Friedrich Engels

 

 

 

 

Friedrich Engels

Friedrich Engels

 

 

 

 

Uma colaboração de
Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Resolvi fazer uma rápida releitura de alguns textos de Friedrich Engels. Aproveitei, então, para garimpar alguns fragmentos de suas reflexões filosóficas e divulgá-los. Contudo, não posso deixar de novamente advertir: podemos discordar do pensamento de um autor; o que não podemos é desqualificá-lo simplesmente porque dele discordamos. Muitos têm o péssimo hábito, por tentarem imitar os deuses que eles mesmos criaram, de se arvorarem, ao mesmo tempo, em juízes-deuses e deuses-carrascos dos outros. Isto é péssimo, pois impede que a dialetização ocorra. E uma consciência distanciada da Dialética, em círculos repetitivos, apenas mói e remói as mesmas idéias e os mesmos preconceitos acachapantes.

 

Precisamos, todos nós, nos esforçar para dar um salto quantitativo e qualitativo do reino da abjeta servidão para o reino da Iluminada Liberdade. Ora, isto que acabei de afirmar, provavelmente, não se dará com a leitura de Engels ou de quem quer que seja; mas seja de Engels ou de quem quer que seja, pôr de lado puramente a priori qualquer reflexão filosófica é um ato inquisitorial, intolerante e parcial, reflexo distorcido da mais estúpida [in]decisão. Decisão estúpida de ficar na mesma; indecisão retrógrada de se resolver a dar, exatamente, um salto quantitativo e qualitativo do reino da abjeta servidão para o reino da Iluminada Liberdade.

 

 

 

 

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Friedrich Engels (Wuppertal, 28 de novembro de 1820 – Londres, 4 de agosto de 1895) foi um filósofo alemão que junto com Karl Marx fundou o chamado Socialismo Científico ou Marxismo. Ele foi co-autor de diversas obras com Marx, sendo que a mais conhecida é o Manifesto Comunista. Também ajudou a publicar, após a morte de Marx, os dois últimos volumes de O Capital, principal obra de seu amigo e colaborador. Protetor de Karl Marx, Engels desempenhou papel de destaque na elaboração da doutrina comunista, sendo considerado o principal colaborador de Karl Marx na elaboração das teorias do Materialismo Histórico.

 

Quando estudante, aderiu às idéias de esquerda, o que o levou a se aproximar de Marx. Assumiu, por alguns anos, a direção de uma das fábricas do pai, em Manchester, e suas observações nesse período formaram a base de uma de suas obras principais: A Situação das Classes Trabalhadoras na Inglaterra, publicada em 1845. Escreveu algumas das obras mais importantes para o desenvolvimento do Marxismo, como, por exemplo, Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Alemã, Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico e A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado.

 

 

 

 

Fragmentos Selecionados
do Pensamento de Engels

 

 

 

 

 

 

 

 

O escravo está vendido de uma vez para sempre; o proletário tem de se vender a si próprio diariamente e hora a hora. O indivíduo escravo, propriedade de um senhor, tem uma existência assegurada, por muito miserável que seja, em virtude do interesse do senhor; o indivíduo proletário – propriedade, por assim dizer, de toda a classe burguesa – a quem o trabalho só é comprado quando alguém dele precisa, não tem a existência assegurada. Esta existência está apenas assegurada a toda a classe dos proletários. O escravo está fora da concorrência; o proletário está dentro dela e sente todas as suas flutuações. O escravo vale como uma coisa, não como um membro da sociedade civil; o proletário é reconhecido como pessoa, como membro da sociedade civil. O escravo pode, portanto, levar uma existência melhor do que a do proletário, mas o proletário pertence a uma etapa superior do desenvolvimento da sociedade e está, ele próprio, em uma etapa superior à do escravo. O escravo liberta-se, ao abolir de entre todas as relações de propriedade privada, apenas a relação de escravatura, e ao tornar-se, assim, ele próprio proletário; o proletário só pode libertar-se ao abolir a propriedade privada em geral.

