REFLEXÕES
SOBRE O PENSAMENTO DE
KARL VON ECKARTSHAUSEN
Rodolfo
Domenico Pizzinga
Música de fundo:
Praeludium [et Fuga] in a minor – J. S. Bach
Fonte: http://www.kunstderfuge.com/bach.htm
INTRODUÇÃO
A
NUVEM SOBRE O SANTUÁRIO é, provavelmente,
a obra mais conhecida e divulgada de Karl von Eckartshausen. Este
ilustre metafísico alemão do século XVIII
era membro da Fraternidade dos Rosacruzes de seu tempo, e esta
obra cumpriu duas finalidades principais: divulgar a existência
da Ordem e fazer um convite para o Matrimônio, isto é,
para Nela ingressar. Parte de seus escritos trata de temas importantes
relativos ao esoterismo cristão, nos quais o pensador revela
certos segredos esotéricos destinados tão-somente
aos iniciados. Entretanto, o ponto de partida e o ponto de chegada
é o MESTRE JESUS, Sacerdote Crístico de D’US
e da NATUREZA. Eckartshausen entendia que a VERDADE ABSOLUTA não
pode ser alcançada pela razão, seja dianóica,
seja noética. Esta possibilidade místico-esotérico-iniciática
pertence e é privilégio do HOMEM INTERIOR E ESPIRITUAL,
dotado, por sua própria origem, dos instrumentos capazes
de perceber esta VERDADE. A Ordem Rosacruz — AMORC, há
alguns anos, publicou seis Cartas de Eckartshausen: as
três primeiras são uma tradução da
obra referida (Die Wolke über dem Heiligtum), e,
as outras três, que embora tenham sido publicadas como se
integrassem as primeiras, compõem uma obra separada denominada
REDENÇÃO (Erloesung). Os interessados
nos originais atualizados e traduzidos para o português
poderão entrar em contato com a AMORC no endereço
abaixo:
Grande
Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa
www.amorc.org.br
Na
elaboração deste ensaio gratificador, produzido
em fevereiro de 2004, pretendi reexaminar e voltar a refletir
sobre alguns pontos das seis Cartas, e tentei me impor uma disciplina
suprema, qual seja: interferir o mínimo possível
no pensamento do autor, o que, em certa medida, representou e
constituiu-se em uma quase intransponível dificuldade.
Ao leitor deste texto não será custoso perceber
quando avancei ligeiramente o sinal e inseri alguns (poucos) cacos.
Eckartshausen, que também foi teatrólogo e dramaturgo,
onde estiver, tenho certeza, não ficará aborrecido
comigo. Afinal, somos Irmãos. Todavia, cumpre-me pedir
desculpas por isso. Mas, tenho plena consciência de que
não adulterei o original, nem, muito menos, me socorri
da Iluminação de Karl von Eckartshausen para divulgar
minhas próprias reflexões. Tenho minha própria
página na Internet para isso. Costumo ensinar aos meus
alunos que uma monografia deve, minimamente, estar apoiada em
dois pilares: honestidade e coerência interna. Por isso,
estou tendo todo esse cuidado em dar essas explicações,
e, também, em citar as fontes nas quais me baseei para
elaborar este trabalho escrito.
Mas, preliminarmente,
apresentarei uma resenha (na qual, também devo confessar,
recortei e colei, com algumas modificações e diversas
inclusões, algumas informações do autor)
de um texto divulgado na página abaixo (que recomendo por
ser excelente), que foi acessada em 12/2/2004:
http://club.telepolis.com/agaigcu/temasdeinteresesoterico.htm
Karl von Eckartshausen,
contemporâneo de Cagliostro (1743-1795), de Louis-Claude
de Saint-Martin (1743-1803) e, também, de Immanuel Kant
(1724-1804), de Karl Christian Friedrich Krause (1781-1832) e
de Auguste Comte (1789-1857), nasceu no Castelo de Haimhausen
(Baviera) em 28 de junho de 1752 e morreu em Munich em 13 de maio
de 1803. Filho ilegítimo do Conde Karl von Haimhausen e
de Maria Anna Eckart, foi batizado com o nome de seu pai e recebeu
um sobrenome inventado que reúne os sobrenomes paterno
e materno: Eckartshausen.
Este ilustre Pensador,
que adquiriu educação muito esmerada, acabaria por
se tornar um dos escritores mais fecundos de toda a Alemanha e
uma das figuras mais importantes da teosofia cristã, ainda
que o Iluminismo da época em que viveu chegasse quase ao
limite de deificar a razão humana, que deveria ser
usada para descobrir as leis naturais. O pensamento prevalecente
era de que se o homem usasse a razão e obedecesse às
leis naturais, a espécie humana poderia alcançar
a perfeição. Ainda que o Iluminismo fosse um
sistema lógico e buscasse ancoragem no pensamento científico
vigente, o Pietismo (careta), que grassava paralelamente ao Iluminismo
e defendia a obrigação de uma vida devota (e não
raras vezes autoflagelativa), acreditava sem qualquer embasamento
dialético em um renascimento espiritual sem eira nem beira,
e propugnava por uma reforma do Catolicismo baseada em (pré)conceitos,
autoritarismo, isolamento e tutela do livre-pensamento. Eckartshausen,
quase isoladamente, acreditava tanto no REINO DA NATUREZA,
quanto no REINO DA GRAÇA. Dotado de uma
sensibilidade incomum, sua vida foi influenciada desde a infância
pelo mágico(?!) e pelo sobrenatural(?!).
A partir dos sete anos teve sonhos e passou por experiências
insólitas muito importantes e muito fecundas para sua vida
interior, cuja interpretação lhe seria proporcionada
por SONHOS posteriores. Como escreveria
ele mesmo a outro grande teósofo, Kirshberger,
a luz que brilha nas trevas me proporciona o conhecimento das
coisas ocultas. A LUZ será precisamente uma
de suas obsessões, à qual dedicará opúsculos
inteiros. Pode-se, pois, admitir em seu percurso místico,
a presença de uma Teosofia da LUZ e de uma Filosofia da
LUZ, ambas baseadas em sua experiência interior e em seu
contato transracional com a ATUALIDADE CÓSMICA. Para Eckartshausen,
a luz física percebida pelo homem não
é a verdadeira LUZ, mas unicamente um símbolo de
sua PÁTRIA CELESTE, a ser conquistada - acrescento
eu – por todos os entes, sem exceção.
