DEMÉTRIO MAGNOLI
(Pensamentos)

 

 

 

Demétrio Martinelli Magnoli

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo tem por finalidade apresentar para reflexão alguns pensamentos do jornalista, sociólogo brasileiro e doutor em geografia humana Demétrio Martinelli Magnoli (1958).

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Demétrio Martinelli Magnoli (1958) é um jornalista, doutor em geografia humana e sociólogo brasileiro. Jornalista pela Escola de Comunicação e Artes da USP, é comentarista de política internacional no Jornal das Dez, da Globo News. Faz também análises políticas em suas colunas nos periódicos O Globo e Folha de S. Paulo. Já foi colunista do jornal O Estado de São Paulo, da revista Época, e da Rádio BandNews FM, além de ter sido comentarista do Jornal da TV Cultura. Doutor em Geografia Humana pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (1996; tese: O Corpo da Pátria - Imaginário Geográfico e Política Externa no Brasil, 1808-1912), é integrante do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional do Instituto de Relações Internacionais da USP.

 

Na juventude, Demétrio Magnoli foi trotskista, militando na Liberdade e Luta (Libelu), uma facção do movimento estudantil ligada à Organização Socialista Internacionalista (OSI).

 

A partir de 1981, os militantes da Libelu se engajaram intensamente na formação do jovem Partido dos Trabalhadores, pois, a OSI via nele o surgimento de um partido operário de massas. Para legalizar o Partido, Demétrio ajudou a filiar um grande número de membros.

 

No entanto, em 1983, Demétrio rompeu com o Marxismo e abandonou a Libelu por crer que o movimento se aproximava do Stalinismo que tanto criticava. Segundo ele, o Marxismo oferece aos intelectuais a ilusão de que são donos de um saber maior: o do fim da história. Como conseqüência, essa ideologia justificaria o autoritarismo, dando aos intelectuais a função de dirigir a sociedade. Abandonou o PT em 1989, quando percebeu que o Partido se afastou de princípios filosóficos e morais que estavam em sua origem.

 

Hoje, Demétrio Magnoli se considera tão de esquerda quanto um socialdemocrata europeu. Ele justifica sua posição por crer que a liberdade econômica não é um valor absoluto, sagrado. Para Demétrio, o Estado deve criar redes de proteção social e prover serviços públicos de qualidade para a população. Ele faz, no entanto, uma distinção entre a esquerda européia, com a qual se identifica, e a esquerda latino-americana, que ele critica, identificando-a com o castrismo, o chavismo e o kirchnerismo. Segundo ele, a esquerda latino-americana notabiliza-se pelo viés nacionalista e pelo discurso antiestadunidense; seria autoritária e defenderia o Capitalismo de Estado.

 

Crítico do lulopetismo, Magnoli considera o Governo Petista conservador por estimular o Capitalismo de Estado e por se negar a fazer uma série de reformas que tornariam a representação mais efetiva e mais transparente. Segundo ele, o Governo PT é também restauracionista, porque quer restaurar o corporativismo varguista.

 

Na eleição presidencial no Brasil, em 2018, Magnoli declarou voto crítico a Fernando Haddad: a disputa não é entre dois extremistas simétricos. Hoje, só há um extremista. Derrotá-lo não é escolher o PT, mas, escolher a Democracia. Em setembro de 2019, aderiu ao Movimento Lula Livre, sustentando: não por ele ou pelo PT, mas, em defesa de um precioso bem público: o Estado de Direito.

 

 

 

Pensamentos Magnolianos

 

 

 

Demétrio Martinelli Magnoli

 

 

 

Você sabe o que é MAV? Inventada no 4º Congresso do PT, em 2011, a sigla significa Militância em Ambientes Virtuais. São núcleos de militantes treinados para operar na Internet, em publicações e redes sociais, segundo orientações partidárias. A ordem é fabricar correntes volumosas de opinião articuladas em torno dos assuntos do momento. Um centro político define pautas, escolhe alvos e escreve uma coleção de frases básicas. Os militantes as difundem, com variações pequenas, multiplicando suas vozes pela produção em massa de pseudônimos.