 

A Revolução Industrial desenvolveu por toda a parte o proletariado na mesma medida em que desenvolveu a burguesia. Na proporção em que os burgueses se tornavam mais ricos, tornavam-se os proletários mais numerosos. Uma vez que os proletários somente por meio do Capital podem ter emprego e o Capital só se multiplica quando emprega trabalho, a multiplicação do proletariado avança precisamente ao mesmo passo que a multiplicação do Capital. Ao mesmo tempo, concentra tanto os burgueses como os proletários em grandes cidades, nas quais se torna mais vantajoso explorar a indústria, e com esta concentração de grandes massas em um mesmo lugar dá ao proletariado a consciência da sua força. Além disso, quanto mais a Revolução Industrial se desenvolve, quanto mais se inventam novas máquinas que suplantam o trabalho manual, tanto mais a grande indústria reduz os salários ao seu mínimo e torna, por esse fato, a situação do proletariado cada vez mais insuportável. Deste modo, ela prepara, por um lado, com o descontentamento crescente e, por outro lado, com o poder crescente do proletariado, uma revolução da sociedade pelo proletariado.

 

A grande indústria criou, com a máquina a vapor e as outras máquinas, os meios para multiplicar até ao infinito a produção industrial em um tempo curto e com poucos custos. Sendo a produção tão fácil, a livre concorrência necessariamente decorrente desta grande indústria muito depressa assumiu um caráter extremamente intenso; um grande número de capitalistas lançou-se na indústria e, a breve trecho, produzia-se mais do que podia ser consumido. A conseqüência disto foi que as mercadorias fabricadas não podiam ser vendidas e sobreveio uma chamada crise comercial. As fábricas tiveram de ficar paradas, os fabricantes caíram na bancarrota e os operários ficaram sem pão. Por toda a parte sobreveio a maior miséria. Depois de algum tempo foram-se vendendo os produtos em excesso, as fábricas voltaram a trabalhar, o salário subiu e, pouco a pouco, os negócios passaram a ir melhor do que nunca. Mas não por muito tempo, já que de novo voltaram a produzir-se mercadorias em excesso e sobreveio uma nova crise, que seguiu precisamente o mesmo curso que a anterior. Assim, desde o começo deste século, a situação da indústria tem oscilado continuamente entre épocas de prosperidade e épocas de crise, e quase regularmente, de cinco em cinco anos, ou de sete em sete anos, sobreveio uma destas crises, de todas as vezes conjugada com a maior miséria dos operários, com uma agitação revolucionária geral e com o maior perigo para toda a ordem vigente.

 

A nova ordem social tirará a exploração da indústria e de todos os ramos da produção em geral das mãos de cada um dos indivíduos singulares em concorrência uns com os outros e, em vez disso, terá de fazer explorar todos esses ramos da produção por toda a sociedade, isto é, por conta da comunidade, segundo um plano da comunidade e com a participação de todos os membros da sociedade. Abolirá, portanto, a concorrência, e estabelecerá, em lugar dela, a associação. Uma vez que a exploração da indústria por singulares tinha como conseqüência necessária a propriedade privada, e que a concorrência não é mais do que o modo da exploração da indústria pelos proprietários privados individuais, a propriedade privada não pode ser separada da exploração individual da indústria nem da concorrência. A propriedade privada terá, portanto, igualmente de ser abolida e, em seu lugar, estabelecer-se-á a utilização comum de todos os instrumentos de produção e a repartição de todos os produtos segundo acordo comum ou a chamada comunidade dos bens. A abolição da propriedade privada é mesmo a expressão mais breve e mais característica desta transformação de toda a ordem social necessariamente resultante do desenvolvimento da indústria, e, por isso, é com razão avançada pelos comunistas como reivindicação principal.

 

A ordem social comunista sobre a família fará da relação de ambos os sexos uma pura relação privada, que diz respeito apenas às pessoas que nela participam e em que a sociedade não tem de se imiscuir. Ela pode fazê-lo, uma vez que aboliu a propriedade privada e educa as crianças comunitariamente e, por este fato, anula as duas bases fundamentais do atual matrimônio: a dependência, por intermédio da propriedade privada, da mulher relativamente ao homem e dos filhos relativamente aos pais. Aqui se encontra também a resposta à gritaria tão moralista dos filisteus contra a comunidade comunista das mulheres. A comunidade das mulheres é uma relação que pertence totalmente à sociedade burguesa e, hoje em dia, reside inteiramente na prostituição. A prostituição repousa, porém, sobre a propriedade privada, e cai com ela. Portanto, a organização comunista, em vez de introduzir a comunidade das mulheres, muito pelo contrário, suprime-a.

