Este
estudo se constitui da 2ª parte de um conjunto de fragmentos garimpados
na obra A Educação e o Significado da Vida, de
autoria de Jiddu Krishnamurti.
Breve
Biografia
Jiddu
Krishnamurti
Jiddu
Krishnamurti (Madanapalle, 11 de maio de 1895 – Ojai, 17 de fevereiro
de 1986) foi um filósofo, escritor, orador e educador indiano.
Proferiu discursos que envolveram temas como revolução psicológica,
meditação, conhecimento, liberdade, relações
humanas, a natureza da mente, a origem do pensamento e a realização
de mudanças positivas na sociedade global. Constantemente, ressaltou
a necessidade de uma revolução na psique de cada ser humano,
e enfatizou que tal revolução não poderia ser levada
a cabo por nenhuma entidade externa seja religiosa, seja política,
seja social. Uma revolução que só poderia ocorrer
através do autoconhecimento, bem como da prática correta
da meditação do ser-humano-aí-no-mundo liberto
de toda e qualquer forma de autoridade psicológica.
O
cerne dos seus ensinamentos consiste na afirmação de que
a necessária e urgente mudança fundamental da sociedade
só poderá acontecer através da transformação
da consciência individual. A necessidade do autoconhecimento e da
compreensão das influências restritivas e separativas das
religiões organizadas, dos nacionalismos e de outros condicionamentos
foram por ele constantemente realçadas.
Fragmentos
Krishnamurtianos
No
momento em que abolirmos a autoridade –
[qualquer autoridade] – estaremos em parceria, e só
então haverá cooperação e afeto.
Abolimento da Autoridade
Ao
citarmos exemplos de autoridade para uma criança, estaremos apenas
incentivando o temor, a imitação e várias formas
de superstição.
O
que chamamos religião não passa de crença organizada,
com dogmas, rituais, mistérios e superstições. Cada
religião tem seu livro sagrado, seu intermediário, seus
sacerdotes e seus métodos próprios de ameaçar as
pessoas e mantê-las sob seu domínio. Quase todos nós
fomos condicionados para aceitar tudo isto, e tal condicionamento se chama
educação religiosa, cujo resultado é pôr o
ser-humano-aí-no-mundo contra o ser-humano-aí-no-mundo e
criar antagonismos, não só entre os próprios crentes,
mas, também contra aqueles de crenças diversas. Embora as
religiões protestem adorar a Deus e ensinem o amor mútuo,
todas elas instilam temor, com suas doutrinas de recompensa e punição
e, com a rivalidade de seus dogmas, perpetuam a desconfiança e
o antagonismo. Dogmas, mistérios e ritos não conduzem à
Vida Espiritual. Educação religiosa, no seu verdadeiro sentido,
consiste em levar a criança a compreender suas próprias
relações com as pessoas, com as coisas e com a Natureza.
Para
compreendermos o significado da vida, com seus conflitos e suas dores,
precisamos pensar independentemente de qualquer autoridade, inclusive
e particularmente da autoridade das religiões organizadas.
—
Pense-não-pense...
Pode-não-pode...
Permitido-não-proibido...
Vote-não-vote...
Apóie-não-apóie...
Deve-não-deve...
Faça-não-faça...
Leia-não-leia...
Creia-não-creia...
Ouça-não-ouça...
Diga-não-diga...
Queira-não-queira...
Fale-não-fale...
Vá-não-vá...
Fique-não-fique...
Seja-não-seja...
Ouse-não-ouse...
Mude-não-mude...
Siga-não-siga...
Pare-não-pare...
Viva-não-viva...
Morra-não-morra...
Pecado-não-perdão...
Culpa-não-desculpa...
Coragem-não-medo...
Deus-não-diabo...
Céu-não-inferno...
Sagrado-não-profano...
Claro-não-escuro...
----não-----...
-----não-----...
-----não-----...
-----não-----...
-----não-----...
-----não-----...
Todos
nós queremos fazer nossos filhos aceitar nossa forma de devoção
ou nossa ideologia predileta –
uma rede das imagens e das fórmulas inventadas por nós
mesmos ou por outros, [que
imitamos sem quê nem para quê].
Se
a mente e o Coração da criança não forem moldados
por prevenções e preconceitos, estará ela, então,
livre para descobrir, pelo autoconhecimento, o que se encontra além
e acima dela própria. [Entenda
além
e acima dela própria como
sendo em seu próprio interior.]
