Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

 

 

A Rosa: — Oh!, Como estou pesarosa! Como sou infeliz! Como me sinto só!

A Cruz: — E por que estás pesarosa? Por que és infeliz? Por que te sentes só?

A Rosa: — Onde estou, tu estás; aonde vou, tu vais. Não consigo me livrar de ti.

A Cruz: — Não me culpes por isso. Na verdade, eu nem sequer existo, mas sou e serei parte de ti enquanto desejares.

A Rosa: — Não compreendo. Tu dizes não existir; e dizes que, ao mesmo tempo, és parte de mim?

A Cruz: — É assim que é. Assim foi, e assim será. Enquanto desejares.

A Rosa: — Enquanto eu desejar? Será que tu poderias me explicar isto?

A Cruz: — Tu já nasceste comigo em ti. Nós duas interagimos como que em uma espécie de inter-relação potencial, amalgamadora e compensatória. Há muitos milhões de anos, quando percebeste que existias como um ser individualizado, quando em ti brotou a autoconsciência, começou a tua crucificação. Muito lentamente, começaste a me engendrar, assim como começaste a engendrar tua legião de demônios pessoais. Pariste tudo. Tudo isto, em parte por ignorância, em parte por teres dado livre curso aos teus desejos, tuas cobiças e tuas paixões, o que também não deixam de ser formas prisionais e retrogressivas de ignorância. Por isso, eu te disse: não me culpes. Aliás, não deves culpar ninguém pelas tuas misérias. Tu fabricaste todas elas. Sem exceção. E a tua solidão, que tanto lastimas, não é a distância que te separa dos demais 'seres-no-mundo', mas, antes, é o abismo que cavacaste e que te desaproxima de ti mesma. E, geralmente, a solidão é filha do egocentrismo. Fabricaste e pariste todos os teus desconfortos. Achas, porventura, que, depois de tantos milênios de impunidades e de desconcertos, não haverias de compensar todos esses desvios? Como um magneto, cada vez que nasceste, foste atraída e alojada, educativamente, em uma esfera vibratória acorde com tua história pessoal. O Universo funciona como uma espécie de coleção ilimitada de porcas-parafusos; cada porca, em seu furo cilíndrico, só poderá se adaptar a um parafuso adequado. À semelhança de um parafuso, que só pode girar na porca sobre um eixo longitudinal, atarrachado em sentido contrário, por efeito combinado de rotação e de pressão, tu, Rosa, estás limitada e és prisioneira das tuas volubilidades, das tuas incongruidades e dos teus vai-e-vens. Mas, se quiseres, tu podes te libertar; se não quiseres, poderás permanecer como estás, e até... Tem paciência, pois, é disto que dialogaremos hoje. Nosso diálogo será longo, mas não menos produtivo.

 

 

 

A Rosa: — Mas tudo isso é um horror! Como eu pude fazer isso? Nunca pensei que...

A Cruz: — Sim, fizeste tudo isso. Ninguém te obrigou a nada, mas fizeste isso e muito mais. Em parte, conscientemente; em parte, inconscientemente.

A Rosa: — Agora é que não compreendo mesmo. Como posso engendrar uma cruz que não suporto e demônios que não conheço e que desprezo? E pior: ora conscientemente, ora inconscientemente. Como isso pode ser possível, se não me lembro de nada?

