Dilma Rousseff
(Propostas, Convicções e Memórias)

 

 

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga


 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo resume algumas propostas e convicções de Dilma Rousseff, 36ª Presidente da República Federativa do Brasil.

 

 

 

 

Breve Biografia de Dilma

 

 

 

Dilma Vana Rousseff (Belo Horizonte, 14 de dezembro de 1947) é uma economista e política brasileira, filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT) e a atual Presidente do Brasil. Durante o Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assumiu a chefia do Ministério de Minas e Energia, e posteriormente, do Ministério da Casa Civil. Em 2010, foi escolhida pelo PT para se candidatar à Presidência da República na eleição presidencial, sendo que o resultado de segundo turno, em 31 de outubro, fez com que Dilma se tornasse na primeira mulher a ser eleita para o posto de chefe de Estado em toda a história do Brasil.

 

Nascida em família de classe média alta, interessou-se pelos ideais socialistas durante a juventude, logo após o Golpe Militar de 1964. Iniciando na militância, integrou organizações que defendiam a luta armada contra o regime militar, como o Comando de Libertação Nacional (COLINA) e a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). Passou quase três anos presa entre 1970 e 1972, primeiramente na Operação Bandeirante (OBAN), onde teria passado por sessões de tortura, e, posteriormente, no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).

 

Reconstruiu sua vida no Rio Grande do Sul, onde, junto a Carlos Araújo, seu companheiro por mais de trinta anos, ajudou na fundação do Partido Democrático Trabalhista (PDT) e participou ativamente de diversas campanhas eleitorais. Exerceu o cargo de Secretária Municipal da Fazenda de Porto Alegre de 1985 a 1988, no Governo Alceu Collares. De 1991 a 1993, foi Presidente da Fundação de Economia e Estatística e, mais tarde, foi Secretária Estadual de Minas e Energia, de 1999 a 2002, tanto no Governo de Alceu Collares como no de Olívio Dutra, no meio do qual se filiou ao Partido dos Trabalhadores (PT) em 2001.

 

Em 2002, participou da equipe que formulou o plano de Governo de Luiz Inácio Lula da Silva para a área energética. Posteriormente, nesse mesmo ano, foi escolhida para ocupar o Ministério de Minas e Energia, onde permaneceu até 2005, quando foi nomeada Ministra-chefe da Casa Civil, em substituição a José Dirceu, que renunciara ao cargo após o chamado escândalo do mensalão.

 

Em 2009, foi incluída entre os 100 brasileiros mais influentes do ano, pela Revista Época e, em novembro do ano seguinte, a Revista Forbes classificou-a como a 16ª pessoa mais poderosa do mundo.


 

 

 

Propostas e Convicções e Memórias

 

 

 

Irei honrar as mulheres, cuidar dos mais frágeis e governar para todos.

 

Vou fazer um Governo comprometido com a erradicação da miséria e dar oportunidades para todos os brasileiros e brasileiras. Mas, humildemente, faço um chamado à nação, aos empresários, trabalhadores, imprensa, pessoas de bem do País para que me ajudem.

 

Qualquer comparação entre ditadura e Democracia só pode partir de quem não dá valor à Democracia Brasileira.

 

Respondendo ao Senador José Agripino Maia, que disse que se ela já havia admitido em uma entrevista que mentiu, sob tortura, poderia mentir de novo: Eu tinha 19 anos. Eu fiquei três anos na cadeia. E eu fui barbaramente torturada, senador. Qualquer pessoa que ousar dizer a verdade para interrogador compromete a vida dos seus iguais. Eu me orgulho muito de ter mentido, senador. Porque mentir na tortura não é fácil. Salvei companheiros da tortura e da morte. Uma ditadura policiada é a impossibilidade de se dizer a verdade, em qualquer circunstância. Não é possível supor que se dialogue no choque elétrico, no pau-de-arara. Na tortura, quem tem coragem e dignidade fala mentira. Isso faz íntegra a minha biografia, que eu tenho imenso orgulho. Qualquer comparação entre a ditadura militar e a Democracia brasileira só pode partir de quem não dá valor à democracia. E eu acredito, senador, que nós estávamos em momentos diferentes da nossa vida em 70.

