EDUARDO GALEANO – Pensamentos

 

 

 

Eduardo Galeano
(Pensando em As Veias Abertas da América Latina)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo se constitui de uma coletânea de fragmentos-pensamentos do jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano.

 

 

Nota Biográfica

 

 

 

Eduardo Hughes Galeano (Montevidéu, 3 de setembro de 1940 – Montevidéu, 13 de abril de 2015) foi um jornalista e escritor uruguaio. É autor de mais de quarenta livros, que já foram traduzidos em diversos idiomas. Suas obras transcendem gêneros ortodoxos, combinando ficção, jornalismo, análise política e História. Apesar da clara inspiração e relevância histórica de suas obras, Galeano negou o caráter meramente histórico destas, tendo comentado que era um autor obcecado com a lembrança, com a lembrança do passado da América e, sobretudo, da América Latina, uma terra intimamente condenada à amnésia.

 

 

 

Pensamentos de Galeano

 

 

 

Referindo-se ao regime militar (1973 – 1985) de seu País: As pessoas estão na cadeia para que os presos possam estar livres.

 

Sobre a vitória de Barack Obama nas eleições de 2008: Agora, ele entra na Casa Branca, que será a sua casa. Tomara que não esqueça que a Casa Branca foi construída por escravos negros. Chegou a hora de os Estados Unidos se libertarem da sua pesada herança racista.

 

Para se levantar, é preciso saber cair!

 

 

 

Não estou preso às coisas; elas não decidem nada.

 

A memória guardará o que valer a pena. A memória sabe de mim mais que eu; e ela não perde o que merece ser salvo.

 

Tenho saudades de um país que ainda não existe no mapa.

 

A História passada está de pernas para cima porque a realidade anda de cabeça para baixo. E não apenas no sul da América; também no Norte. Quem, nos Estados Unidos, não conhece Theodore Roosevelt? Este herói nacional predicou a guerra, e a praticou contra os fracos. A guerra, proclamou Roosevelt, purifica a alma e melhora a raça. Portanto, recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Em compensação, quem conhece, nos Estados Unidos, Charles Drew? Não é que a História o tenha conhecido, simplesmente jamais o conheceu. No entanto, este cientista salvou muitos milhões de vidas humanas, desde que suas pesquisas tornaram possíveis a conservação e a transfusão de plasma. Drew era diretor da Cruz Vermelha nos Estados Unidos. Em 1942, a Cruz Vermelha proibiu a transfusão de sangue de negros. Então, Drew se demitiu. Drew era negro.

 

Dia-a-dia se nega às crianças o direito de ser criança. Os fatos, que zombam deste direito, ostentam seus ensinamentos na vida cotidiana. O mundo trata os meninos ricos como se fossem dinheiro, para que se acostumem a atuar como o dinheiro atua. O mundo trata os meninos pobres como se fossem lixo, para que se transformem em lixo. E os do meio, os que não são ricos nem pobres, conserva-os atados à mesa do televisor, para que aceitem, desde cedo, como destino, a vida prisioneira. Muita magia e muita sorte têm as crianças que conseguem ser crianças.

 

Há marcas, visíveis no corpo, e outras, que ninguém pode ver.

 

Assovia o vento dentro de mim. Estou despido. Dono de nada, dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a contravento, e sou o vento que bate em minha cara.

 

Para os navegantes, com desejo de vento, a memória é um ponto de partida.

 

Vivemos em plena cultura da aparência. O contrato de casamento importa mais do que o amor. O funeral mais do que o morto. As roupas mais do que o corpo. E a missa mais do que Deus!

 

Temos guardado um silêncio bastante parecido com a estupidez.

 

A Igreja diz: o corpo é uma culpa. A Ciência diz: o corpo é uma máquina. A publicidade diz: o corpo é um negócio. E o corpo diz: eu sou uma festa.

 

A chuva que irriga os centros de poder imperialista afoga os vastos subúrbios do sistema. Do mesmo modo, e simetricamente, o bem-estar de nossas classes dominantes – dominantes para dentro, dominadas para fora – é a maldição de nossas multidões, condenadas a uma vida de bestas de carga.

 

A liberdade de eleição permite que você escolha o molho com o qual será devorado.

 

A liberdade de mercado permite que você aceite os preços que lhe são impostos.

 

A primeira condição para modificar a realidade consiste em conhecê-la.

 

Somos o que fazemos, principalmente o que fazemos para mudar o que somos.

 

A televisão, essa última luz que te salva da solidão e da noite, é a realidade. Porque a vida é um espetáculo: para os que se comportem bem, o sistema promete uma boa poltrona.

 

A beleza é bela quando pode ser vendida. A justiça é justa quando pode ser comprada.

 

O poder encolhe os ombros: quando este Planeta deixar de ser rentável, mudo-me para outro.

