OITAVA ENÉADA
(
Donde São os Males?)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

Introdução e Objetivo do Texto

 

 

 

 

As Enéadas, por vezes abreviada para Enéadas (em grego clássico: ) é uma coleção de escritos do filósofo neoplatônico Plotino (nascido em Lycopolis, Egito, Império Romano, provavelmente, em 204/205, e falecido em Campânia, Império Romano, em 270), que foi editada e compilada por seu discípulo Porfírio (Tiro, na Fenícia, atual Líbano, cerca de 234 – Roma, cerca de 305), também um filósofo neoplatônico. A obra é formada por 54 tratados divididos em seis capítulos, compostos de nove partes cada um e, por isso, chamados Enéadas, pois, nove, em grego, é ennéa cujas três hipóstases (realidade permanente, concreta e fundamental), baseadas em Platão, são: Uno-Bem, Inteligência e Alma Cósmica. Este estudo que estou divulgando se compõe de uma pequena coletânea de excertos (eventualmente comentados e, em alguns casos, didaticamente adaptados) da Enéada I, Livro VIII, (tradução de Juvino A. Maia), Donde São os Males?

 

 

Donde São os Males?
(Fragmentos)

 

 

Como se pode reconhecer a natureza do mal, não supondo que ela esteja no que reconhece?

 

O mal está entre as coisas aquelas fundamentadas na opinião, não na razão.

 

O mal é a imagem de o-que-não-é.

 

O mal é privação, desmedida e falta de limite.

 

Tal como está dito no Simpósio, de Platão, o mal é a indigência.

 

O mal é hipóstase do não-belo.

 

O mal não tem limite e é disforme.

 

O mal é a escuridão (imagem negativa).

 

O mal é a falta total, ou seja, o que não tem nenhuma participação do e no Bem [e no Belo].

 

O mal exterior à [personalidade-]alma vem a ser um mal por falta e por excesso, como doença, pobreza e feiura, que não suporta limite ou medida por causa da matéria a que o corpo está conjugado.

 

Os homens capazes devem seguir os padrões dos Deuses como forma de fugir dos males, fazendo sua [personalidade-]alma ser a melhor e a mais sensata possível.

 

Como Platão diz no Teeteto, os males são necessários, porque é preciso haver algo oposto ao Bem.

 

A oposição Bem-mal só existe no Todo porque há matéria.

 

Os Bens vêm a este mundo da parte dos Deuses, e, por isto, só podem ser Bens, mas, quando são incorporados na e pela matéria, há os males, que são de natureza contrária ao Bem, porque a matéria não tem ordem nem limite.

 

A fuga dos males se dá pela virtude e pela separação da matéria.

 

Separar-se da matéria é tender ao Mundo Inteligível, e o contrário é tender ao extremo oposto do Bem, isto é, tender ao mal, pois, como há um Primeiro Elemento que emana do Bem, onde tudo é criado pela forma do Belo, assim também há um elemento extremo, onde não há essa emanação e, portanto, não há criação. Esse afastamento fundamenta a necessidade do mal.

 

Como os seres-humanos-aí-no-mundo [ainda] não dominam a matéria (um Privilégio da natureza dos Deuses Criados), devido à sua natureza encarnadora mortal, têm atitudes e hábitos conforme a ocasião, dominados pela opinião [geralmente, preconceituosa] e pelos desejos, [cobiças e paixões, miragens e ilusões, fantasias e delírios, ideologias e antiideologias, ufanismos e fanatismos etc.] inteiramente contrários à razão, [seja a razão dianóica, seja a razão noética (Transnoese nem pensar!)]

 

O mal-em-si, seja por não haver Virtude, seja por faltar algo para a Virtude, é indeterminado, e, por isto, não conseguimos dar uma forma precisa de visão dele.

 

Segundo os estóicos (Diógenes Laércio VII, 134), a matéria, por não ter qualidade, é má.

 

O que a faz a matéria ser má é sua privação de qualidade, pois, atua como forma que não é forma, e dá como resultado algo que não é, contrária à Forma-em-si, gerando uma imagem corrompida das Formas Inteligíveis. a matéria é contrária à Forma.

 

A privação do Bem na [personalidade-]alma causa o vício por sua própria desrazão, pois, ao faltar Virtude, não haverá a contemplação do Bem. [No fundo de uma caverna é impossível ver a luz. Para vermos a luz, precisamos sair da caverna. Para vermos a , precisaremos lutar o Bom Combate. Humildade. Paciência. Esforço. Mérito.]

 

A Marca da Inteligência é o Bem.

 

A é a [ÚNICA] garantia do Bem para a [personalidade-]alma.

 

O mal é um impedimento, um vício, para alcançar o Bem, como a cegueira que impede o olho de ver [e a surdez que impede o ouvido de ouvir].