 

Os socialistas dividem-se em três classes. A primeira classe consiste nos partidários da sociedade feudal e patriarcal que foi aniquilada, e que continua ainda a ser diariamente aniquilada, pela grande indústria, pelo comércio mundial e pela sociedade burguesa por ambos criada. Esta classe tira dos males da sociedade atual a conclusão de que a sociedade feudal e patriarcal teria de ser restabelecida, porque estava livre destes males. Todas as suas propostas se dirigem, por caminhos direitos ou tortuosos, para este objetivo. Esta classe de socialistas reacionários, apesar da sua pretensa compaixão e das suas lágrimas ardentes pela miséria do proletariado, será, todavia, contínua e energicamente combatida pelos comunistas porque: 1º) se esforça por atingir algo puramente impossível; 2º) procura restabelecer o domínio da aristocracia, dos mestres das corporações e dos proprietários de manufaturas, com o seu cortejo de reis absolutos ou feudais, de funcionários, de soldados e de padres, uma sociedade que, por certo, estava livre dos males da sociedade atual, mas que, em contrapartida, trazia consigo, pelo menos, outros tantos males, e não oferecia a perspectiva de libertação dos operários oprimidos por meio de uma organização comunista; e 3º) ela mostra os seus verdadeiros desígnios quando o proletariado se torna revolucionário e comunista, aliando-se, então, imediatamente com a burguesia contra os proletários. A segunda classe consiste nos partidários da sociedade atual aos quais os males dela necessariamente decorrentes provocaram apreensões quanto à subsistência desta sociedade. Eles procuram, por conseguinte, conservar a sociedade atual, mas eliminar os males que a ela estão ligados. Com este objetivo, propõem, uns, simples medidas de beneficência, outros, grandiosos sistemas de reformas que, sob o pretexto de reorganizarem a sociedade, querem conservar as bases da sociedade atual e, com elas, a sociedade atual. Estes socialistas burgueses terão igualmente de ser combatidos constantemente pelos comunistas, uma vez que eles trabalham para os inimigos dos comunistas e defendem a sociedade que os comunistas querem precisamente derrubar. A terceira classe consiste, finalmente, nos socialistas democráticos que, pela mesma via que os comunistas, querem uma transição para o Comunismo, mas com medidas que são suficientes para abolir a miséria e fazer desaparecer os males da sociedade atual. Estes socialistas democráticos ou são proletários que ainda não estão suficientemente esclarecidos acerca das condições da libertação da sua classe ou são representantes dos pequenos burgueses, uma classe que, até à conquista da Democracia e das medidas socialistas dela decorrentes, sob muitos aspectos, têm os mesmos interesses que os proletários. Por isto, os comunistas entender-se-ão, nos momentos de ação, com esses socialistas democráticos e em geral terão de seguir com eles, de momento, uma política o mais possível comum, desde que esses socialistas não se ponham a serviço da burguesia dominante e não ataquem os comunistas. É claro que este modo de ação comum não exclui a discussão das divergências com eles.

 

