REFLEXÕES SOBRE O PENSAMENTO DE
KARL VON ECKARTSHAUSEN

 

Rodolfo Domenico Pizzinga


Música de fundo:
Praeludium [et Fuga] in a minor – J. S. Bach
Fonte:
http://www.kunstderfuge.com/bach.htm

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

       A NUVEM SOBRE O SANTUÁRIO é, provavelmente, a obra mais conhecida e divulgada de Karl von Eckartshausen. Este ilustre metafísico alemão do século XVIII era membro da Fraternidade dos Rosacruzes de seu tempo, e esta obra cumpriu duas finalidades principais: divulgar a existência da Ordem e fazer um convite para o Matrimônio, isto é, para Nela ingressar. Parte de seus escritos trata de temas importantes relativos ao esoterismo cristão, nos quais o pensador revela certos segredos esotéricos destinados tão-somente aos iniciados. Entretanto, o ponto de partida e o ponto de chegada é o MESTRE JESUS, Sacerdote Crístico de D’US e da NATUREZA. Eckartshausen entendia que a VERDADE ABSOLUTA não pode ser alcançada pela razão, seja dianóica, seja noética. Esta possibilidade místico-esotérico-iniciática pertence e é privilégio do HOMEM INTERIOR E ESPIRITUAL, dotado, por sua própria origem, dos instrumentos capazes de perceber esta VERDADE. A Ordem Rosacruz — AMORC, há alguns anos, publicou seis Cartas de Eckartshausen: as três primeiras são uma tradução da obra referida (Die Wolke über dem Heiligtum), e, as outras três, que embora tenham sido publicadas como se integrassem as primeiras, compõem uma obra separada denominada REDENÇÃO (Erloesung). Os interessados nos originais atualizados e traduzidos para o português poderão entrar em contato com a AMORC no endereço abaixo:

Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa

www.amorc.org.br

       Na elaboração deste ensaio gratificador, produzido em fevereiro de 2004, pretendi reexaminar e voltar a refletir sobre alguns pontos das seis Cartas, e tentei me impor uma disciplina suprema, qual seja: interferir o mínimo possível no pensamento do autor, o que, em certa medida, representou e constituiu-se em uma quase intransponível dificuldade. Ao leitor deste texto não será custoso perceber quando avancei ligeiramente o sinal e inseri alguns (poucos) cacos. Eckartshausen, que também foi teatrólogo e dramaturgo, onde estiver, tenho certeza, não ficará aborrecido comigo. Afinal, somos Irmãos. Todavia, cumpre-me pedir desculpas por isso. Mas, tenho plena consciência de que não adulterei o original, nem, muito menos, me socorri da Iluminação de Karl von Eckartshausen para divulgar minhas próprias reflexões. Tenho minha própria página na Internet para isso. Costumo ensinar aos meus alunos que uma monografia deve, minimamente, estar apoiada em dois pilares: honestidade e coerência interna. Por isso, estou tendo todo esse cuidado em dar essas explicações, e, também, em citar as fontes nas quais me baseei para elaborar este trabalho escrito.

       Mas, preliminarmente, apresentarei uma resenha (na qual, também devo confessar, recortei e colei, com algumas modificações e diversas inclusões, algumas informações do autor) de um texto divulgado na página abaixo (que recomendo por ser excelente), que foi acessada em 12/2/2004:

 

http://club.telepolis.com/agaigcu/temasdeinteresesoterico.htm

      

       Karl von Eckartshausen, contemporâneo de Cagliostro (1743-1795), de Louis-Claude de Saint-Martin (1743-1803) e, também, de Immanuel Kant (1724-1804), de Karl Christian Friedrich Krause (1781-1832) e de Auguste Comte (1789-1857), nasceu no Castelo de Haimhausen (Baviera) em 28 de junho de 1752 e morreu em Munich em 13 de maio de 1803. Filho ilegítimo do Conde Karl von Haimhausen e de Maria Anna Eckart, foi batizado com o nome de seu pai e recebeu um sobrenome inventado que reúne os sobrenomes paterno e materno: Eckartshausen.

       Este ilustre Pensador, que adquiriu educação muito esmerada, acabaria por se tornar um dos escritores mais fecundos de toda a Alemanha e uma das figuras mais importantes da teosofia cristã, ainda que o Iluminismo da época em que viveu chegasse quase ao limite de deificar a razão humana, que deveria ser usada para descobrir as leis naturais. O pensamento prevalecente era de que se o homem usasse a razão e obedecesse às leis naturais, a espécie humana poderia alcançar a perfeição. Ainda que o Iluminismo fosse um sistema lógico e buscasse ancoragem no pensamento científico vigente, o Pietismo (careta), que grassava paralelamente ao Iluminismo e defendia a obrigação de uma vida devota (e não raras vezes autoflagelativa), acreditava sem qualquer embasamento dialético em um renascimento espiritual sem eira nem beira, e propugnava por uma reforma do Catolicismo baseada em (pré)conceitos, autoritarismo, isolamento e tutela do livre-pensamento. Eckartshausen, quase isoladamente, acreditava tanto no REINO DA NATUREZA, quanto no REINO DA GRAÇA. Dotado de uma sensibilidade incomum, sua vida foi influenciada desde a infância pelo mágico(?!) e pelo sobrenatural(?!). A partir dos sete anos teve sonhos e passou por experiências insólitas muito importantes e muito fecundas para sua vida interior, cuja interpretação lhe seria proporcionada por SONHOS posteriores. Como escreveria ele mesmo a outro grande teósofo, Kirshberger, a luz que brilha nas trevas me proporciona o conhecimento das coisas ocultas. A LUZ será precisamente uma de suas obsessões, à qual dedicará opúsculos inteiros. Pode-se, pois, admitir em seu percurso místico, a presença de uma Teosofia da LUZ e de uma Filosofia da LUZ, ambas baseadas em sua experiência interior e em seu contato transracional com a ATUALIDADE CÓSMICA. Para Eckartshausen, a luz física percebida pelo homem não é a verdadeira LUZ, mas unicamente um símbolo de sua PÁTRIA CELESTE, a ser conquistada - acrescento eu – por todos os entes, sem exceção.

       Em 1770, Eckartshausen matriculou-se na Universidade de Ingolstadt, dirigida por jesuítas, na qual permaneceria por três anos. Em 1774, depois de se distinguir brilhantemente, obteve o Absolutorium (Diploma Final). Em 1776, foi nomeado para um cargo relacionado com atividades na esfera do Direito, às quais se dedicaria a partir de 1779. Neste mesmo ano casou-se com Genoveva Quiquérez, que faleceria ao cabo de dois anos. Em 1781 casou-se novamente com Gabriela von Wolter, filha de Johann Anton von Wolter, médico pessoal do Príncipe Eleitor, Karl Theodor, e Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Ingolstadt. Em pouco tempo nasceu o fruto deste matrimônio, Sophia Teresa Gabriela.

       Em 1777, Eckartshausen foi admitido na Academia de Ciências de Munich, da qual foi membro até 1800, local onde pronunciou um grande número de conferências. Nesta mesma Academia realizaria toda uma série de experimentos físicos e alquímicos que influiriam decisivamente em suas obras.