A Cruz: — Ainda bem que não te lembras! Ainda bem que não te lembras! Mas assim foi, assim é e assim será. Enquanto quiseres, enquanto não te desembaraçares da tua lama que te degrada e do teu lodo em decomposição que te desonra, te envergonha e te avilta, assim continuará a ser. Enquanto permaneceres uma Rosa ignorante não terás acesso ao 'Summum Bonum'. Há milhões de anos, quando em ti brotou a autoconsciência, começaste lentamente a cair no personalíssimo Inferno da tua vaidade, do teu egoísmo, da tua volubilidade, da tua futilidade, da tua ira, da tua lubricidade, do teu orgulho e da tua indiferença. Com o passar dos ciclos, aperfeiçoaste todos estes pérfidos alicerces e acrescentaste outros. Ora com consciência, ora sem qualquer consciência. Como és ignorante, não atinaste. Queres um exemplo? Pois bem. Hoje, depois de tantas idas e vindas, depois de tanto choro e de tanta desolação, ainda te alimentas da carne e do sangue dos teus irmãos animais. Este é um bom exemplo de inconsciência criminosa contra a ordem universal. Queres outro? Quando covardemente te calas, quando te omites – quando deverias falar – também estás a cometer um crime contra a ordem universal. Este teu sórdido e negro silêncio, longe de ser prudencial, é delinqüencial. E, por isso, e por outros mil e um fatores, multimilenários, eu fui crescendo em teu interior, inexistindo como Cruz pretérita e, ao mesmo tempo, passando a existir, e existindo, como Cruz presente e como parte inalheável do teu futuro individual. O mesmo aconteceu com os demônios que deste existência no teu Inferno pessoal. Eles não existiam em ti, nem sequer existiam propriamente como demônios, antes de tu te tornares autoconsciente; tu os criaste com teus maus pensamentos, tuas más intenções, tuas más palavras e tuas más ações. Só tu podes me dissipar e transmutar os teus demônios. Ninguém pode fazer esse trabalho por ti. Portanto, deves começar o trabalho purgativo pelo que tens consciência que é desarmônico e incompatível com o que presumes que seja o Bom e o Belo, para, depois, em uma etapa mais avançada, depurares o que, hoje, para ti, ainda permanece inconsciente. Seja como for, nada é totalmente inconsciente. Mas não tratarei deste assunto agora. Ficará para um próximo diálogo, pois haveremos ter muitos até tu te alforriares de mim.

 

 

 

A Rosa: — Estou horrorizada. Por favor, dize como devo proceder.

A Cruz: — Isso é simples, mas um pouco difícil; possível, mas demorado e afadigoso. As religiões, de maneira geral, e as fraternidades místico-iniciáticas, em particular, cada uma a seu modo, sem, nas linhas, explicar exata e claramente como isto se processa ou funciona, ensinam, nas entrelinhas, de maneira inexplícita, a seus confrades como devem proceder. Todavia, quem tiver Olhos para Ver e Coração para Sentir, certamente Verá e Sentirá, desde que apreenda mais das entrelinhas do que das linhas. O fato inconteste é que, da mesma forma que tu, Rosa, peregrinaste para o Inferno que construíste – e nele chafurdaste e vens te chafurdando – precisarás, para te libertares de mim e da legião dos teus demônios, dar como que uma meia-volta em direção ao Céu que deverás construir em teu Coração. Só tu podes fazer isto. Não há quem possa te vender a passagem para esta travessia. Ninguém poderá ser o teu Caminho nem poderá te mostrar o Caminho, pois, o Caminho está agora, como sempre esteve e sempre estará, em teu Coração. Simplesmente deverás encontrá-Lo. Sozinho, em Santo Silêncio, tu e teu Mestre-Deus, que deves construir no Céu do teu Coração.

 

 

 

 

A Rosa: — E como farei?

A Cruz: — Tudo depende de quereres, não-querendo.

A Rosa: — Sim, eu quero. Mas não entendo como posso querer, não-querendo. Por favor, me ensina como devo proceder.

