Qualquer
comparação entre ditadura e Democracia só pode partir
de quem não dá valor à Democracia Brasileira.
Respondendo
ao Senador José Agripino Maia, que disse que se ela já havia
admitido em uma entrevista que mentiu, sob tortura, poderia mentir de novo:
Eu tinha 19 anos. Eu fiquei três anos na cadeia. E eu
fui barbaramente torturada, senador. Qualquer pessoa que ousar dizer a verdade
para interrogador compromete a vida dos seus iguais. Eu me orgulho muito
de ter mentido, senador. Porque mentir na tortura não é fácil.
Salvei companheiros da tortura e da morte. Uma ditadura policiada é
a impossibilidade de se dizer a verdade, em qualquer circunstância.
Não é possível supor que se dialogue no choque elétrico,
no pau-de-arara. Na tortura, quem tem coragem e dignidade fala mentira.
Isso faz íntegra a minha biografia, que eu tenho imenso orgulho.
Qualquer comparação entre a ditadura militar e a Democracia
brasileira só pode partir de quem não dá valor à
democracia. E eu acredito, senador, que nós estávamos em momentos
diferentes da nossa vida em 70.
Dilma
Rousseff
(DOPS, São Paulo, janeiro de 1970)
A
prisão é uma coisa em que a gente se encontra com os limites
da gente. É isso que às vezes é muito duro. Nos depoimentos,
a gente mentia feito doido. Mentia muito, mas muito. A gente tinha que fazer
uma moldura e só se lembrar da moldura, da história que se
inventava, e não saía disso. Tinha que ter uma história.
Na relação do torturador com o torturado a única coisa
que não pode acontecer é você falar ‘não
falo’. Se você falar ‘não falo’, dali a cinco
minutos você pode ser obrigado a falar, porque eles sabem que você
tem algo a dizer. Se você falar ‘não falo’, você
diz pra eles o seguinte: ‘Eu sei o que você quer saber e não
te direi’. Aí você entrega a arma pra ele te torturar
e te perguntar. Sua história não pode ser ‘não
falo’. Tem que ser uma história e dali para frente você
não sabe mais nada, não pode saber.
Eu lembro de chegar na Operação
Bandeirante, presa, no início de 70. Era aquele negócio meio
terreno baldio, não tinha nem muro, direito. Eu entrei no pátio
da Operação Bandeirante e começaram a gritar: ‘mata!’,
‘tira a roupa’, ‘terrorista’, ‘filha-da-puta’,
‘deve ter matado gente’. E lembro também perfeitamente
que me botaram numa cela. Muito estranho. Uma porção de mulheres.
Tinha uma menina grávida que perguntou meu nome. Eu dei meu nome
verdadeiro. Ela disse: ‘Xi, você está ferrada’.
Foi o meu primeiro contato com o esperar. A pior coisa que tem na tortura
é esperar, esperar para apanhar. Eu senti ali que a barra era pesada.
E foi. Também estou lembrando muito bem do chão do banheiro,
do azulejo branco. Porque vai formando crosta de sangue, sujeira, você
fica com um cheiro...
Choques
nas partes genitais não fizeram. Mas fizeram choque, muito choque,
mas muito choque. Eu lembro, nos primeiros dias, que eu tinha uma exaustão
física, que eu queria desmaiar; não agüentava mais tanto
choque. Eu comecei a ter hemorragia. Os choques eram em tudo quanto é
lugar. Nos pés, nas mãos, na parte interna das coxas, nas
orelhas. Na cabeça, é um horror. No bico do seio. Botavam
uma coisa assim, no bico do seio, era uma coisa que prendia, segurava. Aí
cansavam de fazer isso, porque tinha que ter um envoltório, pra enrolar,
e largava. Aí você se urina, você se caga todo, você...
Pode
ter julgamento político. Não pode ter julgamento político
que não esteja fundado em princípios jurídicos. E eu
quero dizer isso com muita tranqüilidade, porque eu fui objeto de um
julgamento político baseado numa legislação durante
a ditadura.
Sobre
o Governo de Fernando Henrique Cardoso: Nosso problema não
foi ter sorte. Nós temos sorte, sim, não somos pé-frio.