       Entre 1780 e 1783, Karl von Eckartshausen dedicou-se especialmente a seu trabalho como jurista, no qual intentou plasmar seus ideais humanitários, especializando-se em criminologia, e tornando-se, o que não surpreendeu àqueles que o conheciam, um defensor dos fracos, dos necessitados e dos oprimidos. Sua produção literária daquela época esteve estreitamente vinculada com seu trabalho. Um dos opúsculos que touxe à luz foi Das Origens dos Delitos e da Possibilidade de Evitá-los. Em 1780, Eckartshausen ingressou no Colégio da Censura e, a partir de então, trabalhando como censor, se encarregaria, especialmente, da revisão de obras sobre Direito e sobre Literatura.

       Em 1786 publicou uma obra intitulada Da Organização Prática e Sistemática dos Arquivos Principescos em Geral. Seu trabalho como censor e como arquivista permitiu-lhe ler muitíssimo e enriquecer-se culturalmente. A partir de 1788, Eckartshausen centrou seus esforços intelectuais sobretudo em temas esotéricos. Sem embargo, o teatro ocuparia um lugar preeminente dentro de sua obra; escreveu, publicou e estreou, com certo êxito, várias obras deste gênero.

       Ao mesmo tempo em que trilhava uma vereda de cariz fundamentalmente místico-filosófico-especulativo, Eckartshausen continuava a se entregar ainda a experimentos práticos, conforme já mencionado, nos domínios da física e da Alquimia. Em 1798, por exemplo, publicou um tratado sobre Os Descobrimentos mais Recentes Sobre o Calor e o Fogo.

       Em 1799, fez que fosse divulgado um artigo que não assinou, no qual pretendia reduzir todas as ciências a um princípio universal que permite descobrir em todas as artes e em todas as ciências o que até então só havia sido considerado como efeito do acaso. Neste escrito, Eckartshausen demonstrou que o princípio da matéria é indivisível e incorruptível, o que está em consonância com os próprios princípios rosacruzes. Para ele, todos os fenômenos da Natureza se produzem por síntese ou por análise da LUZ. A sombra também é matéria real suscetível de ser concentrada até se tornar manifesta. Assegurou que a obscuridade e a luz são verdadeiras substâncias. Alguns anos antes havia construído una máquina que permitia relacionar os olores com as cores, e descobriu que existia una analogia entre cores, idéias, olores e paixões. No começo do século passado o genial Harvey Spencer Lewis (Sâr Alden, Frater Profundis XIII), fundador do atual CICLO INICIÁTICO da AMORC, inventou e construiu alguns aparelhos semelhantes. Igualmente, entre outras peculiaridades, era Alquimista. Inclusive procedeu a uma transmutação alquímica de zinco em ouro, com a presença e fiscalização da imprensa, em uma noite de quinta-feira, 22 de junho de 1916.

      Eckartshausen, pouco depois, publicou outro polêmico artigo intitulado Novos Descobrimentos Sobre a Incorruptibilidade das Coisas, a Conservação e a Perpetuação dos Seres, no qual afirmara ser capaz de separar a matéria luminosa dos corpos.

       Contudo, a obra mais famosa de Karl von Eckartshausen não apareceria até um ano antes de sua morte — A NUVEM SOBRE O SANTUÁRIO — que alcançaria um grande sucesso e rapidamente seria reeditada e traduzida para vários idiomas. Apesar de a obra não contemplar os ensinamentos rosacruzes oficiais da AMORC, é uma fonte de inspiração para todos os estudantes de misticismo que estão em busca da ILUMINAÇÃO INTERIOR. Este trabalho, por evidente, em nenhum aspecto pretende substituir o texto original, que deve ser lido, examinado e refletido por cada um. Tem um único objetivo: tornar o Autor conhecido daqueles que não o conhecem.

      Eckartshausen foi um espírito inquieto a quem tudo interessava. Em seus numerosos ensaios, desenvolveu um complexo sistema cosmogônico; escreveu páginas inspiradas e admiráveis sobre Deus e sobre o Homem. Interessava-se sobremodo pelo mundo dos espíritos e não se envergonhava de confessar que mantinha contato com eles e que lhes devia muitas inspirações. Por outro lado, também advertiu sobre os perigos que comporta este tipo de prática. Contudo, um dos focos de interesse de Eckartshausen, uma de suas grandes preocupações, era a RELIGIÃO. Em A NUVEM SOBRE O SANTUÁRIO deixou escrito que a RELIGIÃO consiste no único e grande mistério da REDENÇÃO, que se nos revela de uma maneira meramente simbólica em todas as cerimônias e representações religiosas. Eckartshausen escreveu este breve tratado para mostrar àqueles que buscam a VERDADE que existe uma completa harmonia entre o espiritual e o físico. Na realidade, como já foi explicitado, divulgou a existência da Fraternidade dos Rosacruzes. Cabe apenas ao homem descobrir e trilhar o CAMINHO. Parafraseando às avessas um título de Millôr Fernandes, acrescento: O NASCER-DO SOL É DE QUEM OLHA PARA O LESTE!

       Para Eckartshausen, o visível está intimamente ligado com o invisível por Leis Eternas, pois ambos constituem uma cadeia única. Na PURA INTELIGÊNCIA SUPREMA não há nem em cima nem embaixo, nem dentro nem fora. As reflexões de nosso autor coincidem com as de outros teósofos cristãos como Boehme, para quem os seres vivos imitam em sua estrutura o mundo astral em sua totalidade: o que está acima é como o que está embaixo. Aliás, este pensamento, que está gravado na Tábua de Esmeralda de Hermes Trismegistus, infelizmente, penso eu, às vezes é compreendido incompleta e incorretamente, tanto quanto a Lei da Retribuição. Muitas confrarias insistem em admitir a reciprocidade como punitiva ou como premiadora. Isto é mistura de ignorância com ilusão, cujo filhote só pode ser um mondrongo mental retardador!

       O fato é que todas as coisas estão ligadas entre si por laços invisíveis e não evidentes. Inclusive, a coisa mais diminuta tem sua importância relativa, já que está em íntima relação com o TODO. A modificação mais ínfima pode produzir os maiores transtornos: nisto radicam a efetividade e o perigo da magia. O mundo visível avisou Eckartshausen com todas as suas criaturas, não é mais do que a forma exterior do mundo invisível; o exterior é a assinatura do interior... o interior trabalha constantemente para se manifestar no exterior. Os espíritos da Natureza obedecem à vontade do mago porque Macrocosmos e Microcosmos estão unidos. Tudo que está no interior, assim como a maneira em que atua, se manifesta no exterior. O homem é um Microcosmos que está em relação exata e indefectível com o ESPÍRITO DO MACROCOSMOS. Por isso, todo cuidado é pouco com atos, pensamentos e palavras. Que estejam atentos os místicos, particularmente os ROSACRUZES: Um piscar de olhos com intencionalidade hipotética dispara um mecanismo, muitas vezes, irreversível. Todos haveremos de aprender um dia que somos os únicos responsáveis por tudo o que nos acontece. Tanto a Divindade — ou a idéia que Dela possamos fazer — quanto o outro não são responsáveis por nossa ignorância. Ao fazermos uma opção, nos tornamos responsáveis por ela.