A moderna sociedade burguesa, saída do declínio da sociedade feudal, não aboliu as oposições de classes. Apenas pôs novas classes, novas condições de opressão e novas configurações de luta no lugar das antigas. A nossa época – a época da burguesia – distingue-se, contudo, por ter simplificado as oposições de classes. A sociedade toda cinde-se, cada vez mais, em dois grandes campos inimigos, em duas grandes classes que diretamente se enfrentam: burguesia e proletariado. A burguesia moderna é, ela própria, o produto de um longo curso de desenvolvimento, de uma série de revolucionamentos nos modos de produção e de intercâmbio. A burguesia, lá onde chegou à dominação, destruiu todas as relações feudais, patriarcais e idílicas. Rasgou, sem misericórdia, todos os variegados laços feudais que prendiam o homem aos seus superiores naturais e não deixou outro laço entre homem e homem que não o do interesse nu, o do insensível 'pagamento a pronto'. Afogou o frêmito sagrado da exaltação pia, do entusiasmo cavalheiresco e da melancolia pequeno-burguesa na água gelada do cálculo egoísta. Resolveu a dignidade pessoal no valor de troca, e no lugar das inúmeras liberdades bem adquiridas e certificadas pôs a liberdade única, sem escrúpulos, de comércio. Em uma palavra: no lugar da exploração encoberta com ilusões políticas e religiosas pôs a exploração seca, direta, despudorada, aberta. A burguesia despiu da sua aparência sagrada todas as atividades até aqui veneráveis e consideradas com pia reverência. Transformou o médico, o jurista, o padre, o poeta, o homem de ciência em trabalhadores assalariados pagos por ela. A burguesia arrancou à relação familiar o seu comovente véu sentimental e reduziu-a a uma pura relação de dinheiro. A burguesia pôs a descoberto com a brutal exteriorização de força, que a reação tanto admira na Idade Média, vícios na mais indolente indiferença o seu complemento adequado. Foi ela quem primeiro demonstrou o que a atividade dos homens pode conseguir. Realizou maravilhas completamente diferentes das pirâmides egípcias, dos aquedutos romanos e das catedrais góticas, levou a cabo expedições completamente diferentes das antigas migrações de povos e das cruzadas. A burguesia não pode existir sem revolucionar permanentemente os instrumentos de produção, portanto as relações de produção, portanto as relações sociais todas. A conservação inalterada do antigo modo de produção era, pelo contrário, a condição primeira de existência de todas as anteriores classes industriais. O permanente revolucionamento da produção, o ininterrupto abalo de todas as condições sociais, a incerteza e o movimento eternos distinguem a época da burguesia de todas as outras. Todas as relações fixas e enferrujadas, com o seu cortejo de vetustas representações e intuições, são dissolvidas, todas as recém-formadas envelhecem antes de poderem ossificar-se. Tudo o que era dos Estados [ou ordens sociais – 'ständisch'] e estável se volatiliza, tudo o que era sagrado é dessagrado, e os homens são, por fim, obrigados a encarar com olhos prosaicos a sua posição na vida, as suas ligações recíprocas.

 

Examinando as condições econômicas, industriais e agrícolas que estão na base da atual sociedade burguesa, verificamos que tendem a substituir cada vez mais a ação isolada pela ação combinada dos indivíduos. A indústria moderna substituiu as pequenas oficinas de produtores isolados pelas grandes fábricas e oficinas onde centenas de operários vigiam máquinas complexas movidas pelo vapor; os carros e as camionetas nas grandes estradas são suplantados pelos comboios nas vias férreas, tal como as pequenas escunas e faluas à vela o foram pelos barcos a vapor. A própria agricultura caiu pouco a pouco no domínio da máquina e do vapor, os quais substituem lenta, mas inexoravelmente, os pequenos proprietários pelos grandes capitalistas que cultivam, com a ajuda de operários assalariados, grandes superfícies de terrenos. Em todo o lado, a ação independente dos indivíduos é substituída, pela ação combinada, a complicação dos processos interdependentes. Mas, quem diz ação combinada, diz organização; ora, é possível a organização sem a autoridade?

 

Se, pela ciência e pelo seu gênio inventivo, o homem submeteu as forças da Natureza, estas se vingam, submetendo-o, já que delas se usa com um verdadeiro despotismo independente de qualquer organização social.

 

O trabalho é a fonte de toda riqueza, afirmam os economistas. Assim é, com efeito, ao lado da natureza, encarregada de fornecer os materiais que ele converte em riqueza. O trabalho, porém, é muitíssimo mais do que isso. É a condição básica e fundamental de toda a vida humana. E em tal grau que, até certo ponto, podemos afirmar que o trabalho criou o próprio homem.

 

A mão não é apenas o órgão do trabalho; é também produto dele. Unicamente pelo trabalho, pela adaptação a novas e novas funções, pela transmissão hereditária do aperfeiçoamento especial assim adquirido pelos músculos e ligamentos e, num período mais amplo, também pelos ossos. Unicamente pela aplicação, sempre renovada, dessas habilidades transmitidas a funções novas e cada vez mais complexas foi que a mão do homem atingiu esse grau de perfeição que pôde dar vida, como por artes de magia, aos quadros de Rafael, às estátuas de Thorwaldsen e à música de Paganini.