A
Verdadeira Religião não é um conjunto de crenças
e ritos, de esperanças e temores.
Religião
é o cultivo da Liberdade, na busca do Verdadeiro.
Liberdade
parcial não é liberdade. Qualquer espécie de condicionamento,
político ou religioso, impede a liberdade e nunca trará
a paz.
Se
a liberdade for parcial, adjetivada,
dentro ou fora, a prisão será a mesma!
O
Estado de Quietude, em que reinam o Deus [de
nosso Coração] e a Realidade [desde
sempre e para sempre a mesma], só poderá se manifestar,
se e quando houver autoconhecimento e liberdade.
Religião
organizada é pensamento que se congelou [ou
que se cristalizou], e com o qual o homem construiu seus templos,
suas igrejas, [seus dogmas,
seus absurdos, seus constrangimentos, suas violências etc.]. Ela
se tornou um consolo para os tímidos, um narcótico para
os que sofrem, [um sustentáculo
para os temerosos e um meio de faturar um dindim para os sacanocratas].
Mas, Deus ou a Verdade estão muito além do pensamento e
das necessidades emocionais.
Se
estamos constantemente em guerra uns com os outros, se somos incapazes
de implantar a ordem e a paz no mundo com a profunda transformação
de nós mesmos, de que valem os livros sagrados e os mitos das várias
religiões?
Peter Pan
Mente
tranqüila não é mente condicionada, não é
mente disciplinada, não é mente exercitada em ficar e estar
tranqüila. A Quietação só poderá vir
quando a mente compreender seus próprios movimentos, que são
os movimentos do ego.
As
crianças, em geral, são curiosas, querem saber. Nós,
porém, lhes embotamos o espírito de investigação
com nossas asserções pontificais, com nossa impaciência
superior e com o modo indiferente como nos livramos da sua curiosidade.
Não encorajamos as indagações das crianças,
porque temos certa apreensão relativamente ao que elas nos possam
perguntar. E não lhes favorecemos o descontentamento, porque nós
mesmos já desistimos de objetar. A maioria dos pais e dos professores
teme o descontentamento, porque traz perturbações a todas
as formas de segurança; por isto, induzem os jovens a sufocá-lo
com empregos seguros, heranças, casamento e a consolação
dos dogmas religiosos. Os mais velhos, que infelizmente conhecem muito
bem todos os métodos de embotar a mente e o Coração,
procuram tornar a criança tão embotada quanto eles próprios,
inculcando-lhe o respeito às autoridades, às tradições
e às crenças que eles mesmos aceitaram. Enfim, só
estimulando a criança a duvidar do livro, não importa qual
seja, a examinar a validade dos vigentes valores sociais, das tradições,
das formas de Governo, das crenças religiosas etc., os educadores
e os pais podem ter esperança de despertar e de manter vivos, nela,
o senso crítico e o discernimento penetrante.
No
escritório do pai:
O filho: — Pai,
por que...
O pai: — Agora
não.
O filho: — Por
que agora não?
O pai: — Porque
estou ocupado.
O filho: — Mas,
você está sempre ocupado.
O pai: — Você
quer comer ou morrer de fome?
O filho: — Claro
que eu quero comer.
O pai: — Então,
me deixe trabalhar.
O filho: — Mas,
pai...
O pai: — Não
tem mas nem meio mas. Vá torrar o crânio da sua mãe.
O filho: — Pô,
pai...
O pai: — Popai
é o marido da Olivia Benson.
O filho: — Primeiro,
não é popai; é Popeye. Segundo, não é
Olivia Benson; é Olive Oyl. Terceiro, você é o pai
mais chato do pedaço. Quarto, não pergunto mais nada a você.
A madre Firmina, pelo menos, diz que, se eu não fizer perguntas
difíceis, Deus ficará contente, e eu irei para o céu!
Dez
segundos depois:
O
filho: — Eu
irei para o céu?
O pai: — Não
sei; pergunte à madre
Firmina.
O filho: —
Pô,
pai... Você é um saco mesmo!
Popeye
e Olive Oyl
Dez
segundos depois:
O
filho: — E
você, pai, irá para o céu?
O pai: — Com
certeza; eu não tenho a menor dúvida.
O
filho: — E
por que você não tem a menor dúvida?
O pai: — Porque,
só de ter que aturar essas suas perguntas, já paguei todos
os meu pecados!