 

 

Dilma Rousseff

Dilma Rousseff
(DOPS, São Paulo, janeiro de 1970)

 

A prisão é uma coisa em que a gente se encontra com os limites da gente. É isso que às vezes é muito duro. Nos depoimentos, a gente mentia feito doido. Mentia muito, mas muito. A gente tinha que fazer uma moldura e só se lembrar da moldura, da história que se inventava, e não saía disso. Tinha que ter uma história. Na relação do torturador com o torturado a única coisa que não pode acontecer é você falar ‘não falo’. Se você falar ‘não falo’, dali a cinco minutos você pode ser obrigado a falar, porque eles sabem que você tem algo a dizer. Se você falar ‘não falo’, você diz pra eles o seguinte: ‘Eu sei o que você quer saber e não te direi’. Aí você entrega a arma pra ele te torturar e te perguntar. Sua história não pode ser ‘não falo’. Tem que ser uma história e dali para frente você não sabe mais nada, não pode saber.

 

Eu lembro de chegar na Operação Bandeirante, presa, no início de 70. Era aquele negócio meio terreno baldio, não tinha nem muro, direito. Eu entrei no pátio da Operação Bandeirante e começaram a gritar: ‘mata!’, ‘tira a roupa’, ‘terrorista’, ‘filha-da-puta’, ‘deve ter matado gente’. E lembro também perfeitamente que me botaram numa cela. Muito estranho. Uma porção de mulheres. Tinha uma menina grávida que perguntou meu nome. Eu dei meu nome verdadeiro. Ela disse: ‘Xi, você está ferrada’. Foi o meu primeiro contato com o esperar. A pior coisa que tem na tortura é esperar, esperar para apanhar. Eu senti ali que a barra era pesada. E foi. Também estou lembrando muito bem do chão do banheiro, do azulejo branco. Porque vai formando crosta de sangue, sujeira, você fica com um cheiro...

 

Choques nas partes genitais não fizeram. Mas fizeram choque, muito choque, mas muito choque. Eu lembro, nos primeiros dias, que eu tinha uma exaustão física, que eu queria desmaiar; não agüentava mais tanto choque. Eu comecei a ter hemorragia. Os choques eram em tudo quanto é lugar. Nos pés, nas mãos, na parte interna das coxas, nas orelhas. Na cabeça, é um horror. No bico do seio. Botavam uma coisa assim, no bico do seio, era uma coisa que prendia, segurava. Aí cansavam de fazer isso, porque tinha que ter um envoltório, pra enrolar, e largava. Aí você se urina, você se caga todo, você...

 

Pode ter julgamento político. Não pode ter julgamento político que não esteja fundado em princípios jurídicos. E eu quero dizer isso com muita tranqüilidade, porque eu fui objeto de um julgamento político baseado numa legislação durante a ditadura.

 

Sobre o Governo de Fernando Henrique Cardoso: Nosso problema não foi ter sorte. Nós temos sorte, sim, não somos pé-frio. Mas, sobretudo, temos competência de gestão. A eles pode ter faltado sorte, mas faltou muito mais competência e vontade política de mudar.

 

Falando sobre suas atividades durante a luta armada: Eu não vou esconder o que eu fui e não tenho uma avaliação negativa. Tenho uma visão bastante realista daquele período. Eu tinha 22 anos, era outro mundo, outro Brasil. Muita coisa a gente aprendeu. Não tem similaridade o que acho da vida hoje.

 

Durante homenagem a onze ex-alunos da UFMG mortos em decorrência do combate ao regime militar: Há uma perda intrínseca para o País quando essa experiência de uma juventude que se jogou na luta democrática, que se jogou no combate para construir um País melhor é perdida por morte.