A Cruz: — O querer, não-querendo, explicarei depois. Então, primeiro, ouve com atenção. Tudo que idealizaste, premeditaste, planejaste, programaste e construíste ao longo de séculos, de milênios, de milhões de anos, não poderá ser dissipado e transmutado em uma única vida. Talvez, nem em muitas vidas. Entretanto, se decidires te libertar, precisas começar já. Mas presta muita atenção: o tempo, que é tempo e que não é tempo, urge. Também pode ser que, de repente... Então, compreende isto: o Planeta em que hoje habitas – a Terra – é uma escola de aprendizagem muito antiga, uma estação de passagem, de baldeação, por assim dizer, e está prestes a dar por encerrada sua tarefa educativa. Nada é para sempre, no sempre eterno que sempre existiu. Não que tudo vá acabar catastroficamente. Não. Nada acaba; tudo se transforma com alguma parcela de permanência. Mas, sim, está próximo um momento especial pelo qual ela passará, quando sua missão, como Terra, estará encerrada. Por outro lado, por mais doloroso que possa ser, por mais incompreensível que possa parecer, diversos baldearão e se autopromoverão para uma outra Dimensão, outros permanecerão onde estão e como estão, e alguns serão desagregados e reciclados, pois não alcançaram o grau mínimo de consciência necessário para se manterem como individualidades autônomas. Estes últimos, que são poucos nesta Ronda, terão dissolvidas, apagadas, suas Impressões Digitais Cósmicas, restando apenas a fração da Consciência Universal neles presente. Esta fração, em realidade, jamais esteve fracionada, pois nunca esteve separada do Todo-Sempre-Um, que jamais se fragmentou ou poderá ser fragmentado. Nestes poucos, que serão desagregados e reciclados, Ela, a Consciência Universal, jamais pôde se manifestar em sua integralidade, como, de fato, ainda não se manifesta totalmente neste Plano, e, provavelmente, jamais poderá se tornar completamente manifesta, realizada ou percebida em qualquer Plano ou Dimensão. Entretanto, naqueles poucos aos quais me referi, conhecidos como seres-sem-alma – mais cruéis do que a própria crueldade, mais ignóbeis do que a própria ignobilidade – que precisam e haverão de ser reciclados, a Consciência Universal funciona apenas como uma espécie de veículo, de catalisador, para que as efêmeras individualidades que a portam possam episodicamente se manifestar como individualidades. Em outras palavras: da mesma forma que uma semente que cai em terreno fértil germina, a Consciência Universal ao encontrar condições adequadas para se espelhar e se refletir, se espelha e se reflete. Se a imagem do espelho se distorce progressivamente, não refletindo o Bem e a Beleza, então, por isso, e apenas por isso, a Consciência Universal é libertada, desimantada por assim dizer, e a consciência eventual que a encerra é como que apagada. Assim como a semente necessita de água e de nutrientes, de ar e de Sol, para se desenvolver, para crescer, para evoluir e para frutificar, a Consciência Universal precisa encontrar condições adequadas nos entes para poder ser percebida como Bem e como Beleza, como Paz e como Harmonia. Não que Ela queira ou precise ser percebida, pois, Ela, efetivamente, não percebe se é ou se não é percebida. Ela é indiferente e relativamente inconsciente deste processo. Se for percebida, se for reconhecida, Ela é mantida; se não for, no tempo que é tempo e que não é tempo, o ente Dela é desconectado. Pense em uma meia e em uma moringa. Por mais água que você coloque em uma meia, ela não reterá a água; já a moringa, pode conservar a água que nela é depositada. Agora, se a moringa se quebrar ou se for quebrada... Compreendeste?

A Rosa: — Estou compreendendo. Mas tu ainda não me explicaste como devo proceder para me libertar de ti e da legião dos malditos satanases que criei.