O
filho: — Pô,
pai...
O
pai: — Pô,
filho...
Deveríamos
aprender a pensar com clareza, sem manias e sem preconceitos, para não
sermos interiormente intolerantes, dependentes e tímidos. A independência
não foi feita para aquela parte colorida do mapa a que chamamos
nossa pátria, senão para nós mesmos como seres-humanos-aí-no-mundo.
Embora, claro, exteriormente, dependamos uns dos outros, esta dependência
mútua não se tornará nem cruel nem opressiva, se,
interiormente, estivermos livres da ânsia de poder, da ânsia
de posição, da ânsia de autoridade [e
da ânsia de privilégios e de reconhecimento público].
Devemos
compreender o descontentamento temido pela maioria das pessoas. O descontentamento
poderá gerar uma confusão aparente e momentânea; mas,
se conduzir, como necessariamente deve conduzir, ao autoconhecimento e
à negação do ego, haverá de criar uma nova
ordem social e uma paz duradoura. Com a negação do ego,
virá um júbilo imenso.
Para
podermos investigar sem preconceitos o descontentamento, que é
o caminho que leva à liberdade, não poderemos manifestar
efusões emocionais, dessas que, muitas vezes, se traduzem em comícios
políticos, proclamações de 'slogans', busca de gurus
ou instrutores espirituais, e extravagâncias ideológicas
e religiosas de toda ordem. Tais efusões embotam a mente e o Coração,
tornando-os incapazes de discernimento e, por conseguinte, facilmente
moldáveis pelas circunstâncias e pelo temor. É o desejo
ardente de investigar, e não a fácil imitação
da turba que trará uma nova compreensão das coisas da vida.
Seguir
outra pessoa, por maior que seja, e aderir a uma ideologia agradável
não produzirão jamais um mundo pacífico.
Enquanto
o sucesso for o nosso alvo, não nos livraremos do temor, porque
o desejo de bom êxito gera inevitavelmente o medo de insucesso.
Eis porque não devemos ensinar os jovens a idolatrar o sucesso.
A maioria das pessoas procura o sucesso de qualquer forma e a qualquer
preço. Todos queremos estar por cima, e este desejo cria constante
conflito dentro de nós mesmos e com o nosso próximo, e,
inevitavelmente, leva à competição, à inveja,
à animosidade e, por último, à guerra.
A
madureza independe da idade. Ela vem com a compreensão.
Uma
das nossas deploráveis fraquezas é desejar que alguém
atue por nós e modifique o curso de nossas vidas. Esperamos que
outros se revoltem e que reconstruam, enquanto permanecemos inativos,
[neutros], até
termos certeza dos resultados. [Mas,
ninguém fará o dever de casa por nós. Ou mudamos
ou nossa encarnação terá sido inútil, o que
será uma lástima.]
Teorema de Pitágoras
Só
poderá haver ação integrada se estivermos conscientes
do nosso próprio condicionamento, dos nossos preconceitos raciais,
nacionais, políticos e religiosos, isto é, se percebermos
que as atividades do ego são sempre separativas.
Só
há uma Estrada, e Nela estamos todos caminhando!
A
integração só será possível se e quando
houver grande simplicidade. Devemos nos tornar simples em nossa vida interior
e em nossas necessidades exteriores.
Ao
mesmo tempo que ministra conhecimentos e preparo técnico, a educação
deve, sobretudo, estimular uma visão integrada da vida; deve ajudar
o estudante a reconhecer e a quebrar, em si próprio, todas as distinções
e todos os preconceitos, e demovê-lo da ávida busca de poder
e de domínio. Deve incentivar a correta auto-observação
e o experimentar da vida como um todo, quer dizer, não atribuir
significação à parte, ao ego e ao meu, mas, sim,
ajudar a mente a transcender a si própria, para descobrir o real.
—
É meu... É meu... É meu...
Eu me esforcei e conquistei.
É meu... É meu... É meu...
Não empresto e jamais darei.
A
liberdade só nascerá com o autoconhecimento, e em nossas
relações com as pessoas, com as coisas, com as idéias
e com a Natureza.
Só
a compreensão do processo total da existência possibilitará
a integração.
Educação
= Formação de indivíduos integrados.
O
que poderá haver de pior do que nos cristalizarmos [coisificarmos]
definitivamente em nossas idéias e maneira de ser?