       Toda forma é letra viva de um alfabeto; em a Natureza – reflete nosso Autor - podemos ler como em um livro aberto o Amor, a Verdade e a Sabedoria de Deus. A leitura dos símbolos elevará o buscador até as FORMAS PRIMORDIAIS desta ESCRITURA. Porém, o acesso à compreensão dos símbolos, vedado à orgulhosa inteligência, é, sobretudo

 

 

UM  CAMINHO  DO  CORAÇÃO

 

 

       Criado à imagem e semelhança de DEUS, pensou o nosso Filósofo, o homem está destinado a uma felicidade semelhante à de seu Criador. O homem está na Terra para alcançar o mais alto grau de felicidade e de perfeição possível. Porém, não no ilusório tempo, mas na Atualidade Eterna. Sem embargo, neste mundo, pode, com sacrifício, encontrar o ponto a partir do qual se extraviou. Ensina Eckartshausen:


       O homem é semelhante a um fogo concentrado e encerrado em uma envoltura grosseira; está separado do FOGO PRIMORDIAL ao qual aspira unir-se. Temos de queimar a envoltura que nos recobre de modo que este fogo não se reduza a uma simples faísca. Então, tudo aquilo que é impuro será consumido, modificará o corpo, e o fará receptivo a Deus... Esta ALQUIMIA é facilitada pelo fato de que existe, no mais recôndito da natureza física, uma substância pura que pode nos ajudar a liberar a ALMA DIVINA encerrada em nosso interior: esta substância é a essência paradisíaca que a queda [simbólica] do homem encerrou na matéria grosseira e que, desde então, enfraquece sob suas cadeias. Continua Eckartshausen: o homem é o objeto mais importante do mundo. As duas ordens de conhecimento das quais participa fazem dele semelhante a uma árvore [invertida], cuja raiz é o espírito; o tronco e os ramos, as faculdades; a folhagem, as palavras; as flores, a vontade; o fruto, a virtude. Ai da árvore que não der frutos! O Evangelho segundo Mateus (VII-16) adverte: Por seus frutos os conhecereis.

 

       O afastamento progressivo da LUZ, ponderou Eckartshausen, resultou em ignorância, paixões, dor, miséria e morte. E o maior dos pecados que herdamos de nossos ascendentes foi o egoísmo. Apesar de nossos sentidos terem se afastado da LUZ, existe uma FORÇA luminosa que imanta nosso centro à UNIDADE. Todo o segredo consiste em saber despertá-La de um modo suave ao mesmo tempo que seguro.

       Deus expressa um SOL ESPIRITUAL que (re)liga o limitado ao ilimitado. Este SOL é o órgão da O(M)nipotência; os persas o chamavam de Ormuz, os judeus, de Jehová, os gregos, de Logos. Este órgão é a Natureza I(N)mortal e Pura, a substância indestrutível que o vivifica todo e o leva [o limitado] à mais alta perfeição e felicidade; o primeiro homem foi criado segundo Eckartshausen – a partir desta substância, que é o elemento puro. Eckartshausen falou também de um azeite de unção que renova o homem. Este azeite, que reside no âmago da matéria física, é chamado ELECTRUM, o elemento divino, o órgão ou VEHICULUM DO ESPÍRITO DE DEUS, o vestido de ouro da filha do REI. Este ELECTRUM CHARMAL ÆTHERUM é o VERBO físico e glorioso, o Corpo do Messias. Nosso autor o descreveu como um azeite verdadeiro, luminoso e incombustível: aquele que é ungido com ele, depois de uma preparação adequada, converte-se em um verdadeiro Rei e em um Sacerdote de Deus; o Espírito Santo atuará através dele e tudo lhe será ensinado. Este princípio vivifica o que está morto e potencializa a LUZ que está enterrada no interior do ente, dissolvendo o glúten do sangue.

       O homem no sentimento de Eckartshausen é um ser caído em um mundo tenebroso, separado da LUZ original. A aceitação inteligente e humilde desta realidade é a base para vencer o orgulho que o cega, e é, paralelamente, a chave para volver a (re)encontrar o desejado estado glorioso. A oração é o primeiro passo que conduzirá o ser à regeneração.

       O segredo da REGENERAÇÃO consiste em fazer desaparecer a casca que mantém prisioneiro o CORAÇÃO DIVINO: a REGENERAÇÃO é o processo místico-iniciático de construção do TEMPLO no qual Deus, a Natureza e o Homem estarão unidos para sempre. A verdadeira ciência real e sacerdotal é a ciência da REGENERAÇÃO, ou seja, a reunião de DEUS com o homem caído. A REGENERAÇÃO não se refere tão-só ao homem: abarca a Natureza inteira, que este, o homem, por ignorância, arrastou em sua queda. A Natureza aspira a sua restauração: espera com nostalgia o momento no qual a Humanidade alcançará a mais alta perfeição.

 


REFLEXÕES SOBRE O PENSAMENTO DE
KARL VON ECKARTSHAUSEN



KARL VON ECKARTSHAUSEN

KARL VON ECKARTSHAUSEN


       Reflexão é o processo mental de correlacionar idéias. Se o ato de refletir é viciado, cousificado, não poderá haver desenvolvimento interior. Isto determina a cristalização ou a cousificação do próprio ato de viver. Como ensina a Ordem Rosacruz – AMORC, a reflexão leva, em seu aspecto racional estrito, ao aumento de apreciação da experiência passada e de formação de atitude para a experiência futura, e, em seu aspecto meditativo, à ‘desobstrução do canal psíquico de inspiração’ pela prevenção e pela eliminação de preconceitos. Quando o homem aprende a Verdade, é sua alma que a reconhece na íntima e jubilosa reação ao êxtase místico.

 

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NUVEM SOBRE O SANTUÁRIO


EXCERTOS DA PRIMEIRA CARTA
(comentários)

 

       Apesar de que a Humanidade do século XVIII considerasse estar vivendo o século da iluminação, por toda a parte havia conspiração, deslealdade, tumulto e fermentação. A história é de todos conhecida. Como hoje, a batalha era a mesma: homem animal versus HOMEM ESPIRITUAL. Ainda neste terceiro milênio a penumbra não foi dissipada, pois, como advertiu Eckartshausen em seu tempo, onde há discussão ainda não há verdade. (Talvez o vocábulo mais apropriado para esta afirmação seja dissensão, que, infelizmente, na maioria dos casos, leva ao estado de litígio). Contudo, o homem continua carente de uma Iluminação Maior. Isto porque, no ilusório tempo e no fantasioso espaço, tudo que é percebido é relativo. E, assim, as presumidas verdades acreditadas como tais são, quando muito, verdades relativas. Disse Eckartshausen: A Verdade Absoluta não se encontra no reino das aparências. A razão natural [sensiente] não apreende a essência, mas, apenas a aparência da Verdade e da Luz. Quanto mais se intensifica essa aparência, mais diminui a Essência da Luz, interiormente.

