(O Hades está em nós
e o Caronte somos nós)

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

uitas pessoas não ouvem o que dizem

e tampouco pensam sobre o que estão a dizer.

E quando ouvem ou pensam mais ou menos sobre o que dizem,

não imaginam que um dia poderão ter que vir a se desdizer.

 

e uma maneira geral, apenas repetem

o que outros dizem ou já disseram.

Não controvertem e não refletem;

não se respeitam e não se esmeram.1

 

omo geralmente não se respeitam

– e como também não se esmeram –

pura e simplesmente desrespeitam!

 

ropagam absurdos como sendo verdades

(sobre coisas que nunca foram ou que já eram).2

O velho Caronte espera em seu barco no Hades!3

 

 

Cada um de nós, a seu bel-prazer,
projeta e constrói o seu Hades pessoal
e se torna o seu próprio Caronte!

 

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Notas:

1. Dialética? É muito difícil e pode ser pecado. Nem pensar.

2. No fundo, no fundo, não podem ter sido porque nunca foram. Revisitarei um exemplo conhecido. A história aconteceu mais ou menos assim: por causa do Salmo CIII, 5 da Bíblia [Fundaste a Terra sobre as suas bases, e não vacilará pelos séculos dos séculos (que não podia ser contestado)] e por outros motivos não confessados, Galileu Galilei (Pisa, 15 de fevereiro de 1564 – Florença, 8 de janeiro de 1642), que havia juntado grande quantidade de evidências em favor da teoria heliocêntrica (impugnando, inclusive, diversas afirmações de Aristóteles), foi perseguido e acusado de heresia pela Inquisição. Após um longo processo, o Santo Ofício o adverte e o proibe em 19 de fevereiro de 1616 de difundir as maluquices da Teoria Heliocêntrica de Copérnico. Mas, em agosto de 1623 o Cardeal Maffeo Barberini (1568-1644) (Pontificado 1623-1644), amigo e patrono de Galileo, foi eleito papa e assumiu o papado com o nome de Urbano VIII. Em 1624 Urbano VIII liberou Galileo para divulgar suas idéias, desde que fossem tratadas apenas como hipóteses matemáticas. Em 1980, o Papa João Paulo II ordenou um reexame do processo contra Galileo, mas o notável astrônomo só foi formal e tardiamente perdoado e reabilitado em 1992. Eppur si Muove! (Mas ela se move!). João Paulo II também pediu perdão, entre outros erros cometidos pela Igreja Católica, pelas Cruzadas, pela Inquisição, pelas injustiças contra as mulheres, pelas omissões ante os negros e indígenas escravizados, pela tolerância com as ditaduras e pelas guerras de que participaram muitos católicos. Também convidou os muçulmanos a um recíproco perdão. Antes de falecer admitiu a validade das teorias da evolução desenvolvidas por Darwin e seus sucessores, que foram finalmente absolvidos. Mas, por que os padres continuam interditados de casar? Por que tanto preconceito contra os homossexuais? Por que tanta discriminação contra as Fraternidades Iniciáticas? Qual será, enfim, o papa que pedirá perdão por essas coisas (e por tantas outras que não citei), e que a Igreja ainda se posiciona preconceituosamente como dona exclusiva da verdade? Também fico pensando em quando a Igreja haverá de reconhecer o papel real de Maria Madalena na existência de Jesus e na própria formulação do Cristianismo primitivo. Na hipótese, inclusive, de Jesus ter sido Casado, isso em nada diminui a Sua Sacrossanta Santidade, até porque – ou principalmente porque – os Casamentos desses Illuminados em nada são semelhantes aos casamentos dos mortais comuns. Os mortais comuns normalmente derramam; os Illuminados rarissimamente derramam.

 

 

3. Na mitologia escatológica grega, Hades (filho de Cronos e de Réia, irmão de Zeus e de Poseidon) é o lendário deus do mundo inferior (o Hades) – o soberano dos mortos. O nome Hades era usado para designar tanto o deus como os seus domínios avernosos. O Hades (Orcus, em latim) era conhecido como o reino dos mortos ou simplesmente o submundo, lugar onde reinava Hades em companhia de sua esposa Perséfone sobre as forças avernais – região onde imperavam tristeza e dor. O Hades era uma região formada por cinco grandes rios: o rio das penalidades ou das aflições (Aqueronte, o primeiro dos rios do inferno), o rio das trevas (Estige), o rio do fogo (Flégeton), o rio das lamentações (Cocito, onde estão imersos os traidores) e o rio do esquecimento (Lete). As almas dos mortos que desciam ao Hades eram conduzidas pelo barqueiro Caronte (figura mitológica do mundo inferior grego, filho de Érebo e da Noite, transportava os recém-mortos através do pantanoso rio Estige). Era um costume grego colocar uma moeda junto com o corpo do morto para que ele pudesse pagar ao idoso Caronte por essa viagem fluvial tenebrosa só de ida. Explicando: o barqueiro Caronte pedia pagamento adiantado em moedas de ouro por seu serviço de transporte; por isso os gregos enterravam seus mortos com uma moeda debaixo da língua para terem a garantia de que eles (os mortos) teriam assegurada a devida passagem. Se uma alma não pudesse pagar, era mantida no lado do Rio em que não deveria estar, como em suspenso; temia-se, assim, que ela regressasse do lado de lá para torrar a paciência e perturbar tranqüilidade dos vivos do lado de cá. Acreditava-se que o Hades fora trancado por Plutão e que de lá seria impossível voltar. Por isso, só se podia comprar bilhete de ida. Algo assim mais ou menos parecido com o inferno. O fato é que mudou o nome do lugar, mas não a descabida idéia. Idéia que muitos acreditam! E como muitos acreditam no inferno e têm medo de ir parar lá, outros tantos se aproveitam desavergonhadamente dessa persuasão infantil. Estão todos ricos. Os aproveitadores, claro. Os crédulos estão todos pobres ou em vias de empobrecimento. Simbolicamente, o Hades está dentro de cada um de nós, porque foi criado por cada um nós. Bem devagarzinho! E assim – devagar, devagarzinho – cada um foi projetando e construindo o seu Hades particular e personalizado – planejado e fabricado para atender o gosto do cliente pelo próprio cliente – que, repito, somos nós. Logo, os 'zilhões' de Carontes somos cada um de nós.

 

Caronte
Caronte
Lucas Jordán (1684-1686)
Palácio Medici Riccardi, Florença (Itália)

 

Websites consultados:

http://www.proconcil.org/document/Amorin.htm

http://www.cacp.org.br/cat-inquisicao.htm

http://astro.if.ufrgs.br/bib/bibkepler.htm

http://www.grieksegids.nl/mythologie/hades.htm

http://www.adccta.com.br/areas/cultural/grecia5.htm

http://webpages.ull.es/users/fradive/mastertanatologia2004/master2005.html

http://www.stelle.com.br/pt/inferno/notas_7.html

http://www.kinleymacgregor.com/dream/temple.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Caronte_(mitologia)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Hades

Música de fundo:

Hades

Fonte:

http://www.artemotore.com/midi/midi15501.htm