Em 1770, Eckartshausen
matriculou-se na Universidade de Ingolstadt, dirigida por jesuítas,
na qual permaneceria por três anos. Em 1774, depois de se
distinguir brilhantemente, obteve o Absolutorium (Diploma
Final). Em 1776, foi nomeado para um cargo relacionado com atividades
na esfera do Direito, às quais se dedicaria a partir de
1779. Neste mesmo ano casou-se com Genoveva Quiquérez,
que faleceria ao cabo de dois anos. Em 1781 casou-se novamente
com Gabriela von Wolter, filha de Johann Anton von Wolter, médico
pessoal do Príncipe Eleitor, Karl Theodor, e Diretor da
Faculdade de Medicina da Universidade de Ingolstadt. Em pouco
tempo nasceu o fruto deste matrimônio, Sophia Teresa Gabriela.
Em 1777, Eckartshausen
foi admitido na Academia de Ciências de Munich, da qual
foi membro até 1800, local onde pronunciou um grande número
de conferências. Nesta mesma Academia realizaria toda uma
série de experimentos físicos e alquímicos
que influiriam decisivamente em suas obras.
Entre 1780 e 1783, Karl
von Eckartshausen dedicou-se especialmente a seu trabalho como
jurista, no qual intentou plasmar seus ideais humanitários,
especializando-se em criminologia, e tornando-se, o que não
surpreendeu àqueles que o conheciam, um defensor dos fracos,
dos necessitados e dos oprimidos. Sua produção literária
daquela época esteve estreitamente vinculada com seu trabalho.
Um dos opúsculos que touxe à luz foi Das Origens
dos Delitos e da Possibilidade de Evitá-los. Em 1780,
Eckartshausen ingressou no Colégio da Censura e, a partir
de então, trabalhando como censor, se encarregaria, especialmente,
da revisão de obras sobre Direito e sobre Literatura.
Em 1786 publicou uma
obra intitulada Da Organização Prática
e Sistemática dos Arquivos Principescos em Geral.
Seu trabalho como censor e como arquivista permitiu-lhe ler muitíssimo
e enriquecer-se culturalmente. A partir de 1788, Eckartshausen
centrou seus esforços intelectuais sobretudo em temas esotéricos.
Sem embargo, o teatro ocuparia um lugar preeminente dentro de
sua obra; escreveu, publicou e estreou, com certo êxito,
várias obras deste gênero.
Ao mesmo tempo em que
trilhava uma vereda de cariz fundamentalmente místico-filosófico-especulativo,
Eckartshausen continuava a se entregar ainda a experimentos práticos,
conforme já mencionado, nos domínios da física
e da Alquimia. Em 1798, por exemplo, publicou um tratado sobre
Os Descobrimentos mais Recentes Sobre o Calor e o Fogo.
Em 1799, fez que fosse
divulgado um artigo que não assinou, no qual pretendia
reduzir todas as ciências a um princípio universal
que permite descobrir em todas as artes e em todas as ciências
o que até então só havia sido considerado
como efeito do acaso. Neste escrito, Eckartshausen demonstrou
que o princípio da matéria é indivisível
e incorruptível, o que está em consonância
com os próprios princípios rosacruzes. Para ele,
todos os fenômenos da Natureza se produzem por síntese
ou por análise da LUZ. A sombra também é
matéria real suscetível de ser concentrada até
se tornar manifesta. Assegurou que a obscuridade e a luz são
verdadeiras substâncias. Alguns anos antes havia construído
una máquina que permitia relacionar os olores com as cores,
e descobriu que existia una analogia entre cores, idéias,
olores e paixões. No começo do século
passado o genial Harvey Spencer Lewis (Sâr Alden, Frater
Profundis XIII), fundador do atual CICLO INICIÁTICO da
AMORC, inventou e construiu alguns aparelhos semelhantes. Igualmente,
entre outras peculiaridades, era Alquimista. Inclusive procedeu
a uma transmutação alquímica de zinco em
ouro, com a presença e fiscalização da imprensa,
em uma noite de quinta-feira, 22 de junho de 1916.
Eckartshausen, pouco depois,
publicou outro polêmico artigo intitulado Novos Descobrimentos
Sobre a Incorruptibilidade das Coisas, a Conservação
e a Perpetuação dos Seres, no qual afirmara
ser capaz de separar a matéria luminosa dos corpos.
Contudo, a obra mais
famosa de Karl von Eckartshausen não apareceria até
um ano antes de sua morte — A NUVEM SOBRE O
SANTUÁRIO — que alcançaria um
grande sucesso e rapidamente seria reeditada e traduzida para
vários idiomas. Apesar de a obra não contemplar
os ensinamentos rosacruzes oficiais da AMORC, é uma fonte
de inspiração para todos os estudantes de misticismo
que estão em busca da ILUMINAÇÃO INTERIOR.
Este trabalho, por evidente, em nenhum aspecto pretende substituir
o texto original, que deve ser lido, examinado e refletido por
cada um. Tem um único objetivo: tornar o Autor conhecido
daqueles que não o conhecem.
Eckartshausen foi um espírito
inquieto a quem tudo interessava. Em seus numerosos ensaios, desenvolveu
um complexo sistema cosmogônico; escreveu páginas
inspiradas e admiráveis sobre Deus e sobre o Homem. Interessava-se
sobremodo pelo mundo dos espíritos e não se envergonhava
de confessar que mantinha contato com eles e que lhes devia muitas
inspirações. Por outro lado, também advertiu
sobre os perigos que comporta este tipo de prática. Contudo,
um dos focos de interesse de Eckartshausen, uma de suas grandes
preocupações, era a RELIGIÃO. Em A NUVEM
SOBRE O SANTUÁRIO deixou escrito que a
RELIGIÃO consiste no único e grande mistério
da REDENÇÃO, que se nos revela de uma maneira meramente
simbólica em todas as cerimônias e representações
religiosas. Eckartshausen escreveu este breve tratado
para mostrar àqueles que buscam a VERDADE que existe uma
completa harmonia entre o espiritual e o físico. Na realidade,
como já foi explicitado, divulgou a existência da
Fraternidade dos Rosacruzes. Cabe apenas ao homem descobrir e
trilhar o CAMINHO. Parafraseando às avessas um título
de Millôr Fernandes, acrescento: O NASCER-DO SOL
É DE QUEM OLHA PARA O LESTE!
Para Eckartshausen,
o visível está intimamente ligado com o invisível
por Leis Eternas, pois ambos constituem uma cadeia única.
Na PURA INTELIGÊNCIA SUPREMA não
há nem em cima nem embaixo, nem dentro nem fora. As reflexões
de nosso autor coincidem com as de outros teósofos cristãos
como Boehme, para quem os seres vivos imitam em sua estrutura
o mundo astral em sua totalidade: o que está acima é
como o que está embaixo. Aliás, este pensamento,
que está gravado na Tábua de Esmeralda
de Hermes Trismegistus, infelizmente, penso eu, às vezes
é compreendido incompleta e incorretamente, tanto quanto
a Lei da Retribuição. Muitas confrarias insistem
em admitir a reciprocidade como punitiva ou como premiadora. Isto
é mistura de ignorância com ilusão, cujo filhote
só pode ser um mondrongo mental retardador!
