Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

Reduzir maniqueisticamente as coisas a dois pólos que mutuamente se auto-excluam é um equívoco, quer da razão, quer da fé. Por isso, por exemplo, a doutrina americana de segurança nacional – que recentemente (2002) criou o conceito de eixo do mal – é estruturalmente perversa e ambígua. O termo eixo do mal (axis of evil) foi usado pela primeira vez pelo presidente dos Estados Unidos da América George W. Bush em seu discurso anual sobre o estado da União proferido no Congresso norte-americano em 29 de janeiro de 2002, e se tornou a base de sustentação da cruzada americana contra o terror e da orientação da política externa dos Estados Unidos definida após o 11 de setembro, em contraposição ao eixo do bem no qual os Estados Unidos e seus aliados estão inseridos. Na ocasião, disse o presidente George Bush:

Our second goal is to prevent regimes that sponsor terror from threatening America or our friends and allies with weapons of mass destruction. Some of these regimes have been pretty quiet since September the 11th. But we know their true nature. North Korea is a regime arming with missiles and weapons of mass destruction, while starving its citizens.

Iran aggressively pursues these weapons and exports terror, while an unelected few repress the Iranian people's hope for freedom.

Iraq continues to flaunt its hostility toward America and to support terror. The Iraqi regime has plotted to develop anthrax, and nerve gas, and nuclear weapons for over a decade. This is a regime that has already used poison gas to murder thousands of its own citizens – leaving the bodies of mothers huddled over their dead children. This is a regime that agreed to international inspections then kicked out the inspectors. This is a regime that has something to hide from the civilized world.

States like these, and their terrorist allies, constitute an axis of evil, arming to threaten the peace of the world. By seeking weapons of mass destruction, these regimes pose a grave and growing danger. They could provide these arms to terrorists, giving them the means to match their hatred. They could attack our allies or attempt to blackmail the United States. In any of these cases, the price of indifference would be catastrophic.

Para quem não sabe, os Estados Unidos destinaram em 2006 US$ 419 bilhões para uso em seu orçamento militar, inclusive para alimentar as suas bases militares espalhadas em 62 países mundo afora. Ficam as perguntas:    de dólares para fabricar bombas? Por que Iraque, Irã e Coréia do Norte constituem o eixo do mal? Por que esse eixo foi ampliado para incluir Cuba, Líbia e Síria? Daqui a pouco vão acabar metendo a Venezuela e a Bolívia nesse saco do mal. Eu não entendo isso, como também não entendo por que o Irã sempre se referiu aos Estados Unidos da América como o Grande Satã. Armas de destruição em massa? Patrocínio do terrorismo regional e mundial? Eixos? Desentendimento? Incompreensão? Intolerância? Repito: eu não entendo nada disso. Em 1982, Ronald Reagan definiu a então União Soviética como império do mal. Hoje, a Rússia e os Estados Unidos da América são, em certo sentido, aliados. Ainda bem, mas quem entende isso? Ora, os países espoliados e transfundidos do Terceiro e do Quarto Mundos poderiam muito bem também inventar o seu conceito de eixo do mal, nele colocando o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Banco Mundial (BM). A miséria mundial muito deve a esses três organismos a sua própria miséria e as suas desesperanças de progredir. Quem pode entender um treco desses? Eu reconheço (maneira de dizer) minha incapacidade de compreender essas loucuras.

Também, em outro sentido, são perversas e ambíguas as teologias e as religiões que admitem uma salvação apenas para os seus confrades. Já admitir a própria categoria salvação é uma tremenda ambigüidade. Salvação de quê? De quem? Para onde? Por quê? Estou cansado de dizer, mas vou dizer de novo de maneira um pouco diferente: ou aprendemos pacificamente que somos todos um ou aprenderemos dolorosamente que somos todos um. Não há uma segunda possibilidade.

 

 

 

 

Axis of Evil?

Eixo do mal?

Eixo do bem?

Eixo da direita?

Eixo da esquerda?

Eixo do norte?

Eixo do sul?

Eixo do Capitalismo?

Eixo do Comunismo?

Eixo da Democracia?

Eixo da Monarquia?

Eixo do autoritarismo?

Eixo do totalitarismo?

Eixo do militarismo?

Eixo do ultramontanismo?

Eixo da cristandade?

Eixo do Islamismo?

Eixo do Judaísmo?

Eixo do Budismo?

Eixo do salvacionismo?

Eixo do Oriente?

Eixo do Ocidente?

Eixo de Deus?

Eixo do demônio?

Eixo dos destinados de antemão?

Eixo disso...

Eixo daquilo...

Eixos?

Não!

Só há um eixo:

O Eixo da Vida.

O Eixo da Espiral da Vida.

 

 

 

 

 

        

Websites consultados:

http://fractals.iut.u-bordeaux1.fr/jpl/jpl_p30a.html

http://rpc.senate.gov/releases
/2003/FOREIGN082503.pdf

http://www.whitehouse.gov/news/
releases/2002/01/20020129-11.html

Música de fundo:

Scenery of Spira

Fonte:

http://www.midishrine.com/index.php?id=89