 

O Brasil superou uma ditadura militar e está consolidando sua Democracia. A realidade mudou, e nós com ela. Contudo, nunca mudei de lado. Sempre estive ao lado da justiça, da Democracia e da igualdade social.

 

O povo brasileiro não está mais atrás, o povo brasileiro não está mais esperando as coisas melhorarem para ter acesso à riqueza.

 

Se teve um Governo que levantou o tapete, foi o Governo Lula. Antes não apareciam denúncias porque ninguém apurava. Acabamos com a figura do engavetador-geral. Onde está o engavetador? A União não engaveta mais nada.

 

O Brasil pode mais porque nós pudemos mais. Os viúvos da estagnação são os nossos oponentes.

 

Estamos juntos para não deixar que o nosso País retroceda, na luta para não deixar que as forças do atraso voltem, na luta para não deixar aqueles que sempre governaram este País para os ricos voltem para excluir os mais pobres.

 

Agora, eu aprendi com o Presidente Lula várias qualidades dele. Uma delas é esta: aprendi que movimento social a gente atende e escuta. Se você não concordar, você não concorda. Você é Governo; eles são os movimentos sociais. É uma questão de respeito democrático. Aprendi a ser justa, o que é muito mais forte.

 

Eu acho interessante o fato de que a mulher, quando ela exerce um cargo com alguma autoridade, sempre é tachada de dura, rígida, dama-de-ferro ou qualquer coisa similar. E eu acho isso, de fato, um estereótipo. É um padrão, uma camisa-de-força que tentam enquadrar em nós mulheres.

 

Proposta de Governo: Manter e aprofundar a principal marca do Governo Lula – seu olhar social – ampliando programas como o Bolsa Família e implantando novos programas com o propósito de erradicar a miséria na década que se inicia.

 

Proposta de Governo: Priorizar a qualidade da educação, contemplando medidas como o treinamento e a remuneração de professores; bolsas de estudo e apoio para que os alunos não sejam obrigados a abandonar a escola; e salas de aula informatizadas e com acesso à banda larga.

 

Proposta de Governo: Proteger as crianças e os mais jovens da violência, do assédio das drogas e da imposição do trabalho em detrimento da formação escolar e acadêmica. E, simultaneamente, oferecer aos jovens a oportunidade de começar a vida com segurança, liberdade, trabalho e perspectiva de realização pessoal.

 

Proposta de Governo: Ampliar e disseminar pelo Brasil a rede de creches, pré-escolas e escolas infantis.

 

Proposta de Governo: Aprimorar a eficácia do sistema de saúde, garantindo mais recursos para o SUS, reforçando as redes de atenção à saúde e unificando as ações entre os diferentes níveis de Governo, dedicando uma atenção ainda maior aos hospitais públicos e conveniados, as novas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), ao SAMU e a programas como o Saúde da Família, o Brasil Sorridente e a Farmácia Popular.

 

Proposta de Governo: Colocar todo o empenho do Governo Federal, junto com estados e municípios, para promover uma profunda reforma urbana, que beneficie prioritariamente as camadas mais desprotegidas da população.

 

Proposta de Governo: Melhorar a habitação e universalizar o saneamento. Implantar transporte seguro, barato e eficiente. E reforçar os programas de segurança pública.

 

Proposta de Governo: Fortalecer a proteção ao meio ambiente, reduzindo o desmatamento e impulsionando a matriz energética mais limpa do mundo. Manter a vanguarda nacional na produção de biocombustíveis desenvolvendo nosso potencial hidrelétrico. Cumprir as metas voluntárias assumidas na Conferência do Clima, haja ou não acordo internacional.

 

Proposta de Governo: Aprofundar os avanços das políticas industrial e agrícola, enfatizando a inovação, o aperfeiçoamento dos mecanismos de crédito e o aumento da produtividade.