—
Ora, eu já aprendi tudo;
eu sou assim e não mudo.
Nada mais eu quero saber;
eu serei o mesmo no vir-a-ser.
Eu... Eu... Eu... Eu... Eu...
Sem
amor, não poderemos resolver nossos numerosos e contraditórios
problemas. Sem amor, a aquisição de saber só servirá
para aumentar a confusão e levar à autodestruição.
É
essencial que se compreenda o dificultoso e complexo problema do domínio.
Ele assume muitas formas sutis, e no seu aspecto “virtuoso”
é sobremodo obstinado. O desejo de “servir”, com a
inconsciente ambição de dominar, é difícil
de compreender. Poderá haver amor onde houver espírito de
posse? Poderemos estar em comunhão com aqueles que desejamos dominar?
Dominar significa fazer uso de outrem para nossa satisfação
própria, e, na utilização de outra pessoa, não
poderá haver amor.
A
grande verdade é que poucos de nós nos importamos de fato
com o Amor, e nos contentamos apenas com uma aparência de amor.
Tanto
os Governos como as religiões organizadas, com suas doutrinas contraditórias,
agravam as confusões e os conflitos humanos.
—
É Monarquismo,
é Presidencialismo,
é Parlamentarismo,
é Aristocratismo...
É Catolicismo,
é Judaísmo,
é Islamismo,
é Budismo...
Quanto coisismo!
Quanto silogismo!
Quanto achismo!
Quanto abismo!
Tudo
se resume em seres-humanos-aí-no-mundo integrados. Só assim
acabarão a destruição pela guerra, a morte pela fome
e a desarmonia pelos conflitos psicológicos.
A
verdadeira salvação da Humanidade depende de os seres-humanos-aí-no-mundo
aprenderem a ser compassivos, de se contentarem com pouco [com
o necessário] e de buscarem o Supremo [em
seus Corações].
A
grande tristeza da vida é, sem mudar, continuarmos fazendo exatamente
a mesma coisa que sempre fizemos.
—
Missa no domingo.
Amor?
Só um pingo.
Morte
aos incréus.
De
heresia são réus.
Sempre
ajoelho, sim.
Salvação?
Para mim.
O
dízimo? Toma-lá.
Recompensa?
Dá-cá.
Milagre?
Sim, acredito.
Mas,
só para o contrito.
Martin
Luther? Herético.
As
95 Teses? Ato anético.
Arrebatado?
Eu serei.
Vocês?
Eu não sei.
Para
o céu? Eu irei.
Vocês?
Também não sei.
Nutro
estas opiniões.
Adoro
estas ilusões.
Vocês? Só contradições!
Não
poderemos nos tornar inteligentes apenas substituindo um Governo por outro,
um partido por outro, uma religião por outra, um explorador por
outro, [um guru por outro,
um padre por outro, um líder por outro...]
A revolução cruenta nunca resolverá nossos problemas.
Só uma profunda revolução interior, que altere todos
os nossos valores, poderá criar um ambiente diferente e uma estrutura
social inteligente, e uma revolução deste gênero só
poderá ser realizada por nós, [internamente].
Nenhuma ordem nova surgirá enquanto, individualmente, não
derribarmos nossas barreiras psicológicas e nos tornarmos livres
[de preconceitos, de fobias,
de medos, de manias, de coisismos, de achismos, de fanatismos, de partidarismos,
religiosismos, de crendeirices etc.]
—
Tomei um banho,
mas, não lavei o pinto;
continuei sebento.
Troquei de cueca,
mas, não lavei a bunda;
continuei porcalhão.
Troquei de relógio,
mas, não dei corda;
o relógio parou.
Fui à escola,
mas, não fiz os deveres;
conservei-me ignorantão.
Escovei os dentes,
mas, não passei fio dental;
arrumei zilhões de cáries.
Dei uma transada,
mas, não usei camisinha;
tornei-me soropositivo.
Troquei de partido,
mas, não me ilustrei;
perdurei inocente útil.
Fui ao Deserto do Saara,
mas, não usei chapéu;
tive uma helionose.
Votei no outro,
mas, sem convicção;
depois, me envergonhei.
Troquei de religião,
mas, não me Illuminei;
continuei de joelhos.
Dei uma esmolinha,
mas, para negociar com Deus;
o milagre não aconteceu.
Eu era diabético,
mas, nunca dei a menor bola;
acabei ficando ceguinho.