Mas, sobretudo, temos competência de gestão. A eles pode ter
faltado sorte, mas faltou muito mais competência e vontade política
de mudar.
Falando
sobre suas atividades durante a luta armada: Eu não vou
esconder o que eu fui e não tenho uma avaliação negativa.
Tenho uma visão bastante realista daquele período. Eu tinha
22 anos, era outro mundo, outro Brasil. Muita coisa a gente aprendeu. Não
tem similaridade o que acho da vida hoje.
Durante
homenagem a onze ex-alunos da UFMG mortos em decorrência do combate
ao regime militar: Há uma perda intrínseca para
o País quando essa experiência de uma juventude que se jogou
na luta democrática, que se jogou no combate para construir um País
melhor é perdida por morte.
O
Brasil superou uma ditadura militar e está consolidando sua Democracia.
A realidade mudou, e nós com ela. Contudo, nunca mudei de lado. Sempre
estive ao lado da justiça, da Democracia e da igualdade social.
O
povo brasileiro não está mais atrás, o povo brasileiro
não está mais esperando as coisas melhorarem para ter acesso
à riqueza.
Se
teve um Governo que levantou o tapete, foi o Governo Lula. Antes não
apareciam denúncias porque ninguém apurava. Acabamos com a
figura do engavetador-geral. Onde está o engavetador? A União
não engaveta mais nada.
O
Brasil pode mais porque nós pudemos mais. Os viúvos da estagnação
são os nossos oponentes.
Estamos
juntos para não deixar que o nosso País retroceda, na luta
para não deixar que as forças do atraso voltem, na luta para
não deixar aqueles que sempre governaram este País para os
ricos voltem para excluir os mais pobres.
Agora, eu aprendi com o Presidente
Lula várias qualidades dele. Uma delas é esta: aprendi que
movimento social a gente atende e escuta. Se você não concordar,
você não concorda. Você é Governo; eles são
os movimentos sociais. É uma questão de respeito democrático.
Aprendi a ser justa, o que é muito mais forte.
Eu
acho interessante o fato de que a mulher, quando ela exerce um cargo com
alguma autoridade, sempre é tachada de dura, rígida, dama-de-ferro
ou qualquer coisa similar. E eu acho isso, de fato, um estereótipo.
É um padrão, uma camisa-de-força que tentam enquadrar
em nós mulheres.
Proposta
de Governo: Manter e aprofundar a principal marca do Governo
Lula – seu olhar social – ampliando programas como o Bolsa Família
e implantando novos programas com o propósito de erradicar a miséria
na década que se inicia.
Proposta
de Governo: Priorizar a qualidade da educação,
contemplando medidas como o treinamento e a remuneração de
professores; bolsas de estudo e apoio para que os alunos não sejam
obrigados a abandonar a escola; e salas de aula informatizadas e com acesso
à banda larga.
Proposta
de Governo: Proteger as crianças e os mais jovens da violência,
do assédio das drogas e da imposição do trabalho em
detrimento da formação escolar e acadêmica. E, simultaneamente,
oferecer aos jovens a oportunidade de começar a vida com segurança,
liberdade, trabalho e perspectiva de realização pessoal.
Proposta
de Governo: Ampliar e disseminar pelo Brasil a rede de creches,
pré-escolas e escolas infantis.
Proposta
de Governo: Aprimorar a eficácia do sistema de saúde,
garantindo mais recursos para o SUS, reforçando as redes de atenção
à saúde e unificando as ações entre os diferentes
níveis de Governo, dedicando uma atenção ainda maior
aos hospitais públicos e conveniados, as novas Unidades de Pronto
Atendimento (UPAs), ao SAMU e a programas como o Saúde da Família,
o Brasil Sorridente e a Farmácia Popular.
Proposta
de Governo: Colocar todo o empenho do Governo Federal, junto
com estados e municípios, para promover uma profunda reforma urbana,
que beneficie prioritariamente as camadas mais desprotegidas da população.
Proposta
de Governo: Melhorar a habitação e universalizar
o saneamento. Implantar transporte seguro, barato e eficiente. E reforçar
os programas de segurança pública.