 

Um menino de três anos, chamado Luca, comentou um dia desses: — O mundo não sabe onde está sua casa. Ele estava olhando o mapa. Não estava olhando o noticiário.

 

O que são as pessoas de carne e osso? Para os mais notórios economistas, números. Para os mais poderosos banqueiros, devedores. Para os mais influentes tecnocratas, incômodos. E para os mais exitosos políticos, votos.

 

Os habitantes dos bairros suburbanos vão ao shopping center, como antes iam até o centro. O tradicional passeio do fim de semana até o centro da cidade tende a ser substituído pela excursão até esses centros urbanos. De banho tomado, arrumados e penteados, vestidos com suas melhores galas, os visitantes vão à uma festa para à qual não foram convidados, mas, podem olhar tudo.

 

Na luta do bem contra o mal, é sempre o povão que morre.

 

Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem. Ou seja: ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca.

 

Há aqueles que crêem que o destino descansa nos joelhos dos deuses, mas, a verdade é que ele trabalha, como um desafio candente, sobre as consciências dos homens.

 

Quando as palavras não são tão dignas quanto o silêncio, é melhor calar e esperar.

 

As pulgas sonham em comprar um cão. Os ninguéns sonham com deixar a pobreza.

 

Os ninguéns, filhos de ninguém, donos de nada. Os nenhuns, correndo soltos, morrendo em vida, fodidos e mal pagados. Que não são, embora sejam. Que não falam idiomas, mas, dialetos. Que não praticam religiões, mas, superstições. Que não fazem arte, mas, artesanato. Que não são seres humanos, mas, recursos humanos. Que não tem cultura, mas, folclore. Que não têm cara, apenas, braços. Que não têm nome, mas, números. Que não aparecem na história universal, mas, nas páginas policiais da imprensa local. São ninguéns que custam menos do que a bala que os mata.

 

Minhas certezas se alimentam de dúvidas. E, há dias em que me sinto estrangeiro em Montevidéu, como seria em qualquer lugar do mundo. E, nestes dias, dias sem Sol, noites sem Lua, nenhum lugar é meu lugar… E, não consigo me reconhecer em nada nem em ninguém.1

 

 

 

De Cuba em diante, outros países também iniciaram, por distintas vias e distintos meios, a experiência de mudança. A perpetuação da atual ordem de coisas é a perpetuação do crime. Os fantasmas de todas as revoluções estranguladas ou traídas, ao longo da torturada História Latino-americana, ressurgem nas novas experiências, assim como os tempos presentes tinham sido pressentidos e engendrados pelas contradições do passado. A História é um profeta com o olhar voltado para trás: pelo que foi, e contra o que foi, anuncia o que será...

 

Nossa derrota esteve sempre implícita na vitória dos outros. Nossa riqueza sempre gerou nossa pobreza, por nutrir a prosperidade alheia: os impérios e seus beleguins nativos.

 

Na alquimia colonial e neocolonial o ouro se transfigura em sucata, os alimentos em veneno.

 

Em certo sentido, a direita tem razão quando se identifica com a tranqüilidade e com a ordem. A ordem é a diuturna humilhação das maiorias, mas, sempre é uma ordem – a tranqüilidade de que a injustiça siga sendo injusta e a fome faminta.

 

Eu nasci e cresci debaixo das estrelas do Cruzeiro do Sul. Aonde quer que eu vá, elas me perseguem. Debaixo do Cruzeiro do Sul, cruz de fulgores, vou vivendo as estações de meu destino. Não tenho nenhum deus. Se tivesse, pediria a ele que não me deixe chegar a morte: ainda não. Falta muito que andar. Existem luas para as quais ainda não lati e sóis nos quais ainda não me incendiei. Ainda não mergulhei em todos os mares deste mundo, que dizem que são sete, nem em todos os rios do Paraíso, que dizem que são quatro. Em Montevidéu, existe um menino que explica: — Eu não quero morrer nunca, porque quero brincar sempre.

 

O sistema que não dá de comer tampouco dá de amar: condena muitos à fome de pão e muitos mais à fome de abraços.

 

O catecismo me ensinou, na infância, a fazer o bem por interesse e não fazer o mal por medo. Deus me oferecia castigos e recompensas, me ameaçava com o inferno e me prometia o céu; e eu temia e acreditava. Passaram-se os anos. Eu já não temo nem creio. E, em todo caso – penso – se mereço ser assado cozido no caldeirão do inferno, condenado ao fogo lento e eterno, que assim seja. Assim me salvarei do purgatório, que está cheio de horríveis turistas da classe média; e no final das contas, se fará justiça. Sinceramente: merecer, mereço. Nunca matei ninguém, é verdade, mas por falta de coragem ou de tempo, e não por falta de querer. Não vou à missa aos domingos, nem nos dias de guarda. Cobicei quase todas as mulheres de meus próximos, exceto as feias, e assim violei, pelo menos em intenção, a propriedade privada que Deus pessoalmente sacramentou nas tábuas de Moisés: Não cobiçarás a mulher de teu próximo nem seu touro, nem seu asno... E como se fosse pouco, com premeditação e deslealdade cometi o ato do amor sem o nobre propósito de reproduzir a mão-de-obra. Sei muito bem que o pecado carnal não é bem visto no céu; mas desconfio que Deus condena o que ignora.