 

Proposta de Governo: Agregar valor às nossas riquezas naturais e produzir tudo o que pode ser produzido no Brasil.

 

Proposta de Governo: Continuar mostrando ao mundo que é possível compatibilizar o desenvolvimento da agricultura familiar e do agronegócio. Assegurar crédito, assistência técnica e mercado aos pequenos produtores e, ao mesmo tempo, apoiar os grandes produtores, que contribuem decisivamente para o superávit comercial brasileiro.

 

Proposta de Governo: Manter a transparência dos gastos públicos e aperfeiçoar seus mecanismos de controle. Combater a corrupção, utilizando todos os mecanismos institucionais.

 

Proposta de Governo: Concretizar, junto com o Congresso, as reformas institucionais que não puderam ser completadas ou foram apenas parcialmente implantadas, como a reforma política e a reforma tributária.

 

Proposta de Governo: Aprofundar a postura soberana do Brasil no mundo, defendendo intransigentemente a paz mundial e uma ordem econômica e política mais justa.

 

Proposta de Governo: Manter o equilíbrio fiscal, o controle da inflação e a política de câmbio flutuante.

 

Proposta de Governo: Aprofundamento das políticas creditícias para o setor produtivo por parte do BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNB e BASA; apoio à internacionalização das empresas brasileiras; fortalecimento da EMBRAPA, da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial e da APEX [Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos].

 

Proposta de Governo: Construção de novas hidrelétricas; ampliação das redes ferroviária, rodoviária, aeroportuária e da navegação costeira; conclusão das obras do Projeto São Francisco.

 

Proposta de Governo: Promover a inclusão digital com banda larga e aprofundar o processo de expansão das universidades públicas.

 

Proposta de Governo: Promover ampla reforma do sistema prisional brasileiro, dando prioridade à aplicação de penas alternativas; ampliar políticas de direitos básicos ao trabalho, moradia, alimentação, saúde e educação e o acesso à justiça e à cidadania.

 

Lamento a campanha absolutamente difamatória que fazem contra mim, dizendo que estou utilizando o nome de Cristo para falar que nem ele me derrotava na eleição. Eu acho isso um absurdo, uma calúnia e uma vilania contra mim. Como vocês sabem que sou cristã, eu jamais usaria o nome de Cristo em vão.

 

Aprovamos o Plano Real e, mais do que isso, levamos à frente e o utilizamos de forma adequada.

 

O Presidente Lula me deixou um legado, que é cuidar do povo brasileiro. Eu vou ser a mãe do povo brasileiro.

 

Eu posso não ter experiência de governar como eles governaram: com estagnação, desigualdade e desemprego. Agora, governar gerando emprego, distribuição de renda, tirando 24 milhões da pobreza e elevando 31 milhões à classe média eu sei muito bem fazer.

 

A imprensa que constrói uma Democracia é a imprensa que fala o que quer, que dá opinião que quer e que se manifesta do jeito que bem entende.

 

Em condições de poder, a mulher deixa de ser vista como objeto frágil. Isto é imperdoável. Aí começa a história da mulher dura. É verdade: eu sou uma mulher dura cercada de homens meigos.

 

Na vida, a gente não sobe de salto alto.

 

Prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras.

 

 

 

 

Para quem falou que ia acabar com a minha raça, não dá para me queixar. Sou uma sobrevivente de um processo de extermínio.

 

Eu vou zelar pela mais ampla e irrestrita liberdade imprensa, liberdade religiosa e de culto.

 

Temos de continuar ajudando os mais pobres. Temos de garantir que os 190 milhões de brasileiros virem consumidores.

 

Não existe Risco Brasil. Nós nos destacamos no cenário mundial como uma nação que tem um rumo, e esse rumo é o correto, com crescimento econômico, estabilidade, instituições sólidas e Democracia. O mundo vê isso e sente que não será uma eleição presidencial que vai colocar essas conquistas a perder. Não tem 'Risco Dilma' e não tem 'Risco Guerra' [referência ao senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, que em entrevista a VEJA em janeiro disse que se seu partido vencer as eleições vai 'mexer na taxa de juros, no câmbio e nas metas de inflação']. Ele falou tudo aquilo e o mercado nem se tocou. Não aconteceu nadinha de nada. Hoje nós temos estabilidade macroeconômica.