Proposta
de Governo: Fortalecer a proteção ao meio ambiente,
reduzindo o desmatamento e impulsionando a matriz energética mais
limpa do mundo. Manter a vanguarda nacional na produção de
biocombustíveis desenvolvendo nosso potencial hidrelétrico.
Cumprir as metas voluntárias assumidas na Conferência do Clima,
haja ou não acordo internacional.
Proposta
de Governo: Aprofundar os avanços das políticas
industrial e agrícola, enfatizando a inovação, o aperfeiçoamento
dos mecanismos de crédito e o aumento da produtividade.
Proposta
de Governo: Agregar valor às nossas riquezas naturais
e produzir tudo o que pode ser produzido no Brasil.
Proposta
de Governo: Continuar mostrando ao mundo que é possível
compatibilizar o desenvolvimento da agricultura familiar e do agronegócio.
Assegurar crédito, assistência técnica e mercado aos
pequenos produtores e, ao mesmo tempo, apoiar os grandes produtores, que
contribuem decisivamente para o superávit comercial brasileiro.
Proposta
de Governo: Manter a transparência dos gastos públicos
e aperfeiçoar seus mecanismos de controle. Combater a corrupção,
utilizando todos os mecanismos institucionais.
Proposta
de Governo: Concretizar, junto com o Congresso, as reformas institucionais
que não puderam ser completadas ou foram apenas parcialmente implantadas,
como a reforma política e a reforma tributária.
Proposta
de Governo: Aprofundar a postura soberana do Brasil no mundo,
defendendo intransigentemente a paz mundial e uma ordem econômica
e política mais justa.
Proposta
de Governo: Manter o equilíbrio fiscal, o controle da
inflação e a política de câmbio flutuante.
Proposta
de Governo: Aprofundamento das políticas creditícias
para o setor produtivo por parte do BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica
Federal, BNB e BASA; apoio à internacionalização das
empresas brasileiras; fortalecimento da EMBRAPA, da Agência Brasileira
de Desenvolvimento Industrial e da APEX [Agência
Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos].
Proposta
de Governo: Construção de novas hidrelétricas;
ampliação das redes ferroviária, rodoviária,
aeroportuária e da navegação costeira; conclusão
das obras do Projeto São Francisco.
Proposta
de Governo: Promover a inclusão digital com banda larga
e aprofundar o processo de expansão das universidades públicas.
Proposta
de Governo: Promover ampla reforma do sistema prisional brasileiro,
dando prioridade à aplicação de penas alternativas;
ampliar políticas de direitos básicos ao trabalho, moradia,
alimentação, saúde e educação e o acesso
à justiça e à cidadania.
Lamento
a campanha absolutamente difamatória que fazem contra mim, dizendo
que estou utilizando o nome de Cristo para falar que nem ele me derrotava
na eleição. Eu acho isso um absurdo, uma calúnia e
uma vilania contra mim. Como vocês sabem que sou cristã, eu
jamais usaria o nome de Cristo em vão.
Aprovamos
o Plano Real e, mais do que isso, levamos à frente e o utilizamos
de forma adequada.
O
Presidente Lula me deixou um legado, que é cuidar do povo brasileiro.
Eu vou ser a mãe do povo brasileiro.
Eu
posso não ter experiência de governar como eles governaram:
com estagnação, desigualdade e desemprego. Agora, governar
gerando emprego, distribuição de renda, tirando 24 milhões
da pobreza e elevando 31 milhões à classe média eu
sei muito bem fazer.
A
imprensa que constrói uma Democracia é a imprensa que fala
o que quer, que dá opinião que quer e que se manifesta do
jeito que bem entende.
Em condições de poder,
a mulher deixa de ser vista como objeto frágil. Isto é imperdoável.
Aí começa a história da mulher dura. É verdade:
eu sou uma mulher dura cercada de homens meigos.
Na
vida, a gente não sobe de salto alto.
Prefiro
o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras.
Para
quem falou que ia acabar com a minha raça, não dá para
me queixar. Sou uma sobrevivente de um processo de extermínio.
Eu vou zelar pela mais ampla e irrestrita
liberdade imprensa, liberdade religiosa e de culto.