O fato é que
todas as coisas estão ligadas entre si por laços
invisíveis e não evidentes. Inclusive, a coisa mais
diminuta tem sua importância relativa, já que está
em íntima relação com o TODO. A modificação
mais ínfima pode produzir os maiores transtornos: nisto
radicam a efetividade e o perigo da magia. O mundo
visível – avisou Eckartshausen
– com todas as suas criaturas, não é
mais do que a forma exterior do mundo invisível; o exterior
é a assinatura do interior... o interior trabalha constantemente
para se manifestar no exterior. Os espíritos da
Natureza obedecem à vontade do mago porque Macrocosmos
e Microcosmos estão unidos. Tudo que está no interior,
assim como a maneira em que atua, se manifesta no exterior.
O homem é um Microcosmos que está em relação
exata e indefectível com o ESPÍRITO DO MACROCOSMOS.
Por isso, todo cuidado é pouco com atos, pensamentos e
palavras. Que estejam atentos os místicos, particularmente
os ROSACRUZES: Um piscar de olhos com intencionalidade hipotética
dispara um mecanismo, muitas vezes, irreversível. Todos
haveremos de aprender um dia que somos os únicos responsáveis
por tudo o que nos acontece. Tanto a Divindade — ou a idéia
que Dela possamos fazer — quanto o outro não são
responsáveis por nossa ignorância. Ao fazermos uma
opção, nos tornamos responsáveis por ela.
Toda forma
é letra viva de um alfabeto; em a Natureza
– reflete nosso Autor - podemos
ler como em um livro aberto o Amor, a Verdade e a Sabedoria de
Deus. A leitura dos símbolos elevará
o buscador até as FORMAS PRIMORDIAIS desta
ESCRITURA. Porém, o acesso à compreensão
dos símbolos, vedado à orgulhosa inteligência,
é, sobretudo
Criado
à imagem e semelhança de DEUS, pensou o nosso Filósofo,
o homem está destinado a uma felicidade semelhante à
de seu Criador. O homem está na Terra para alcançar
o mais alto grau de felicidade e de perfeição possível.
Porém, não no ilusório tempo, mas na Atualidade
Eterna. Sem embargo, neste mundo, pode, com sacrifício,
encontrar o ponto a partir do qual se extraviou. Ensina
Eckartshausen:
O
homem é semelhante a um fogo concentrado e encerrado
em uma envoltura grosseira; está separado do FOGO PRIMORDIAL
ao qual aspira unir-se. Temos de queimar a envoltura que nos
recobre de modo que este fogo não se reduza a uma simples
faísca. Então, tudo aquilo que é impuro
será consumido, modificará o corpo, e o fará
receptivo a Deus... Esta ALQUIMIA é facilitada pelo
fato de que existe, no mais recôndito da natureza física,
uma substância pura que pode nos ajudar a liberar a
ALMA DIVINA encerrada em nosso interior: esta substância
é a essência paradisíaca que a queda [simbólica]
do homem encerrou na matéria grosseira e que, desde
então, enfraquece sob suas cadeias. Continua
Eckartshausen: o homem é o objeto mais
importante do mundo. As duas ordens de conhecimento das quais
participa fazem dele semelhante a uma árvore [invertida],
cuja raiz é o espírito; o tronco e os ramos,
as faculdades; a folhagem, as palavras; as flores, a vontade;
o fruto, a virtude. Ai da árvore que não der
frutos! O Evangelho segundo
Mateus (VII-16) adverte: Por
seus frutos os conhecereis.
O afastamento progressivo
da LUZ, ponderou Eckartshausen, resultou em ignorância,
paixões, dor, miséria e morte. E o
maior dos pecados que herdamos de nossos ascendentes foi o
egoísmo. Apesar de nossos sentidos terem
se afastado da LUZ, existe uma FORÇA
luminosa que imanta nosso centro à UNIDADE.
Todo o segredo consiste em saber despertá-La
de um modo suave ao mesmo tempo que seguro.
Deus expressa um SOL
ESPIRITUAL que (re)liga o limitado ao ilimitado. Este
SOL é o órgão da O(M)nipotência;
os persas o chamavam de Ormuz, os judeus, de
Jehová, os gregos, de Logos.
Este órgão é a Natureza I(N)mortal
e Pura, a substância indestrutível que o vivifica
todo e o leva [o limitado] à mais alta perfeição
e felicidade; o primeiro homem foi criado –
segundo Eckartshausen – a partir desta substância,
que é o elemento puro. Eckartshausen falou
também de um azeite de unção
que renova o homem. Este azeite, que
reside no âmago da matéria física, é
chamado ELECTRUM, o elemento divino, o órgão ou
VEHICULUM DO ESPÍRITO DE DEUS, o vestido de ouro da filha
do REI. Este ELECTRUM CHARMAL ÆTHERUM é o VERBO físico
e glorioso, o Corpo do Messias. Nosso autor o descreveu
como um azeite verdadeiro, luminoso e incombustível:
aquele que é ungido com ele, depois de uma preparação
adequada, converte-se em um verdadeiro Rei e em um Sacerdote de
Deus; o Espírito Santo atuará através dele
e tudo lhe será ensinado. Este princípio
vivifica o que está morto e potencializa a LUZ que está
enterrada no interior do ente, dissolvendo o glúten
do sangue.
O homem –
no sentimento de Eckartshausen – é
um ser caído em um mundo tenebroso, separado da LUZ
original. A aceitação inteligente e humilde desta
realidade é a base para vencer o orgulho que o cega, e
é, paralelamente, a chave para volver a (re)encontrar o
desejado estado glorioso. A oração é
o primeiro passo que conduzirá o ser à regeneração.
O segredo da REGENERAÇÃO
consiste em fazer desaparecer a casca que mantém prisioneiro
o CORAÇÃO DIVINO: a REGENERAÇÃO é
o processo místico-iniciático de construção
do TEMPLO no qual Deus, a Natureza e o Homem estarão unidos
para sempre. A verdadeira ciência real e sacerdotal
é a ciência da REGENERAÇÃO, ou seja,
a reunião de DEUS com o homem caído. A
REGENERAÇÃO não
se refere tão-só ao homem: abarca a Natureza inteira,
que este, o homem, por ignorância, arrastou em sua queda.
A Natureza aspira a sua restauração:
espera com nostalgia o momento no qual a Humanidade alcançará
a mais alta perfeição.
REFLEXÕES SOBRE O PENSAMENTO DE
KARL VON ECKARTSHAUSEN
KARL VON ECKARTSHAUSEN
Reflexão é
o processo mental de correlacionar idéias. Se o ato de
refletir é viciado, cousificado, não poderá
haver desenvolvimento interior. Isto determina a cristalização
ou a cousificação do próprio ato
de viver. Como ensina a Ordem Rosacruz – AMORC, a
reflexão leva, em seu aspecto racional estrito, ao aumento
de apreciação da experiência passada e de
formação de atitude para a experiência futura,
e, em seu aspecto meditativo, à ‘desobstrução
do canal psíquico de inspiração’ pela
prevenção e pela eliminação de preconceitos.