       Segundo nosso Pensador, o Princípio da Razão e da Sabedoria está contido no PRIMEIRO MANDAMENTO CRISTÃO. Dessa especulação, concluiu: O Cristo [LUZ CÓSMICA DO MUNDO] é Sabedoria, Verdade e Amor. Como Sabedoria, é o Princípio da Razão, a fonte do mais puro conhecimento. Como Amor, é o Princípio da Moralidade, a motivação essencial e pura da Vontade. Amor e Sabedoria completam o espírito da Verdade, a Luz Interior que em nós ilumina as questões transcendentais e lhes confere objetividade.

 

 

 

ShOPhIa
AMOR
——›
LUZ INTERIOR



       Eckartshausen cria que a VERDADE (penso eu que, também, ainda relativa) só existe para o homem interior o homem espiritual que é possuidor (proprietário) do seu próprio SENSORIUM. Nesse lineamento, propôs TRÊS PASSOS para a abertura dos sentidos internos do SENSORIUM ESPIRITUAL, que são: O primeiro grau só alcança a virtude moral. O Reino Transcendental, em nós, atua por ação interior denominada INSPIRAÇÃO. O segundo grau abre nosso SENSORIUM à recepção do espiritual e do intelectual. O Reino Metafísico, em nós, atua por ILUMINAÇÃO INTERIOR. O terceiro e mais elevado grau, e também o mais raro, abre todo o Eu Interior... e permite-nos total percepção do REINO ESPIRITUAL... pela qual... todas as visões são explicadas de maneira perfeitamente natural. Abertos os sentidos interiores, a confusão motivada pelo que é corruptível será iluminada pela SUBSTÂNCIA INCORRUPTÍVEL. Em apoio de suas lucubrações, elogia e invoca o pensamento kantiano e concorda com o autor das Críticas, afirmando e reafirmando que o reino da compreensão é totalmente inacessível à razão natural. Eckartshausen viveu convicto de que tão-só pela REVELAÇÃO o homem poderá abrir o seu SENSORIUM, de tal sorte que possam se tornar perceptíveis as VERDADES INACESSÍVEIS. A questão toda repousa no fato místico conhecido dos antigos, que a impossibilidade de acessar os Planos Superiores é oriunda da atrofia do(s) órgão(s) interno(s) responsável(is) por essa acessibilidade. Com o desenvolvimento adequado e paulatino desse(s) órgão(s) a cortina é... aberta... o véu... é retirado... a NUVEM ANTE O SANTUÁRIO desaparece e o CORAÇÃO se abre para a QÜIDIDADE VERDADEIRA (NI ou NUN-I), ou, como preferiu nosso autor, para a ACEITAÇÃO DE DEUS.

 

EXCERTOS DA SEGUNDA CARTA
(comentários)

 

       Esta Carta trata da Comunidade da Luz de Deus, cujos membros, espalhados pelo mundo, estão unidos em torno de um só Espírito, de um só Mestre e Senhor e de uma só Verdade. Esta Comunidade tem sido conhecida como IGREJA INVISÍVEL. Esta Comunidade é adestrada e inspirada pelo próprio ESPÍRITO SANTO. As matérias básicas de instrução desta Comunidade ou Escola são: a) perfeito Conhecimento de Deus; b) perfeito Conhecimento da Natureza; e c) perfeito Conhecimento do Homem. Esta, segundo nosso Autor, é a mais esotérica de todas as Fraternidades e possui membros em todo Universo. Portanto, iludem-se aqueles, acrescento eu, que pensam estapafurdicamente que a Divindade escolheu aleatoriamente o Planeta Terra para manifestar sua O(M)nipotência. Esta IGREJA está subdividida em dois setores distintos que se complementam: uma organização interna [denominada por Eckartshausen de Santuário Secreto ou Igreja Interna] como base, da qual a externa é apenas uma expressão. No lado visível prevalece a Letra (os símbolos); no plano invisível repousa o Espírito Vivo e Criativo (a Verdade). Seus membros são aqueles que estão aptos para conhecer a LUZ e a VERDADE e estão ungidos pelo ESPÍRITO. Seu líder é a própria LUZ DO MUNDO o CRISTO A LUZ UNGIDA. Mas o Líder Permanente é o próprio DEUS. Esta Igreja, revela Eckartshausen, tornou-se o repositório antigo de todos os mistérios e revelações e a chave para o verdadeiro conhecimento, tanto divino ou natural. Entrementes, com a multiplicação da Humanidade e a debilidade progressiva dos homens, a sabedoria arcana teve de ser apresentada sob a forma de cerimônias simbólicas exteriores, conforme a disposição especial dos diversos povos para sentirem as influências do ESPÍRITO DE DEUS. Essa igreja externa, explica o Pensador, teve, entre seus maiores representantes, Abraão, Moisés e Jesus, este como um Sacerdote-Rei conforme a Ordem de Melquisedeque. Nas características do seu degredo [Jesus], lançou a base da humana REDENÇÃO. Eckartshausen foi convicto de que o culto simbólico e a Letra da Velha Aliança podem ser percebidos por um Novo Portal, pelo qual o homem... poderá alcançar a dignidade que já possuiu. Também houve Jó entre os idólatras, Melquisedeque - o primeiro REI-SACERDOTE - em nações estrangeiras e José entre os sacerdotes egípcios. Mas, a multiplicidade de religiões exteriores que proliferou ao longo dos séculos e dos milênios, não pôde, não pode e não poderá mudar nem enfraquecer a unidade que persiste como base de todo o exterior, isto é, a SOCIEDADE DO REINO INVISÍVEL DA IGREJA INTERNA, ou seja, COMUNIDADE INTERNA DO SÁBIO MÉTODO. A Verdade, propriamente, permaneceu sempre no SANTUÁRIO [que, como admite Eckartshausen, contém toda a FORÇA] onde nunca pôde ser profanada. Dessa COMUNIDADE DO SACROSSANTO foram escolhidos os enviados de DEUS em todas as épocas, os quais passaram do interior para o exterior, a fim de conferir Espírito e Vida à Letra que se tornou morta.

       Há um adágio místico que ensina: Quando o discípulo estiver pronto, o Mestre aparecerá. Portanto, um indivíduo que não esteja preparado, não poderá penetrar no CÍRCULO INTERNO. Mas, aquele que se preparou dignamente, já pode estar ligado à COMUNIDADE INVISÍVEL DA IGREJA INTERNA, quando ele menos considera isto provável e nada sabe a respeito. Não posso deixar de acrescentar: Benditos aqueles que são sem saber, que não conseguem ver claramente, mas que crêem e que abandonaram os imperativos hipotéticos para viver exclusivamente na esfera dos IMPERATIVOS CATEGÓRICOS. Entre esses benditos esteve Immanuel Kant, cuja obra A PAZ PERPÉTUA deveria ser lida e meditada por todos, particularmente pelos governantes deste nosso Mundo. Também benditos são Akhnaton, Pitágoras, Platão, Plotino, Leibniz, Jacob Boehme, Francis Bacon, John Dalton, Robert Fludd, John Heydon, Thomas Vaughan, Cagliostro, Louis-Claude de Saint-Martin, Pierre Augustin Chaboseau (Sâr Augustus), Jean Mallinger (Sâr Elgin), Emile Dantinne (Sâr Hieronimus)., Fulcanelli, Harvey Spencer Lewis (Sâr Alden), Ralph Maxwell Lewis (Sâr Validivar) e muitos outros que serviram à Humanidade iluminados pela LUZ QUE NÃO SE APAGA. Benditas são também as Grandes Iniciadas. Entre tantas posso me lembrar de Nefertiti, Jeanne Guesdon, Helena Petrovna Blavatsky, Mâ Ananda Moyî, Joana D’Arc, Sara, Bernadete, Clara, Maria A. Moura, Iolanda Therezinha Marcier, May Banks-Stacey e Maria, aquela que carregou em seu ventre AQUELE que viria a manifestar o CRISTO CÓSMICO.