 

Nada ocorre em a Natureza em forma isolada. Cada fenômeno afeta outro, e é, por seu turno, influenciado por este.

 

 

 

 

Quanto mais os homens se afastam dos animais, mais sua influência sobre a Natureza adquire um caráter de uma ação intencional e planejada, cujo fim é alcançar objetivos projetados de antemão. Os animais destroçam a vegetação do lugar sem se dar conta do que fazem. Os homens, em troca, quando destroem a vegetação o fazem com o fim de utilizar a superfície que fica livre para semear trigo, plantar árvores ou cultivar a videira, conscientes de que a colheita que irão obter superará várias vezes o semeado por eles. O homem traslada de um país para outro plantas úteis e animais domésticos, modificando assim a flora e a fauna de continentes inteiros. Mais ainda: as plantas e os animais, cultivadas aquelas e criados estes em condições artificiais, sofrem tal influência da mão do homem que se tornam irreconhecíveis.

 

Só o que podem fazer os animais é utilizar a Natureza e modificá-la pelo mero fato de sua presença nela. O homem, ao contrário, modifica a Natureza e a obriga a servir-lhe, domina-a. E aí está, em última análise, a diferença essencial entre o homem e os demais animais, diferença que, mais uma vez, resulta do trabalho. Contudo, não nos deixemos dominar pelo entusiasmo em face de nossas vitórias sobre a Natureza. Após cada uma dessas vitórias, a Natureza adota sua vingança. É verdade que as primeiras conseqüências dessas vitórias são previstas por nós, mas, em segundo e em terceiro lugar, aparecem conseqüências muito diversas, totalmente imprevistas, e que, com freqüência, anulam as primeiras.

 

Com efeito, aprendemos cada dia a compreender melhor as leis da Natureza e a conhecer tanto os efeitos imediatos como as conseqüências remotas de nossa intromissão no curso natural de seu desenvolvimento. Sobretudo depois dos grandes progressos alcançados neste século pelas ciências naturais, estamos em condições de prever e, portanto, de controlar cada vez melhor as remotas conseqüências naturais de nossos atos na produção, pelo menos dos mais correntes. E quanto mais isso seja uma realidade, mais os homens sentirão e compreenderão sua unidade com a Natureza, e mais inconcebível será essa idéia absurda e antinatural da antítese entre o espírito e a matéria, entre o homem e a Natureza, entre a alma e o corpo, idéia que começa a se difundir pela Europa sobre a base da decadência da Antigüidade clássica e que adquire seu máximo desenvolvimento no Cristianismo. (Grifo meu).

 

O Socialismo moderno é, em primeiro lugar, por seu conteúdo, fruto do reflexo na inteligência, de um lado dos antagonismos de classe que imperam na moderna sociedade entre possuidores e despossuídos, capitalistas e operários assalariados, e, de outro lado, da anarquia que reina na produção. Por sua forma teórica, porém, o Socialismo começa apresentando-se como uma continuação, mais desenvolvida e mais conseqüente, dos princípios proclamados pelos grandes pensadores franceses do século XVIII. Como toda nova teoria, o Socialismo, embora tivesse suas raízes nos fatos materiais econômicos, teve de ligar-se, ao nascer, às Idéias existentes.

 

