Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Dedicatória

 

 

Para R. N. H. S.

 

 

 

Recentemente, quinta-feira, 1º de abril de 2010, ouvi de uma senhora muito querida mais ou menos a seguinte declaração: — Antes eu era à-toa; agora sou atéia. Nasci e fui educada na fé protestante; depois fui Iniciada em uma fraternidade mística internacional. Acreditei em tudo que me ensinaram, mas nunca vi nada e nunca ouvi nada. Desisti de tudo. Não acredito mais em Deus; não quero saber de reencarnação. Morreu, morreu; com a morte tudo acaba. Agora, só acredito naquilo que eu vir com meus próprios olhos ou ouvir com meus próprios ouvidos. Estou convencida de que todas as experiências são exclusivamente pessoais.

 

Ouvi o relato sentindo uma mistura de um certo júbilo com uma certa tristeza. Conversei um pouco com esta senhora sobre esta mudança tão radical em sua vida, obviamente sem tentar convencê-la de coisa alguma. Eu não tenho vocação para doutrinador e acredito firmemente nesta máxima: ser e deixar ser; viver e deixar viver. Meio como diz a música, não há quem não tenha subido e descido, entrado e saído, levantado e caído, acordado e dormido. E, claro, nascido e morrido!

 

Ouvi o relato, realmente, meio jubiloso, meio entristecido. Depois, fiquei pensando no assunto, e resolvi escrever este rápido textinho.

 

Para começar, por que fiquei meio jubiloso? Porque não há nada mais espiritual ou místico do que efetivamente tão-só acreditar naquilo que se vê com os próprios olhos e naquilo que se ouve com os próprios ouvidos (quando isto é possível). Mas, nem sei se o verbo correto é acreditar; seja como for, o fato irrefragável é que qualquer certeza só poderá advir de uma experiência pessoal. E experiências pessoais são intransferíveis. Desgraçado aquele que só come o prato feito pelos outros! Bolas; morrerá com fome.

 

Há alguns dias, concluí um estudo sobre o pensamento de Zaneli Ramos, um dos mais antigos Rosacruzes brasileiros. Logo no começo, escrevi:

 

 

— Frater Zaneli, está doendo;

não estou entendendo.

— Rodolfo, espera só um pouco;

um dia, serás um Louco.

 

— Frater Zaneli, até quando;

não agüento o desando.

— Rodolfo, em ti está a LLuz;

a cada Rosa, uma Cruz!

 

 

Só conquistaremos nossa liberdade por esforço pessoal; a LLuz está em nós. Não há padre, não há rabino, não há pastor, não há guru e não há Mestre Ascensionado que possa nos Illuminar, meio que na base do rapidinho e mal feito ou do toma-lá-dá-cá. Nesta matéria não há negócio. Se alguma LLuz há nos outros, quaisquer outros, esta LLuz é deles, não nossa. Eles A conseguiram às custas de trabalho e de persistência. E nem que quisessem poderiam transferir uma parte para nós. Isto é impossível. Pelo menos, é impossível da forma como as pessoas querem que a coisa aconteça.

 

Por outro lado, como explica o Frater Zaneli Ramos, o conhecimento intuitivo, obviamente, só poderá ser obtido por intuição ou por metacognição – que é o conhecimento direto por via metafísica – e isto requer, insubstituivelmente, atitude meditativa e translucidez da psique, e, repito, esforço incomum e pertinácia. O sentido místico-metafísico deste entendimento é: 1º) tornar-se progressivamente menos focalizado em si mesmo... 2º) sentir-se progressivamente menos ser-substantivo e mais ser-verbo, e tornar-se progressivamente menos fim e mais meio; 3º) motivar-se progressivamente menos por valores, gostos, interesses e objetivos (pessoais e culturais) próprios do ego e de sua vida efêmera no mundo, e mais por valores, gostos, interesses e objetivos nobres inspirados pelas impulsões da potencialidade do Ser Essencial presente no núcleo do próprio ego; e 4º) motivar-se e orientar-se progressivamente menos por conceitos científicos e filosóficos, e mais por conceitos obtidos por metacognição. E, o que serve para os outros, muitas vezes, não serve para nós. Uma viagem do Rio para São Paulo poderá, por exemplo, ser feita de carro, de ônibus, de avião, de moto, de bicicleta e, inclusive, a pé.

 

E assim, não há nada mais espiritual ou místico do que efetivamente tão-só acreditar naquilo que se vê com os próprios olhos e que se ouve com os próprios ouvidos, quando isto é possível de acontecer. Mérito! Mérito! Mérito!