       Esta Segunda Carta é concluída resumindo o Curriculum da Escola da Comunidade de Luz, que possui três graus de instrução. PRIMEIRO GRAU: INSPIRAÇÃO – pelo exercício da virtude moral a vontade simples é dirigida para o BEM. Como advertiu Sófocles (Antígona, 622-625)... Quando o homem confunde o bem e o mal, é sinal de que a divindade [idolatria] arrasta sua alma à ruína, na qual sucumbirá em pouco tempo. Por isso, o Grande Mathema para Platão era o BEM. SEGUNDO GRAU: ILUMINAÇÃO - compreensão interior coroada pela SABEDORIA e pela LUZ DO CONHECIMENTO. TERCEIRO GRAU: VISÃO – libertação total do sensorium interior, estágio no qual o ser interior conquista, pelo mérito, a visão plena da VERDADE METAFÍSICA.

       Apesar de todos os esforços e empenho desta Gloriosa COMUNIDADE DO SACROSSANTO para iluminar a Humanidade, desafortunadamente o século XX viveu um momento extremo de dor e de provação (equivalente, sob o ângulo místico-iniciático, a aprendizado e transmutação) que, talvez, Eckartshausen não tivesse previsto, muito menos concebido. Fábio Konder Comparato (Faculdade de Direito da USP) na Conferência pronunciada na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, em 16-2-2000 A Humanidade no Século XXI: a Grande Opção revive esse instante sinistro, no qual a ESPERANÇA parece se ter ocultado e a LUZ nunca existido. Disse Comparato:


       A última grande concentração cronológica de ultrajes, na História, ocorreu com a 2ª Guerra Mundial. Durante os seis anos decorridos a partir das primeiras declarações de guerra em 1939, até a rendição incondicional do Japão em agosto de 1945, 60 milhões de pessoas, em sua maioria não-combatentes, foram mortas; 40 milhões deslocadas dos países onde viviam ao se iniciar o conflito, e um sem-número de outras mutiladas para o resto de suas vidas. Para cumular as atrocidades, a segunda conflagração mundial levou ao paroxismo o funcionamento do universo concentracionário, organizado sob a forma de verdadeiras usinas de aniquilação em massa de seres humanos. O ato final da tragédia – o lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki – soou como um prenúncio de apocalipse: o homem acabara de adquirir o poder de destruir toda a vida na face da Terra. A conclusão da brilhante e lúcida Conferência do Filósofo é: O homem tornou-se, definitivamente, ‘senhor e possuidor da natureza’, inclusive de sua própria, ao adquirir o poder de manipular o patrimônio genético. Mas, ao mesmo tempo, pela espantosa acumulação de poder tecnológico, jamais como na centúria passada o engenho humano foi capaz de provocar uma tal concentração de hecatombes e de aviltamentos; nunca como hoje, a Humanidade dividiu-se, tão fundamente, entre a minoria opulenta e a maioria indigente. O rumo do curso histórico, como no enredo da tragédia clássica, parece, pois, apontar para a ruína e a desolação. ‘O desastre’, lembra o coro em Agamenon de Ésquilo (375-379), ‘é filho das ousadias temerárias dos que se comprazem no orgulho desmedido, quando suas casas transbordam de opulência’. A advertência moral da tradição grega, desde Sólon, é sempre a mesma: o excesso de riqueza não partilhada engendra a arrogância ('hybris') e esta conduz fatalmente ao precipício. Mas ainda é tempo de se mudar de rota e de navegar rumo à salvação. Na fímbria do horizonte já luzem os primeiros sinais da aurora. É a ESPERANÇA de uma NOVA VIDA que renasce.

 

EXCERTOS DA TERCEIRA CARTA
(comentários)

 

       Esta Carta principia com palavras de alento e de esperança. Nunca o GRANDE ALGO... foi oculto aos olhos ... daquele que está apto para a LUZ. É a fraqueza humana a NUVEM QUE ENCOBRE O SANTUÁRIO. Concordando com Eckartshausen, vou me permitir acrescentar que a névoa (mais ou menos densa) que obnubila a visão interior é constituída por um triângulo maldito: preguiça, fraqueza e ignorância. Quando esta névoa se adensa o triângulo transforma-se em quadrado pelo acréscimo do preconceito. E pode alcançar abismos mais medonhos quando está impregnada de ódio. O ódio ativo, acompanhado de seus acólitos, é pura e simplesmente demolidor. As atividades obscuras dos tribunais do santo ofício não serão jamais apagadas da memória da Humanidade. O nome da rosa... era SUPRESSÃO. A Religião e os Mistérios, continua nosso Autor, estendem suas mãos aos homens... para conduzi-los à VERDADE. Este conceito, talvez possa ser didaticamente esquematizado da seguinte forma:


MISTÉRIOS  —›  TEMPLO  —›  RELIGIÃO  —›  DEUS

 

MISTÉRIOS  =  HERANÇA INICIÁTICA

 

TEMPLO PERPÉTUO E LUZ DA RAZÃO PURA, AMOR ATIVO E SANTUÁRIO DA REVELAÇÃO  =  CORAÇÃO


RELIGIÃO  =  ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E VERDADE DOS MISTÉRIOS INTERIORES E SAGRADOS


DEUS  =  FONTE DE LUZ E DE SABEDORIA

 

       Basicamente, três Profecias encerram esta última Carta.


PRIMEIRA PROFECIA: UNIÃO DO MUNDO DIVINO COM O ESPIRITUAL, DO ESPIRITUAL COM O ELEMENTAR E DO ELEMENTAR COM O MATERIAL.

 

SEGUNDA PROFECIA: UNIÃO DO HOMEM COM O HOMEM, COM A NATUREZA E COM DEUS.

 

TERCEIRA PROFECIA: RELIGAÇÃO DO SANTUÁRIO INTERIOR COM O TEMPLO.

 

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REDENÇÃO


EXCERTOS DA PRIMEIRA CARTA
(comentários)

 

       Todos os místicos haverão de concordar que há um só Caminho, uma única Verdade e tão-somente um D’US. Karl von Eckartshausen iniciou a primeira Carta da REDENÇÃO com esta afirmativa. Por isso, a infinidade de números se desvanece em um só NÚMERO. E, não pode ser de outra forma: ...os mistérios, os hieróglifos e os símbolos invisíveis têm uma só VERDADE por tema - D’US. Aqui também é feito um vaticínio relativo às LUZES que os líderes da Humanidade irradiarão no futuro.