Quando nos detemos a pensar sobre a Natureza, ou sobre a história humana, ou sobre nossa própria atividade espiritual, deparamo-nos, em primeiro plano, com a imagem de uma trama infinita de concatenações e influências recíprocas, em que nada permanece o que era, nem como e onde era, mas tudo se move e se transforma, nasce e morre. Vemos, pois, antes de tudo, a imagem de conjunto, na qual os detalhes passam ainda mais ou menos para o segundo plano; fixamo-nos mais no movimento, nas transições, na concatenação, do que no que se move, se transforma e se concatena. Esta concepção do mundo, primitiva, ingênua, mas essencialmente exata, é a dos filósofos gregos antigos, e aparece claramente expressa pela primeira vez em Heráclito: tudo é e não é, pois tudo flui, tudo se acha sujeito a um processo constante de transformação, de incessante nascimento e caducidade. Mas essa concepção, por mais exatamente que reflita o caráter geral do quadro que nos é oferecido pelos fenômenos, não basta para explicar os elementos isolados que formam esse quadro total; sem conhecê-los, a imagem geral não adquirirá tampouco um sentido claro. Para penetrar nesses detalhes, temos de despregá-los do seu tronco histórico ou natural e investigá-los separadamente, cada qual por si, em seu caráter, causas, efeitos especiais etc. Tal é a missão primordial das ciências naturais e da História, ramos de investigação que os gregos clássicos situavam, por motivos muito justificados, em um plano puramente secundário, pois, primariamente, deviam dedicar-se a acumular os materiais científicos necessários. Enquanto não se reúne uma certa quantidade de materiais naturais e históricos, não se pode proceder ao exame crítico, à comparação e, conseqüentemente, à divisão em classes, ordens e espécies. Por isto, os rudimentos das ciências naturais exatas não foram desenvolvidos senão a partir dos gregos do período alexandrino e, mais tarde, na Idade Média, pelos árabes; a ciência autêntica da Natureza data semente da segunda metade do século XV e, desde então, não fez senão progredir a ritmo acelerado. A análise da Natureza em suas diversas partes, a classificação dos diversos processos e objetos naturais em determinadas categorias, a pesquisa interna dos corpos orgânicos segundo sua diversa estrutura anatômica, foram outras tantas condições fundamentais a que obedeceram os gigantescos progressos realizados, durante os últimos quatrocentos anos, no conhecimento científico da Natureza. Esses métodos de investigação, porém, nos transmitiram, ao lado disso, o hábito de enfocar as coisas e os processos da Natureza isoladamente, subtraídos à concatenação do grande todo. Portanto, não em sua dinâmica, mas estaticamente; não como substancialmente variáveis, mas como consistências fixas; não em sua vida, mas em sua morte. Por isto, esse método de observação, ao transplantar-se, com Bacon e Locke, das ciências naturais para a Filosofia, determinou a estreiteza específica característica dos últimos séculos: o método metafísico de especulação.

 

Somente seguindo o caminho da Dialética, não perdendo jamais de vista as inumeráveis ações e reações gerais do devenir e do perecer, das mudanças de avanço e retrocesso, chegaremos a uma concepção exata do Universo, do seu desenvolvimento e do desenvolvimento da Humanidade, assim como da imagem projetada por esse desenvolvimento nas cabeças dos homens. E foi esse, com efeito, o sentido em que começou a trabalhar, desde o primeiro momento, a moderna Filosofia alemã. Kant iniciou sua carreira de filósofo dissolvendo o sistema solar estável de Newton e sua duração eterna – depois de recebido o primeiro impulso – em num processo histórico: no nascimento do Sol e de todos os planetas a partir de uma massa nebulosa em rotação. Daí, deduziu que essa origem implicava também, necessariamente, na morte futura do Sistema Solar. Meio século depois, sua teoria foi confirmada matematicamente por Laplace e, ao fim de outro meio século, o espectroscópio veio demonstrar a existência no espaço daquelas massas ígneas de gás, em diferente grau de condensação.

 

 

 

 

A Filosofia alemã moderna encontrou sua culminância no sistema de Hegel, em que pela primeira vez – e aí está seu grande mérito – se concebe todo o mundo da Natureza, da História e do Espírito como um processo, isto é, em constante movimento, mudança, transformação e desenvolvimento, tentando, além disso, ressaltar a intima conexão que preside esse processo de movimento e desenvolvimento. Contemplada deste ponto de vista, a História da Humanidade já não aparecia como um caos inóspito de violências absurdas, todas igualmente condenáveis diante do foro da razão filosófica hoje já madura, e boas para serem esquecidas quanto antes, mas como o processo de desenvolvimento da própria Humanidade, que cabia, agora, ao pensamento acompanhar em suas etapas graduais e através de todos os desvios, e demonstrar a existência de leis internas que orientam tudo aquilo que, à primeira vista, poderia parecer obra do acaso cego.