A Cruz: — Sim. Eu estava dizendo que tudo que idealizaste, premeditaste, planejaste, programaste e construíste ao longo de milênios não poderá ser dissipado e transmutado em uma única vida. O primeiro passo, então, é querer, não-querendo, se alforriar. Depois, compreender que tu, Rosa que me deste existência, és responsável por tudo. A única responsável! Todo o bem e todo o mal que praticaste foi escolha tua. Tu não foste obrigada a nada; nem a fazer o bem, nem a fazer o mal. Escolheste. Fizeste o que quiseste fazer, e te tornaste a senhora e a escrava de teus bons e de teus maus pensamentos, de tuas boas e de tuas más intenções, de tuas boas e de tuas más palavras e de tuas boas e de tuas más ações. Tens, por outro lado, que compreender que tudo é relativo; até a noção de bem e a noção de mal, já que aquilo que tu entendes como bem poderá ser um mal, e o que admites como sendo um mal poderá ser um bem. Assim, dependendo de como compreendas o mal e o bem, tanto podes ser escrava do bem que praticas, quanto podes ser escrava do mal que urdes. Basta, por exemplo, considerares o que pensam e o que fazem os facínoras, e como agem e reagem os psicopatas. Suas noções de bem e de mal são antipodais, distorcidas. Se isto é fato, para começares o processo consciente de manumissão, que, provavelmente, levará tanto 'tempo' quanto tem durado tua escravização – ainda que, se quiseres, esse 'tempo' poderá ser relativamente acelerado – precisarás compreender também que soluto e Solvente são uma coisa só. A separação entre ambos é ilusória. Fatuidade, egotismo, volubilidade, futilidade, fúria, lascívia, arrogância e negligência fazem parte do teu soluto que, por ignorância, tu criaste, amalgamaste em teu interior e alimentaste diuturnamente. Mesmo sendo ilusória a separação entre soluto e Solvente, estas criações mentais – que acabaram se objetivando em tua vida como alegrias e dores, encontros e desencontros, nascenças e renascenças – não são inerências do Solvente, e, muito menos, o contaminam. Já as ilusões têm e não têm existência real. Passam a ter, para quem as produz e delas se torna prisioneiro e tributário; não têm no sentido de perturbar a ordem cósmica ou de conspurcar a Consciência Universal, porque não existem como coisas existentes em si e por si. Portanto, sim, soluto e Solvente são uma coisa só; mas, enquanto o soluto precisa do Solvente para se compreender como soluto, o Solvente é o que é, não necessita ser compreendido, independe do soluto para ser, não é alterado pela natureza do soluto e não discrimina as ações do soluto. Estás acompanhando este raciocínio metafísico?

 

 

 

A Rosa: — Sim. Por favor, continua. Mas continuo a não entender essa questão do querer, não-querendo.

A Cruz: — Conforme já te expliquei, as próprias noções, ou idéias, de bem e de mal são relativas. Muitos pensam que são categorias absolutas, mas não são. Deuses e demônios também são entidades (egregóricas) relativas e temporais. Quando relativizaste a tua existência, há milhões de milênios, processo intrínseco à autoconsciência desenvolvida de e por todos os seres-nos-universos, deste origem, como não poderia deixar de acontecer, à percepção equivocada que poderias existir como Rosa individualizada, à parte, separadamente, isoladamente, particularmente. E, na medida em que te sobressaíste em relação às outras Rosas e às outras manifestações da Consciência Universal, progressivamente te tornaste uma déspota-vassala e uma perdulária inconseqüente da Força que está em ti. Às vezes, fizeste o bem; às vezes, fizeste o mal. Relativamente. Às vezes, criaste deuses; às vezes, pariste demônios. Relativamente. Às vezes, vislumbraste teu Céu; às vezes, mergulhaste no teu Inferno. Relativamente. Oscilaste, como um pêndulo, entre a tua ignorância e alguns raros 'insights' de lucidez. Relativamente. Subiste e desceste. Relativamente. Ora caminhaste para a direita; ora caminhaste para a esquerda. Relativamente. Ora venceste; ora foste derrotada. Relativamente. Ora caíste; ora não tiveste força interior para te levantares. Relativamente. Ora sim; ora não; ora talvez. Tudo sempre relativamente. Tudo isto, para ti, foi muito doloroso, mas não deixou de ser um aprendizado insubstituível. Como já te falei, a Terra é uma escola de aprendizagem, uma estação de passagem, de baldeação. Está chegando a hora da Grande Opção. Poderás ficar onde estás, poderás ser reciclada ou poderás te autopromover. Também já te disse, e reinsisto, que tudo depende de ti. Contudo, efetivamente, não adianta apenas tentar abolir a vaidade, o egoísmo, a volubilidade, a futilidade, a ira, a lubricidade, o orgulho e a indiferença. E também o preconceito e a prepotência. Quando, simplesmente, se ab-roga alguma coisa, algo toma o seu lugar. E esse algo tem as mesmas características da coisa ab-rogada. Há, por assim dizer, uma certa semelhança entre a coisa ab-rogada, sublimada, e a nova coisa adquirida, internalizada por substituição. Então, como pensas que deves proceder?