 

Nós recebemos um Governo sem estabilidade, com apenas 36 bilhões de dólares de reservas, o endividamento do Brasil crescendo, a inflação ameaçando sair de controle, uma fragilidade externa monumental que a gente não podia nem mexer, o dólar a 4 reais. Qual é o alicerce?

 

Não tem risco hoje porque nós, do Governo Lula, construímos um País robusto. O que vocês chamavam de 'Risco Lula', em 2002, se devia menos ao candidato do que às condições do País naquele momento. Nós recebemos do Governo anterior um Brasil frágil. Tínhamos reservas de pouco mais de 36 bilhões de dólares. Hoje temos 250 bilhões de dólares em reservas. O Presidente disse que a crise financeira mundial de 2008 era uma marolinha. Se você comparar com o tsunami que houve nos Estados Unidos e com as ondas que ainda atingem a Europa, nós não tivemos mesmo mais que uma marola. Tanto que a discussão agora é outra. É discutir os 9% de crescimento.

 

O prudente, para o Brasil nas condições atuais, é ter um crescimento de até 6% ao ano. Portanto, esses 9% tendem a baixar. O ritmo de crescimento tende a se desacelerar progressivamente rumo ao patamar de 6%.

 

Não me sinto confortável com essa noção de PIB potencial; mas está mais do que provado que não podemos abrir mão do controle da inflação, se quisermos crescimento com distribuição de renda. Temos de ter uma meta inflacionária e persegui-la. Com inflação, a renda das pessoas, em especial a renda das mais pobres, escoa. Controlar a inflação é distribuir renda.

 

A taxa de juros real, descontada a inflação, baixou muito no Governo Lula. Na verdade, ela nunca foi tão baixa quanto agora. Já foi de 20%, 15% e agora está em 5% a 6%. É um tremendo avanço. Mas dá para melhorar. A maneira de fazer isso é a redução disciplinada e sistemática da relação da dívida líquida sobre o PIB. Nós saímos de 60,6% em 2002 para 40,7% em 2010. A meta é chegar em 2014 com esse valor em 28%. A conseqüência inexorável disso é a queda dramática da taxa de juros.

 

Temos de continuar ajudando os mais pobres. Temos de garantir que os 190 milhões de brasileiros virem consumidores. Isso não é possível sem programas sociais. Agora, vocês me digam: tem maior porta de saída do que o crescimento do emprego nos níveis atuais? Tem porta de saída melhor do que o investimento em ensino profissionalizante? Essas são as melhores portas de saída. O Brasil tem escassez de mão-de-obra em muitos setores. Cortador de cana no Nordeste está virando soldador, operário qualificado.

 

Ainda tem muita gente no Brasil com renda de um quarto do salário-mínimo. São quase 19 milhões de pessoas nessa situação. Por isto, não podemos cortar os programas de distribuição de renda.

 

O Governo do Presidente Lula pertence uma parte a mim. Eu não sou uma pessoa que está olhando para o Governo com distanciamento. Eu não tenho distanciamento nenhum do Governo do presidente Lula. Eu lutei para esse Governo ser esse sucesso todo. Honra minha biografia ter participado desse Governo, e o Lula ter me honrado com a escolha como candidata. Tenho certeza de que o Presidente Lula participará do sucesso do meu Governo porque ele construiu as bases para eu concorrer. Ele deu condições para que eu faça uma coisa que é dificílima: superar a nós mesmos. O Governo Dilma pode superar o Governo Lula porque nós construímos um alicerce para isso acontecer. O meu projeto é o dele. E o projeto dele é o meu.