 

A concepção materialista da história parte da tese de que a produção, e com ela a troca dos produtos, é a base de toda a ordem social; de que em todas as sociedades que desfilam pela História, a distribuição dos produtos, e juntamente com ela a divisão social dos homens em classes ou camadas, é determinada pelo que a sociedade produz e como produz e pelo modo de trocar os seus produtos. De conformidade com isto, as causas profundas de todas as transformações sociais e de todas as revoluções políticas não devem ser procuradas nas cabeças dos homens nem na idéia que eles façam da verdade eterna ou da eterna justiça, mas nas transformações operadas no modo de produção e de troca; devem ser procuradas não na Filosofia, mas na Economia da época de que se trata. Quando nasce nos homens a consciência de que as instituições sociais vigentes são irracionais e injustas, de que a razão se converteu em insensatez e a bênção em praga, isto não é mais do que um indício de que nos métodos de produção e nas formas de distribuição produziram-se silenciosamente transformações com as quais já não concorda a ordem social, talhada segundo o padrão de condições econômicas anteriores. E assim, já está dito que nas novas relações de produção têm forçosamente que se conter – mais ou menos desenvolvidos – os meios necessários para pôr termo aos males descobertos. E esses meios não devem ser tirados da cabeça de ninguém, mas a cabeça é que tem de descobri-los nos fatos materiais da produção, tal e qual a realidade os oferece.

 

Ao se apossar a sociedade dos meios de produção, cessa a produção de mercadorias e, com ela, o domínio do produto sobre os produtores. A anarquia reinante no seio da produção social cede lugar a uma organização planejada e consciente. Cessa a luta pela existência individual e, assim, em certo sentido, o homem sai definitivamente do reino animal e se sobrepõe às condições animais de existência, para submeter-se a condições de vida verdadeiramente humanas. As condições que cercam o homem e até agora o dominam, colocam-se, a partir deste instante, sob seu domínio e sob seu comando, e o homem, ao se tomar dono e senhor de suas próprias relações sociais, converte-se, pela primeira vez, em senhor consciente e efetivo da Natureza. As leis de sua própria atividade social, que até agora se erguiam frente ao homem como leis naturais, como poderes estranhos que o submetiam a seu império, são agora aplicadas por ele com pleno conhecimento de causa e, portanto, submetidas a seu poderio. A própria existência social do homem, que até aqui era enfrentada como algo imposto pela Natureza e pela História, é, de agora em diante, obra livre sua. Os poderes objetivos e estranhos, que até aqui vinham imperando na História, colocam-se sob o controle do próprio homem. Só a partir de então, ele começa a traçar a sua História com plena consciência do que faz. E só daí em diante, as causas sociais postas em ação por ele começam a produzir predominantemente, e, cada vez em maior medida, os efeitos desejados. É o salto da Humanidade do reino da necessidade para o reino da liberdade.

 

A concepção materialista da História e a revelação do segredo da produção capitalista através da mais-valia, nós as devemos a Karl Marx. Graças a elas o Materialismo converte-se em uma ciência, que só nos resta desenvolver em todos os seus detalhes e concatenações.

 

O desenvolvimento político, jurídico, filosófico, religioso, literário, artístico etc., repousa sobre o desenvolvimento econômico. Mas reagem todos igualmente uns sobre os outros, assim como sobre a base econômica.

 

O movimento proletário é o movimento autônomo da imensa maioria no interesse da imensa maioria.

 

Os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes, ou seja, a classe que tem o poder material dominante em uma dada sociedade é também a potência dominante espiritual. A classe que dispõe dos meios de produção material dispõe igualmente dos meios de produção intelectual, de tal modo que o pensamento daqueles a quem são recusados os meios de produção intelectual está submetido igualmente à classe dominante. Os pensamentos dominantes são apenas a expressão ideal das relações materiais dominantes concebidas sob a forma de idéias e, portanto, a expressão das relações que fazem de uma classe a classe dominante; dizendo de outro modo, são as idéias do seu domínio. Os indivíduos que constituem a classe dominante possuem, entre outras coisas, uma consciência, e é em conseqüência disto que pensam; na medida em que dominam enquanto classe e determinam uma época histórica em toda a sua extensão, é lógico que esses indivíduos dominem em todos os sentidos, que tenham, entre outras, uma posição dominante como seres pensantes, como produtores de idéias, que regulamentem a produção e a distribuição dos pensamentos da sua época; as suas idéias são, portanto, as idéias dominantes da sua época. Consideremos, por exemplo, um país e um tempo em que o poder real, a aristocracia e a burguesia disputam o poder e onde este é portanto partilhado; vemos que o pensamento dominante é aí a doutrina da divisão dos poderes, por isso enunciada como 'lei eterna'.