Temos
de continuar ajudando os mais pobres. Temos de garantir que os 190 milhões
de brasileiros virem consumidores.
Não
existe Risco Brasil. Nós nos destacamos no cenário mundial
como uma nação que tem um rumo, e esse rumo é o correto,
com crescimento econômico, estabilidade, instituições
sólidas e Democracia. O mundo vê isso e sente que não
será uma eleição presidencial que vai colocar essas
conquistas a perder. Não tem 'Risco Dilma' e não tem 'Risco
Guerra' [referência
ao senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, que em entrevista a
VEJA em janeiro disse que se seu partido vencer as eleições
vai 'mexer na taxa de juros, no câmbio e nas metas de inflação'].
Ele falou tudo aquilo e o mercado nem se tocou. Não aconteceu nadinha
de nada. Hoje nós temos estabilidade macroeconômica.
Nós
recebemos um Governo sem estabilidade, com apenas 36 bilhões de dólares
de reservas, o endividamento do Brasil crescendo, a inflação
ameaçando sair de controle, uma fragilidade externa monumental que
a gente não podia nem mexer, o dólar a 4 reais. Qual é
o alicerce?
Não
tem risco hoje porque nós, do Governo Lula, construímos um
País robusto. O que vocês chamavam de 'Risco Lula', em 2002,
se devia menos ao candidato do que às condições do
País naquele momento. Nós recebemos do Governo anterior um
Brasil frágil. Tínhamos reservas de pouco mais de 36 bilhões
de dólares. Hoje temos 250 bilhões de dólares em reservas.
O Presidente disse que a crise financeira mundial de 2008 era uma marolinha.
Se você comparar com o tsunami que houve nos Estados Unidos e com
as ondas que ainda atingem a Europa, nós não tivemos mesmo
mais que uma marola. Tanto que a discussão agora é outra.
É discutir os 9% de crescimento.
O prudente, para o Brasil nas condições
atuais, é ter um crescimento de até 6% ao ano. Portanto, esses
9% tendem a baixar. O ritmo de crescimento tende a se desacelerar progressivamente
rumo ao patamar de 6%.
Não me sinto confortável
com essa noção de PIB potencial; mas está mais do que
provado que não podemos abrir mão do controle da inflação,
se quisermos crescimento com distribuição de renda. Temos
de ter uma meta inflacionária e persegui-la. Com inflação,
a renda das pessoas, em especial a renda das mais pobres, escoa. Controlar
a inflação é distribuir renda.
A
taxa de juros real, descontada a inflação, baixou muito no
Governo Lula. Na verdade, ela nunca foi tão baixa quanto agora. Já
foi de 20%, 15% e agora está em 5% a 6%. É um tremendo avanço.
Mas dá para melhorar. A maneira de fazer isso é a redução
disciplinada e sistemática da relação da dívida
líquida sobre o PIB. Nós saímos de 60,6% em 2002 para
40,7% em 2010. A meta é chegar em 2014 com esse valor em 28%. A conseqüência
inexorável disso é a queda dramática da taxa de juros.
Temos
de continuar ajudando os mais pobres. Temos de garantir que os 190 milhões
de brasileiros virem consumidores. Isso não é possível
sem programas sociais. Agora, vocês me digam: tem maior porta de saída
do que o crescimento do emprego nos níveis atuais? Tem porta de saída
melhor do que o investimento em ensino profissionalizante? Essas são
as melhores portas de saída. O Brasil tem escassez de mão-de-obra
em muitos setores. Cortador de cana no Nordeste está virando soldador,
operário qualificado.
Ainda
tem muita gente no Brasil com renda de um quarto do salário-mínimo.
São quase 19 milhões de pessoas nessa situação.
Por isto, não podemos cortar os programas de distribuição
de renda.
O
Governo do Presidente Lula pertence uma parte a mim. Eu não sou uma
pessoa que está olhando para o Governo com distanciamento. Eu não
tenho distanciamento nenhum do Governo do presidente Lula. Eu lutei para
esse Governo ser esse sucesso todo. Honra minha biografia ter participado
desse Governo, e o Lula ter me honrado com a escolha como candidata. Tenho
certeza de que o Presidente Lula participará do sucesso do meu Governo
porque ele construiu as bases para eu concorrer. Ele deu condições
para que eu faça uma coisa que é dificílima: superar
a nós mesmos. O Governo Dilma pode superar o Governo Lula porque
nós construímos um alicerce para isso acontecer. O meu projeto
é o dele. E o projeto dele é o meu.