 

Evidentemente, ninguém imagina que basta todos vestirem branco e se dar as mãos para que a paz universal envolva pessoas e animais, montanhas e oceanos. A paz é, muitas vezes, resultado de acordos diplomáticos entre líderes.

 

Os direitos civis e políticos são direitos individuais associados à ordem da Democracia Representativa. [A Rhea americana também está incluída nisto, como essa aí embaixo, que não quer Cloroquina de jeito maneira!]

 

 

No Palácio da Alvorada, o Il.mo Sr. Presidente Bolsonaro
correndo atrás de uma ema com uma caixa de Cloroquina.

 

 

O Povão e a Rhea americana

 

 

A Democracia Representativa ancora-se no princípio da soberania popular, que é exercida por meio da delegação de poder, em eleições gerais. O sistema político-partidário brasileiro desmoraliza a representação para assegurar privilégios especiais a uma elite política de natureza patrimonialista.

 

Ações afirmativas e o movimento negro resultam de uma armação ideológica (o multiculturalismo), que conspira contra o princípio da igualdade perante a lei.

 

No Brasil, a fronteira racial não existe na consciência das pessoas.

 

O discurso científico sucumbe no pântano da fraude quando é rebaixado ao estatuto de ferramenta política de ocasião.

 

Uma regra inviolável do discurso científico, explicou Karl Popper, é a exigência de consistência interna. Um discurso só tem estatuto científico se estiver aberto a argumentos racionais contrários.

 

Cada vez que um ministro israelense fala em reduzir os direitos dos árabes na Cisjordânia ajuda aqueles que acusam o País de apartheid. A sistemática negativa do Governo de Israel em negociar com os palestinos é a maior ameaça à segurança do País.

 

Os ocidentalistas não se preocupam com a consistência argumentativa, quando ficam calados ante o atentado no mercado kosher, comprovando que para os jihadistas não interessa o que você faz, mas, o que você é. Os ocidentalistas são parasitas intelectuais das correntes minoritárias de intolerância, xenofobia e islamofobia do Ocidente.

 

O Brasil não é a Venezuela. Por aqui, o Estado de Direito é definido pelo Judiciário, não pelo Instituto Lula, o PT ou mesmo o Planalto.

 

O PT é a esquerda Odebrecht.

 

A alma autoritária do chavismo revela-se pela qualificação de "vende-pátria" dirigida aos oposicionistas.

 

Um dia, eu fui trotskista, e, um dia, eu rompi com o Trotskismo e com o Marxismo, por imaginar ou por chegar à conclusão de que o Marxismo se acredita dono do futuro. E a crença de que você tem a chave da história, de que você sabe o que vai acontecer e o que deve acontecer no futuro é uma crença fundamentalmente totalitária. Porque, se você sabe e os outros não, para onde se dirige a Humanidade, então, você tem a justificativa pra calar os outros.

 

 

 

 

A esquerda enxerga a escola pelos óculos do sindicalismo (remunerar professores), enquanto a direita a vê pelos olhos do mercado (fornecer mão-de-obra).

 

A nova ordem mundial que está se configurando se distingue tanto daquela que existia na Guerra Fria, de um conflito bipolar- EUA- URSS como daquela que parecia que se configuraria no fim da Guerra Fria, na qual nós teríamos uma única hiperpotência exercendo um papel de nova Roma. Um Império Global. Não foi isso o que aconteceu. O que nós temos é que apesar do papel dos EUA, temos uma ordem cada vez mais pluripolar. Esta ordem se baseia em dois eixos de conflito e cooperação. Um eixo de conflito e cooperação entre os EUA e a China - grande potência mundial emergente - e outro eixo entre a União Européia e a Rússia. No caso, a crise da Ucrânia deixa bem claro este atrito na área da Eurásia. Seria mais adequado ver como pluripolar e que, apesar da pluripolaridade, continua a ter nos EUA um ator principal.