A Rosa: — Não sei. Sempre admiti que deveria suprimir um hábito ou um costume detrimentoso substituindo-os por algo benéfico e harmônico. Mas, parece que não é bem assim.

A Cruz: — Não, não é. Supressões, substituições e cancelamentos nada resolvem. A chave é a compreensão; para que haja mudança efetiva é necessário haver entendimento. Da mesma forma que condenar ou perdoar quem quer que seja pelo que quer que seja é um juízo de valor, portanto, uma relativa incompreensão – porque, geralmente, no juízo de valor, não há compromisso com o ideal de neutralidade – as extinções, as trocas e as sufocações são impermanentes 'in solidum'. Tudo depende de compreendermos as coisas. Vou dar um exemplo histórico: durante toda a Antigüidade (período da história, de início indefinido, encerrado com a queda do Império Romano do Ocidente) até quase o final da Idade Média (período da história mundial, especialmente européia, que, por convenção, se estende da queda do Império Romano, no século V, até a queda de Constantinopla, em 1453), o sistema cosmológico geocêntrico prevaleceu, isto é, a Terra era considerada o centro do Universo, e se pensava que os outros corpos celestes, planetas e estrelas descreviam órbitas ao seu redor. O polímata egípcio Claudius Ptolemæus, (século I d.C. - século II), no Almagesto, explicou o movimento dos planetas através de uma combinação de círculos: o planeta se deslocaria, segundo ele, ao longo de um pequeno círculo chamado epiciclo, cujo centro, por sua vez, se moveria em um círculo maior chamado deferente. O astrônomo e matemático polonês Nicolau Copérnico (1473-1543), que representou o Renascimento na Astronomia, mudou isso. Copérnico, na obra De Revolutionibus Orbium Cœlestium, defendeu os seguintes pontos principais: a) introduziu o conceito de que a Terra é apenas um dos seis planetas (então conhecidos) que giram em torno do Sol; b) colocou os planetas em ordem de distância em relação ao Sol: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter e Saturno; c) determinou as distâncias dos planetas ao Sol, em termos da distância Terra-Sol; e d) deduziu que quanto mais perto do Sol está um planeta, maior é a sua velocidade orbital. Desta forma, o movimento retrógrado dos planetas foi facilmente explicado sem necessidade de epiciclos. Isso é um exemplo de mudança pela compreensão, compreensão, neste caso, que permitiu que a cosmologia se emancipasse da teologia. Muitos cientistas renomados, que viriam a fazer parte da história, como Galileu Galilei (1564 - 1642) e Johannes Kepler (1571 - 1630), conseguiram assimilar a teria de Copérnico e melhorá-la. Esses são mais dois exemplos de mudança pela compreensão. Mas, voltando ao que estávamos discutindo, como compreender? Como alcançar aquilo que os Místicos denominam de Illuminação?

 

 

Epiciclo

 

A Rosa: — Realmente não faço idéia.

A Cruz: — Não-querendo compreender. Não-querendo ser Illuminado. Esta é a fórmula; esta é a Lei; este é o segredo da Illuminação.

A Rosa: — Mas isto é um contra-senso! Eu espero que agora tu me expliques essa coisa de querer não-querendo muito direitinho porque, senão, nosso diálogo terá sido infrutífero.