 

Se a [personalidade-]alma permanecer no vício até o fim, se tornará seu próprio mal, mudando sua natureza para pior, isto é, irá para o Hades e dormirá completamente, [simbolicamente], pois, estará mergulhada na matéria.

 

A incapacidade de fugir [resistir] às paixões, sendo volúvel, caracteriza a [personalidade-]alma não pura ou a má [personalidade-]alma.

 

Todo espaço-tempo é Sagrado para a [personalidade-]alma, mas, a matéria, agindo como indigente, pede e insiste para entrar, e, tal como está escrito no Simpósio, de Platão, perturba e busca algo para a sua satisfação.

 

A causa da fraqueza e do e vício da [personalidade-]alma é a sua falta de Potência, pela mistura com a matéria, que vai tomando espaço, diminuindo a sua Luz e fazendo com que ela se retraia. E isto permanecerá, até que a [personalidade-]alma consiga retomar seu Caminho de volta para o Bem. [Se conseguir retomar!]

 

Quando a irradiação do Bem não for mais pura na [personalidade-]alma, haverá desejos, cobiças, paixões, miragens, ilusões, aflições, equívocos, fantasias, falsas opiniões, falsas crenças, ira, medo etc., coisas que não existem na [personalidade-]alma em estado puro, isto é, em estado de Contemplação do Bem.

 

Se o mal é contrário ao Bem, o Conhecimento [Sabedoria (ShOPhIa)] do Bem será o reverso do mal. [O sesquipedal problema é: como (re)conhecer o Bem? Ora, para os senhores Putin, Bibi e Maduro, por exemplo, destruir a Ucrânia e aniquilar os ucranianos, destruir a Faixa de Gaza e aniquilar os gazenses, e engambelar os venezuelanos são coisas boas e frutuosas.]

 

O Bem é não-imperfeito, suficiente-em-si-mesmo, de nada precisando, medida e limite de tudo, que dá de Si inteligência, essência, [personalidade-]alma, vida e atividade acerca da Inteligência. [Não há absolutamente nada que possa estar acima do Svmmvm Bonvm. Para todos nós, o Svmmvm Bonvm  deve ser a Meta.]

 

A [personalidade-]alma, ao não participar do Bem por privação ou por falta assimila em si tudo o que a toque de algum modo. [De fato, ela se torna uma espécie de maria-vai-com-as-outras!]

 

A [personalidade-]alma [relativamente] perfeita, que tende à Inteligência, sempre [relativamente] pura, está afastada da matéria, e nem olha nem se aproxima do que é indefinido, do que é desmedido e do que é mau; então, permanece [relativamente] pura, pois, se delimitou totalmente pela Inteligência. Já a [personalidade-]alma que não mantém isso, mas, se deixou atrair pelo que não é Perfeito nem é Primeiro, tendo se enchido de indefinição, só vê escuridão.

 

O mal não é na falta de algo, mas, é a falta completa do Bem.

 

Fugir do mal, disse Platão, não é sair da Terra, mas, estar e continuar na Terra, sendo santo e justo com sensatez. [Mais duas questões para reflexão: 1ª) o que é a justiça?; e 2ª) como ser justo com sensatez, se é preciso haver algo contrário ao Bem?]

 

A forma, mais do que a matéria, é o mal. [Portanto, não é o que falamos nem o que fazemos que são propriamente males, porém, sim, o que pensamos. Os pensamentos modelados e organizados são os pais de todos os males que existem. A minuta bolsonarista brasileira ± recente, por exemplo, antes de ter sido escrita, foi pensada, ou seja, foi uma desrazão corrompida materializada. Quem dá forma à matéria somos nós.]

 

Conheceremos a Virtude pela Inteligência e pela Sensatez. O que não se harmonizar com a Virtude será um vício.

 

O mal-em-si é a ausência do Bem.

 

A virtude não é o belo nem o bem, porque antes dela e além dela são o Belo-em-si e o Bem-em-si.

 

A matéria [o apego às coisas materiais] é a causa-mãe tanto da fraqueza quanto do vício da [personalidade-]alma.

 

Lutei o Bom Combate e venci o vício.
Lutei o Bom Combate e venci a noite.
Lutei o Bom Combate e venci a tentação.
Lutei o Bom Combate e venci o repeteco.
Lutei o Bom Combate e venci o
Lutei o Bom Combate e venci o lodaçal.
Lutei o Bom Combate e venci o abismo.
Lutei o Bom Combate e venci o deserto.
Lutei o Bom Combate e venci a caverna.
Lutei o Bom Combate e venci o Monstro da Lagoa Negra.
Lutei o Bom Combate e venci a cobiça.
Lutei o Bom Combate e venci a paixão.
Lutei o Bom Combate e venci a fantasia.
Lutei o Bom Combate e venci o delírio.
Lutei o Bom Combate e venci a aflição.
Lutei o Bom Combate e venci o pesadelo.
Lutei o Bom Combate e venci a Crise da Encarnação.