 

O que caracterizou o Governo Lula foi ter construído uma aliança em torno da governabilidade e de projetos. Os ministros do PMDB demonstraram a mesma dedicação aos projetos que os ministros do nosso partido.

 

Não é preciso concordar com as práticas de Hugo Chávez, mas não podemos interferir diretamente no que ele está fazendo. O Brasil é um modelo de País que respeita a liberdade de imprensa, que respeita empresas, que respeita contratos, que defende e aprimora a Democracia. Tenho certeza de que nosso modelo acabará influenciando positivamente nossos vizinhos e aliados. O Brasil pode dar o exemplo pelo diálogo e pelo respeito. O que não pode fazer é impor.

 

Na minha campanha, não vou admitir nenhuma prática que não respeite o adversário, que não tenha princípios éticos claros e que não honre o fato de termos o Governo com a maior aprovação da história recente deste País. A minha decisão é manter uma campanha de alto nível.

 

Nos cárceres da ditadura militar, sempre ansiei pela liberdade. Mas entendo bem a que o Graciliano1 se refere. Existe a figura do preso velho, conhecedor dos caminhos dentro da cadeia. Isso dá uma certa sensação de controle que, ao final da minha pena de três anos, tornava a prisão menos insuportável. Eu tinha um esconderijo de livros e, com a ajuda do dentista da penitenciária, trocava bilhetes com meu marido, preso na ala masculina. Contávamos com algumas boas almas entre os carcereiros, e o capelão militar me deu uma Bíblia, que, para passar pela fresta da porta da cela, teve sua capa arrancada. Um sargento detonou, sem querer, uma bomba de gás lacrimogêneo perto das celas e abriram um inquérito para apurar responsabilidades. Nós, as presas, sabíamos quem era o culpado, mas decidimos não identificá-lo. Com isso caímos nas graças dos sargentos. Enfim, o preso velho começa a acomodar seus ossos naquele ambiente.

 

Sob tortura, a mesma pessoa pode estar forte um dia e em outro desabar ou estar entregue e, de repente, encontrar forças descomunais que não sabia possuir. É o momento que manda; você não manda no seu momento.

 

Estou pronta para debater minha opção pela luta armada na juventude. Pertenci a organizações políticas que praticaram atos ditos terroristas. Mas eu jamais me envolvi pessoalmente em alguma ação violenta. Minha função era de retaguarda. Os processos militares que resultaram em minha condenação mostram isso com clareza. Nunca fui processada por ações armadas. Tenho muito orgulho de ter combatido a ditadura do primeiro ao último dia. A ditadura foi muito ruim. Cassaram os partidos políticos, fecharam órgãos de imprensa, criaram mecanismos de censura, torturaram... Mas o pior de tudo é que tiraram a esperança da minha geração. Quem tinha 15 ou 16 anos de idade quando foi dado o golpe de 64 não enxergava o fim do túnel. De um jovem cheio de energia e sem esperança podem-se esperar reações radicais.

 

O objetivo prioritário da luta armada era nos livrar da ditadura, e lutamos embalados por um sentimento de justiça, de querer melhorar a vida dos brasileiros. Foi um período histórico marcante em todo o mundo. Os jovens franceses estavam nas barricadas de maio de 68. Jovens americanos morriam baleados pela polícia nos 'campi' universitários em protesto contra a Guerra do Vietnã, a mais impopular das guerras dos Estados Unidos, um conflito que aos nossos olhos tinha uma potência tecnomilitar agressora sendo derrotada por um País pequenino, mas valente. Nossa simpatia com o lado mais fraco era óbvia. Depois daquela fase eu continuei lutando pela Democracia no antigo MDB e no PDT. Nesse processo, eu mudei com o Brasil, mas jamais mudei de lado.

 

Por ter experimentado a condição de presa política, tenho um compromisso histórico com todos aqueles que foram ou são prisioneiros somente por expressarem suas visões, sua opinião pública, suas próprias opiniões.