 

Qual a posição dos comunistas diante dos proletários em geral? Os comunistas não formam um partido à parte, oposto aos outros partidos operários. Não têm interesses que os separem do proletariado em geral. Não proclamam princípios particulares, segundo os quais pretenderiam modelar o movimento operário. Os comunistas só se distinguem dos outros partidos operários em dois pontos: 1º) nas diversas lutas nacionais dos proletários, destacam e fazem prevalecer os interesses comuns do proletariado, independentemente da nacionalidade; 2º) Nas diferentes fases por que passa a luta entre proletários e burgueses, representam, sempre, e em toda parte, os interesses do movimento em seu conjunto. Praticamente, os comunistas constituem, pois, a fração mais resoluta dos partidos operários de cada país, a fração que impulsiona as demais; teoricamente têm sobre o resto do proletariado a vantagem de uma compreensão nítida das condições, da marcha e dos fins gerais do movimento proletário. O objetivo imediato dos comunistas é o mesmo que o de todos os demais partidos proletários: constituição dos proletários em classe, derrubada da supremacia burguesa, conquista do poder político pelo proletariado. As concepções teóricas dos comunistas não se baseiam, de modo algum, em idéias ou princípios inventados ou descobertos por tal ou qual reformador do mundo. São apenas a expressão geral das condições reais de uma luta de classes existente, de um movimento histórico que se desenvolve sob os nossos olhos.

 

Os que no regime burguês trabalham não lucram, e os que lucram não trabalham.

 

 

 

 

Segundo a concepção materialista da História, o fator determinante na História é, em última instância, a produção e a reprodução da vida real.

 

Um grama de ação vale mais do que uma tonelada de teoria.

 

As mais exploradas são as mães do nosso povo. Elas estão de mãos e pés amarrados pela dependência econômica. São forçadas a vender-se no mercado do casamento, como suas irmãs prostitutas no mercado público.

 

Como o Estado nasceu da necessidade de conter o antagonismo das classes, e como, ao mesmo tempo, nasceu em meio ao conflito delas, é, por regra geral, o Estado da classe mais poderosa, da classe economicamente dominante, classe que, por intermédio dele, se converte também em classe politicamente dominante e adquire novos meios para a repressão e exploração da classe oprimida.

 

Quando for possível falar de liberdade, o Estado como tal deixará de existir.

 

A religião nasce das concepções restritas do homem.

 

 

 

 

 

 

 

Obras e Páginas da Internet Consultadas:

Obras Escolhidas: Karl Marx e Friedrich Engels
http://www.marxists.org/
portugues/marx/escolhidas/index.htm

O Materialismo Histórico
http://www.marxists.org/portugues/
marx/1880/socialismo/cap03.htm

Do Socialismo Utópico ao Socialismo Cientifico
http://www.marxists.org/portugues/
marx/1880/socialismo/index.htm

O Papel do Trabalho na Transformação do Macaco em Homem
http://www.marxists.org/portugues/
marx/1876/mes/macaco.htm

Sobre a Autoridade
http://www.marxists.org/portugues/
marx/1873/03/autoridade-pt.htm

Manifesto do Partido Comunista
http://www.marxists.org/portugues/marx/
1848/ManifestoDoPartidoComunista/index.htm

Princípios Básicos do Comunismo
http://www.marxists.org/
portugues/marx/1847/11/principios.htm

Biografia de Engels
http://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Engels

Marx& Engels
http://www.moreira.pro.br/marx_engels.htm

Coletânea de Citações Livres:
http://pt.wikiquote.org/wiki/Friedrich_Engels

 

Fundo musical:

Hino da Internacional Socialista

Fonte:

http://www.grandecomunismo.
hpg.com.br/inter.htm