 

Em segundo lugar, por que fiquei meio entristecido? Porque a maioria das nossas desistências, por ignorância e por incultura, são injustificadas. No que concerne a este tema, pergunto: o que, efetiva e concertadamente, é feito (ou tem sido feito) pelas pessoas para que possam alcançar a compreensão que tanto desejam e a liberdade que tanto anelam? Mesmo que estejam fazendo alguma coisa, será que esta coisa está sendo feita da forma correta, categórica e não hipotética? Vou repetir porque isto é importantíssimo: mesmo que estejam fazendo alguma coisa, será que esta coisa está sendo feita da forma correta, categórica e não hipotética? Supondo que sim, por que a demora, por que a persistência de escuridão?

 

De maneira geral, as pessoas agem e reagem de forma imediatista – tendem para a simplificação na maneira de proceder. É meio como dor de cabeça e aspirina. Deu dor de cabeça, aspirina resolve rapidinho. É também meio como apetência sensual. Deu tesão, transou, gozou... Tudo resolvido.

 

Na Via Mística, as coisas não são assim. Planta-se para colher sei lá quando. Séculos? Milênios? Alguns insights poderão acontecer, mas nem sempre é assim. No âmbito do Misticismo, particularmente o Iniciático, não há bate-pronto. Às vezes, são necessárias encarnações para que os efeitos de um esforço sistemático comecem a dar frutos. Mas, o Místico atento observa que, mesmo sem quaisquer pirobologias (manifestações reveladoras, clarividências, clariaudiências, materializações et cetera), certas coisas vão mudando em seu interior. À medida que o tempo passa, por exemplo, ele vai se tornando mais intuitivo, mais condolente, menos egocêntrico e menos personalístico, deixando de ter como referência apenas o que ocorre à sua volta. E se ele, um dia, fizer contato com a Voz Insonora que promana do Deus de seu Coração...

 

Mas as pessoas querem ver e ouvir para crer... Querem botar o dedo para sentir... E querem que tudo seja para ontem! Melhor se for para anteontem! A fotografia abaixo mostra o médium Antônio Alves Feitosa, fornecedor do ectoplasma, com um espírito materializado atrás (Irmã Josepha). Do lado direito está Francisco Cândido Xavier. Esta fotografia foi feita por Nedyr Mendes da Rocha no ano de 1965, em Uberaba, Minas Gerais, usando uma máquina fotográfica marca Roleiflex e filme Kodacolor de 100 ASA. Como os trabalhos de materialização são feitos no escuro, esta foto foi feita com o auxílio de flash. É interessante notar como o ectoplasma que sai da boca do médium, como se fossem panos, ‘cai’ na direção do chão, mostrando estar sujeito à ação da gravidade. No trabalho de materialização em que esta fotografia foi feita, também participou a médium Otília Diogo. Ela se encontrava sentada dentro da cabine.

 

 

Materialização

 

Mas, deixo a seguinte pergunta para você meditar: vamos supor que, um dia, você tenha visto ou venha a ver uma materialização? E daí? O que isto mudou ou mudará em sua vida? Temos que meter na cabeça que as mudanças transmutativas e as certezas insubstituíveis só podem, efetivamente, ter origem dentro; o lado de fora, geralmente, é triplamente oso: falacioso, fantasioso e tendencioso. Umas vezes, é histérico; outras, até, esquizofrênico. E, mesmo que ocorram manifestações reveladoras, clarividências, clariaudiências e materializações, será que ocorreram mesmo? Não terão sido imaginações? Sobreexcitações? No caso de uma materialização, não terá sido um cascão astral1? O aparecimento, por exemplo, de uma post-imagem persistente pode ser resultado de exposição retiniana à luz solar direta, de se fixar, enfim, o sentido da visão persistentemente em um objeto; há, entretanto, quem confunda isto com clarividência. Há um certo desconforto, fascínio também, ao se observar algo e não se saber exatamente o que está acontecendo. Algumas ilusões de ótica estão vinculadas ao que é conhecido com o nome de persistência visual. O olho humano conserva a imagem que se forma na retina por alguns décimos de segundo a mais (aproximadamente 1/24 de segundo), mesmo após o clarão que a provocou haver desaparecido. Esta peculiaridade do sistema ótico humano (capaz de reter a imagem por esse pequeno lapso de tempo) é conhecida como persistência da visão ou persistência retiniana. Isto acontece quando as células foto-sensitivas cansam e compensam com a imagem negativa. Concentre-se sobre a luz azul do semáforo (sinal de trânsito) por um minuto. Em seguida, desvie o olhar para o quadro branco ao lado.