 

O Deus dos católicos, Deus da minha infância, não faz amor. Talvez, o único Deus que nunca fez amor, entre todos os deuses de todas as religiões da história humana. Cada vez que penso nisso, sinto pena Dele. E, então, o perdôo por ter sido meu super-pai castigador, chefe de polícia do Universo, e penso, afinal, que Deus também foi meu amigo naqueles velhos tempos, quando eu acreditava Nele e acreditava que Ele acreditava em mim. Então, preparo a orelha, na hora dos rumores mágicos, entre o pôr do Sol e o nascer e subir da noite, e acho que escuto suas melancólicas confidências.2

 

Errata: onde o Antigo Testamento diz o que diz, deve dizer aquilo que provavelmente seu principal protagonista me confessou: Pena que Adão fosse tão burro. Pena que Eva fosse tão surda. E pena que eu não soube me fazer entender. Adão e Eva eram os primeiros seres humanos que nasciam da minha mão, e reconheço que tinham certos defeitos de estrutura, construção e acabamento. Eles não estavam preparados para escutar nem para pensar. E eu... Bem, eu, talvez, não estivesse preparado para falar. Antes de Adão e Eva, nunca havia falado com ninguém. Eu havia pronunciado belas frases, como “Faça-se a luz”, mas, sempre na solidão. E foi assim que, naquela tarde, quando encontrei Adão e Eva na hora da brisa, não fui muito eloqüente. Não tinha prática. A primeira coisa que senti foi assombro. Eles acabavam de roubar a fruta da árvore proibida, no centro do Paraíso. Adão havia posto cara de general que acaba de entregar a espada, e Eva olhava para o chão, como se contasse formigas. Mas, os dois estavam incrivelmente jovens e belos e radiantes. Surpreenderam-me. Eu os tinha feito; mas, não sabia que o barro podia ser tão luminoso. Depois, reconheço, senti inveja. Como ninguém pode me dar ordens, ignoro a dignidade da desobediência. Tampouco posso conhecer a ousadia do amor, que exige dois. E, em homenagem ao princípio de autoridade, contive a vontade de cumprimentá-los por se terem feito subitamente sábios em paixões humanas. Então, vieram os equívocos. Eles entenderam queda onde falei vôo. Acharam que um pecado merece castigo, se for original. Eu disse que quem desama peca: entenderam que quem ama peca. Onde anunciei pradaria em festa, entenderam vale de lágrimas. Eu disse que a dor era o sal que dava gosto à aventura humana: entenderam que eu os estava condenando, ao outorgar-lhes a glória de serem mortais e loucos. Entenderam tudo ao contrário. E acreditaram. Ultimamente, ando com problemas de insônia. Há alguns milênios, custo a dormir. E gosto de dormir, gosto muito, porque quando durmo, sonho. Então, me transformo em amante ou amanta, me queimo no fogo fugaz dos amores de passagem, sou palhaço, pescador de alto mar ou cigana adivinhadora da sorte; da árvore proibida devoro até as folhas e bebo e danço até rodar pelo chão... Quando acordo, estou sozinho. Não tenho com quem brincar, porque os anjos me levam tão a sério: nem tenho a quem desejar. Estou condenado a me desejar. De estrela em estrela ando vagando, aborrecendo-me no Universo vazio. Sinto-me muito cansado e muito sozinho. Eu estou sozinho, eu sou sozinho, sozinho pelo resto da eternidade.

 

O amor é uma das doenças mais bravas e contagiosas. Qualquer um reconhece os doentes dessa doença. Fundas olheiras delatam que jamais dormimos, despertos noite após noite pelos abraços ou pela ausência de abraços, e padecemos febres devastadoras e sentimos uma irresistível necessidade de dizer estupidezes. O amor pode ser provocado deixando cair um punhadinho de pó de me ame, como por descuido, no café ou na sopa ou na bebida. Pode ser provocado, mas, não pode impedir. Não o impede nem a água benta, nem o pó de hóstia; tampouco o dente de alho, que nesse caso não serve para nada. O amor é surdo frente ao Verbo Divino e ao esconjuro das bruxas. Não há decreto de Governo que possa com ele, nem poção capaz de evitá-lo, embora as vivandeiras apregoem, nos mercados, infalíveis beberagens com garantia de tudo.

