falar acerca de uma questão de verdadeira importância na presença de ignorantes, você deverá se guardar de fazê-lo, pois há grande perigo em manifestar, imediatamente, aquilo em que não se meditou adequadamente. Se, por acaso, alguém censurá-lo e disser que você nada sabe, se tal censura não molestá-lo nem feri-lo, será certo que você começará a ser um filósofo desde tal momento. As ovelhas não vão mostrar aos pastores o que comeram; pelo contrário, depois de bem digerido o pasto dão-lhes lã e leite. Do mesmo modo, você não deve malgastar, entre ignorantes, belas máximas; procure digeri-las e dá-las a conhecer por meio dos seus atos.

Qualquer lugar onde alguém está contra a sua vontade é, para este alguém, uma prisão.

Jamais andam juntas a loucura e a liberdade. A liberdade não é uma coisa somente belíssima, senão também racional, e não há nada mais absurdo nem mais irracional do que desejar temerariamente e pretender que as coisas se verifiquem do modo pelo qual as pensamos. Quando tenho de escrever o nome próprio Díon, devo escrevê-lo não como me agradaria, mas tal qual é, sem a mudança de uma única letra. Sucede o mesmo em todas as artes e ciências. E, porventura, você quer que na maior e mais importante de todas as coisas – que é a liberdade impere o capricho e a imaginação? Não, meu amigo, a liberdade consiste em querer que as coisas sucedam não como as desejamos, mas como são.

Desconfie das convenções sociais. Assuma a sua própria maneira de pensar. Desperte do entorpecimento causado pelos hábitos adotados sem reflexão.

Você quer se parecer ao total dos homens, como se parece um fio da sua túnica aos demais fios que a compõem; mas eu quero esta faixa de púrpura, que não somente é bela, como também embeleza tudo aquilo a que se aplica. Por que, pois, você me aconselha a ser como os outros? Se eu fora como o fio, não seria como a púrpura.

 

 

Quando você se ofender com as faltas de alguém, vire-se e estude os seus próprios defeitos. Cuidando deles, você esquecerá a sua raiva e aprenderá a viver sensatamente.

Se falarem, com fundamento, mal de você, você deve se corrigir. Do contrário, ria e não faça caso.

Em tudo que agrada à alma, ou suprime um desejo ou é amado. Você deve se lembrar de acrescentar isto: qual é a natureza de cada coisa, a começar da menor? Se você ama um vaso de terra, diga apenas que é um vaso de terra que você ama, para que, quando ele se quebrar, você não seja perturbado. Se você está a beijar o seu filho ou a sua mulher, diga apenas que é um ser humano quem está a beijar, para que, quando sua mulher ou seu filho morrerem, você não seja perturbado.

Se o seu papel é de leitor, leia. Se é de escritor, escreva.

Você empalidece, treme ou se perturba quando vai ver um príncipe ou um outro ilustre senhor? — Como me receberá? Como me ouvirá? Vil escravo! Ele o receberá e o ouvirá como quiser; tanto pior para ele se acolher mal um homem prudente. Pode você, por acaso, sofrer pelo erro de outrem? — Como lhe falarei? Você falará como lhe aprouver. — Tenho medo de me perturbar. Não sabe falar com discrição, com prudência e com livre dignidade? Quem lhe aconselhou a temer um homem? Zeno não temeu Antígono, mas Antígono temeu Zeno. Perturbou-se Sócrates quando falou aos tiranos e aos seus juízes? Tremeu Diógenes quando falou a Alexandre, a Filipe, aos piratas ou ao amo que o havia comprado?

Todos os acontecimentos contêm algo vantajoso para você – se você quiser procurar!

Você vai ao anfiteatro e logo se interessa e deseja que tal ator ou tal atleta seja coroado. Querem os demais que seja outro o que alcance a vitória. Aborrece-lhe essa contradição, por você ser pretor e pretender que todos cedam. Mas não têm os outros opinião própria? Não têm vontade e o mesmo direito de se ofender por você se opor ao que se lhes afigura como justo? Se você quiser permanecer tranqüilo e jamais encontrar oposição, não deseje a coroa senão a quem seja coroado. Ou se você quer ser dono de entregá-la a quem mais lhe aprouver, celebre jogos em sua casa, e então, com a sua própria autoridade, poderá publicar: este ou aquele venceu nos jogos píticos, ístmicos ou olímpicos. Em público, porém, não arrogue o que lhe não pertence; e deixe em liberdade os sufrágios.