Quando o homem aprende a Verdade, é sua alma que a reconhece
na íntima e jubilosa reação ao êxtase
místico.
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* *
NUVEM
SOBRE O SANTUÁRIO
EXCERTOS DA PRIMEIRA CARTA
(comentários)
Apesar de que a Humanidade
do século XVIII considerasse estar vivendo o século
da iluminação, por toda a parte havia conspiração,
deslealdade, tumulto e fermentação. A história
é de todos conhecida. Como hoje, a batalha era a mesma:
homem animal versus HOMEM ESPIRITUAL. Ainda neste
terceiro milênio a penumbra não foi dissipada, pois,
como advertiu Eckartshausen em seu tempo, onde há
discussão ainda não há verdade.
(Talvez o vocábulo mais apropriado para esta afirmação
seja dissensão, que, infelizmente, na maioria dos casos,
leva ao estado de litígio). Contudo, o homem continua carente
de uma Iluminação Maior. Isto porque, no ilusório
tempo e no fantasioso espaço, tudo que é percebido
é relativo. E, assim, as presumidas verdades acreditadas
como tais são, quando muito, verdades relativas. Disse
Eckartshausen: A Verdade Absoluta não se encontra
no reino das aparências. A razão natural
[sensiente] não apreende a essência,
mas, apenas a aparência da Verdade e da Luz. Quanto mais
se intensifica essa aparência, mais diminui a Essência
da Luz, interiormente.
Segundo nosso Pensador,
o Princípio da Razão e da Sabedoria está
contido no PRIMEIRO MANDAMENTO CRISTÃO. Dessa especulação,
concluiu: O Cristo [LUZ CÓSMICA
DO MUNDO] é Sabedoria, Verdade e Amor.
Como Sabedoria, é o Princípio da Razão, a
fonte do mais puro conhecimento. Como Amor, é o Princípio
da Moralidade, a motivação essencial e pura da Vontade.
Amor e Sabedoria completam o espírito da Verdade, a Luz
Interior que em nós ilumina as questões transcendentais
e lhes confere objetividade.
|
ShOPhIa |
AMOR |
——› |
LUZ
INTERIOR |
Eckartshausen cria que
a VERDADE (penso eu que, também, ainda relativa) só
existe para o homem interior – o homem
espiritual – que é possuidor (proprietário)
do seu próprio SENSORIUM. Nesse
lineamento, propôs TRÊS PASSOS para a abertura dos
sentidos internos do SENSORIUM ESPIRITUAL,
que são: O primeiro grau só alcança
a virtude moral. O Reino Transcendental, em nós, atua por
ação interior denominada INSPIRAÇÃO.
O segundo grau abre nosso SENSORIUM à recepção
do espiritual e do intelectual. O Reino Metafísico, em
nós, atua por ILUMINAÇÃO INTERIOR. O terceiro
e mais elevado grau, e também o mais raro, abre todo o
Eu Interior... e permite-nos total percepção do
REINO ESPIRITUAL... pela qual... todas as visões são
explicadas de maneira perfeitamente natural. Abertos
os sentidos interiores, a confusão motivada pelo que é
corruptível será iluminada pela SUBSTÂNCIA
INCORRUPTÍVEL. Em apoio de suas lucubrações,
elogia e invoca o pensamento kantiano e concorda com o autor das
Críticas, afirmando e reafirmando que o reino
da compreensão é totalmente inacessível à
razão natural. Eckartshausen viveu convicto
de que tão-só pela REVELAÇÃO
o homem poderá abrir o seu SENSORIUM,
de tal sorte que possam se tornar perceptíveis as VERDADES
INACESSÍVEIS. A questão toda repousa
no fato místico conhecido dos antigos, que a impossibilidade
de acessar os Planos Superiores é oriunda da atrofia do(s)
órgão(s) interno(s) responsável(is) por essa
acessibilidade. Com o desenvolvimento adequado e paulatino desse(s)
órgão(s) a cortina é... aberta...
o véu... é retirado... a NUVEM ANTE O SANTUÁRIO
desaparece e o CORAÇÃO se abre
para a QÜIDIDADE VERDADEIRA (NI
ou NUN-I), ou, como preferiu nosso autor,
para a ACEITAÇÃO DE DEUS.
EXCERTOS
DA SEGUNDA CARTA
(comentários)
Esta Carta trata da
Comunidade da Luz de Deus, cujos membros,
espalhados pelo mundo, estão unidos em torno de um só
Espírito, de um só Mestre
e Senhor e de uma só Verdade.
Esta Comunidade tem sido conhecida como IGREJA INVISÍVEL.
Esta Comunidade é adestrada e inspirada pelo próprio
ESPÍRITO SANTO. As matérias
básicas de instrução desta Comunidade ou
Escola são: a) perfeito Conhecimento de Deus;
b) perfeito Conhecimento da Natureza;
e c) perfeito Conhecimento do Homem.
Esta, segundo nosso Autor, é a mais esotérica de
todas as Fraternidades e possui membros em todo Universo. Portanto,
iludem-se aqueles, acrescento eu, que pensam estapafurdicamente
que a Divindade escolheu aleatoriamente o Planeta Terra para manifestar
sua O(M)nipotência. Esta IGREJA
está subdividida em dois setores distintos
que se complementam: uma organização
interna [denominada por Eckartshausen de
Santuário Secreto ou Igreja Interna]
como base, da qual a externa é apenas uma expressão.
No lado visível prevalece a Letra (os símbolos);
no plano invisível repousa o Espírito
Vivo e Criativo (a Verdade). Seus membros são
aqueles que estão aptos para conhecer a LUZ e
a VERDADE e estão ungidos pelo ESPÍRITO.
Seu líder é a própria LUZ DO MUNDO
– o CRISTO –
A LUZ UNGIDA. Mas o Líder Permanente
é o próprio DEUS. Esta Igreja,
revela Eckartshausen, tornou-se o repositório
antigo de todos os mistérios e revelações
e a chave para o verdadeiro conhecimento, tanto divino ou natural.
Entrementes, com a multiplicação da Humanidade e
a debilidade progressiva dos homens, a sabedoria arcana teve de
ser apresentada sob a forma de cerimônias simbólicas
exteriores, conforme a disposição especial dos diversos
povos para sentirem as influências do ESPÍRITO
DE DEUS. Essa igreja externa, explica o Pensador,
teve, entre seus maiores representantes, Abraão, Moisés
e Jesus, este como um Sacerdote-Rei conforme a Ordem
de Melquisedeque. Nas características do seu degredo [Jesus],
lançou a base da humana REDENÇÃO.
