E O PINGO PINGOU!
Rodolfo Domenico
Pizzinga
O
Universo não é nem hostil nem amigável; é
simplesmente indiferente.
John
Henry Holmes
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E o pingo pingou!
O
pingo pingou! Minha testa
engelhou! E pintou uma
fresta!
Vi cenas que me entristaram;
outras vi que me deleitaram.
Vi
louquices do arco-da-velha,
como o Charlot sem bigodelha,
o Senhor Luiz com onze
dedos
e uns deleitosos meio
azedos.
Charlot com e
sem bigodelha
Vi
um gago acudindo um coxo,
que estava sentado num
mocho.
Vi um conversa-fiada burlando
e um dissimulado depredando.
que era probo e mui colendo:
—
O Supremo Tribunal Federal
me pespegou um injustiçoso mal.
Vi
um casal de enamorados
a se beijar muito apaixonados.
Vi um pé-de-gancho
tentando
um padreca que ia passando.
Vi
um velho apontador de bicho
metido num baita quebra-rabicho.
Vi uma baiana cearense
perneta
vendendo acarajé
com punheta.
Um
trelelé ruminava: 'Quem sou?
Para onde irei? Agora, onde estou?
Um avariado, ao seu lado,
disse:
– Liga
não; come um 'petit-suisse'.
Vi
Freud prosando com Pitágoras,
que estava a relembrar
Protágoras:
–
'O homem é a medida do Universo'.
Vi
uma puta vendendo baratinho
e um cafifa reclamando
baixinho.
A puta: – Pra
dormir, é mais caro.
O cafifa: – Puta
boa, hoje, é raro.
Uma
babá refutava uma criança,
enquanto deglutia uma
chibança.
A criança: –
Eu 'quéio'
um picolé.
A babá: –
Vai tomar é
um capilé.
Vi
um buraco negro sem-fim
– lá de deus-me-livre
ao confim.
Vi um Transcendente-sem-limite
ajudando, mas, sem dar
palpite.
Vi
desarmonia e ab-ruptude;
aqui, acolá, eu
fiz o que pude.
Vi desalento, dor e prostração;
mas, eu também
vi satisfação.
Vi
uma cruz gamada invertida
ameaçando uma nova
descida.
Vi uma bela Rosa e uma
Cruz
Illuminando
um aperto sem luz.
Vi
um frio e sombrio inverno
e um Sol amoroso e fraterno.
Vi ódio e fúria
nos afastados
e Pax
et Bonum nos
liberados.
Vi
um desmedido sorvedouro
Vi a mais lampejante LLuz
a vencer e prostrar uma
Cruz.
Vi
a Lei da Compensação
a operar no abjeto e no
são.
nem prenoção
ou devoção.
Inexistia
punição ou prêmio,
fosse epílogo,
fosse proêmio.
Para o dessujo e para
balordo,
tudo operava bem de acordo.
Por
causa do pingo, firmei
o que sempre esgaravateei:
o Universo não
faz escolhas,
sejam garrafas, sejam
rolhas.
Quem
quiser cruzar a Ponte
precisará se tornar
insonte;
não de imperícias
religiosas,
mas, de inhacas abominosas.
A
Estrutura Universal é Atéia;
se lixa se já
foi ou se é estréia.
temos que estudar no
Colégio.
O Colégio
O-que-é
é, e sempre será;
já
o-que-não-é,
como advirá?
Do nada, nada poderá
advir;
já
o-que-existe, como sumir?
Quanto
mais menor
for o sabão,
mais maior
será o bicho-papão.
Quanto
mais maior
for a Ciência,
mais menor
será a inconsciência.
O-que-existe...
Sumir?
O-que-não-é... Existir?
(Depois do bicho-papão,
olhe para o ponto preto)
Às
vezes, pensamos que-é
o que – na atualidade
– não-é.
E o-que-não-é
nos confunde,
e, se bobearmos, transfunde!
Só
a Iniciação poderá Libertar;
só a Santa Lei
poderá Illuminar.
—
Meu Deus:
ego sum indignus!
Luto para,
um dia, ser Dignus!