 

Arranque-me, senhora, as roupas e as dúvidas. Dispa-me, dispa-me.

 

Eu adormeço às margens de uma mulher; eu adormeço às margens de um abismo.

 

Não nos provoca riso o amor quando chega ao mais profundo de sua viagem, ao mais alto de seu vôo: no mais profundo, no mais alto, nos arranca gemidos e suspiros, vozes de dor, embora seja dor jubilosa, e, pensando bem, não há nada de estranho nisso, porque nascer é uma alegria que dói. Pequena morte, chamam na França a culminação do abraço, que ao nos quebrar faz por nos juntar, e, nos perdendo, faz por nos encontrar, e, acabando conosco, nos principia. Pequena morte, dizem; mas grande, muito grande haverá de ser, se ao nos matar nos nasce.

 

Os amantes se comem entre si, de ponta a ponta, todos todinhos, todo-poderosos, todo-possuídos, sem que fique sobrando a ponta de uma orelha ou um dedo do pé.

 

Se eu não fizer, outro faz.
Que é como dizer: — Eu sou o outro.

 

Os banqueiros da grande bancaria do mundo, que praticam o terrorismo do dinheiro, podem mais que os reis, mais que os marechais e mais que o próprio Papa de Roma. Eles jamais sujam as mãos. Não matam ninguém: se limitam a aplaudir o espetáculo. Seus funcionários, os tecnocratas internacionais, mandam em nossos países: eles não são presidentes, nem ministros, nem foram eleitos em nenhuma eleição, mas, decidem o nível dos salários e o gasto público, os investimentos e os desinvestimentos, os preços, os impostos, os lucros, os subsídios, a hora do nascer do Sol e a freqüência das chuvas. Não cuidam, em troca, dos cárceres, nem das câmaras de tormento, nem dos campos de concentração, nem dos centros de extermínio, embora nesses lugares ocorram as inevitáveis conseqüências de seus atos. Os tecnocratas reivindicam o privilegio da irresponsabilidade: — Somos neutros — dizem.3

 

O sistema:
Com uma das mãos rouba o que com a outra empresta.
Suas vítimas:
Quanto mais pagam, mais devem.
Quanto mais recebem, menos têm.
Quanto mais vendem, menos compram.
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Menos é sempre mais. A melhor linguagem é o silêncio. Vivemos em um tempo de uma terrível inflação de palavras, e é pior do que a inflação do dinheiro.

 


                                       

 

 

No Sul, a repressão. Ao Norte, a depressão. Não são poucos os intelectuais do Norte que se casam com as revoluções do Sul só pelo prazer de ficarem viúvos. Prestigiosamente, choram, choram a cântaros, choram mares, a morte de cada ilusão; e nunca demoram muito para descobrir que o Socialismo é o caminho mais longo para chegar do Capitalismo ao Capitalismo. A moda do Norte, moda universal, celebra a arte neutra e aplaude a víbora que morde a própria cauda e acha que é saborosa. A cultura e a política se converteram em artigos de consumo. Os presidentes são eleitos pela televisão, como os sabonetes, e os poetas cumprem uma função decorativa. Não há maior magia do que a magia do mercado, nem heróis mais heróis que os banqueiros. A Democracia é um luxo do Norte. Ao Sul é permitido o espetáculo, que não é negado a ninguém. E ninguém se incomoda muito, afinal, que a política seja democrática, desde que a Economia não o seja. Quando as cortinas se fecham no palco, uma vez que os votos foram depositados nas urnas, a realidade impõe a lei do mais forte, que é a lei do dinheiro. Assim determina a ordem natural das coisas. No Sul do mundo, ensina o sistema, a violência e fome não pertencem à História, mas à Natureza, e a justiça e a liberdade foram condenadas a se odiar entre si.

 

Certa manhã, ganhamos de presente um coelhinho das Índias. Chegou à nossa casa em uma gaiola. Ao meio-dia, abri a porta da gaiola. Voltei para casa ao anoitecer e o encontrei tal e qual o havia deixado: gaiola adentro, grudado nas barras, tremendo por causa do susto da liberdade.

 

Nas ilhas francesas do Caribe, os textos de História ensinam que Napoleão foi o mais admirável guerreiro do Ocidente. Naquelas ilhas, em 1802, Napoleão restabeleceu a escravidão. A sangue e fogo, obrigou os negros livres a voltarem a ser escravos nas plantações. Disto, os textos não dizem nada. Os negros são os netos de Napoleão, não as suas vítimas.