Eckartshausen foi convicto de que o culto simbólico e a
Letra da Velha Aliança podem
ser percebidos por um Novo Portal, pelo qual o homem... poderá
alcançar a dignidade que já possuiu. Também
houve Jó entre os idólatras, Melquisedeque - o primeiro
REI-SACERDOTE - em nações estrangeiras e José
entre os sacerdotes egípcios. Mas, a multiplicidade de
religiões exteriores que proliferou ao longo dos séculos
e dos milênios, não pôde, não pode e
não poderá mudar nem enfraquecer a unidade
que persiste como base de todo o exterior, isto
é, a SOCIEDADE DO REINO INVISÍVEL DA
IGREJA INTERNA, ou seja, COMUNIDADE
INTERNA DO SÁBIO MÉTODO. A
Verdade, propriamente, permaneceu sempre no SANTUÁRIO
[que, como admite Eckartshausen, contém toda a
FORÇA] onde nunca pôde
ser profanada. Dessa COMUNIDADE DO SACROSSANTO
foram escolhidos os enviados de DEUS em todas as épocas,
os quais passaram do interior para o exterior, a fim de conferir
Espírito e Vida à Letra que se tornou
morta.
Há um adágio
místico que ensina: Quando o discípulo estiver
pronto, o Mestre aparecerá. Portanto, um indivíduo
que não esteja preparado, não poderá penetrar
no CÍRCULO INTERNO. Mas, aquele que se
preparou dignamente, já pode estar ligado à
COMUNIDADE INVISÍVEL DA IGREJA INTERNA, quando ele menos
considera isto provável e nada sabe a respeito.
Não posso deixar de acrescentar: Benditos aqueles que são
sem saber, que não conseguem ver claramente, mas que crêem
e que abandonaram os imperativos hipotéticos para viver
exclusivamente na esfera dos IMPERATIVOS CATEGÓRICOS.
Entre esses benditos esteve Immanuel Kant, cuja obra A PAZ
PERPÉTUA deveria ser lida e meditada por todos, particularmente
pelos governantes deste nosso Mundo. Também benditos são
Akhnaton, Pitágoras, Platão, Plotino, Leibniz, Jacob
Boehme, Francis Bacon, John Dalton, Robert Fludd, John Heydon,
Thomas Vaughan, Cagliostro, Louis-Claude de Saint-Martin, Pierre
Augustin Chaboseau (Sâr Augustus), Jean Mallinger (Sâr
Elgin), Emile Dantinne (Sâr Hieronimus)., Fulcanelli, Harvey
Spencer Lewis (Sâr Alden), Ralph Maxwell Lewis (Sâr
Validivar) e muitos outros que serviram à Humanidade iluminados
pela LUZ QUE NÃO SE APAGA. Benditas são
também as Grandes Iniciadas. Entre tantas posso me lembrar
de Nefertiti, Jeanne Guesdon, Helena Petrovna Blavatsky, Mâ
Ananda Moyî, Joana D’Arc, Sara, Bernadete, Clara,
Maria A. Moura, Iolanda Therezinha Marcier, May Banks-Stacey e
Maria, aquela que carregou em seu ventre AQUELE
que viria a manifestar o CRISTO CÓSMICO.
Esta Segunda Carta é
concluída resumindo o Curriculum da Escola da
Comunidade de Luz, que possui três graus de instrução.
PRIMEIRO GRAU: INSPIRAÇÃO
– pelo exercício da virtude moral a
vontade simples é dirigida para o BEM.
Como advertiu Sófocles (Antígona, 622-625)... Quando
o homem confunde o bem e o mal, é sinal de que a divindade
[idolatria] arrasta
sua alma à ruína, na qual sucumbirá em pouco
tempo. Por isso, o Grande Mathema para Platão
era o BEM. SEGUNDO GRAU: ILUMINAÇÃO
- compreensão interior coroada pela SABEDORIA
e pela LUZ DO CONHECIMENTO. TERCEIRO
GRAU: VISÃO –
libertação total do sensorium interior,
estágio no qual o ser interior conquista, pelo mérito,
a visão plena da VERDADE METAFÍSICA.
Apesar de todos os esforços
e empenho desta Gloriosa COMUNIDADE DO SACROSSANTO
para iluminar a Humanidade, desafortunadamente o século
XX viveu um momento extremo de dor e de provação
(equivalente, sob o ângulo místico-iniciático,
a aprendizado e transmutação) que, talvez, Eckartshausen
não tivesse previsto, muito menos concebido. Fábio
Konder Comparato (Faculdade de Direito da USP) na Conferência
pronunciada na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra,
em 16-2-2000 A Humanidade no Século XXI: a Grande Opção
revive esse instante sinistro, no qual a ESPERANÇA
parece se ter ocultado e a LUZ nunca existido.
Disse Comparato:
A
última grande concentração cronológica
de ultrajes, na História, ocorreu com a 2ª Guerra
Mundial. Durante os seis anos decorridos a partir das primeiras
declarações de guerra em 1939, até a
rendição incondicional do Japão em agosto
de 1945, 60 milhões de pessoas, em sua maioria não-combatentes,
foram mortas; 40 milhões deslocadas dos países
onde viviam ao se iniciar o conflito, e um sem-número
de outras mutiladas para o resto de suas vidas. Para cumular
as atrocidades, a segunda conflagração mundial
levou ao paroxismo o funcionamento do universo concentracionário,
organizado sob a forma de verdadeiras usinas de aniquilação
em massa de seres humanos. O ato final da tragédia
– o lançamento das bombas atômicas em Hiroshima
e Nagasaki – soou como um prenúncio de apocalipse:
o homem acabara de adquirir o poder de destruir toda a vida
na face da Terra. A conclusão da brilhante
e lúcida Conferência do Filósofo é:
O homem tornou-se, definitivamente, ‘senhor e possuidor
da natureza’, inclusive de sua própria, ao adquirir
o poder de manipular o patrimônio genético. Mas,
ao mesmo tempo, pela espantosa acumulação de
poder tecnológico, jamais como na centúria passada
o engenho humano foi capaz de provocar uma tal concentração
de hecatombes e de aviltamentos; nunca como hoje, a Humanidade
dividiu-se, tão fundamente, entre a minoria opulenta
e a maioria indigente. O rumo do curso histórico, como
no enredo da tragédia clássica, parece, pois,
apontar para a ruína e a desolação. ‘O
desastre’, lembra o coro em Agamenon de Ésquilo
(375-379), ‘é filho das ousadias temerárias
dos que se comprazem no orgulho desmedido, quando suas casas
transbordam de opulência’. A advertência
moral da tradição grega, desde Sólon,
é sempre a mesma: o excesso de riqueza não partilhada
engendra a arrogância ('hybris') e esta conduz fatalmente
ao precipício. Mas ainda é tempo de se mudar
de rota e de navegar rumo à salvação.