 

Eu considero importante a estratégia de construir a paz no Oriente Médio. O que vemos no Oriente Médio é a falência de uma política – de uma política de guerra. Estamos falando do Afeganistão e do desastre que foi a invasão ao Iraque. Não conseguimos construir a paz nem resolver os problemas do Iraque. Hoje, o Iraque está em guerra civil. Todos os dias, morrem soldados dos dois lados. Tentar trazer a paz e não entrar em guerra é o melhor caminho.

 

Eu não endosso o apedrejamento. Eu não concordo com práticas que possuem características medievais quando se trata de mulheres. Não há 'nuances'; não faço concessões nesse assunto.

 

O Presidente Lula é um Presidente que sempre defendeu os direitos humanos, um Presidente que sempre apoiou a construção da paz.

 

Considero a relação com os EUA muito importante para o Brasil. Tentarei estreitar os laços. Eu admirei muito a eleição do Presidente Obama. Acredito que os EUA revelaram uma grande capacidade de mostrar que são uma grande nação, e isso surpreendeu o mundo. Pode ser muito difícil ser capaz de eleger um Presidente negro nos os EUA – como era muito difícil eleger uma mulher Presidente do Brasil. Eu acredito que os EUA têm uma grande contribuição a dar ao mundo. E, acima de tudo, acredito que o Brasil e os EUA têm um papel a cumprir juntos no mundo. Por exemplo, temos um grande potencial para trabalhar juntos na África, porque, na África, podemos construir uma parceria para disponibilizar tecnologias agrícolas, produção de biocombustíveis e ajuda humanitária em todos os campos. Também acredito que, neste momento de grande instabilidade por causa da crise global, é fundamental que encontremos formas que garantam a recuperação das Economias dos países desenvolvidos, porque isso é fundamental para a estabilidade do mundo. Nenhum de nós, no Brasil, ficará confortável se os EUA mantiverem altos índices de desemprego. A recuperação dos EUA é importante para o Brasil porque os EUA têm um mercado consumidor fantástico. Hoje, o maior 'superavit' comercial dos EUA é com o Brasil.

 

O afrouxamento monetário é um fato que nos preocupa muito, porque significa uma política de desvalorização do dólar que tem efeitos sobre o nosso comércio exterior e também na desvalorização da nossas reservas de divisas, que são em dólares. Para nós, uma política de dólar fraco não é compatível com o papel que os EUA têm, já que a moeda dos EUA serve como reserva internacional. E uma política sistemática de desvalorização do dólar pode provocar reações de protecionismo, que nunca é uma boa política a ser seguida.

 

O Brasil continuará o caminho econômico definido pelo Presidente Lula. Não há dúvida sobre isso. Por quê? Porque, para nós, foi uma grande conquista do nosso País. Não é uma conquista de uma única administração – é uma conquista do Estado Brasileiro, do povo de nosso País. O fato de que conseguimos controlar a inflação, de termos um regime de câmbio flexível e de termos a consolidação fiscal de forma que, hoje, estamos entre os países com a menor relação dívida/PIB do mundo. Além disso, temos um 'deficit' não muito significativo. Não quero me gabar, mas temos um 'deficit' de 2,2%. Pretendemos, nos próximos quatro anos, reduzir a proporção dívida/PIB para garantir a estabilidade inflacionária.

 

Não há como cortar as taxas de juros a menos que você reduza seu 'deficit' fiscal. Somos muito cautelosos. Temos um objetivo em mente: que as nossas taxas de juros sejam convergentes com as taxas de juros internacionais. Para conseguir chegar lá, um dos pontos mais importantes é a redução da dívida pública. Outra questão importante é melhorar a competitividade de nossos setores agrícola e de manufatura. Também é muito importante que o Brasil racionalize seu sistema fiscal.