 

Chicago está cheia de fábricas. Existem fábricas até no centro da Cidade, ao redor do edifício mais alto do mundo. Chicago está cheia de fábricas, Chicago está cheia de operários. Ao chegar ao bairro de Haymarket, peço aos meus amigos que me mostrem o lugar onde foram enforcados, em 1886, aqueles operários que o mundo inteiro saúda a cada Primeiro de Maio. — Deve ser por aqui — me dizem. Mas ninguém sabe. Não foi erguida nenhuma estátua em memória dos mártires de Chicago na cidade de Chicago. Nem estátua, nem monólito, nem placa de bronze, nem nada. O Primeiro de Maio é o único dia verdadeiramente universal da humanidade inteira, o único dia no qual coincidem todas as histórias e todas as geografias, todas as línguas e todas as religiões e culturas do mundo; mas, nos Estados Unidos, o Primeiro de Maio é um dia como qualquer outro. Neste dia, as pessoas trabalham normalmente, e ninguém, ou quase ninguém, recorda que os direitos da classe operária não brotaram do vento ou da mão de Deus ou do amo. Após a inútil exploração de Haymarket, meus amigos me levaram para conhecer a melhor livraria da Cidade. E lá, por pura curiosidade, por pura casualidade, descubro um velho cartaz que está, como que esperando por mim, metido entre muitos outros cartazes de música, rock e cinema. O cartaz reproduz um provérbio da África: Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador.

 

Como minhas incessantes viagens ao banheiro, entre cerveja e cerveja, me davam vergonha, resolvi dizer que o caminho da cerveja conduz ao banheiro da mesma forma que o caminho do tabaco leva ao cinzeiro. E me senti muito arguto!

 

Foi na selva, na Amazônia equatoriana. Os índios shuar estavam chorando a avó moribunda. Choravam sentados, na margem de sua agonia. Uma pessoa, vinda de outros mundos, perguntou:

— Por que choram na frente dela, se ela ainda esta viva?

E os que choravam responderam:

— Para que ela saiba que gostamos muito dela.

 

Na faculdade de Ciências Econômicas, em Montevidéu: A droga provoca amnésia e outras coisas que esqueci. Em Santiago do Chile, nas margens do Rio Mapocho: Bem-aventurados os bêbados, porque eles verão Deus duas vezes. Em Buenos Aires, no bairro de Flores: Uma namorada sem tetas é, mais que namorada, um amigo.

 

Os barbeiros me humilham cobrando meia tarifa. Faz uns vinte anos que o espelho delatou os primeiros clarões debaixo da melena frondosa. Hoje, o luminoso reflexo de minha calva em vitrines e janelas e janelinhas me provoca estremecimentos de horror. Cada fio de cabelo que perco, cada um dos últimos cabelos, é um companheiro que tomba, e que, antes de tombar, teve nome ou, pelo menos, número. A frase de um amigo piedoso me consola: — Se o cabelo fosse importante, estaria dentro da cabeça, e não fora.5 Também me consolo comprovando que em todos esses anos caíram muitos de meus cabelos, mas, nenhuma de minhas idéias, o que acaba sendo uma alegria, quando a gente pensa em todos esses arrependidos que andam por aí.

 

Três dias de parto e o filho não saía: — Tá preso. O negrinho tá preso — disse o homem. Ele vinha de um rancho perdido nos campos. E o médico foi até lá. Maleta na mão, debaixo do Sol do meio-dia, o médico andou até aquela longidão, aquela solidão, onde tudo parece coisa do destino feroz. E chegou, e viu. Depois, contou para Glória Galván: — A mulher estava nas últimas, mas, ainda arfava e suava e estava com os olhos muito abertos. Eu não tinha experiência nessas coisas. Eu tremia, estava sem nenhuma idéia. E nisso, quando levantei a coberta, vi um braço pequeninho aparecendo entre as pernas abertas da mulher. O médico percebeu que o homem havia estado a puxar. O bracinho estava esfolado e sem vida, um penduricalho sujo de sangue seco, e o médico pensou: não se pode fazer mais nada. E, mesmo assim, sabe-se lá por quê, acariciou o bracinho. Roçou com o dedo aquela coisa inerte, e, ao chegar à mãozinha, de repente, a mãozinha se fechou e apertou seu dedo com força. Então, o médico pediu que alguém fervesse água, e arregaçou as mangas da camisa.

