ENTREVISTA
COM DEUS
(O
Simbólico e o Simbolizado)
Recém-formado em jornalismo,
um jovem repórter resolveu fazer uma entrevista com Deus. Agendou
a entrevista com São Pedro, e no dia marcado se apresentou
na Casa do Senhor.
—
Entre. Fui
avisado que você quer me entrevistar — convidou
Deus sorrindo.
— Bom, se o Senhor tiver um tempinho disponível...
— respondeu o repórter meio acanhado.
—
Meu tempo é chamado de eternidade e está disponível
para todos e para tudo. Que perguntas você quer me
fazer? — disse Deus amavelmente.
— Nenhuma delas é novidade. Acho que não pode
ser difícil para o Senhor responder a qualquer uma. Basicamente,
eu gostaria de saber o que mais Te surpreende nos homens?
Sem pestanejar, Deus respondeu imediatamente:
—
Os homens se cansam de ser crianças e têm pressa
de crescer; depois que crescem, suspiram para voltar a ser crianças.
— Os homens primeiro perdem a saúde para conseguir
dinheiro; depois perdem o dinheiro para tentar recuperar a saúde.
—
Os homens, por se preocuparem tanto com o futuro, se esquecem
do presente e se descuidam da hora atual. O resultado é que
não vivem nem o presente e nem o futuro. Depois, o que é
pior, ficam se lamentando e remoendo o passado.
—
Por outro lado, os homens vivem como se nunca fossem morrer; e
morrem como se nunca tivessem existido.
Houve
um profundo silêncio por alguns instantes, e, para mudar o clima,
o repórter continuou: — Posso fazer outra pergunta?
Deus não respondeu com palavras, mas assentiu com o olhar mais
terno que o jovem jornalista jamais houvera visto. Depois de refeito
daquele penetrante e doce olhar divino, o repórter perguntou:
— Como Pai boníssimo e amantíssimo que és,
o que Tu pedirias ou recomendarias para que os Teus filhos realizassem
agora, imediatamente?
Novamente,
sem se deter para pensar, Deus respondeu suavemente:
— Que aprendam que não podem querer que as pessoas
os amem necessariamente e que não podem obrigá-las a
fazer o que eles acham que é certo; precisam aprender a libertar
todos os seres e compreender que devem se deixar amar livremente.
—
Que aprendam que se leva anos para se construir a confiança
e a liberdade, e apenas segundos para destruí-las.
—
Que aprendam que o mais valioso na vida, não é o
que têm na vida; mas, sim, o que fazem com a Vida que receberam
por empréstimo.
— Que aprendam que de nada adianta se compararem com os
outros, pois sempre haverá alguém melhor ou pior, maior
ou menor e mais ou menos evoluído do que eles.
— Que aprendam que ricos não são os que têm
mais bens materiais; mas, sim, aqueles que menos necessitam de títulos,
de honrarias e de posses materiais. Bem-aventurados os pobres de desejos
e de paixões porque deles é o Reino.
— Que aprendam que devem controlar suas emoções,
ou as suas emoções os dominarão.
— Que aprendam que, em segundos, podem produzir feridas
dolorosas e profundas nas pessoas, feridas que podem levar anos para
cicatrizar.
—
Que aprendam que perdoar se aprende praticando, mas que compreender
só se apreende ouvindo a Minha Voz em seus Corações.
—
Que aprendam que há pessoas que os amam muito, mas que,
simplesmente, algumas não sabem como demonstrar ou explicitar
esse amor.
— Que aprendam que o dinheiro pode comprar qualquer coisa
do mundo menos a Santa Liberdade, a Chave do Reino e a Vida Eterna.
— Que aprendam que, quando ficarem aborrecidos, têm,
se quiserem, todo o direito de assim ficar; mas que isto não
lhes dá o direito, 'ipso facto', de afligir ou de transferir
esse aborrecimento para os que estão à sua volta.
— Que aprendam que os grandes sonhos não precisam
de grandes asas, mas de obstinação férrea para
realizá-los.
— Que aprendam que amigos de verdade são escassos;
e que quem tiver encontrado um, encontrou um verdadeiro tesouro.
— Que aprendam que nem sempre é suficiente ser perdoado
pelos outros; o mais importante perdoar a si mesmo.
— Que aprendam que são senhores daquilo que não
dizem e escravos daquilo que falam.
— Que aprendam que a verdadeira realização
não é atingir as metas as quais se propuseram; mas que
aprendam a ser felizes com o pouco ou com o muito pouco que já
conquistaram.
— Que aprendam que a felicidade também não
é uma questão de sorte, de destino ou dependente de
um favor especial que de Mim esperem; mas que é o produto de
seus pensamentos e das suas próprias decisões. Portanto,
ou aprendem a ser felizes com o que têm e são, ou sofrerão
amargamente por ainda não serem o que gostariam de ser e pelo
que insistem em hipoteticamente querer ter.
— Que aprendam que – sem que importem as conseqüências
– aqueles que são honestos consigo e com todos conhecerão
a Santa Vida e conquistarão suas Impressões Digitais
Cósmicas na Eterna Vida.
— Que aprendam que, apesar de pensarem que não têm
nada mais para alcançar e suas vidas se tornaram um fardo e
difíceis de ser suportadas, quando Minha Voz fala em seus Corações
é encontrada a fortaleza interior para que sejam vencidas as
dores da vida, as dificuldades da existência e as derrotas por
eles programadas.
— Que aprendam que submetendo e humilhando as pessoas que
amam, elas se afastarão; porém, se essas pessoas forem
respeitadas em suas individualidades e deixadas livres ficarão
ao lado deles.
—
Que aprendam que, apesar de a palavra amor ter significados diferentes,
ela perderá o valor se for usada de forma falsa ou futilmente.
— Que aprendam que amar e querer absolutamente não
são sinônimos; mas verdadeiros antônimos. Querer
é exigir, obrigar, obsedar. Amar é conceder, eximir,
desobstaculizar.
—
Que aprendam que tudo no Universo é regido por Imperativos
Categóricos; os imperativos hipotéticos são ilusórios
e só causam ilusões e retrocesso.
— Que aprendam, enfim e portanto, que jamais poderão
fazer algo tão excepcional ou tão magnífico para
que Eu os ame ainda mais do que já amo; e que jamais poderão
fazer coisa alguma tão mesquinha ou tão repulsiva que
faça com que Eu os ame menos. Simplesmente Eu os amo e os amarei
'ad semper', apesar das suas carências, limitações,
obliqüidades e deformidades. Nem todos os demônios do Universo
– que demônios se fizeram – podem mudar isso.
Depois
de agradecer a entrevista, o repórter, em silêncio absoluto,
se retirou da Casa do Senhor. Metade do que Deus lhe dissera ele não
entendera! Ora, não poderia ser diferente; sua religião
lhe ensinara coisas completamente diferentes.
Editado
da fonte:
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