 

Meu plano é continuar a trajetória que seguimos até aqui. Conseguimos reduzir nossa dívida de 60% para 42%. Nosso objetivo é atingir 30% do PIB. Eu preciso racionalizar os gastos e, ao mesmo tempo, ter um aumento do PIB, que leve o País adiante.

 

Não estamos em uma recessão aqui. Nós não temos que cortar os gastos do Governo. Nós vamos cortar despesas, mas vamos continuar a crescer. Estamos seguindo um caminho muito especial. Este é um momento no qual o País está crescendo. Temos estabilidade macroeconômica e, ao mesmo tempo, muito orgulho do fato de que conseguimos reduzir a extrema pobreza no Brasil. Trouxemos 36 milhões de pessoas para a classe média. Tiramos 28 milhões da pobreza extrema. Como conseguimos isso? Políticas de transferência de renda. O Bolsa Família é um dos maiores exemplos.

 

Eu acredito que minha administração será diferente da do Presidente Lula. O Governo do Presidente Lula, do qual fiz parte, construiu uma base a partir da qual vou avançar. Não vou repetir a administração dele porque a situação no País hoje é muito melhor do que era em 2002. Eu tenho os programas governamentais em andamento, que ajudei a desenvolver, como o chamado Minha Casa, Minha Vida, que é um programa de habitação. Meus desafios são outros. Vou ter que solucionar questões como a qualidade da saúde pública no Brasil. Vou ter que criar soluções para problemas de segurança pública. O Brasil passou por mais de 30 anos sem investir em infra-estrutura em uma quantidade suficiente. O Governo do Presidente Lula começou a mudar isso. Eu tenho que resolver as questões rodoviárias no Brasil, as ferrovias, as estradas, os portos e os aeroportos. Mas há uma boa notícia: descobrimos petróleo em águas profundas.

 

Eu tenho um compromisso: acabar com a pobreza absoluta no Brasil. Nós ainda temos 14 milhões na pobreza. Esse é meu maior desafio.

 

Acredito que consegui lidar bem com isso [o câncer]. As pessoas têm que saber que o câncer pode ser curado. Quanto mais cedo você descobre, melhores suas possibilidades de cura. É por isso que a prevenção é importante.

 

Acredito que o Brasil estava preparado para eleger uma mulher. Por quê? Porque as mulheres brasileiras conquistaram isso. Eu não cheguei aqui sozinha, só pelos meus méritos. Somos a maioria neste País.

 

 


 

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Nota:

1. De tanto cumprir cadeia política, durante a ditadura Vargas, o romancista, cronista, contista e jornalista Graciliano Ramos (Quebrangulo, 27 de outubro de 1892 – Rio de Janeiro, 20 de março de 1953), um tipo depressivo, saiu-se com essa: É-me indiferente estar preso ou solto.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://paramudarobrasil.wordpress.com/
2010/04/16/solucao-para-o-brasil-ditadura/

http://www.infonet.com.br/marcoscardoso/
ler.asp?id=73018&titulo=marcoscardoso

http://palavrastodaspalavras.wordpress.com

http://eleicoespresidenciais2010.blogspot.com/20
10/06/dilma-rousseff-entrevista-com-candidata.html

http://relinternacionais.blogspot.com/2010/
11/dilma-rousseff-eleita-presidente-do.html

http://aguinaldo-contramare.blogspot.com/
2010/09/frase-do-dia.html

http://oficinadeideias54.blogspot.com/2010/
11/prefiro-o-barulho-da-imprensa-livre-ao.html

http://www.ronaud.com/frases-pensamentos
-citacoes-de/dilma-rousseff

http://explicatudo.com/propostas-dilma-
rousseff-programa-de-governo-dilma-rousseff

http://www.dilma.com.br/paginas/propostas/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Dilma_Rousseff

http://pt.wikiquote.org/wiki/Dilma_Rousseff

 

Música de fundo:

Quero Dilma
Autor: Tião Simpatia

Fonte:

http://www.4shared.com/audio/XvzX2re
B/QUERO_DILMA_02.html