Eu já nasci intolerante,
mas, nunca mudei;
terminei inteiramente só.
Morri e reencarnei,
mas, fiquei na mesma.
Não me alforriei.
Morri e não reencarnei.
Fui parar em não-sei-onde.
Agora, fumando, espero!
A
eternidade não está no futuro; a eternidade é agora.
Nossos problemas estão no presente, e só no presente podem
ter solução.
O
autoconhecimento é o começo da liberdade,
e só quando nos conhecermos a nós mesmos faremos nascer
a ordem e a paz.
Não
devemos nos preocupar se conseguiremos sustar as guerras imediatas ou
se poderemos criar uma instantânea compreensão entre as nações;
mas, pelo menos, podemos suscitar, no mundo de nossas relações
diárias, uma básica e efetiva transformação.
Enquanto
só pensarmos em termos de ganhos, de resultados, de vantagens,
de conforto e de segurança psicológica, a verdadeira transformação
interior será impossível, e nossas atividades isolantes
e escravizantes não serão compreendidas nem resolvidas.
Nossos
inúmeros problemas só serão compreendidos e solucionados
quando estivermos cônscios de nós mesmos como um processo
total, isto é, se compreendermos toda a nossa estrutura psíquica.
Nenhum guia político ou religioso poderá nos dar a chave
desta compreensão.
De
maneira geral, as pessoas, frustradas e melancólicas buscam uma
fuga no sexo, na bebida, na política ou em uma religião
de fantasia.
Nossa ignorância só
se dissipará com o nosso constante percebimento dos movimentos
e das reações do nosso ego em todas as suas relações.
O que precisamos compreender é que não somos apenas condicionados
pelo ambiente, mas, que somos o ambiente, e que não estamos separados
dele. Nossos pensamentos e nossas reações são condicionados
pelos valores que a sociedade, da qual somos uma parte, nos impõe.
Nunca
percebemos que somos o ambiente integral, porque existem em nós
diversas entidades que gravitam todas em redor do ego. O ego é
constituído destas entidades, que são meros desejos, cobiças
e paixões em várias formas. Deste conglomerado de desejos,
de cobiças e de paixões surge a figura central –
o “pensador”, a vontade do ego –
estabelecendo-se, assim, uma divisão entre o ego e o não-ego,
entre o ego e o ambiente ou a sociedade. Esta separação
é o começo dos conflitos, tanto internos quanto externos.
O percebimento deste processo integral –
tanto o processo consciente quanto o processo oculto –
só acontecerá pela meditação.
Só
se houver Liberdade existirão a Criação, a Verdade,
Deus ou Coisa equivalente. [Mas,
para haver Liberdade, é necessário haver Compreensão,
e para haver Compreensão é preciso haver Vontade de Compreender.]
As
reações não têm fim, e uma reação
sempre leva a outra reação.
Maria
gosta do João,
que gosta da Soninha,
que gosta do Paulão,
que gosta da Isolina,
que gosta do Zequinha,
que gosta da Ana Clara,
que gosta do Rodolfo,
que gosta da Blanquinha,
que gosta do Pafúncio,
que gosta da Maria,
que gosta do João...
Se
formos interiormente dependentes, a tradição exercerá
forte domínio sobre nós, e a nossa mente, que pensa conforme
as rotinas tradicionais, nunca poderá descobrir aquilo que é
novo. E, quando tentamos nos ajustar, nos tornamos medíocres imitadores,
simples dependentes de uma impiedosa engrenagem social.
Impiedosa
Engrenagem Social
A
imitação daquilo que “deveríamos ser”
gera medo, e o medo destrói o pensamento criador. O medo embota
a mente e o Coração, de modo que não podemos estar
despertos para sentir o inteiro significado da vida, e acabamos nos tornando
insensíveis aos nossos próprios sofrimentos, aos movimentos
dos pássaros e aos sorrisos e às lágrimas alheias.
O medo, tanto consciente como inconsciente, tem muitas e diferentes causas,
e a atenta vigilância é que nos livrará de todas elas.
Não podemos eliminar o medo pela disciplina, pela sublimação
ou por outro qualquer ato da vontade. Portanto, cumpre descobrir as causas
e compreendê-las, e isto requer paciência, humildade e uma
percepção isenta de julgamento.
É
relativamente fácil compreender e dissipar nossos medos conscientes.
