Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

A Maçã Que Tudo Pode
ou
O Cochicho da Perdição

 

 

 

 

Disseram: tu nasceste em Pecado Original;

chapetão, eu acreditei!

Disseram: só o Batismo te purgará do mal;

babão, eu acreditei!

 

 

Disseram: cuidado, a Mala Mattiana é riscosa;

bambalhão, eu acreditei!

Disseram: comendo-a, tua vida será pecaminosa;

toleirão, eu acreditei!

 

 

Disseram: se não te batizares, morrerás pagão;

cagão, eu acreditei!

Disseram: serás presa do moleque-do-surrão;

asneirão, eu acreditei!

 

 

Disseram: persistindo, serás mal-aventurado;

bobalhão, eu acreditei!

Disseram: tenho pena de ti, estás condenado;

parvalhão, eu acreditei!

 

 

Disseram: tu ofendeste o Santíssimo Eterno;

lapardão, eu acreditei!

Disseram: para sempre, irás penar no inferno;

bestalhão, eu acreditei!

 

 

Disseram e disseram mil e uma tolices;

e eu acreditei!

Hoje, me desaferrolhei dessas sandices.

 

 

 

 

 

 

Fundo musical:
Between The Devil and the Deep Blue Sea
Letra: Ted Koehler
Música: Harold Arlen

Fonte:
http://www.stridepiano.co.uk/id2.html

 

Observação 1:

A animação em flash A Maçã Que Tudo Pode ou O Cochicho da Perdição foi elaborada a partir da pintura Tentação de Adão e Eva de Masolino da Panicale (1383 – 1447), um pintor italiano do começo do Renascimento. Para conhecer a pintura original, dirija-se a:

http://witcombe.sbc.edu/
eve-women/masolino-adameve.html

 

Observação 2:

O mito do Primeiro Casal (Adão e Eva), em termos Místicos e Iniciáticos, tem uma explicação (ou entendimento) inteiramente diferente do que é proposto pela religião católica. Assim, quem não comer a Maçã da Illuminação (o 'fruto proibido' que permite que sejam alcançados, pela Iniciação e pelo livre-arbítrio, conhecimento e [auto]consciência do bem e do mal, bem como possibilidade de evoluir com conseqüente responsabilidade retributiva pelos atos praticados) não poderá se libertar e ascensionar jamais. Quanto à Serpente cochichadora e tentadora, Luciana Voos e Lídia Vialta, no texto Mitologia – Adão e Eva, refletem: a Serpente representa o processo de transformação no qual o indivíduo precisa se libertar de algumas 'cascas' e permitir mudanças que favoreçam o fluir do psiquismo. Mística e Iniciaticamente, a Serpente simboliza e representa algo mais ou menos como que o nosso Eu Interior; na verdade, é mais do que isto, mas pensá-La como sendo nosso Eu Interior não está de todo errado. Portanto, nada é mais absurdo do que o Pecado Original, e o único Batismo que Liberta e Inicia é o Batismo Alquímico pelo Fogo. Muito simples: se Deus existe como Ente Supremo onipotente e criador – como querem os que acreditam e defendem esta idéia – como criaria o homem carregando, já de nascença, um Pecado Original? Deus perverso? Por exemplo, Akhenaton, Pitágoras e o Senhor Buddha, entre tantos outros, que não conheceram este conceito religioso e não foram devida e religiosamente batizados, por acaso morreram em pecado? Se morreram em pecado, onde estarão agora? Ficarão para sempre onde estão ou, sei lá quando, poderão sair? Puerilidades. Agora, reflita sobre este fragmento que retirei de uma Página da Internet sem referência ao autor: Sempre que aplicamos atributos e qualificações [desvirtuados] à Divindade, estas distorções são produzidas porque as atribuições são qualificações antropomórficas feitas pelos próprios homens, que criam uma imagem de Deus – como uma imagem sublimada de si próprios – projetando nela [a idéia de Deus] as imagens e ideais mais valorizados pelas diversas sociedades humanas. (Grifo meu).

Textos integrais (são pequenos e vale a pena conferir):

http://www.clinicapaeeon.com/
art/mitoae.html

http://www.sociedadeteosofica.org.br/
bhagavad/site/livro/cap56.htm