Quase
se poderia dizer que só existo na medida em que existo para
o outro e, no limite, ser é amar.
A
vida
é uma aventura aberta, exposta. Não protejam as crianças.
Fortifiquem-nas interiormente para que brinquem bem com qualquer
espécie de brinquedo.
Não
basta compreender; é preciso fazer. O nosso fim, o fim último,
não é desenvolver em nós ou em torno de nós
o máximo de consciência, o máximo de sinceridade,
mas, assumir o máximo de responsabilidade, e transformar
o máximo de realidade à luz das verdades que tivermos
reconhecido.
Designamos como materialista
uma filosofia que, mesmo insistindo justamente sobre o humanismo
do trabalho e da função fabricadora, considera como
ilusória outras dimensões não menos essenciais
do homem, principalmente a interioridade e a transcendência.
Eu sou um eu-aqui-agora.
Seria preciso enfatizar ainda mais e dizer: um eu-aqui-agora-assim-entre-todos-os-homens.
Todas
as experiências conduzem ao mesmo ponto: é impossível
atingir a comunidade se esquivando da pessoa; é impossível
fundar a comunidade sobre algo que não sobre pessoas solidamente
constituídas.
A
forma mais baixa que podemos conceber do universo de homens é
aquela à qual Heidegger [Martin
Heidegger 1889 – 1976)] chamou do mundo do "das
man" [os outros],
mundo em que nos deixamos aglomerar quando renunciamos
a ser pessoas lúcidas e responsáveis, mundo de consciência
sonolenta, dos instintos anônimos, das relações
mundanas, de quotidiano, do conformismo social ou político,
da mediocridade moral, da multidão, das massas anônimas,
das organizações irresponsáveis. Mundo sem
vitalidade e desolado, no qual cada pessoa renunciou provisoriamente
a sê-lo, para se transformar em um qualquer, não interessa
quem, de qualquer forma. O mundo do não se constitui de nem
um nós, de nem um todo. Não está ligado a esta
ou àquela forma social, antes, é em todas elas uma
maneira de ser. O primeiro ato de uma vida pessoal é a tomada
de consciência desta vida anônima e a revolta contra
a degradação que representa.
O
homem é corpo exatamente como é espírito, é
integralmente corpo e é integralmente espírito.
Existir
subjetivamente e existir corporalmente são uma e mesma experiência.
Tudo o que acontece é
sadio.
—
Eu odeio tudo o que existe!
Observação:
Emmanuel Mounier
(Grenoble, 12 de abril de 1905 – Châtenay-Malabry, 22
de março de 1950) foi um filósofo francês,
cujas obras influenciaram a ideologia da Democracia Cristã.
Na sua obra O Personalismo, Mounier apresenta uma Filosofia
que escapa a todas as sistematizações, exatamente
porque assenta na pessoa livre e sempre imprevisível e em
uma ruptura com a ordem estabelecida. Mounier foi uma voz muito
ativa contra o Fascismo e o Nazismo, atribuindo-lhes, além
de uma mesma origem, um propósito comum: o fim da civilização
cristã ocidental. Em resultado da sua reflexão filosófica,
Mounier defendeu a idéia de uma nova civilização,
na qual cristãos e não-crentes pudessem fraternalmente
cooperar.