Mas, os inconscientes nem sequer são descobertos pela maioria de
nós, porque não os deixamos subir à superfície,
e quando, em raras ocasiões, eles emergem, tratamos imediatamente
de escondê-los, de fugir deles, [como
o diabo foge da cruz]. Os medos ocultos, muitas vezes, se anunciam
por meio de sonhos e de outras formas de sugestão, e são
causadores de maiores danos e conflitos do que os medos superficiais.
O fato é que nossa vida não está apenas na superfície;
a maior parte se oculta à observação menos atenta.
Se desejarmos que os nossos medos secretos saiam à luz e se dissipem,
a mente consciente terá que estar tranqüila, e não
perenemente agitada. Depois, quando esses medos surgirem à superfície,
deverão ser observados sem resistência alguma, porque toda
forma de condenação ou de justificação só
fortalecerá mais ainda o medo. Para nos libertarmos inteiramente
do temor, deveremos estar cônscios de sua influência perturbadora,
e só uma vigilância constante poderá nos revelar as
suas múltiplas causas.1
Nada
que resulte do medo poderá nos ajudar a compreender nossos problemas,
ainda que o medo assuma o aspecto de respeito e de submissão aos
que são tidos por “sábios”. O medo, sob qualquer
forma, impede a compreensão de nós mesmos e das nossas relações
com todas as coisas, [mas,
principalmente, impede, por nós, a compreensão de nós
mesmos].
A
obediência ou a submissão a qualquer autoridade é
negação da inteligência e da liberdade individual.
Evitar
um problema é apenas intensificá-lo e, quando o fazemos,
renunciamos ao autoconhecimento e à liberdade.
Continua...
_____
Nota:
1.
Tenho 73 anos, e, até hoje, nunca sofri uma violência direta.
Sou grato por isto. Mas, há muitos anos, lá pelas 11 horas
da noite, fui não me lembro onde, e já estava voltando para
casa. De repente, observei que, em Botafogo, na Rua Farani, um carro,
com três pessoas dentro, estava me seguindo, provavelmente, para
me assaltar. Como eu dirijo direitinho, escapei da situação,
e cheguei em casa incólume. Esqueci o assunto e fui dormir. Lá
pelas 3 horas da madrugada, tive um baita pesadelo e mijei na cama. Este
é um exemplo dos
medos ocultos, que, muitas vezes, se anunciam por meio de sonhos e de
outras formas de sugestão, como disse o Krishnamurti.
Bem, nunca mais mijei na cama.
Música
de fundo:
Symphony
Nº 6 (Pastorale), em Fá Maior, opus 68
Compositor: Ludwig van Beethoven
Fonte:
http://www.kunstderfuge.com/beethoven/variae.htm#Symphonies
Observação:
A Sinfonia nº
6 em Fá Maior, opus 68, de Ludwig van Beethoven, também
chamada Sinfonia Pastoral, é uma obra musical precursora da música
programática. Esta Sinfonia foi completada em 1808, e teve a sua
primeira apresentação no Theater an der Wien, em 22 de dezembro
de 18081. Dividida em cinco andamentos, tem por propósito descrever
a sensação experimentada nos ambientes rurais. Beethoven
insistia que essas obras não deveriam ser interpretadas como um
quadro sonoro, mas, como uma expressão de sentimentos. É
uma das mais conhecidas obras da fase romântica de Beethoven.
Páginas
da Internet consultadas:
https://dribbble.com/
http://www.granma.cu/
http://sylvia0333.centerblog.net/
https://www.politicalanimalmagazine.com/
https://www.pinterest.com.mx/pin/47287864822623600/
https://br.depositphotos.com/
https://gfycat.com/gifs/search/donkey
https://giphy.com/
https://www.dreamstime.com/
https://www.deviantart.com/
https://www.universodasferragens.com.br/
https://tenor.com/search/monk-gifs
https://faesadigital.com/
https://gifer.com/en/OIVt
http://desperatehousewives.wikia.com/
https://br.pinterest.com/pin/336362665894521482/
https://www.vectorstock.com/
http://baronet.tech/
https://br.freepik.com/
http://popeye.wikia.com/wiki/Popeye_the_Sailorpedia
https://tenor.com/search/dancing-skeleton-gifs
https://www.adweek.com/
https://krishnamurtibox.wordpress.com/downloads/livros/
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empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de
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que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei
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