Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

Eu fui lá, e mal me dei;

Voltei muito abichornado;

 

Essa tal de Pasárgada

não tá mesmo com nada.

Fone automático? Já era!

Mãe-d'água? Quimera!

 

Mas há quem acredite

tomando banhos de mar!

 

Em Fuendetodos, Goya

não cria nessa relambóia!1

 



 

 

 

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Nota:

1. Também, grande vantagem o Senhor Goya não ter crido nessa relambóia! Ora, Pasárgada, na época do pintor e gravador espanhol Francisco José de Goya y Lucientes (Fuendetodos, Saragoça, 30 de março de 1746 – Bordéus, França, 15 de abril de 1828), não existia como utopia bandeiriana. Pasárgada (Vou-me Embora Pra Pasárgada), por assim dizer, foi inventada por Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (Recife, 19 de abril de 1886 – Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1968) como sendo um lugar utópico-imaginário onde a pessoa se sente bem e pode, em uma espécie de fantasia-aventura, realizar os seus desejos mais recônditos (Lá a existência é uma aventura). Entre inúmeras outras interpretações, o poema bandeiriano Vou-me Embora Pra Pasárgada se fortalece no meio erótico como função de conforto (Tem prostitutas bonitas/Para a gente namorar). O poema também se mostra como nostálgico, e pode ser entendido como forma de compreensão da solidão, da fuga do monótono e da infelicidade (Vou-me embora pra Pasárgada... Aqui eu não sou feliz.). E, finalmente, salvo melhor juízo, pode-se admitir que Pasárgada possa ser entendida como uma espécie de fuga da realidade, abandono da responsabilidade e mergulho na quimeridade, pois o famoso poema de Bandeira termina exatamente assim:

E, quando eu estiver mais triste,
Mas triste de não ter jeito,
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei.
Vou-me embora pra Pasárgada.

Seja como for, foi o próprio Bandeira quem explicou: Vou-me embora pra Pasárgada foi o poema de mais longa gestação em toda minha obra. Vi, pela primeira vez, esse nome de Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos, e foi em um autor grego. Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas”, suscitou na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias... Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, em um momento de fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me, de súbito, do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!”. Senti na redondilha a primeira célula de um poema.

Esta aguda doença à qual Bandeira faz referência, é bem provável que tenha sido tuberculose, pois, em 1904, teve que interromper o Curso de Arquitetura na Escola Politécnica de São Paulo para se tratar em Campos do Jordão (localizado no interior do Estado de São Paulo), em Campanha (município brasileiro do Estado de Minas Gerais) e em outras localidades de clima mais ameno. Com a ajuda do pai, que reuniu todas as economias da família, acabou indo para a Suíça, onde esteve no Sanatório de Clavadel. O Pasargadiano Poeta Manuel Bandeira faleceu no dia 13 de outubro de 1968, com hemorragia gástrica, aos 82 anos de idade, no Rio de Janeiro, e foi sepultado no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.

Por outro lado, Pasárgada era uma cidade da antiga Pérsia, e é, atualmente, um sítio arqueológico na província de Fars, no Irã, situado 87 km a nordeste de Persépolis. Foi a primeira capital da Pérsia Aquemânida, no tempo de Ciro II da Pérsia, mais conhecido como Ciro, o Grande, que foi rei da Pérsia entre 559 e 530 a.C., ano em que morreu em batalha com os Massagetas, e coexistiu com as demais, dado que era costume persa manter várias capitais em simultâneo, em função da vastidão do seu império: Persépolis, Ecbátana, Susa ou Sardes. É hoje um Patrimônio Mundial da UNESCO.

A construção de Pasárgada foi iniciada por Ciro II, e foi mantida inacabada devido à morte de Ciro em batalha. Pasárgada manteve-se como capital até que Dario iniciou a mudança para Persépolis. O nome moderno vem do grego, mas pode ter derivado de um outro usado no período aquemênida, Pasragada.

O sítio arqueológico cobre uma área de 1,6 km², e contém uma estrutura que se acredita ser o mausoléu de Ciro, o forte de Tall-e Takht em uma colina próxima e as ruínas de um palácio real e jardins. Os jardins mostram o exemplo mais antigo dos chahar bagh persas ou jardins quádruplos.

O monumento mais importante de Pasárgada é indubitavelmente a tumba de Ciro, o Grande. Possui sete passagens largas levando à sepultura, que mede 534 m de comprimento e 531 m de largura, e possui uma entrada estreita e baixa. Apesar de não haver evidências fortes identificando a tumba como sendo a de Ciro, os historiadores gregos dizem que Alexandre, o Grande, da Macedônia, acreditava que era. Alexandre passou por Pasárgada em suas campanhas contra Dario III, em 330 a.C.. Arriano, historiador do primeiro século da era Cristã, afirma que Alexandre ordenou que Aristobulus, um de seus guerreiros, entrasse no monumento. Do lado de dentro, ele encontrou uma cama dourada, uma mesa arrumada com copos, um caixão dourado, alguns ornamentos enfeitados com pedras preciosas e uma inscrição na tumba. Nenhum traço de qualquer inscrição sobreviveu até os tempos modernos, e há considerável discordância quanto às palavras do texto. Estrabão disse que está escrito:

 

Forasteiro, sou Ciro, que deu aos Persas um Império, e fui Rei da Ásia. Não tenha rancor de mim por causa desse monumento.


Uma outra variação é:

 

Ó forasteiro, quem quer que sejas, de onde quer que venhas, porque sei que virás, sou Ciro, que fundou o Império dos Persas. Não tenha rancor de mim por causa desta pequena terra que cobre meu corpo.


Durante a conquista islâmica do Irã, as forças árabes foram até a tumba planejando destruí-la, considerando-a estar em violação direta aos princípios do Islão. Os guardas da tumba convenceram o comando árabe que a tumba não fora construída para honrar Ciro, mas que abrigava a mãe do rei Salomão, o que evitou sua destruição. Como resultado, a inscrição da tumba foi substituída por um verso do Qur'an, e a tumba ficou conhecida como Qabr-e Madar-e Sulaiman ou a Tumba da Mãe de Salomão. Ainda é conhecida por esse nome atualmente.

 

Nota editada das fontes:

http://www.releituras.com/
mbandeira_pasargada.asp

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Ciro_II_da_P%C3%A9rsia

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pas%C3%A1rgada

http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Bandeira

http://br.answers.yahoo.com/question/
index?qid=20080526104900AAnpuKe

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Vou-me_embora_pra_Pas%C3%A1rgada

 

 

Manuel Bandeira
Francisco Goya
Manuel Bandeira
Francisco Goya

 

 

Fundo musical:

Swan Lake - Spanish Dance
Compositor: Piotr Ilitch Tchaikovsky

Fonte:

http://www.abmp3.com.br/
busca/swan+lake+spanish+dance+

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.arrowhead-alpines.com/
white2_gallery/images/

http://www.clipartheaven.com/show/clipart/
international/people_-_images/spanish_dancer-gif.html