A culpa não é nossa. [Na realidade, não se trata de culpa ou de não-culpa, mas, sim, de (in)compreensão e de (ir)responsabilidade. Não podemos confundir carludovica-brasileira com avenca-brasileira, e falar de culpa disto ou de culpa daquilo, quando a coisa se resume a (in)compreensão e (ir)responsabilidade.] O fato é que, apesar de não ser habitual, atrás de todos os acontecimentos fantásticos [ou não], podem se esconder realidades extraordinárias. [E, porque, de maneira geral, somos ignorantões, porém, pretensiosos, para não dizer irresponsáveis conosco e com todos, não as compreendemos. E como, com relação a tudo, estamos mais por fora do que umbigo de vedete, sempre culpamos alguém ou alguma coisa. É aquela velha frase sartriana, que eu tanto abomino: L'enfer c'est les autres. (O inferno são os outros). Seguramente, o nosso retrato, que está repleto de lacunas, não está de acordo com as Leis Universais! Ou recompomos direitinho as peças do puzzle ou continuaremos a sofrer e a morrer sem saber o porquê.] [In: O Despertar dos Mágicos (no original em francês, Le Matin des Magiciens), escrito em 1960 por Louis Pauwels e Jacques Bergier.]

 

 

 

Recompondo o Puzzle

 

 

 

— E, lá do fundo do inferno
– a v a s s a l a d o r a m e n t e –
pintou esta PanCOVIDmia-19 maldita.
O que eu tenho com isso?
O que eu fiz para merecer isso?
Com certeza, não fui eu que a fabriquei,
não mandei ninguém produzi-la
nem conheço ninguém que a tenha encomendado.
Portanto, só pode ter sido obra dos demônios,
que, sem parar, ficam disputando com Deus
quem manda mais aqui na Terra e na Humanidade.
Mas, como eu não sou bobo e não quero virar
jacaré, nem lagartixa, nem cobra-d'água,
claro, não me vacinei.
Vacina é coisa pra otário encagaçado.
E como também acho totalmente inúteis
essas tais medidas não-farmacológicas,
não cumpri nenhuma.
Como não tenho vocação para Zorro,
não botei máscara.
Como sou totalmente abstêmio,
não usei álcool em gel.
Como não tenho inclinação para ser eremita,
não fiz distanciamento.
Como não tenho tendência para a solidão,
não fiquei em casa.
Continuei a botar pra derreter,
diariamente, rente que nem pão quente.
E o SARS-CoV-2 me pegou desacautelado,
e acabei sendo contaminado.
E peguei a bosta dessa COVID-19
– essa Ômicron bastarda e fedorenta.
E me ferrei todinho.
E bati a alcatra na terra ingrata.
E agora, aqui no Plano Astral,
ando por ceca e meca e olivais de Santarém.
E há um monte de gente na mesma situação.
'Les démons sont les autres.'
L'enfer c'est les autres!
Sartre tinha razão.