 

Eram os tempos da ditadura militar no Brasil. Os generais deixaram-no entrar para que morresse em sua própria terra. Darcy Ribeiro chegou do exílio e uma ambulância, que o esperava ao pé do avião, levou-o diretamente ao hospital. Darcy sabia que estava com câncer, e que o câncer tinha devorado pelo menos um de seus pulmões, mas, estava alegre de alegria por estar na sua terra e sentir que ela estava tão sempre-viva e dançadoura. O irmão de Darcy chegou da cidade de Montes Claros. Vinha para se despedir. Sentado ao lado de Darcy, no hospital, olhava os próprios pés. Estava choroso e sombrio, e Darcy tratava de levantar-lhe o ânimo. O cirurgião tomou Darcy pelo braço e levou-o para caminhar pelo corredor: — Não quero desanimá-lo — disse — mas, acho que o senhor deve se preparar para o pior. Se o seu irmão sair vivo, será um milagre. Darcy não pôde conter o riso, e o médico não entendeu. No dia seguinte, foi operado. Darcy despertou com um pulmão a menos. Como tem tantos, nem percebeu.

 

Tracey Hill era menina num povoado de Connecticut, e se divertia com diversões próprias de sua idade, como qualquer outro doce anjinho de Deus no Estado de Connecticut ou em qualquer outro lugar deste Planeta. Um dia, junto a seus companheirinhos de escola, Tracey se pôs a atirar fósforos acesos em um formigueiro. Todos desfrutaram muito daquele sadio entretenimento infantil. Tracey, porém, ficou impressionada com uma coisa que os outros não viram ou fizeram como se não vissem, mas, que a deixou paralisada, e deixou nela, para sempre, um sinal na memória: frente ao fogo, frente ao perigo, as formigas se separavam em casais e assim, de duas em duas, bem juntinhas, esperavam a morte.

 

Juan Gelman me contou que uma senhora brigou a guarda-chuvadas, numa avenida de Paris, contra uma brigada inteira de funcionários municipais. Os funcionários estavam caçando pombos quando ela emergiu de um incrível forde-de-bigode, um carro de museu, daqueles que funcionavam à manivela, e, brandindo seu guarda-chuva, lançou-se ao ataque. Agitando os braços abriu caminho, e seu guarda-chuva justiceiro arrebentou as redes onde os pombos haviam sido aprisionados. Então, enquanto os pombos fugiam em alvoroço branco, a senhora avançou a guarda-chuvadas contra os funcionários. Os funcionários só atinaram em se proteger, como puderam, com os braços, e balbuciavam protestos que ela não ouvia: — Mais respeito, minha senhora, faça-me o favor, estamos trabalhando, são ordens superiores, senhora... Por que não vai bater no prefeito? Senhora, que bicho picou a senhora? Esta mulher endoidou... Quando a indignada senhora cansou o braço, e se apoiou em uma parede para tomar fôlego, os funcionários exigiram uma explicação. Depois de um longo silencio, ela disse: — Meu filho morreu. Os funcionários disseram que lamentavam muito, mas, que eles não tinham culpa. Também disseram que naquela manhã tinham muito que fazer... — A senhora compreende? — Meu filho morreu — repetiu ela. E os funcionários: Sim, claro. Mas que eles estavam ganhando a vida, que existem milhões de pombos soltos por Paris, que os pombos são a ruína desta Cidade... — Cretinos — fulminou a senhora. E já longe dos funcionários, longe de tudo, disse: — Meu filho morreu e se transformou em pombo. Os funcionários calaram e ficaram pensando um tempão. Finalmente, apontando os pombos que andavam pelos céus, nos telhados e nas calçadas, propuseram: — Senhora: por que não leva seu filho embora e deixa a gente trabalhar? Ela ajeitou o chapéu preto: — Ah! Não! De jeito nenhum! Olhou através dos funcionários, como se fossem de vidro, e disse muito serena: — Eu não sei qual dos pombos é meu filho. E se soubesse, também não ia levá-lo embora. Que direito tenho eu de separá-lo de seus amigos?

 

Jesus escolheu, para nascer, um deserto subtropical, onde jamais nevou, mas, a neve se converteu em um símbolo universal do Natal, desde que a Europa decidiu europeizar Jesus.

 

O nascimento de Jesus é, hoje em dia, o negócio que mais dinheiro dá aos mercadores que Jesus havia expulsado do templo.

 

Está envenenada a terra que nos enterra ou desterra.
Já não há ar; só desar.
Já não há chuva; só chuva ácida.
Vista do crepúsculo no final do século.
Já não há parques; só parkings.
Já não há sociedades; só sociedades anônimas.
Empresas em lugar de nações.
Consumidores em lugar de cidadãos.
Aglomerações em lugar de cidades.
Não há pessoas. Só públicos.
Não há visões. Só televisões.
Para elogiar uma flor, diz-se: parece de plástico.

 

Hoje, as torturas são chamadas de “procedimento legal”, a traição se chama “realismo”, o oportunismo se chama “pragmatismo”, o imperialismo se chama “globalização” e as vítimas do imperialismo se chamam “países em via de desenvolvimento”. O dicionário também foi assassinado pela organização criminosa do mundo. As palavras já não dizem o que dizem ou não sabemos o que dizem.