Na fímbria do horizonte já luzem os primeiros
sinais da aurora. É a ESPERANÇA de uma NOVA
VIDA que renasce.
EXCERTOS
DA TERCEIRA CARTA
(comentários)
Esta Carta principia
com palavras de alento e de esperança. Nunca
o GRANDE ALGO... foi oculto aos olhos ... daquele que está
apto para a LUZ. É a fraqueza humana a NUVEM
QUE ENCOBRE O SANTUÁRIO. Concordando com
Eckartshausen, vou me permitir acrescentar que a névoa
(mais ou menos densa) que obnubila a visão interior é
constituída por um triângulo maldito: preguiça,
fraqueza e ignorância. Quando esta névoa se adensa
o triângulo transforma-se em quadrado pelo acréscimo
do preconceito. E pode alcançar abismos mais medonhos quando
está impregnada de ódio. O ódio ativo, acompanhado
de seus acólitos, é pura e simplesmente demolidor.
As atividades obscuras dos tribunais do santo ofício não
serão jamais apagadas da memória da Humanidade.
O nome da rosa... era SUPRESSÃO. A Religião
e os Mistérios, continua nosso Autor, estendem
suas mãos aos homens... para conduzi-los à VERDADE.
Este conceito, talvez possa ser didaticamente esquematizado da
seguinte forma:
MISTÉRIOS —› TEMPLO
—› RELIGIÃO
—› DEUS
MISTÉRIOS
= HERANÇA INICIÁTICA
TEMPLO
PERPÉTUO E LUZ DA RAZÃO PURA, AMOR ATIVO E SANTUÁRIO
DA REVELAÇÃO = CORAÇÃO
RELIGIÃO
= ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E VERDADE
DOS MISTÉRIOS INTERIORES E SAGRADOS
DEUS
= FONTE DE LUZ E DE SABEDORIA
Basicamente, três
Profecias encerram esta última Carta.
PRIMEIRA
PROFECIA: UNIÃO DO MUNDO DIVINO COM
O ESPIRITUAL, DO ESPIRITUAL COM O ELEMENTAR E DO ELEMENTAR COM
O MATERIAL.
SEGUNDA
PROFECIA: UNIÃO DO HOMEM COM O HOMEM,
COM A NATUREZA E COM DEUS.
TERCEIRA
PROFECIA: RELIGAÇÃO DO SANTUÁRIO
INTERIOR COM O TEMPLO.
*
* *
* *
* *
REDENÇÃO
EXCERTOS DA PRIMEIRA CARTA
(comentários)
Todos os místicos
haverão de concordar que há um só Caminho,
uma única Verdade e tão-somente um D’US.
Karl von Eckartshausen iniciou a primeira Carta da REDENÇÃO
com esta afirmativa. Por isso, a infinidade de números
se desvanece em um só NÚMERO. E, não
pode ser de outra forma: ...os mistérios, os
hieróglifos e os símbolos invisíveis têm
uma só VERDADE por tema - D’US. Aqui
também é feito um vaticínio relativo às
LUZES que os líderes da Humanidade irradiarão
no futuro.
PERFEITO
CONHECIMENTO DE DEUS |
PERFEITO
CONHECIMENTO
DO HOMEM
|
PERFEITO
CONHECIMENTO
DA NATUREZA |
Os
preconceitos serão alquimizados em RAZÃO
PURA e as paixões tempestuosas trilharão
o caminho da moderação e serão convertidas
em VIRTUDES.
Quando afirmei no início
desta meditação que parte dos escritos de Eckartshausen
trata de temas importantes relativos ao esoterismo cristão,
e, também, quando o próprio Autor faz referência
à religião, é preciso considerar estes temas
estritamente sob a vertente místico-esotérico-iniciática
primordial. Isto é: CRISTIANISMO GNÓSTICO
E RELIGIÃO ÚNICA E ETERNA. Ainda que,
acredito, já tenha ficado evidente que Eckartshausen era
um INICIADO, algumas passagens de sua obra podem
levar o leitor distraído ou mal informado a admitir que
ele pudesse ter sido um luterano pietista, um teólogo nefelibata
ou, o que talvez seja pior, um mal compreendido e ensandecido
lunático que escreveu sobre coisas impossíveis de
serem comprovadas. NÃO. NADA DISSO. MUITO AO CONTRÁRIO.
Ainda que só aqueles que morreram e (re)nasceram possam
avaliar e apreciar acuradamente suas reflexões, há
muitos que sentem interiormente que existem muito mais coisas
entre o plano objetivo da consciência e os diversos graus
do nosso subconsciente, seja pessoal, seja coletivo. Shakespeare
disse a mesma coisa de outra maneira. Acredito piamente que a
NUVEM e a REDENÇÃO
foram escritas muito mais para os catecúmenos e para os
inconformados com as fantasmagorias teológicas do que para
os poucos Iniciados de sua época e seus Irmãos em
Cristo, por Cristo e no Cristo. Na verdade Karl recebeu a missão
de escrever e de publicar estes dois ensaios antes de passar pela
Grande Iniciação, pois os tempos requeriam que esta
providência fosse tomada. A ainda distante, mas na realidade
já muito próxima, Era de Aquarius iria
determinar mudanças que o nosso Iniciado já sabia.
Por isso, advertiu:
Estamos
nos aproximando do REINO DA LUZ, do REINO DA SABEDORIA E DO
AMOR, do REINO DE DEUS, que é a FONTE DA LUZ... Há
somente uma RELIGIÃO, cuja VERDADE simples foi dividida
[fracionada e adaptada às diversas
etnias, à cultura dos diversos povos e à compreensão
das múltiplas personalidades-ALMA em processo ascensional
de reintegração] em todas
as religiões, como em ramificações, para
depois retornar da multiplicidade para a RELIGIÃO ÚNICA.
Há somente uma ORDEM, uma só IRMANDADE, uma
só ASSOCIAÇÃO DE HOMENS E MENTES AFINS...
uma só DISCIPLINA ARCANA que é trabalhada e
ensinada na SECRETA ESCOLA DA IGREJA INTERNA E INVISÍVEL.
A verdadeira RELIGIÃO
tem por único objetivo a (re)união ou (re)ligação
do homem inconscientemente afastado de DEUS,
com DEUS. Assim pensou Eckartshausen, assim penso
eu. Assim pensam todos os verdadeiros místicos. Mas, mesmo
que DEUS seja UM, o ser só
pode senti-Lo e percebê-Lo
como o DEUS DO SEU C?RAÇÃO. Só
a idolatria, a insanidade e o descompasso com a HARMONIA
UNIVERSAL puderam (e podem) dar curso aos múltiplos
atentados, torturas e matanças em nome de deus. Ontem,
o despotismo romano, a inquisição e as cruzadas.