A Cruz: — Não, não é um contra-senso e nem é uma contra-significação. Rosa que me permitiu existir, põe toda a tua atenção no que vou te dizer agora, pois, vou te explicar como esta Lei funciona. Assim, poderemos terminar este nosso diálogo para que tu possas começar a praticar, e – quem sabe? – te libertares de mim e dos teus mimados demônios. Posso parecer contraditória, pois afirmei que tudo depende de querer, e agora insisto que é preciso não querer. Como norma, sempre que queremos alguma coisa estamos interferindo no ato de querer, e a coisa querida não ocorre, não acontece, não se manifesta. Então, o segredo é querer, não–querendo. Mudar pela compreensão é um ato intencional, um querer. Mas uma coisa é querer; outra é compreender o próprio querer, não–querendo. Ao te concentrares sobre um querer qualquer, querendo, ao desejares um querer específico, desejando, a concentração e o desejo impedem que o entendimento desse querer se manifeste, que a compreensão desabroche, semelhantemente a ti, Rosa, que, se quiseres te libertar, deverás querer-não-querendo desabrochar em mim, para que eu possa desaparecer e tu possas (Re)nascer. O querer não–querendo querer, o compreender não–querendo compreender, o realizar não–querendo realizar, só poderão ser alcançados em instâncias da mente – instâncias espontâneas, logo, sem coerção – em que não há qualquer tipo de querer, em que não há qualquer tipo de compreender e em que não há qualquer tipo de realizar. Logo, parece ter ficado claro que a intencionalidade do querer-querendo é esterilizante. Alcançar aquilo que os Místicos denominam de Illuminação independe de qualquer querer-querendo, de qualquer compreender-compreendendo ou de qualquer realizar-realizando que sejam objetivos, pois toda e qualquer objetividade é ilusória. Nenhum apelo ou ritual poderão efetivar na consciência humana a Illuminação, que só poderá se dar em uma instância transnoética. Ela, a Illuminação, depende (e não depende) de nos colocarmos volitivamente (mas sem esperar ou querer o que quer que seja) em harmonia com aquilo que denominei de Consciência Universal, que é em Si e por Si, incriada e não-criadora, tão antiga quanto o tempo, que é tempo e não é tempo, mas que está em ti como tu estás Nela. Oh!, o Silêncio! O Santo Silêncio! Em Santo Silêncio transnoético, querendo sem querer absolutamente nada, muito devagar, sem mesmo querer compreender, compreenderás, e sem esperar por realizações, realizarás. Isto é infalível. Só quando sentires que és uma Rosa com e no Todo-Sempre-Um, terás dado o primeiro passo para, não–querendo, querer, compreender e realizar. Se tu puderes imaginar e te sentires tal qual uma rolha a boiar no oceano, sem te sentires como rolha ou como Rosa, e sem tentares perceber o oceano como oceano em si, poderás ter um instante de inspirada Illuminação do e no Todo-Sempre-Um, porque te tornaste, então, uma Rosa no e com o Todo-Sempre-Um. Finalmente, observa que tudo que eu te expliquei, de duas uma: em parte poderá estar incompleto, o que não é improvável; em parte poderá não estar correto, o que não é impresumível. Eu sou apenas a tua Cruz; a Rosa és tu. Eu não tenho que florescer, devo, sim, ao contrário, apoucar; quem deve florescer és tu. Só tu poderás constatar e aquilatar o teor e o valor deste nosso diálogo. Na realidade, tu sequer precisas de mim; eu sou a Grande Ilusão da qual tu deves te libertar. Que assim seja! OM! OM! OM!

 

 

 

Se tu olhares apenas para o centro da animação...

 

 

 

 

 

 

 

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.math.tamu.edu/
~dallen/masters/Greek/readings4.htm

http://www.astrosurf.com/
montbeliard/Exposes.html

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Nicolau_Cop%C3%A9rnico

http://www.pool-freak.com/
?Freaky_Pool_Images:The_Big_Illusion

http://mw.concord.org/
modeler/index.html

http://www.tiosam.com/
enciclopedia/?q=Ptolomeu

http://geodesia.ufsc.br/
wikidesia/index.php/Ptolomeu

http://astro.if.ufrgs.br/
p1/p1.htm

 

Música de fundo:

Ad Una Sola Voce

Fonte:

http://cinellips.interfree.it/
MID%20Cattolici.htm