O que caracterizou o Governo Lula
foi ter construído uma aliança em torno da governabilidade
e de projetos. Os ministros do PMDB demonstraram a mesma dedicação
aos projetos que os ministros do nosso partido.
Não
é preciso concordar com as práticas de Hugo Chávez,
mas não podemos interferir diretamente no que ele está fazendo.
O Brasil é um modelo de País que respeita a liberdade de imprensa,
que respeita empresas, que respeita contratos, que defende e aprimora a
Democracia. Tenho certeza de que nosso modelo acabará influenciando
positivamente nossos vizinhos e aliados. O Brasil pode dar o exemplo pelo
diálogo e pelo respeito. O que não pode fazer é impor.
Na minha campanha, não vou
admitir nenhuma prática que não respeite o adversário,
que não tenha princípios éticos claros e que não
honre o fato de termos o Governo com a maior aprovação da
história recente deste País. A minha decisão é
manter uma campanha de alto nível.
Nos
cárceres da ditadura militar, sempre ansiei pela liberdade. Mas entendo
bem a que o Graciliano1
se
refere. Existe a figura do preso velho, conhecedor dos caminhos dentro da
cadeia. Isso dá uma certa sensação de controle que,
ao final da minha pena de três anos, tornava a prisão menos
insuportável. Eu tinha um esconderijo de livros e, com a ajuda do
dentista da penitenciária, trocava bilhetes com meu marido, preso
na ala masculina. Contávamos com algumas boas almas entre os carcereiros,
e o capelão militar me deu uma Bíblia, que, para passar pela
fresta da porta da cela, teve sua capa arrancada. Um sargento detonou, sem
querer, uma bomba de gás lacrimogêneo perto das celas e abriram
um inquérito para apurar responsabilidades. Nós, as presas,
sabíamos quem era o culpado, mas decidimos não identificá-lo.
Com isso caímos nas graças dos sargentos. Enfim, o preso velho
começa a acomodar seus ossos naquele ambiente.
Sob
tortura, a mesma pessoa pode estar forte um dia e em outro desabar ou estar
entregue e, de repente, encontrar forças descomunais que não
sabia possuir. É o momento que manda; você não manda
no seu momento.
Estou pronta para debater minha opção
pela luta armada na juventude. Pertenci a organizações políticas
que praticaram atos ditos terroristas. Mas eu jamais me envolvi pessoalmente
em alguma ação violenta. Minha função era de
retaguarda. Os processos militares que resultaram em minha condenação
mostram isso com clareza. Nunca fui processada por ações armadas.
Tenho muito orgulho de ter combatido a ditadura do primeiro ao último
dia. A ditadura foi muito ruim. Cassaram os partidos políticos, fecharam
órgãos de imprensa, criaram mecanismos de censura, torturaram...
Mas o pior de tudo é que tiraram a esperança da minha geração.
Quem tinha 15 ou 16 anos de idade quando foi dado o golpe de 64 não
enxergava o fim do túnel. De um jovem cheio de energia e sem esperança
podem-se esperar reações radicais.
O
objetivo prioritário da luta armada era nos livrar da ditadura, e
lutamos embalados por um sentimento de justiça, de querer melhorar
a vida dos brasileiros. Foi um período histórico marcante
em todo o mundo. Os jovens franceses estavam nas barricadas de maio de 68.
Jovens americanos morriam baleados pela polícia nos 'campi' universitários
em protesto contra a Guerra do Vietnã, a mais impopular das guerras
dos Estados Unidos, um conflito que aos nossos olhos tinha uma potência
tecnomilitar agressora sendo derrotada por um País pequenino, mas
valente. Nossa simpatia com o lado mais fraco era óbvia. Depois daquela
fase eu continuei lutando pela Democracia no antigo MDB e no PDT. Nesse
processo, eu mudei com o Brasil, mas jamais mudei de lado.