PERFEITO CONHECIMENTO DE DEUS
PERFEITO
CONHECIMENTO
DO HOMEM  
 
PERFEITO
CONHECIMENTO
DA NATUREZA

    
        
Os preconceitos serão alquimizados em RAZÃO PURA e as paixões tempestuosas trilharão o caminho da moderação e serão convertidas em VIRTUDES.

       Quando afirmei no início desta meditação que parte dos escritos de Eckartshausen trata de temas importantes relativos ao esoterismo cristão, e, também, quando o próprio Autor faz referência à religião, é preciso considerar estes temas estritamente sob a vertente místico-esotérico-iniciática primordial. Isto é: CRISTIANISMO GNÓSTICO E RELIGIÃO ÚNICA E ETERNA. Ainda que, acredito, já tenha ficado evidente que Eckartshausen era um INICIADO, algumas passagens de sua obra podem levar o leitor distraído ou mal informado a admitir que ele pudesse ter sido um luterano pietista, um teólogo nefelibata ou, o que talvez seja pior, um mal compreendido e ensandecido lunático que escreveu sobre coisas impossíveis de serem comprovadas. NÃO. NADA DISSO. MUITO AO CONTRÁRIO. Ainda que só aqueles que morreram e (re)nasceram possam avaliar e apreciar acuradamente suas reflexões, há muitos que sentem interiormente que existem muito mais coisas entre o plano objetivo da consciência e os diversos graus do nosso subconsciente, seja pessoal, seja coletivo. Shakespeare disse a mesma coisa de outra maneira. Acredito piamente que a NUVEM e a REDENÇÃO foram escritas muito mais para os catecúmenos e para os inconformados com as fantasmagorias teológicas do que para os poucos Iniciados de sua época e seus Irmãos em Cristo, por Cristo e no Cristo. Na verdade Karl recebeu a missão de escrever e de publicar estes dois ensaios antes de passar pela Grande Iniciação, pois os tempos requeriam que esta providência fosse tomada. A ainda distante, mas na realidade já muito próxima, Era de Aquarius iria determinar mudanças que o nosso Iniciado já sabia. Por isso, advertiu:



Estamos nos aproximando do REINO DA LUZ, do REINO DA SABEDORIA E DO AMOR, do REINO DE DEUS, que é a FONTE DA LUZ... Há somente uma RELIGIÃO, cuja VERDADE simples foi dividida [fracionada e adaptada às diversas etnias, à cultura dos diversos povos e à compreensão das múltiplas personalidades-ALMA em processo ascensional de reintegração] em todas as religiões, como em ramificações, para depois retornar da multiplicidade para a RELIGIÃO ÚNICA. Há somente uma ORDEM, uma só IRMANDADE, uma só ASSOCIAÇÃO DE HOMENS E MENTES AFINS... uma só DISCIPLINA ARCANA que é trabalhada e ensinada na SECRETA ESCOLA DA IGREJA INTERNA E INVISÍVEL.


       A verdadeira RELIGIÃO tem por único objetivo a (re)união ou (re)ligação do homem inconscientemente afastado de DEUS, com DEUS. Assim pensou Eckartshausen, assim penso eu. Assim pensam todos os verdadeiros místicos. Mas, mesmo que DEUS seja UM, o ser só pode senti-Lo e percebê-Lo como o DEUS DO SEU C?RAÇÃO. Só a idolatria, a insanidade e o descompasso com a HARMONIA UNIVERSAL puderam (e podem) dar curso aos múltiplos atentados, torturas e matanças em nome de deus. Ontem, o despotismo romano, a inquisição e as cruzadas. Hoje, por exemplo, as guerras santas e as rebeliões populares na Palestina contra as forças de ocupação de Israel na faixa de Gaza e na Cisjordânia. Como justificar a tragédia do World Trade Center? Como justificar o esfacelamento do Iraque? Como justificar o interminável isolamento de Cuba? Como justificar a invasão do Afeganistão? Como justificar o massacre da Candelária no Rio de Janeiro? Como justificar as imposições monetaristas do FMI e do Banco Mundial aos países terceiro e quarto-mundistas? Como justificar o permanente domínio chinês no Tibete? Como justificar as degolas? Como justificar as vivissecções de animais, nossos irmãos menores? Horridamente, mas é uma incontestável e triste verdade, disse o banqueiro americano John Pierpont Morgan (1837-1913): Na diplomacia econômica, o sim é talvez, o talvez é não e o não não é diplomacia. Mas há algo muito mais preocupante: como compreender que alguns místicos(!?) usem seus santuários sagrados(?!) para mentalmente apoiar retaliações homicidas? Não se corrige ou compensa um erro com outro erro, mesmo porque as infrações e as transgressões (verdadeiras ou presumidas, justificadas ou injustificadas) certamente são o resultado de escravizações, absolutismos, imperialismos, conspirações, diplomacias econômicas egoístas, intolerâncias, equívocos, recessões e de abusos sistemáticos precedentes, (in)justificados pela mesquinha e acomodada razão humana, que tanto foi combatida por Eckartshausen.
Frater Vicente Velado, Abade da ORDO SVMMVM BONVM, acredito, agasalha esta mesma convicção.

       Mas, tanto a DIVINA ILUMINAÇÃO quanto a DIVINA INSPIRAÇÃO são possíveis. As chaves ofertadas por Eckartshausen são:

 

REVELAÇÃO  —›  RELIGIÃO  —›  REASCENSÃO

FRAQUEZA  —›  SILÊNCIO  —›  FORTALEZA

DIVINA ILUMINAÇÃO  —›  ÊXTASE

DIVINA INSPIRAÇÃO  —›  ÊXTASE



       Então, a cegueira espiritual, como ensinou nosso Adepto, apoiada na muleta da razão natural e na muleta do sentimento natural, a primeira dando aparência de verdade ao que é falso, e a segunda impondo a troca do mal pelo bem, só poderá ser dissipada quando a venda for retirada dos olhos espirituais. Nesse sentido, Eckartshausen ensinou a LEI que proporcionará a suprema realização e a suprema felicidade: HOMEM, DEIXA A RAZÃO [CÓSMICA] REINAR SOBRE TUAS PAIXÕES! É esta RAZÃO que governa o MUNDO METAFÍSICO SUPERSENSIENTE – cujo centro é o verdadeiro CRISTIANISMO que reconhece O CRISTO como a LUZ REDENTORA e REGENERADORA DO MUNDO.