 

Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovakloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai, enfim, alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E, quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: — Pai, me ensina a olhar!

 

Dos medos nascem as coragens. Os sonhos anunciam outra realidade possível, e os delírios, outra razão. Somos o que fazemos para transformar o que somos. A identidade não é uma peça de museu, quietinha na vitrine, mas, sempre assombrosa síntese das contradições nossas de cada dia. Nessa fé, fugitiva, eu creio.

 

Os cientistas dizem que somos feitos de átomos, mas, um passarinho me contou que somos feitos de histórias.

 

São muitos os cidadãos que perdem a opinião por falta de uso.

 

O medo ameaça.
Se você ama, terá AIDS.
Se fuma, terá câncer.
Se respira, terá contaminação.
Se bebe, terá acidentes.
Se come, terá colesterol.
Se fala, terá desemprego.
Se caminha, terá violência.
Se pensa, terá angústia.
Se duvida, terá loucura.
Se sente, terá solidão.
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Devemos tomar consciência que os direitos da Natureza e os direitos humanos são dois nomes da mesma dignidade. E qualquer contradição é artificial.

 

Eu não acredito em caridade. Eu acredito em solidariedade. Caridade é tão vertical: vai de cima para baixo. Solidariedade é horizontal: respeita a outra pessoa e aprende com o outro. A maioria de nós tem muito que aprender com as outras pessoas.

 

A utopia está lá no horizonte. Aproximo-me dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos, e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.

 

Na América Latina, a liberdade de expressão consiste no direito ao resmungo em algum rádio ou em jornais de escassa circulação. Os livros não precisam ser proibidos pela polícia: os preços já os proíbem.

 

Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador.

 

 

 

A História nunca diz adeus. A História diz: — Vejo você mais tarde.

 

Nós somos todos mortais, até o primeiro beijo e o segundo copo de vinho.

 

O futebol, quando bem jogado, uma dança com uma bola.

 

A riqueza do mundo é o resultado da pobreza dos outros. Devemos começar a reduzir o abismo entre ricos e pobres.7

 

A indignação deve sempre ser a resposta à indignidade. A realidade não é destino.

 

Quase todas as guerras, talvez todas, são guerras comerciais relacionadas com algum interesse material. Elas estão sempre disfarçadas como guerras sagradas, feitas em nome de Deus, da civilização ou do progresso. Mas, todas elas, ou quase todas, foram guerras comerciais.

 

O objetivo da tortura não é obter informações. É espalhar o medo.

 

Os desastres são chamados naturais, como se a Natureza fosse o carrasco e não a vítima.

 

Cada vez que uma nova guerra é deflagrada em nome da luta do bem contra o mal, os que são mortos são todos pobres. É sempre a mesma história que se repete uma e outra vez e outra vez...

 

As paredes são os editores dos pobres.

 

Na era do todo-poderoso computador, os drones são os guerreiros perfeitos. Eles matam sem remorso, obedecem sem pestanejar e nunca revelam os nomes dos seus mestres.

 

A maioria das guerras, dos golpes militares e das invasões é feita em nome da Democracia contra a Democracia.

 

Nós, latinos, somos conhecidos por tagarelar sobre...

 

Há alguns escritores que acham que foram eleitos por Deus. Eu não fui. Eu fui eleito pelo diabo. Isto é claro.

 

A divisão do trabalho entre as nações é que algumas se especializaram em ganhar e outros em perder.

 

O mundo está organizado pela economia de guerra e pela cultura da guerra.

 

Somos porque ganhamos. Se perdermos, deixaremos de ser.

 

Não importa de onde vim, mas, sim, aonde quero chegar.

 

Um homem, da Aldeia de Negupá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que havia contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas. — O mundo é isso — revelou — um montão de gente, um mar de fogueirinhas. Cada pessoa brilha com luz própria, entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes, fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas, outros incendeiam a vida com tamanha vontade, que é impossível olhar para eles sem pestanejar. E quem chegar perto pega fogo.

 

 

 

O Pato-lunfa (mais-pra-gagá)
(
A Oblata no Gongá)

 

 

 

Eu fiquei rico, rico, rico,

mas, desejo muito mais!

Foi-se o tempo de nanico!

Eu só vou de beaujolais!

 

 

Quero que o País se foda!

Enriquei com o mensalão!

Gosto muito de uma boda;

hoje, é a vez do petrolão!

 

 

Eu fiquei rico, rico, rico,

mas, desejo muito mais!

É de ouro o meu penico;

tenho iate e muito mais!

 

 

Gosto muito de mufunfa

– no verão e no inverno!

Sei que sou o maior lunfa,

e boto tudo no caderno!

 

 

Eu fiquei rico, rico, rico,

mas, desejo muito mais!