Lutei o Bom Combate e venci a Cruz da Experiência Mutável e Adquirida.
Lutei o Bom Combate e venci o movimento horário.
Lutei o Bom Combate e venci a impossibilidade.
Lutei o Bom Combate e venci o demérito.
Lutei o Bom Combate e venci o sem eira nem beira.

Lutei o Bom Combate e venci o preconceito.

Lutei o Bom Combate e venci o prejulgamento.
Lutei o Bom Combate e venci as crendices retrogressivas.
Lutei o Bom Combate e venci os dogmas absurdos.
Lutei o Bom Combate e venci a H2O consagrada de mentirinha.
Lutei o Bom Combate e venci os feijões mágicos de mentirinha.
Lutei o Bom Combate e venci as glossolalias de mentirinha.
Lutei o Bom Combate e venci os milagres de mentirinha.
Lutei o Bom Combate e venci as bênçãos de mentirinha.
Lutei o Bom Combate e venci os perdões de mentirinha.
Lutei o Bom Combate e venci as espetaculosidades de mentirinha.
Lutei o Bom Combate e venci os discursos religiosos de mentirinha.
Lutei o Bom Combate e venci os púlpitos religiosos de mentirinha.
Lutei o Bom Combate e venci os lugares sagrados de mentirinha.
Lutei o Bom Combate e venci os deuses inventados.
Lutei o Bom Combate e venci a maldade.
Lutei o Bom Combate e venci a ofensa.
Lutei o Bom Combate e venci a crítica.
Lutei o Bom Combate e venci a separatividade.
Lutei o Bom Combate e venci a escravização.
Lutei o Bom Combate e venci o vantagismo.
Lutei o Bom Combate e venci o egoísmo.
Lutei o Bom Combate e venci o fiat voluntas mea.
Lutei o Bom Combate e venci a miragem.
Lutei o Bom Combate e venci cada imperativo hipotético.
Lutei o Bom Combate e venci a ilusão.
Lutei o Bom Combate e venci a cegueira.
Lutei o Bom Combate e venci a surdez.
Lutei o Bom Combate e venci a anorexia.
Lutei o Bom Combate e venci a fome.
Lutei o Bom Combate e venci a sede.
Lutei o Bom Combate e venci o terremoto interior.
Lutei o Bom Combate e venci o derruimento interior.
Lutei o Bom Combate e venci o tsunami interior.
Lutei o Bom Combate e venci o vulcão interior.
Lutei o Bom Combate e venci o tornado interior.
Lutei o Bom Combate e venci o vendaval interior.
Lutei o Bom Combate e venci a paralisia.
Lutei o Bom Combate e venci a mumificação.
Lutei o Bom Combate e venci a ideologia.
Lutei o Bom Combate e venci a antiideologia.
Lutei o Bom Combate e venci o ufanismo.
Lutei o Bom Combate e venci o fanatismo.

Lutei o Bom Combate e venci o cousismo.
Lutei o Bom Combate e venci o achismo.
Lutei o Bom Combate e venci a falsa opinião.
Lutei o Bom Combate e venci a falsa admissibilidade.
Lutei o Bom Combate e venci a belicosidade.
Lutei o Bom Combate e venci a ira revanchista.
Lutei o Bom Combate e venci o cagaço metafísico.
Lutei o Bom Combate e venci a insegurança metafísica.
Lutei o Bom Combate e venci a dúvida metafísica.
Lutei o Bom Combate e venci a hesitação metafísica.
Lutei o Bom Combate e venci a incongruência metafísica.
Lutei o Bom Combate e venci o marasmo.
Lutei o Bom Combate e venci o sono.
Lutei o Bom Combate e venci o apego.
Lutei o Bom Combate e venci o primeiro-eu.
Lutei o Bom Combate e venci o meu inferno interior.
Lutei o Bom Combate e venci o meu demônio interior.
Lutei o Bom Combate e venci o
não-ser.
Lutei o Bom Combate e venci o não-sou.
Lutei o Bom Combate e venci o não-sei.
Lutei o Bom Combate, venci a vida e
Lutei o Bom Combate, venci a morte e
Lutei o Bom Combate e me tornei um
E agora? Falta o quê?
Quanto falta?
Continuação? Recomeço? O fim?

Sâr Hieronymus: A gente não sabe nada!

 

 

 

Música de fundo:

Medieval: Rejoicing

Fonte:

https://www.chosic.com/free-music/medieval/

 

Páginas da Internet consultadas:

https://giphy.com/

https://www.lletresbarbares.cat/creacio/carta-de-porfirio-contra-los-difamadores-de-plotino

https://pt.wikipedia.org/wiki/Plotino

 

Direitos autorais:

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