       REGENERAÇÃO explicou o Místico é o afrouxamento ou desprendimento da matéria corruptível e impura esse fermento que em nós provoca morte e infelicidade que mantém nosso SER IMORTAL preso a grilhões, e a VIDA do PODER ... como que imersa em um sono de morte. Esse afrouxamento regenerativo e alquímico só pode ser efetivado pela e na re-união com DEUS. Essa re-união foi ensinada por Jesus em sua oração pontifical (registrada em outros termos em João XIV, 20 e no Livro da Revelação XXI, 3), e transcrita ao final desta Primeira Carta: E eu lhes dei a glória que Tu me deste, para que sejam UM, como Nós somos UM. Eu neles e Tu em mim, para que eles sejam perfeitos em UNIDADE... (O Tu proferido nesta alocução refere-se ao Divino Poder Crístico manifestado em Jesus por quarenta meses após o Batismo no Rio Jordão). Operada a REGENERAÇÃO, poderes desconhecidos são despertados e torna-se possível o relacionamento com os MUNDOS SUPERIORES. (No final do século XIX e começo do século XX, Rudolf Steiner o fundador da Sociedade Antroposófica reproduziu esses pensamentos em uma obra monumental, entretanto, descendo a minudências que não podiam ser divulgadas em séculos anteriores. Segundo consta, o inspirador de Steiner foi o Arcanjo MIAHeL).

 


EXCERTOS DA SEGUNDA CARTA
(comentários)



       Esta Carta trata da PLENITUDE DA LUZ. As doenças e a fúria dos elementos que acossam e se instalam no corpo físico e na personalidade-ALMA tornam o homem infeliz, exilado e doente. Estou de acordo com nosso Adepto: Dor, pobreza, pesar e doença são seu fardo. Mas, haverá REDENÇÃO? SIM, afirma categoricamente Eckartshausen. Mas é preciso que sejam eliminados (ou, no mínimo, diminuídos, sempre progressivamente) desejos, superstições, cobiças, paixões, preconceitos e erros. Como disse Platão, a Humanidade deverá escapar da doxasta e viver no plano noético. Esse é, enfim, o TRABALHO desenvolvido pelas ORDENS INICIÁTICAS AUTÊNTICAS E SEUS MEMBROS NOS DIVESOS GRAUS EM QUE SE ENCONTRAM. Mas, para alcançar os Planos Vibratórios descritos por Eckartshausen, mais deve ser desejado e alcançado. E isto, a meu juízo, acreditando estar interpretando corretamente o pensamento de nosso Autor, só pode ocorrer pela VIA TRANSRACIONAL. A Oração e a Meditação são os instrumentos insubstituíveis para essa peregrinação. A INICIAÇÃO oferecerá as CHAVES. As Sete Violações Capitais não podem ser, então, rotineiramente cometidas. A cura da Humanidade só será possível pela destruição do fermento do pecado [ignorância] em nós. E assim, só um MÉDICO poderá curar-nos. Somente o PERFEITO poderá levar o imperfeito à PERFEIÇÃO. Esse MÉDICO é Jesus – o CRISTO.

       Eckartshausen advertiu que no sangue opera oculta uma substância denominada glúten, que está fundamentalmente associada com a natureza animal do ente. Esse glúten é a matéria do pecado [ignorância], ... e é transmitido de pais para filhos. Falsidade e ilusão são seus atributos. A primeira ação desse veneno consiste em que o PRINCÍPIO INCORRUPTÍVEL... se contrai para o Centro, e deixa a periferia sob controle dos elementos. Dependendo do seu estado de expansão, atração, repulsão, movimento circular, excentricidade, realidade e concentração, causa arrogância, orgulho, avareza, vaidade, egoísmo, ódio, violência, frivolidade, lascívia, gula, intemperança, inveja e indolência. Contudo, o homem não tem poder para exterminá-lo (o glúten) integralmente. Mas, pelo Amor do Salvador propugnou Eckartshausen os danos podem ser reparados.

       A necessidade de REGENERAÇÃO, pelo ser, de retorno à sua pureza original, determinou que Jesus assumisse a forma humana, de tal sorte que pudesse comunicar ao Mundo a SUBSTÂNCIA DIVINA que haveria de promover, então, a tríplice reintegração: Do homem individual, depois, muitos homens e, finalmente, toda a Humanidade. Isto se deu no Golgotha, quando SEU SANGUE foi derramado. A SUBSTÂNCIA DIVINA contida em SEU SANGUE penetrou até o CENTRO DA TERRA, e uma gradual dissolução da matéria corruptível teve início. Literalmente escreveu Eckartshausen:



       Assumiu Ele a forma humana para que a SUBSTÂNCIA DIVINA, imortal, que Ele próprio deveria COMUNICAR ao Mundo, pudesse manifestar-se. Ofereceu-se, voluntariamente, de modo que o PODER PURO contido em SEU SANGUE pudesse penetrar a Natureza recôndita e tudo levar à PERFEIÇÃO. Assim teve início a CIÊNCIA RÉGIA E SACERDOTAL (CIÊNCIA DA REGENERAÇÃO), cujo SUMO SACERDOTE é Jesus – o CRISTO. Continua Eckartshausen: Desde o momento da morte do CRISTO, o PODER DIVINO produzido por seu SANGUE, derramado no centro da Terra, prossegue em sua função e, sucessivamente, qualifica todas as substâncias para a grande e iminente REVOLUÇÃO DO MUNDO... O maior mistério da IGREJA INTERNA é a ligação física e espiritual do Homem ao CRISTO. Tornar-se Uno em Espírito e ser com CRISTO é a concretização da aspiração de seus eleitos.


       Antes de passar à última Carta, é preciso que fique absolutamente claro que todos são eleitos. Esta convicção é inabalável em meu coração. E, indubitavelmente, no coração de Karl também. Agora, há eleitos e ELEITOS. Isto não poderia ser diferente. ELEITOS SÃO OS QUE JÁ BUSCARAM A INICIAÇÃO; eleitos são todos os demais seres que, pelos mais variados motivos, ainda não iniciaram a peregrinação e se puseram a caminho, e, portanto, não cingiram as espáduas com uma faixa vermelho-sangue sobre o avental branco e quatro rosas vermelhas no chapéu.

 

EXCERTOS DA TERCEIRA CARTA
(comentários)

 

O que é, enfim, REGENERAÇÃO?

REGENERAÇÃO é RENASCIMENTO. Este processo é tríplice:

 


RENASCIMENTO ESPIRITUAL DA RAZÃO

RENASCIMENTO ESPIRITUAL DO CORAÇÃO

RENASCIMENTO CORPÓREO DO SER

 

 

       Quando o CORAÇÃO permite que o CRISTO se manifeste, então, a LUZ DO MUNDO nasce em nosso Ser Interior... Em nós [ELE] se crucifica, morre e gloriosamente se ergue. Então, SUA PERSONALIDADE se modifica em nosso interior e nos instrui nos MISTÉRIOS SUPERIORES, até que ELE nos tenha qualificado para a PERFEITA REGENERAÇÃO... enviando-nos o ESPÍRITO DA VERDADE.

       Mas, antes que o ESPÍRITO DA VERDADE possa atuar em nosso interior, devem ser intensificados e transmutados os Sete Poderes da nossa COMPREENSÃO e os Sete Poderes do nosso CORAÇÃO.