Meto bronca e maçarico

pra arrombar diagonais.

 

 

Expert em açambarcar,

sou o rei da pilantragem!

Mas, se tiver que delatar,

foda-se a camaradagem!

 

 

 

 

Acabei duro e desnobre,

com essa tal de Lava Jato!

Por piedade, não me cobre!

Agora, preso, sou um pato!

 

 

Safo, eu topei a premiada,

e não vou dançar sozinho.

Nessa dança embananada,

já escolhi o meu parzinho.

 

 

 

 

Já velho-mais-pra-gagá,

vi o tamanho da ilusão.

Nem oblata nem gongá

placaram meu Coração!

 

 

 

O Pato-lunfa (mais-pra-gagá)

 

 

 

 

______

Notas:

1. Mas, isto não acontece com todo mundo?

2. O nome disto é imperativo hipotético, isto é: apenas um meio para se atingir esse fim. Na sua Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Immanuel Kant (Königsberg, 22 de abril de 1724 – Königsberg, 12 de fevereiro de 1804) explica: Todos os imperativos ordenam ou hipotética ou categoricamente. Os hipotéticos representam a necessidade prática de uma ação possível como meio de alcançar qualquer coisa que se quer ou que é possível que se queira. O imperativo categórico é aquele que nos representa uma ação como objetivamente necessária por si mesma, sem relação com qualquer outra finalidade. No caso da ação ser apenas boa como meio para qualquer outra coisa, o imperativo que ordena é hipotético; se a ação é boa em si, então, o imperativo é categórico.

3. Mentira! Ninguém é neutro. Se todos estamos ligados à Terra, como poderemos ser neutros? Nem ácido nem base? pH igual a 7? Isto só existe em Química! Enfim, esse treco latino de neuter, neutra, neutrum não é papo-firme; é papo-furado! Eu opino... Tu meditas... Ele acaba fazendo...

4. E quanto mais choram mais dói! Makarioi hoi Ptokhoi tô Pneumati! Bem-aventurados são os Mendigos (Ptokhoi) do Espírito (Pneumati). Benditos os que procuram por si a elevação intelectual e moral – o Conhecimento Superior que levará, de vida em vida, à imanência divina. Já para o redator latino da Vulgata, os bem-aventurados são os pobres de espírito, são os que não sabem nem querem saber, são os que entregam sua salvação à vontade dos guias, dos imperantes e dos dominadores, submetendo-se resignadamente, por espírito de humildade e de renúncia, a todos os dogmas, ordens, doutrinas, leis e impositividades absurdas. O Gnóstico não se conforma nem com a ignorância, nem com a submissão, nem com a pobreza de conhecimento, e, como Mendigo (Ptokhoi), busca o Espírito (Pneumati), procurando-O até encontrá-Lo.

5. E, também, não nasceria no cu!

6. E, se acreditar no céu, e só ficar rezando, aí, é que vai mesmo para o inferno!

7. É como eu já disse: para alguém lucrar e ficar rico alguém terá que perder e empobrecer.

 

 

 

 

Páginas da Internet consultadas:

https://dissencialistas.wordpress.com/
2012/10/11/eduardo-galeano-criminologia/

http://redelatinamerica.cartacapital.com.br/
eduardo-galeano-1940-2015/

http://forum.dvdtalk.com/other-talk/600687
-second-only-animated-gif-thread-125.html

http://www.dbaldinger.com/opinion_cartoons/
first_page/rich_and_poor.html

http://imanpsurojo.blogspot.com.br/2014/03/
gambar-animasi-bergerak-gif-inilah-tema.html

http://www.brainyquote.com/quotes/
authors/e/eduardo_galeano.html

http://www.clker.com/clipart-9991.html

http://pixgood.com/lion-animated-gif.html

http://www.frasesfamosas.com.br/frases-de/eduardo-galeano/

http://www.picgifs.com/graphics/ducks/
graphics-ducks-008627-784629/

http://kdfrases.com/autor/eduardo-galeano

http://pensador.uol.com.br/autor/eduardo_galeano/3/

http://paxprofundis.org/livros/ptokhoi/ptokhoi.htm

http://jornaldefilosofia-diriodeaula.blogspot.com.br/
2013/03/imperativo-categorico-e-imperativo.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Imperativo_hipot%C3%A9tico

http://pensador.uol.com.br/autor/eduardo_galeano/2/

http://pensador.uol.com.br/autor/eduardo_galeano/

http://giphy.com/search/fall-down-steps

http://pt.wikiquote.org/wiki/Eduardo_Galeano

http://pt.wikipedia.org/wiki/Eduardo_Galeano

 

Música de fundo:

De Marré, Marré
Interpretação: Carequinha

Fonte:

http://minhateca.com.br/thss83/

 

Direitos autorais:

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