 

 


 

Por outro lado, o que uma porta ou uma janela que batem pela ação do vento ou a estalaria de madeira que dilatou e depois contraiu têm a ver com espíritos ou cascões astrais esbaforidos e esvoaçantes? E Deus, se existe, não teria mais o que fazer do que ficar se mostrando para quem tem curiosidade de vê-Lo, meio que a dizer: — Estou aqui! E qual a importância concreta de sabermos (ou de não sabermos) o que fomos em uma encarnação passada? Ainda que a cada segundo estejamos dando origem a um novo começo, vale a pena pensar nesta sentença de Chico Xavier (1910 – 2002): Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim. Enfim, todas estas coisas fizeram vir à minha cabeça a seguinte seqüência: o que é osteoporótico acaba por se tornar insustentável, o que é insustentável acaba colapsando, e o que colapsa dá muito trabalho para ser reconstruído ou recomposto. No limite, pode-se perder a oportunidade (do milagre) de uma vida!

 

 

 

 

Vou voltar e insistir no tema: o pior de tudo é que algumas pessoas desistem e dizem: — Faço tudo direitinho, mas não consigo ver nem ouvir Deus. Ora, aqui cabe o comentário: o que Deus, se existir, tem com isto? Por acaso, fazemos as coisas para que Deus veja? Para que fique contente? Para que nos premie por nosso presumido bom comportamento? Para que apareça de repente e diga: — Olá? Para que escapemos do inferno ou de qualquer coisa que o valha? Para satisfazer a quê ou a quem?

 

Ora, a verdade é que desistimos porque, algumas vezes, somos incompetentes, outras, porque somos covardes, e outras, ainda, porque somos vaidosos, porque queremos preferências (que não existem nem podem existir). Há quem desista, também, por imitar outros que desistiram! Birra? Amuo? Manha? Cansaço? Náusea? O quê? Quem desiste, primeiro, desiste de si mesmo. Nem na milésima primeira derrota podemos desistir; nada justifica a desistência. Nada! Absolutamente nada!

 

 

 

 

 

_____

Nota:

1. O cascão astral, explica Francisco Marengo no texto Algumas Considerações Sobre a Bíblia, é um cadáver que conserva a forma da alma que o habitou durante o tempo que a energia de que estiver impregnado perdurar. Assim, quanto mais a alma desse cascão for apegada a baixos instintos morais, mais perigoso poderá se tornar este 'ser' . Muitos espíritas alegam o contato com almas de grandes gênios da Humanidade ou com espíritos dos mortos propriamente ditos. Neste particular, é preciso que se entenda que esta comunicação é plenamente possível, mas quando tal pessoa atinge um estado de maturidade espiritual chamada de 'Neshamah' ou 'Buddhi'. Até que este tenha atingido tal maturidade, será muito mais propício a atração de entidades de baixa estirpe espiritual, que podem ser cascões astrais, algum tipo de egrégora ou mesmo um elemental que se diverte às custas das tolas crendices do ser humano. O cascão astral, que é um cadáver muito semelhante ao cadáver físico, continua com a forma do homem que o habitou. Ao contrário do físico, que logo se desagrega, este cascão, mesmo depois de abandonado, continua por algum tempo flutuando ao sabor das correntes astrais, demonstrando certa capacidade de vida elemental. Com o tempo, o cascão astral se desfaz em seus átomos. Todavia, enquanto isto não ocorre, pode vir a ocupar o corpo de um médium, em sessões espíritas, fazendo-se passar pelo morto. Pode ser ocupado por elementais ou outros seres astrais. Pode também ser usado por um Mago Negro para atingir seus objetivos. Por tudo isto, todo cuidado é pouco; a Grande Loja Negra não brinca em serviço! Os inocentes úteis são seus alvos preferenciais.

 

Fundo musical:

That's Life
Compositores: Dean Kay & Kelly Gordon
Intérprete: Frank Sinatra

Fonte:

http://www.pcdon.com/
FrankSinatra.html

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.padilla.adv.br/
mistico/passes/ivan/

http://www.cursosdemagia.com.br/
considerabiblia.htm

http://www.northpoleoftexas.com/
kimswebsite_006.htm

http://www.guia.heu.nom.br/
materializa%C3%A7%C3%A3o1.htm

http://www.sodahead.com/
user/profile/1932619/dick/