Não podemos buscar nosso bem maior sem necessariamente promover, ao mesmo tempo, o bem dos outros. Uma vida que se limita a interesses pessoais não pode ser submetida a qualquer avaliação respeitável.

A autêntica felicidade é sempre independente de condições externas.

A liberdade é o único objetivo que tem valor na vida.

Você cobre de injúrias uma pedra. Que proveito você terá? A pedra não compreenderá nada do que você disser. Imite a pedra e não dê ouvidos às injúrias.

Zele por este momento. Mergulhe em suas particularidades. Seja sensível ao que você é, ao seu desafio, à sua realidade. Livre-se dos subterfúgios. Pare de criar problemas desnecessários para si mesmo. Este é o tempo de realmente viver; de se entregar por completo à situação em que você está agora.

Conserve bem o que é seu e não inveje ninguém. Assim, você será feliz.

Lembre-se de que o desejo contém em si a expectativa de obter aquilo que você deseja. Quanto à expectativa na aversão [distanciar-se de uma coisa], que você não caia naquilo que deseja evitar; aquele que falha em seu desejo é infortunado, e o que cai no que queria evitar é infeliz. Se, pois, você aspira evitar apenas o que é contrário à sua natureza e que está em seu poder, não será envolvido por nada daquilo que você evitaria. Mas se você enseja evitar a doença, a morte ou a pobreza, será infeliz. Abandone, portanto, a aversão por todas as coisas que não estão em seu poder, e a aplique sua energia nas coisas que estão em seu poder. Mas destrua completamente o desejo. Pois, se você deseja qualquer coisa que não está em seu poder desejar, você se tornará infortunado; mas se você deseja as coisas que estão em seu poder desejar, e que seriam boas para desejar, nada tem que o impeça. Contudo, empregue somente o poder de ir em direção a um objeto e de se afastar dele; e esses poderes, de fato, empregue só um pouco, e com exceções e com remissão.

As pessoas ficam perturbadas, não pelas coisas, mas pela imagem que formam delas.

A alma reluta em ser privada da verdade.

Dos objetos, alguns estão em nosso poder e outros não. No nosso poder estão a opinião, o movimento em direção a alguma coisa, o desejo e a aversão (o movimento contrário a alguma coisa), e, em suma, quaisquer que sejam nossos próprios atos. Não estão sob nosso poder o corpo, a propriedade, a reputação, as decisões do magistrado, e, em suma, quaisquer que não sejam os nossos próprios atos. E o que está sob nosso controle é livre por natureza, não submetido a restrições nem estorvos; mas aquilo que não está sob nosso controle é fraco, servil, submetido a restrições e controlado por outros. Lembre-se, pois, que se você considera que as coisas que são naturalmente servis são livres, e as coisas que estão sob o controle dos outros estão sob o seu, você ficará embaraçado e lamentará, será perturbado e imputará culpa a outros homens e também aos deuses; mas se você considera que o que depende de você apenas a você pertence, e se considera que o que é de outrem, como realmente o é, pertence somente a outrem, homem algum jamais irá constrangê-lo, nenhum homem o embaraçará e a nenhum homem você culpará ou acusará; você nada fará involuntariamente (contra a sua vontade), nenhum homem será capaz de lhe causar mal e homem nenhum será seu inimigo, pois nenhum mal você poderá sofrer.

O Sol não espera que lhe supliquem difundir luz e calor. Imite-o e faça todo o bem que puder, sem esperar que lhe implorem.

Quando perguntavam a Sócrates de que país ele era, não respondia que era cidadão de Atenas, mas cidadão do mundo.

Pratique sozinho, pelo amor de Deus, em situações simples, e, só então, aborde as situações mais complexas.

Acusar os outros pelos próprios infortúnios é um sinal de falta de educação; acusar-se a si mesmo mostra que a educação começou; não acusar nem a si nem aos outros mostra que a educação está completa.

Só os homens que se educam são livres.

Para tudo que parecer desagradável, pense: Isso é só aparência e de modo algum o que parece ser.

 

 

 

Faça o possível para ser dono dos seus desejos.

Abra os olhos: veja as coisas como elas são e preserve-se, assim, da dor causada pelos falsos apegos os estragos inevitáveis.

O que fazemos é menos importante do que a maneira como o fazemos.

Um dos sinais que indicam o início do nosso progresso moral é a extinção gradual da culpa.

