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Nota:
1. Também,
grande vantagem o Senhor Goya não ter crido nessa relambóia!
Ora, Pasárgada, na época do pintor e gravador espanhol Francisco
José de Goya y Lucientes (Fuendetodos, Saragoça, 30 de março
de 1746 – Bordéus, França, 15 de abril de 1828), não
existia como utopia bandeiriana. Pasárgada (Vou-me
Embora Pra Pasárgada), por assim dizer, foi inventada
por Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (Recife, 19 de abril de 1886
– Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1968) como sendo um lugar utópico-imaginário
onde a pessoa se sente bem e pode, em uma espécie de fantasia-aventura,
realizar os seus desejos mais recônditos (Lá
a existência é uma aventura). Entre inúmeras
outras interpretações, o poema bandeiriano Vou-me
Embora Pra Pasárgada se
fortalece no meio erótico como função de conforto (Tem
prostitutas bonitas/Para a gente namorar). O poema
também se mostra como nostálgico, e pode ser entendido como
forma de compreensão da solidão, da fuga do monótono
e da infelicidade (Vou-me
embora pra Pasárgada... Aqui eu não sou feliz.).
E, finalmente, salvo melhor juízo, pode-se admitir que Pasárgada
possa ser entendida como uma espécie de fuga da realidade, abandono
da responsabilidade e mergulho na quimeridade, pois o famoso poema de Bandeira
termina exatamente assim:
E,
quando eu estiver mais triste,
Mas
triste de não ter jeito,
Quando
de noite me der
Vontade
de me matar
—
Lá sou amigo do rei —
Terei
a mulher que eu quero
Na
cama que escolherei.
Vou-me
embora pra Pasárgada.
Seja
como for, foi o próprio Bandeira quem explicou: Vou-me
embora pra Pasárgada foi o poema de mais longa gestação
em toda minha obra. Vi, pela primeira vez, esse nome de Pasárgada
quando tinha os meus dezesseis anos, e foi em um autor grego. Esse nome
de Pasárgada, que significa “campo dos persas”, suscitou
na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um país
de delícias... Mais de vinte anos depois, quando eu morava só
na minha casa da Rua do Curvelo, em um momento de fundo desânimo,
da mais aguda doença, saltou-me, de súbito, do subconsciente
esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!”.
Senti na redondilha a primeira célula de um poema.
Esta
aguda doença à qual Bandeira faz referência, é
bem provável que tenha sido tuberculose,
pois, em 1904, teve que interromper o
Curso de Arquitetura na Escola Politécnica de São Paulo
para se tratar em Campos do Jordão
(localizado no interior do Estado de São Paulo), em Campanha (município
brasileiro do Estado de Minas Gerais) e em outras localidades de clima mais
ameno. Com a ajuda do pai, que reuniu todas as economias da família,
acabou indo para a Suíça, onde esteve no Sanatório
de Clavadel. O Pasargadiano Poeta Manuel Bandeira faleceu no dia 13 de outubro
de 1968, com hemorragia gástrica, aos 82 anos de idade, no Rio de
Janeiro, e foi sepultado no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras,
no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.
Por
outro lado, Pasárgada era uma cidade da antiga Pérsia, e é,
atualmente, um sítio arqueológico na província de Fars,
no Irã, situado 87 km a nordeste de Persépolis. Foi a primeira
capital da Pérsia Aquemânida, no tempo de Ciro II da Pérsia,
mais conhecido como Ciro, o Grande, que foi rei da Pérsia entre 559
e 530 a.C., ano em que morreu em batalha com os Massagetas, e coexistiu
com as demais, dado que era costume persa manter várias capitais
em simultâneo, em função da vastidão do seu império:
Persépolis, Ecbátana, Susa ou Sardes. É hoje um Patrimônio
Mundial da UNESCO.
A construção
de Pasárgada foi iniciada por Ciro II, e foi mantida inacabada devido
à morte de Ciro em batalha. Pasárgada manteve-se como capital
até que Dario iniciou a mudança para Persépolis. O
nome moderno vem do grego, mas pode ter derivado de um outro usado no período
aquemênida, Pasragada.
O sítio
arqueológico cobre uma área de 1,6 km², e contém
uma estrutura que se acredita ser o mausoléu de Ciro, o forte de
Tall-e Takht em uma colina próxima e as ruínas de um palácio
real e jardins. Os jardins mostram o exemplo mais antigo dos chahar
bagh persas ou jardins quádruplos.
O monumento
mais importante de Pasárgada é indubitavelmente a tumba de
Ciro, o Grande. Possui sete passagens largas levando à sepultura,
que mede 534 m de comprimento e 531 m de largura, e possui uma entrada estreita
e baixa. Apesar de não haver evidências fortes identificando
a tumba como sendo a de Ciro, os historiadores gregos dizem que Alexandre,
o Grande, da Macedônia, acreditava que era. Alexandre passou por Pasárgada
em suas campanhas contra Dario III, em 330 a.C.. Arriano, historiador do
primeiro século da era Cristã, afirma que Alexandre ordenou
que Aristobulus, um de seus guerreiros, entrasse no monumento. Do lado de
dentro, ele encontrou uma cama dourada, uma mesa arrumada com copos, um
caixão dourado, alguns ornamentos enfeitados com pedras preciosas
e uma inscrição na tumba. Nenhum traço de qualquer
inscrição sobreviveu até os tempos modernos, e há
considerável discordância quanto às palavras do texto.
Estrabão disse que está escrito: