(O Simbólico e o Simbolizado)

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

 

 

ENTREVISTA COM DEUS

(O Simbólico e o Simbolizado)

 


Recém-formado em jornalismo, um jovem repórter resolveu fazer uma entrevista com Deus. Agendou a entrevista com São Pedro, e no dia marcado se apresentou na Casa do Senhor.

Entre. Fui avisado que você quer me entrevistar — convidou Deus sorrindo.

Bom, se o Senhor tiver um tempinho disponível... — respondeu o repórter meio acanhado.

Meu tempo é chamado de eternidade e está disponível para todos e para tudo. Que perguntas você quer me fazer? — disse Deus amavelmente.

Nenhuma delas é novidade. Acho que não pode ser difícil para o Senhor responder a qualquer uma. Basicamente, eu gostaria de saber o que mais Te surpreende nos homens?

Sem pestanejar, Deus respondeu imediatamente:

Os homens se cansam de ser crianças e têm pressa de crescer; depois que crescem, suspiram para voltar a ser crianças.

Os homens primeiro perdem a saúde para conseguir dinheiro; depois perdem o dinheiro para tentar recuperar a saúde.

Os homens, por se preocuparem tanto com o futuro, se esquecem do presente e se descuidam da hora atual. O resultado é que não vivem nem o presente e nem o futuro. Depois, o que é pior, ficam se lamentando e remoendo o passado.

Por outro lado, os homens vivem como se nunca fossem morrer; e morrem como se nunca tivessem existido.

Houve um profundo silêncio por alguns instantes, e, para mudar o clima, o repórter continuou: — Posso fazer outra pergunta?

Deus não respondeu com palavras, mas assentiu com o olhar mais terno que o jovem jornalista jamais houvera visto. Depois de refeito daquele penetrante e doce olhar divino, o repórter perguntou: — Como Pai boníssimo e amantíssimo que és, o que Tu pedirias ou recomendarias para que os Teus filhos realizassem agora, imediatamente?

Novamente, sem se deter para pensar, Deus respondeu suavemente:

Que aprendam que não podem querer que as pessoas os amem necessariamente e que não podem obrigá-las a fazer o que eles acham que é certo; precisam aprender a libertar todos os seres e compreender que devem se deixar amar livremente.

Que aprendam que se leva anos para se construir a confiança e a liberdade, e apenas segundos para destruí-las.

Que aprendam que o mais valioso na vida, não é o que têm na vida; mas, sim, o que fazem com a Vida que receberam por empréstimo.

Que aprendam que de nada adianta se compararem com os outros, pois sempre haverá alguém melhor ou pior, maior ou menor e mais ou menos evoluído do que eles.

Que aprendam que ricos não são os que têm mais bens materiais; mas, sim, aqueles que menos necessitam de títulos, de honrarias e de posses materiais. Bem-aventurados os pobres de desejos e de paixões porque deles é o Reino.

Que aprendam que devem controlar suas emoções, ou as suas emoções os dominarão.

Que aprendam que, em segundos, podem produzir feridas dolorosas e profundas nas pessoas, feridas que podem levar anos para cicatrizar.

Que aprendam que perdoar se aprende praticando, mas que compreender só se apreende ouvindo a Minha Voz em seus Corações.

Que aprendam que há pessoas que os amam muito, mas que, simplesmente, algumas não sabem como demonstrar ou explicitar esse amor.

Que aprendam que o dinheiro pode comprar qualquer coisa do mundo menos a Santa Liberdade, a Chave do Reino e a Vida Eterna.

Que aprendam que, quando ficarem aborrecidos, têm, se quiserem, todo o direito de assim ficar; mas que isto não lhes dá o direito, 'ipso facto', de afligir ou de transferir esse aborrecimento para os que estão à sua volta.

Que aprendam que os grandes sonhos não precisam de grandes asas, mas de obstinação férrea para realizá-los.

Que aprendam que amigos de verdade são escassos; e que quem tiver encontrado um, encontrou um verdadeiro tesouro.

Que aprendam que nem sempre é suficiente ser perdoado pelos outros; o mais importante perdoar a si mesmo.

Que aprendam que são senhores daquilo que não dizem e escravos daquilo que falam.

Que aprendam que a verdadeira realização não é atingir as metas as quais se propuseram; mas que aprendam a ser felizes com o pouco ou com o muito pouco que já conquistaram.

Que aprendam que a felicidade também não é uma questão de sorte, de destino ou dependente de um favor especial que de Mim esperem; mas que é o produto de seus pensamentos e das suas próprias decisões. Portanto, ou aprendem a ser felizes com o que têm e são, ou sofrerão amargamente por ainda não serem o que gostariam de ser e pelo que insistem em hipoteticamente querer ter.

Que aprendam que – sem que importem as conseqüências – aqueles que são honestos consigo e com todos conhecerão a Santa Vida e conquistarão suas Impressões Digitais Cósmicas na Eterna Vida.

Que aprendam que, apesar de pensarem que não têm nada mais para alcançar e suas vidas se tornaram um fardo e difíceis de ser suportadas, quando Minha Voz fala em seus Corações é encontrada a fortaleza interior para que sejam vencidas as dores da vida, as dificuldades da existência e as derrotas por eles programadas.

Que aprendam que submetendo e humilhando as pessoas que amam, elas se afastarão; porém, se essas pessoas forem respeitadas em suas individualidades e deixadas livres ficarão ao lado deles.

Que aprendam que, apesar de a palavra amor ter significados diferentes, ela perderá o valor se for usada de forma falsa ou futilmente.

Que aprendam que amar e querer absolutamente não são sinônimos; mas verdadeiros antônimos. Querer é exigir, obrigar, obsedar. Amar é conceder, eximir, desobstaculizar.

— Que aprendam que tudo no Universo é regido por Imperativos Categóricos; os imperativos hipotéticos são ilusórios e só causam ilusões e retrocesso.

Que aprendam, enfim e portanto, que jamais poderão fazer algo tão excepcional ou tão magnífico para que Eu os ame ainda mais do que já amo; e que jamais poderão fazer coisa alguma tão mesquinha ou tão repulsiva que faça com que Eu os ame menos. Simplesmente Eu os amo e os amarei 'ad semper', apesar das suas carências, limitações, obliqüidades e deformidades. Nem todos os demônios do Universo – que demônios se fizeram – podem mudar isso.

Depois de agradecer a entrevista, o repórter, em silêncio absoluto, se retirou da Casa do Senhor. Metade do que Deus lhe dissera ele não entendera! Ora, não poderia ser diferente; sua religião lhe ensinara coisas completamente diferentes.

Editado da fonte:

http://www.dsa.org.br/bancoMateriais/Novos
Materiais/Artigos/ENTREVIST%20c%20Deus.doc


 

 

 

 

 

A felicidade não é mesmo uma questão de sorte,

mas de consciência da Consciência;

como também não é azar morrer depois da morte

por pura indolência ou negligência.

 

Promessas, rogatórios, dízimos e escapulários

não comprarão o simbólico Reino;

já cantar milmil ladainhas e rezar milmil rosários

colorem tão-só um instante leino.

 

Como tenho prometido, repito mais uma vez,

e redirei lá de vez em vez:

o Reino dos Céus deve ser construído in Corde.

 

Como tenho prometido, repito mais uma vez,

e redirei lá de vez em vez:

a Voz do Mestre-Deus só será ouvida in Corde.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fundo musical:

Ladainha de Nossa Senhora (Marcos Coelho Neto)

Fonte:

http://www.geocities.com/
RainForest/9468/lancamen.htm#Ladainhas