Hoje, por exemplo, as guerras santas e as rebeliões populares
na Palestina contra as forças de ocupação
de Israel na faixa de Gaza e na Cisjordânia. Como justificar
a tragédia do World Trade Center? Como justificar o esfacelamento
do Iraque? Como justificar o interminável isolamento de
Cuba? Como justificar a invasão do Afeganistão?
Como justificar o massacre da Candelária no Rio de Janeiro?
Como justificar as imposições monetaristas do FMI
e do Banco Mundial aos países terceiro e quarto-mundistas?
Como justificar o permanente domínio chinês no Tibete?
Como justificar as degolas? Como justificar as vivissecções
de animais, nossos irmãos menores? Horridamente, mas é
uma incontestável e triste verdade, disse o banqueiro americano
John Pierpont Morgan (1837-1913): Na diplomacia econômica,
o sim é talvez, o talvez é não e o não
não é diplomacia. Mas há algo
muito mais preocupante: como compreender que alguns místicos(!?)
usem seus santuários sagrados(?!) para mentalmente apoiar
retaliações homicidas? Não se corrige ou
compensa um erro com outro erro, mesmo porque as infrações
e as transgressões (verdadeiras ou presumidas, justificadas
ou injustificadas) certamente são o resultado de escravizações,
absolutismos, imperialismos, conspirações, diplomacias
econômicas egoístas, intolerâncias, equívocos,
recessões e de abusos sistemáticos precedentes,
(in)justificados pela mesquinha e acomodada razão humana,
que tanto foi combatida por Eckartshausen. Frater
Vicente Velado,
Abade da ORDO
SVMMVM BONVM,
acredito, agasalha esta mesma convicção.
Mas, tanto a DIVINA
ILUMINAÇÃO quanto a DIVINA
INSPIRAÇÃO são possíveis.
As chaves ofertadas por Eckartshausen são:
REVELAÇÃO
—› RELIGIÃO —›
REASCENSÃO
FRAQUEZA —› SILÊNCIO —›
FORTALEZA
DIVINA ILUMINAÇÃO —› ÊXTASE
DIVINA INSPIRAÇÃO —› ÊXTASE
Então, a cegueira
espiritual, como ensinou nosso Adepto, apoiada na muleta da razão
natural e na muleta do sentimento natural, a primeira dando aparência
de verdade ao que é falso, e a segunda impondo a troca
do mal pelo bem, só poderá ser dissipada quando
a venda for retirada dos olhos espirituais. Nesse sentido, Eckartshausen
ensinou a LEI que proporcionará a suprema
realização e a suprema felicidade: HOMEM,
DEIXA A RAZÃO [CÓSMICA] REINAR SOBRE TUAS PAIXÕES!
É esta RAZÃO que governa
o MUNDO METAFÍSICO SUPERSENSIENTE
– cujo centro é o verdadeiro CRISTIANISMO
que reconhece O CRISTO como a LUZ
REDENTORA e REGENERADORA DO MUNDO.
REGENERAÇÃO
– explicou o Místico –
é o afrouxamento ou desprendimento da matéria
corruptível e impura – esse fermento que
em nós provoca morte e infelicidade – que
mantém nosso SER IMORTAL preso a grilhões, e a VIDA
do PODER ... como que imersa em um sono de morte.
Esse afrouxamento regenerativo e alquímico só pode
ser efetivado pela e na re-união com DEUS.
Essa re-união foi ensinada por Jesus em sua oração
pontifical (registrada em outros termos em João XIV, 20
e no Livro da Revelação XXI, 3), e transcrita ao
final desta Primeira Carta: E eu lhes dei
a glória que Tu me deste, para que sejam UM, como Nós
somos UM. Eu neles e Tu em mim, para que eles sejam perfeitos
em UNIDADE... (O Tu proferido
nesta alocução refere-se ao Divino Poder Crístico
manifestado em Jesus por quarenta meses após o Batismo
no Rio Jordão). Operada a REGENERAÇÃO,
poderes desconhecidos são despertados e torna-se possível
o relacionamento com os MUNDOS SUPERIORES.
(No final do século XIX e começo do século
XX, Rudolf Steiner – o fundador da Sociedade
Antroposófica – reproduziu esses
pensamentos em uma obra monumental, entretanto, descendo a minudências
que não podiam ser divulgadas em séculos anteriores.
Segundo consta, o inspirador de Steiner foi o Arcanjo MIAHeL).
EXCERTOS DA SEGUNDA CARTA
(comentários)
Esta Carta trata da
PLENITUDE DA LUZ. As doenças
e a fúria dos elementos que acossam e se instalam no corpo
físico e na personalidade-ALMA tornam
o homem infeliz, exilado e doente. Estou de acordo com nosso Adepto:
Dor, pobreza, pesar e doença são seu fardo. Mas,
haverá REDENÇÃO?
SIM, afirma categoricamente Eckartshausen.
Mas é preciso que sejam eliminados (ou, no mínimo,
diminuídos, sempre progressivamente) desejos, superstições,
cobiças, paixões, preconceitos e erros. Como disse
Platão, a Humanidade deverá escapar da doxasta
e viver no plano noético. Esse é, enfim,
o TRABALHO desenvolvido pelas ORDENS
INICIÁTICAS AUTÊNTICAS E SEUS MEMBROS NOS DIVESOS
GRAUS EM QUE SE ENCONTRAM. Mas, para alcançar
os Planos Vibratórios descritos por Eckartshausen, mais
deve ser desejado e alcançado. E isto, a meu juízo,
acreditando estar interpretando corretamente o pensamento de nosso
Autor, só pode ocorrer pela VIA TRANSRACIONAL.
A Oração e a Meditação são
os instrumentos insubstituíveis para essa peregrinação.
A INICIAÇÃO oferecerá as
CHAVES. As Sete Violações Capitais
não podem ser, então, rotineiramente cometidas.
A cura da Humanidade só será possível
pela destruição do fermento do pecado [ignorância]
em nós. E assim, só um MÉDICO
poderá curar-nos. Somente o PERFEITO poderá
levar o imperfeito à PERFEIÇÃO. Esse MÉDICO
é Jesus – o CRISTO.
Eckartshausen advertiu
que no sangue opera oculta uma substância denominada glúten,
que está fundamentalmente associada com a natureza animal
do ente. Esse glúten é a matéria
do pecado [ignorância],
... e é transmitido de pais para filhos.
Falsidade e ilusão são seus atributos. A
primeira ação desse veneno consiste em que o PRINCÍPIO
INCORRUPTÍVEL... se contrai para o Centro, e deixa a periferia
sob controle dos elementos. Dependendo do seu estado
de expansão, atração, repulsão, movimento
circular, excentricidade, realidade e concentração,
causa arrogância, orgulho, avareza, vaidade,
egoísmo, ódio, violência, frivolidade, lascívia,
gula, intemperança, inveja e indolência.