Por ter experimentado a condição
de presa política, tenho um compromisso histórico com todos
aqueles que foram ou são prisioneiros somente por expressarem suas
visões, sua opinião pública, suas próprias opiniões.
Eu considero importante a estratégia
de construir a paz no Oriente Médio. O que vemos no Oriente Médio
é a falência de uma política – de uma política
de guerra. Estamos falando do Afeganistão e do desastre que foi a
invasão ao Iraque. Não conseguimos construir a paz nem resolver
os problemas do Iraque. Hoje, o Iraque está em guerra civil. Todos
os dias, morrem soldados dos dois lados. Tentar trazer a paz e não
entrar em guerra é o melhor caminho.
Eu
não endosso o apedrejamento. Eu não concordo com práticas
que possuem características medievais quando se trata de mulheres.
Não há 'nuances'; não faço concessões
nesse assunto.
O
Presidente Lula é um Presidente que sempre defendeu os direitos humanos,
um Presidente que sempre apoiou a construção da paz.
Considero
a relação com os EUA muito importante para o Brasil. Tentarei
estreitar os laços. Eu admirei muito a eleição do Presidente
Obama. Acredito que os EUA revelaram uma grande capacidade de mostrar que
são uma grande nação, e isso surpreendeu o mundo. Pode
ser muito difícil ser capaz de eleger um Presidente negro nos os
EUA – como era muito difícil eleger uma mulher Presidente do
Brasil. Eu acredito que os EUA têm uma grande contribuição
a dar ao mundo. E, acima de tudo, acredito que o Brasil e os EUA têm
um papel a cumprir juntos no mundo. Por exemplo, temos um grande potencial
para trabalhar juntos na África, porque, na África, podemos
construir uma parceria para disponibilizar tecnologias agrícolas,
produção de biocombustíveis e ajuda humanitária
em todos os campos. Também acredito que, neste momento de grande
instabilidade por causa da crise global, é fundamental que encontremos
formas que garantam a recuperação das Economias dos países
desenvolvidos, porque isso é fundamental para a estabilidade do mundo.
Nenhum de nós, no Brasil, ficará confortável se os
EUA mantiverem altos índices de desemprego. A recuperação
dos EUA é importante para o Brasil porque os EUA têm um mercado
consumidor fantástico. Hoje, o maior 'superavit' comercial dos EUA
é com o Brasil.
O afrouxamento monetário é
um fato que nos preocupa muito, porque significa uma política de
desvalorização do dólar que tem efeitos sobre o nosso
comércio exterior e também na desvalorização
da nossas reservas de divisas, que são em dólares. Para nós,
uma política de dólar fraco não é compatível
com o papel que os EUA têm, já que a moeda dos EUA serve como
reserva internacional. E uma política sistemática de desvalorização
do dólar pode provocar reações de protecionismo, que
nunca é uma boa política a ser seguida.
O
Brasil continuará o caminho econômico definido pelo Presidente
Lula. Não há dúvida sobre isso. Por quê? Porque,
para nós, foi uma grande conquista do nosso País. Não
é uma conquista de uma única administração –
é uma conquista do Estado Brasileiro, do povo de nosso País.
O fato de que conseguimos controlar a inflação, de termos
um regime de câmbio flexível e de termos a consolidação
fiscal de forma que, hoje, estamos entre os países com a menor relação
dívida/PIB
do mundo. Além disso, temos um 'deficit' não muito significativo.
Não quero me gabar, mas temos um 'deficit' de 2,2%. Pretendemos,
nos próximos quatro anos, reduzir a proporção dívida/PIB
para garantir a estabilidade inflacionária.
Não
há como cortar as taxas de juros a menos que você reduza seu
'deficit' fiscal. Somos muito cautelosos. Temos um objetivo em mente: que
as nossas taxas de juros sejam convergentes com as taxas de juros internacionais.
Para conseguir chegar lá, um dos pontos mais importantes é
a redução da dívida pública. Outra questão
importante é melhorar a competitividade de nossos setores agrícola
e de manufatura. Também é muito importante que o Brasil racionalize
seu sistema fiscal.