Os Poderes da COMPREENSÃO são:


1.  Intuitus  —›  Visão

2.  Apperceptio  —›  Percepção

3.  Reflexio  —›  Reflexão

4.  Phantasia, Imaginatio  —›  Fantasia, Imaginação

5.  Judicium  —›  Julgamento

6.  Ratio   —›  Razão

7.  Intellectus  —›  Compreensão  (Síntese de todos)


Os Poderes do CORAÇÃO (VONTADE) são:


1.  Desiderium   —›  Anseio

2.  Appetitus  —›  Apetite

3.  Concupiscentia  —›  Empenho

4.  Passio  —›  Intemperança

5.  Libertas  —›  Liberdade

6.  Electio  —›  Seleção

7.  Voluntas  —›  Vontade  (Síntese de todos)


        Quando o ser recebe conscientemente o CRISTO, o REINO DA VERDADE é instalado e pode a natureza humana ser evoluída à sua mais alta perfeição... Então, os Poderes da COMPREENSÃO e os Poderes do CORAÇÃO do ser singular são dirigidos e orientados cosmicamente pelo próprio CRISTO.

 

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UM SENTIMENTO; UMA CONFISSÃO...

 

       Acredito que Karl von Eckartshausen, de certa forma, trilhou o mesmo caminho de vários místicos do passado e do presente. Quero dizer com isso que, à semelhança, por exemplo, do militar Saint-Martin (o Filósofo Desconhecido), do abade Alphonse Louis Constant (Éliphas Lèvi) e do médico Gérard Anaclet Vincent Encausse (Papus), Karl, em um certo momento de sua peregrinação em busca da LUZ MAIOR, abandonou religião, magia e teurgia, para se dedicar, de corpo e alma, ao MISTICISMO INICIÁTICO PRIMORDIAL — à RELIGIÃO UNIVERSAL. Devo confessar que, em certa medida, comigo aconteceu o mesmo. Quem não descer ao seu inferno pessoal, dificilmente ressuscitará na e para a LLUZ. Por outro lado, não posso afirmar que esta equivocada trajetória seja uma obrigação a ser vivida por todos os que buscam a ILLUMINAÇÃO. O certo é que Karl, no final de sua existência terrena, havia se tornado um INICIADO CRÍSTICO DA IGREJA INTERNA E ETERNA.

 

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EU TAMBÉM CREIO...

 

Creio na LUZ ETERNA
como PESSOA;

Creio na PESSOA
como pronunciadora do LOGOS;

Creio no LOGOS
como enunciação do SOL VERDADEIRO,

Aquele que está
no CENTRO DE TUDO,
eternamente.

Invoco, agora,
o PODER DA TRANSFORMAÇÃO,

Pelo qual eu serei a PESSOA,

Tal qual o CRISTO a é.

E assim, crendo,
caminho para essa meta,

Objetivo da minha vida,
que a justifica plenamente.

Frater Vicente Velado, .'.F.'.R.'.C.'.
(Abade da
Ordo Svmmvm Bonvm)

 

 

FIAT VOLUNTAS TUA

 

FIAT VOLUNTAS TUA

 

FIAT VOLUNTAS TUA

 


DADOS SOBRE O AUTOR

 

Mestre em Educação, UFRJ, 1980. Doutor em Filosofia, UGF, 1988. Professor Adjunto IV (aposentado) do CEFET-RJ. Consultor em Administração Escolar. Presidente do Comitê Editorial da Revista Tecnologia & Cultura do CEFET-RJ. Professor de Metodologia da Ciência e da Pesquisa Científica e Coordenador Acadêmico do Instituto de Desenvolvimento Humano - IDHGE.

 

FONTES DE CONSULTA

 

BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. 9ª ed. São Paulo: Paulinas, 1958.

ECKARTSHAUSEN, Karl Von. Nuvem sobre o santuário. Ensaios Suplementares. Série n° 1. Curitiba – Paraná: Ordem Rosacruz – AMORC, s. d.

KANT, Immanuel. Crítica da razão prática/ Kritik der praktischen vernunft. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1984.

______. A paz perpétua/Zum ewigen frieden, ein philosophiscer entwurf. Tradução de Raphael Benaion. Rio de Janeiro: Brasílica, 1993.

______. Crítica da razão pura/Kritic der reinen vernunft. 3ª. ed Tradução de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1994.

LEIBNIZ, Gottfried Wilhelm. A monadologia; Discurso de metafísica; Novos ensaios sobre o entendimento humano; Da origem primeira das coisas; O que é idéia; Correspondência com Clarke. In: OS PENSADORES - HISTÓRIA DAS GRANDES IDÉIAS DO MUNDO OCIDENTAL. Tradução de Marilena de Souza Chauí Berlinck, Luiz João Baraúna e Carlos Lopes de Mattos. 1ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1974.

LEWIS, H. Spencer. A vida mística de Jesus/The mystical life of Jesus. 7ª ed. Curitiba: AMORC, 1997.

______. As doutrinas secretas de Jesus/Secret doctrines of Jesus. Traduzido da 16ª ed. norte-americana por Edmond Jorge. Rio de Janeiro: Editora Renes, s. d.

______. Manual Rosacruz. Brasil: Ordem Rosacruz - AMORC, 1964.

______. Preguntas y respuestas rosacruces com la historia completa de la Ordem Rosacruz. 5ª ed. EUA, San José, California: Gran Logia Suprema de AMORC, 1966.

______. Ensaios de um místico moderno/Essays of a modern mystic. Traduzido da 4ª ed. norte-americana. Tradução da Equipe Renes. Rio de Janeiro: Renes, 1971.

______. Mil anos passados/A thousand years of yesterdays. Traduzido da 20ª ed. norte-americana. Tradução de Edmond Jorge e Equipe Renes. Rio de Janeiro: Renes, 1975.

______. Autodomínio e o destino com os ciclos da vida. Tradução da 16ª ed. do original em inglês. Tradução de Isabel Schlittler. Curitiba: AMORC, 1965.

LEWIS, Ralph M. O santuário do eu/Sanctuary of self. Tradução de Edmond Jorge e Equipe Renes. Rio de Janeiro: Renes, s. d.

O ROSACRUZ. Ordem Rosacruz - AMORC - Grande Loja do Brasil, abril, 1984, pp. 24-28.)

ORDEM ROSACRUZ - AMORC. Introdução à simbologia /Symbols: their nature and function. Trad. 1ª ed. Curitiba: Grande Loja do Brasil, 1982.

______. O universo dos números /Number systems and correspondences. Trad. 2ª ed. Curitiba: Grande Loja do Brasil, 1983.

______. Símbolos secretos dos rosacruzes dos séculos XVI e XVII/Geheime figurem der rosenkreuser & C. Tradução: Equipe Renes; revisão: Rubem M. Jorge. Rio de Janeiro: Editora Renes, 1978.

______. Manifesto. Positio Fraternitatis Rosæ Crucis. Curitiba: AMORC, 2001.

 

SITES CONSULTADOS

 

www.amorc.org.br

http://www.svmmvmbonvm.org/

http://club.telepolis.com/agaigcu/temasdeinteresesoterico.htm

http://www.hermanubis.com.br/

http://fratreslucisvenezuela.netfirms.com/

http://www.svmmvmbonvm.org/cristo/cristo.htm

www.amaluxherbal.com/images/eckartshausen.jpg



PAZ  PROFUNDA