Contudo, o homem não tem poder para exterminá-lo
(o glúten) integralmente. Mas,
pelo Amor do Salvador –
propugnou Eckartshausen – os danos podem
ser reparados.
A necessidade de REGENERAÇÃO,
pelo ser, de retorno à sua pureza original, determinou
que Jesus assumisse a forma humana, de tal sorte que pudesse comunicar
ao Mundo a SUBSTÂNCIA DIVINA que
haveria de promover, então, a tríplice reintegração:
Do homem individual, depois, muitos homens e, finalmente,
toda a Humanidade. Isto se deu no Golgotha, quando
SEU SANGUE foi derramado. A SUBSTÂNCIA
DIVINA contida em SEU SANGUE penetrou
até o CENTRO DA TERRA, e uma gradual
dissolução da matéria corruptível
teve início. Literalmente escreveu Eckartshausen:
Assumiu
Ele a forma humana para que a SUBSTÂNCIA DIVINA, imortal,
que Ele próprio deveria COMUNICAR ao Mundo, pudesse
manifestar-se. Ofereceu-se, voluntariamente, de modo que o
PODER PURO contido em SEU SANGUE pudesse penetrar a Natureza
recôndita e tudo levar à PERFEIÇÃO.
Assim teve início a CIÊNCIA RÉGIA E SACERDOTAL
(CIÊNCIA DA REGENERAÇÃO), cujo SUMO SACERDOTE
é Jesus – o CRISTO. Continua Eckartshausen:
Desde o momento da morte do CRISTO, o PODER DIVINO
produzido por seu SANGUE, derramado no centro da Terra, prossegue
em sua função e, sucessivamente, qualifica todas
as substâncias para a grande e iminente REVOLUÇÃO
DO MUNDO... O maior mistério da IGREJA INTERNA é
a ligação física e espiritual do Homem
ao CRISTO. Tornar-se Uno em Espírito e ser com CRISTO
é a concretização da aspiração
de seus eleitos.
Antes de passar à
última Carta, é preciso que fique absolutamente
claro que todos são eleitos. Esta convicção
é inabalável em meu coração. E, indubitavelmente,
no coração de Karl também. Agora, há
eleitos e ELEITOS. Isto não poderia ser
diferente. ELEITOS SÃO OS QUE JÁ BUSCARAM
A INICIAÇÃO; eleitos são todos os
demais seres que, pelos mais variados motivos, ainda não
iniciaram a peregrinação e se puseram a caminho,
e, portanto, não cingiram as espáduas
com uma faixa vermelho-sangue sobre o avental branco e quatro
rosas vermelhas no chapéu.
EXCERTOS
DA TERCEIRA CARTA
(comentários)
O que é, enfim, REGENERAÇÃO?
REGENERAÇÃO é RENASCIMENTO.
Este processo é tríplice:
RENASCIMENTO ESPIRITUAL
DA RAZÃO
RENASCIMENTO ESPIRITUAL DO CORAÇÃO
RENASCIMENTO CORPÓREO DO SER
|
Quando
o CORAÇÃO permite que o
CRISTO se manifeste, então, a LUZ
DO MUNDO nasce em nosso Ser Interior... Em nós
[ELE] se crucifica, morre e gloriosamente
se ergue. Então, SUA PERSONALIDADE se modifica em nosso
interior e nos instrui nos MISTÉRIOS SUPERIORES, até
que ELE nos tenha qualificado para a PERFEITA REGENERAÇÃO...
enviando-nos o ESPÍRITO DA VERDADE.
Mas, antes que o ESPÍRITO
DA VERDADE possa atuar em nosso interior, devem
ser intensificados e transmutados os Sete Poderes
da nossa COMPREENSÃO e os Sete
Poderes do nosso CORAÇÃO.
Os Poderes da COMPREENSÃO são:
1. Intuitus —›
Visão
2. Apperceptio —›
Percepção
3. Reflexio —›
Reflexão
4. Phantasia, Imaginatio —›
Fantasia, Imaginação
5. Judicium —›
Julgamento
6. Ratio —› Razão
7. Intellectus —› Compreensão
(Síntese de todos)
Os Poderes do CORAÇÃO (VONTADE)
são:
1. Desiderium —›
Anseio
2. Appetitus —› Apetite
3. Concupiscentia —›
Empenho
4. Passio —› Intemperança
5. Libertas —›
Liberdade
6. Electio —› Seleção
7. Voluntas —›
Vontade (Síntese de todos)
Quando
o ser recebe conscientemente o CRISTO, o REINO
DA VERDADE é instalado e pode
a natureza humana ser evoluída à sua mais alta perfeição...
Então, os Poderes da COMPREENSÃO e os Poderes do
CORAÇÃO do ser singular são dirigidos e orientados
cosmicamente pelo próprio CRISTO.
*
* *
* *
* *
UM
SENTIMENTO; UMA CONFISSÃO...
Acredito que Karl von
Eckartshausen, de certa forma, trilhou o mesmo caminho de vários
místicos do passado e do presente. Quero dizer com isso
que, à semelhança, por exemplo, do militar Saint-Martin
(o Filósofo Desconhecido), do abade Alphonse Louis Constant
(Éliphas Lèvi) e do médico Gérard
Anaclet Vincent Encausse (Papus), Karl, em um certo momento de
sua peregrinação em busca da LUZ MAIOR,
abandonou religião, magia e teurgia, para se dedicar, de
corpo e alma, ao MISTICISMO INICIÁTICO PRIMORDIAL
— à RELIGIÃO UNIVERSAL. Devo
confessar que, em certa medida, comigo aconteceu o mesmo. Quem
não descer ao seu inferno pessoal, dificilmente ressuscitará
na e para a LLUZ.
Por outro lado, não posso afirmar que esta equivocada trajetória
seja uma obrigação a ser vivida por todos os que
buscam a ILLUMINAÇÃO.
O certo é que Karl, no final de sua existência terrena,
havia se tornado um INICIADO CRÍSTICO DA IGREJA
INTERNA E ETERNA.
*
* *
* * *
*
EU TAMBÉM CREIO...
Creio
na LUZ ETERNA
como PESSOA;
Creio na PESSOA
como pronunciadora do LOGOS;
Creio no LOGOS
como enunciação do SOL VERDADEIRO,
Aquele que está
no CENTRO DE TUDO,
eternamente.
Invoco, agora,
o PODER DA TRANSFORMAÇÃO,
Pelo qual eu serei a PESSOA,
Tal qual o CRISTO a é.
E assim, crendo,
caminho para essa meta,
Objetivo da minha vida,
que a justifica plenamente.