Meu
plano é continuar a trajetória que seguimos até aqui.
Conseguimos reduzir nossa dívida de 60% para 42%. Nosso objetivo
é atingir 30% do PIB. Eu preciso racionalizar os gastos e, ao mesmo
tempo, ter um aumento do PIB, que leve o País adiante.
Não
estamos em uma recessão aqui. Nós não temos que cortar
os gastos do Governo. Nós vamos cortar despesas, mas vamos continuar
a crescer. Estamos seguindo um caminho muito especial. Este é um
momento no qual o País está crescendo. Temos estabilidade
macroeconômica e, ao mesmo tempo, muito orgulho do fato de que conseguimos
reduzir a extrema pobreza no Brasil. Trouxemos 36 milhões de pessoas
para a classe média. Tiramos 28 milhões da pobreza extrema.
Como conseguimos isso? Políticas de transferência de renda.
O Bolsa Família é um dos maiores exemplos.
Eu
acredito que minha administração será diferente da
do Presidente Lula. O Governo do Presidente Lula, do qual fiz parte, construiu
uma base a partir da qual vou avançar. Não vou repetir a administração
dele porque a situação no País hoje é muito
melhor do que era em 2002. Eu tenho os programas governamentais em andamento,
que ajudei a desenvolver, como o chamado Minha Casa, Minha Vida, que é
um programa de habitação. Meus desafios são outros.
Vou ter que solucionar questões como a qualidade da saúde
pública no Brasil. Vou ter que criar soluções para
problemas de segurança pública. O Brasil passou por mais de
30 anos sem investir em infra-estrutura em uma quantidade suficiente. O
Governo do Presidente Lula começou a mudar isso. Eu tenho que resolver
as questões rodoviárias no Brasil, as ferrovias, as estradas,
os portos e os aeroportos. Mas há uma boa notícia: descobrimos
petróleo em águas profundas.
Eu
tenho um compromisso: acabar com a pobreza absoluta no Brasil. Nós
ainda temos 14 milhões na pobreza. Esse é meu maior desafio.
Acredito
que consegui lidar bem com isso [o
câncer]. As pessoas têm que saber que o câncer
pode ser curado. Quanto mais cedo você descobre, melhores suas possibilidades
de cura. É por isso que a prevenção é importante.
Acredito
que o Brasil estava preparado para eleger uma mulher. Por quê? Porque
as mulheres brasileiras conquistaram isso. Eu não cheguei aqui sozinha,
só pelos meus méritos. Somos a maioria neste País.
_____
Nota:
1.
De tanto cumprir cadeia política, durante a ditadura Vargas, o romancista,
cronista, contista e jornalista Graciliano Ramos (Quebrangulo, 27 de outubro
de 1892 – Rio de Janeiro, 20 de março de 1953), um tipo depressivo,
saiu-se com essa: É-me
indiferente estar preso ou solto.
Páginas
da Internet consultadas:
http://paramudarobrasil.wordpress.com/
2010/04/16/solucao-para-o-brasil-ditadura/
http://www.infonet.com.br/marcoscardoso/
ler.asp?id=73018&titulo=marcoscardoso
http://palavrastodaspalavras.wordpress.com
http://eleicoespresidenciais2010.blogspot.com/20
10/06/dilma-rousseff-entrevista-com-candidata.html
http://relinternacionais.blogspot.com/2010/
11/dilma-rousseff-eleita-presidente-do.html
http://aguinaldo-contramare.blogspot.com/
2010/09/frase-do-dia.html
http://oficinadeideias54.blogspot.com/2010/
11/prefiro-o-barulho-da-imprensa-livre-ao.html
http://www.ronaud.com/frases-pensamentos
-citacoes-de/dilma-rousseff
http://explicatudo.com/propostas-dilma-
rousseff-programa-de-governo-dilma-rousseff
http://www.dilma.com.br/paginas/propostas/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Dilma_Rousseff
http://pt.wikiquote.org/wiki/Dilma_Rousseff
Música
de fundo:
Quero
Dilma
Autor: Tião Simpatia
Fonte:
http://www.4shared.com/audio/XvzX2re
B/QUERO_DILMA_02.html