Crie o seu próprio mérito.

É preferível morrer de fome mas livre de desgostos e medos, a viver na abundância acossado por preocupações, temores, desconfianças e desejos incontroláveis.

A virtude não é uma questão de graus; a virtude é um absoluto. [Um Imperativo Categórico].

 

 

A imperturbabilidade do mare

 

 

 

Uma Pergunta Final

 

O que adianta lermos milhares de livros, sermos membros de diversas Fraternidades e passarmos por dezenas de Iniciações, se agimos como o pior dos profanos quando somos contrariados ou quando alguma coisa em nossa vida não ocorre exatamente conforme planejamos ou como gostaríamos que ocorresse? Epicteto resumiu isso muito bem quando ensinou: A virtude não é uma questão de graus.

 

 

 

 

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Notas:

1. Tanto os Discursos (Diatribes) quanto o Manual (Encheiridion) são compilações informais dos ensinamentos de Epicteto feitas por Fávio Arriano (século II d. C.), sendo que o Encheiridion é um manual (resumo) das máximas mais significativas de Epicteto extraídas das Diatribes.

2. O Estoicismo é uma doutrina filosófica que propõe viver de acordo com a lei racional da natureza e aconselha a indiferença (apatheia) em relação a tudo que é externo ao ser. O homem sábio obedece à lei natural reconhecendo-se como uma peça na grande ordem e propósito do Universo. O Estoicismo floresceu na Grécia com Cleantes de Assos e Crisipo de Solis, sendo levada para Roma no ano 155 a. C. por Diógenes de Babilônia. Ali seus continuadores foram Marco Aurélio, Sêneca, Epicteto e Lucano. A ética estóica não brota de nenhuma teoria metafísica, mas sim do ideal prático proclamado já pelo Cinismo: o homem sábio não apreende o seu verdadeiro bem nos objetos externos, mas no estado da própria alma, sabedoria pela qual se vê livre das paixões e dos desejos que perturbam a vida. O homem sábio e virtuoso é indiferente a todas as coisas exteriores. A última época do Estoicismo, ou período romano, caracteriza-se pela sua tendência prática e religiosa, como se verifica nos Discursos e no Encheiridion de Epicteto e nos Pensamentos ou Meditações de Marco Aurélio.

3. Duas coisas me enchem o ânimo de admiração e respeito: o céu estrelado acima de mim e a Lei Moral que está em mim. [Immanuel Kant (1724-1804), Crítica da Razão Pura]. Imperativo Categórico: Age somente, segundo uma máxima tal, de tal forma que possas querer, ao mesmo tempo, que se torne uma Lei Universal. Imperativo Universal: Age como se a máxima de tua ação devesse se tornar, por tua vontade, uma Lei Universal da Natureza. Imperativo Prático: Age de tal modo que possas usar a Humanidade – tanto em tua pessoa como na pessoa de qualquer outro – sempre como um fim ao mesmo tempo; nunca apenas como um meio.

4. ShOPhIa: 300 + 6 + 80 + 10 = 396 = 18 = 9.

 

Bibliografia

EPITECTO. A arte de viver: uma nova interpretação de Sharon Lebell. Tradução de Maria Luiza Newlands da Silveira. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.

REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia (Antigüidade e Idade Média). Volume 1. São Paulo: Paulinas, 1990.

 

Páginas da Internet e Websites consultados:

http://www.web-books.com/Classics/Nonfiction/
Philosophy/Epictetus_Dis/Contents.htm

http://www.mlahanas.de/
Greeks/Texts/Epictetus/Encheiridion.html

http://www.wku.edu/~jan.garrett/stoa/metepict.htm

http://san.beck.org/Epictetus.html

http://es.wikipedia.org/wiki/Flavio_Arriano

http://pt.wikipedia.org/wiki/Estoicismo

http://br.geocities.com/leandro_e_vanessa/frases

http://educaterra.terra.com.br/
voltaire/cultura/descartes3.htm

http://pt.wikiquote.org/wiki/Epicteto

http://pt.wikipedia.org/wiki/Epiteto

http://www.unicamp.br/~jmarques/
gip/AnaisColoquio2005/cd-pag-texto-23.htm

http://classics.mit.edu/Epictetus/epicench.html

 

Música de fundo:

Cycles

Fonte:

http://www.etplanet.com/download/midi/




 

 

A virtude não é uma questão de graus.