DE QUE SERVE?

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Fernando Pessoa (e seus heterônimos)

 

 

 

Hoje, ao tomar de vez a decisão de ser Eu, de viver à altura do meu mister, e, por isso, de desprezar a idéia do reclame, e plebéia sociabilização de mim, do Intersecionismo, reentrei de vez, de volta da minha viagem de impressões pelos outros, na posse plena do meu Gênio e na Divina Consciência da minha Missão. Hoje, só me quero tal qual meu caráter nato quer que eu seja; e meu Gênio, com ele nascido, me impõe que eu não deixe de ser. Atitude por atitude, melhor a mais nobre, a mais alta e a mais calma. Pose por pose, a pose de ser o que sou. Nada de desafios à plebe, nada de girândolas para o riso ou a raiva dos inferiores. A superioridade não se mascara de palhaço; é de renúncia e de silêncio que se veste. O último rasto de influência dos outros no meu caráter cessou com isto. Reconheci – ao sentir que podia e ia dominar o desejo intenso e infantil de «lançar o Intersecionismo» – a tranqüila posse de mim. Um raio, hoje, deslumbrou-me de lucidez. Nasci.

Fernando Pessoa

 

Observação:

O Intersecionismo, segundo Fernando Guimarães, foi um movimento literário de vanguarda criado por Fernando Pessoa, e que se caracteriza pela interseção no poema de vários níveis simultâneos de realidade: a interior e a exterior, a objetiva e a subjetiva, o sonho e a realidade, o presente e o passado, o eu e o outro etc. Poema paradigmático desta estética – Chuva Oblíqua – exemplifica esta técnica de intercalação, que permite o desdobramento possível de imagens vindas do exterior ou da nossa consciência, de proveniências visuais ou auditivas, de experiências reais ou de sonho etc., criando-se, no poema, registos ou séries imagísticas objetivamente diferentes, mas, devidamente ordenados. Eis um pedacinho de Chuva Oblíqua:

E apagam-se as luzes da igreja
Na chuva que cessa...

Reescrevendo, continuando e intersecionando, também poderia ser assim:

E (re)acendem as luzes da igreja,
na chuva que (re)empeça...
Em cada castiçal sobeja
jeremiada à beça.

De cócoras, o fiel, orando, espera...
Um relâmpado estrondeia...
E o aguaceiro desespera...
No mar, boiando, sorri u'a sereia.

Ulisses, lá no Hades, escuta
a chamada de Tirésias:
Trata já de ser batuta,
senão procissarás nas megalésias
.

E eu, aqui, sentadinho,
fico só a remastigar:
tão aguardado Pequenininho,
que pintou para ShOPhIar!

Mas, sem saber o que fazíamos,
decepamos a Sua Cabeça.
Endemoniados, não sabíamos!
Noite! Noite! Noite! Desvaneça!

E se apagaram as luzes da igreja.
A chuva choveu... E amainou...
Mas, na alma do fiel burbureja

 

 

 

 

Se você quiser ler Chuva Oblíqua, um endereço disponível é:

http://www.revistaliteraria.com.br/Fernando%20Pessoa.pdf

 

 

 

 

 

 

 

e que serve a sua experiência

para a minha consciência?

De que serve o seu conhecimento

para o meu aggiornamento?

 

 

e que serve a minha vivência

para a sua adimplência?

De que serve o meu reconhecer

para o seu vir-a-ocorrer?

 

 

o outro, o que for é = zero;

nada serve para nada.

Temos que pôr o pé na Estrada!

 

 

uem ficará expert em bolero

só de urubusservar?

É preciso – passo a passo – bailar!

 

 

 

Aprendi estes passinhos com o Carlinhos de Jesus.

 

 

 

Música de fundo:

Just in Time
Compositores: Jule Styne (música); Betty Comden & Adolph Green (letra)

Interpretação: Tony Bennett & Juan Luis Guerra

 

Páginas da Internet consultadas:

http://thepoliticalcarnival.net/2013/01/17/video-bush-a-g-
michael-mukasey-bursts-right-wing-impeachment-bubble/

http://www.infopedia.pt/$interseccionismo

http://ola-comoestas.blogspot.com.br/2012/06
/no-aniversario-de-fernando-pessoa.html

http://www.citador.pt/textos/
hoje-tomei-a-decisao-de-ser-eu-fernando-pessoa

http://www.acclaimclipart.com/free_clipart_images/handyman_or_
mechanic_holding_a_toolbox_and_wrench_0521-1003-2614-5214.html

http://giphy.com/gifs/E5pcLyXRM5fIA

http://graphicleftovers.com/graphic/2554115-
capital-letters-alphabet-cartoon-illustration

 

Direitos autorais:

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