 

O Brasil figura como potência regional. A gente pode identificar uma hiperpotência, os EUA. Algumas potências mundiais – a União Européia, a China, a Rússia e o Japão – e uma série de potências regionais – a Índia, o Brasil, o México. O Brasil é a grande potência regional da América do Sul. Hoje, o Brasil se encontra diante de uma série de encruzilhadas na sua política externa. E me parece que a encruzilhada mais importante é saber se o Brasil vai querer liderar um bloco que se fecha numa fortaleza sul-americana – num novo Mercosul, definido pela triangulação Brasil-Argentina-Venezuela, bloco fechado às grandes correntes de comércio do mundo, ou se o Brasil vai se abrir a novos desenvolvimentos que ocorrem na América do Sul, principalmente a formação da Aliança do Pacífico, e se ligar às correntes de intercâmbio mundiais. Parece-me que esta é uma grande encruzilhada. E o próximo Governo vai definir o caminho do Brasil nesta direção.

 

O Brasil quer fazer parte do Conselho de Segurança da ONU, o que é uma ambição razoável, mas, a sua política externa atual conspira contra esta ambição. E conspira contra porque o Brasil não tem defendido, no plano internacional, os valores democráticos que estão escritos na sua Constituição. Tem defendido ditaduras, tiranias e tem adotado posição ideologicamente antiamericana, que acaba sabotando a nossa própria política externa. Então, o Brasil condena corretamente os bombardeios de Israel em Gaza, mas, não condena os atentados do Hamas contra civis. O Brasil critica a ação internacional contra os terroristas do Estado Islâmico, o que é incompreensível, falando da soberania do território da Síria, mas, não se pronunciou sobre a soberania do território da Ucrânia, atingida por invasão indireta da Rússia. Então, o antiamericanismo, às vezes muito mais retórico do que real, acaba tendo conseqüências danosas para esta nossa ambição de ter um papel mais relevante no plano político internacional.

 

É possível fazer distinção entre esquerda e direita com facilidade no Bras. Esquerda é aquela corrente política que vê na busca da igualdade social um valor central. A direita democrática é aquela que vê na conservação da diferenças um valor central. Existe, portanto, uma diferença entre direita e esquerda. Eu fui um militante de esquerda na juventude, mas, um militante trotskista, ou seja, não tem nada a ver com a esquerda castrista que gosta de Cuba, que elogia a antiga URSS, que hoje é tão comum no PT. Nunca participei deste tipo de discurso. Mas, acho que quando se faz este debate entre esquerda e direita no Brasil, e na América Latina, é preciso distinguir a esquerda latino-americana da esquerda européia. A esquerda européia é aquela que aprendeu com uma grande tragédia que foi a URSS e o Socialismo real. E, portanto, aprendeu o valor da liberdade política. A esquerda latino-americana, mais ou menos, passou ao largo desta experiência histórica trágica. E continua até hoje a rezar no altar da revolução cubana. Cuba, o farol da esquerda latino-americana. É diferente da esquerda socialista européia, da socialdemocracia dos partidos europeus. Eu gosto dos sociais-democratas europeus, me considero de esquerda, mas, não da latino-americana. Ela é chavista, kirchnerista. E ela produz resultados ruins do ponto de vista da liberdade política, e ainda piores no ponto de vista do desenvolvimento econômico.

 

No Brasil, [em passado recente], tivemos dez anos de crescimento econômico relativamente alto para os padrões brasileiro, sem que o Estado criasse bens públicos adequados a um país de renda média. O Governo estimulou o consumo de bens privados. Consumimos celulares, TV de tela plana, eletroeletrônicos e eletrodomésticos, carros como nunca, mas, nossa escola pública continuou arruinada, nosso sistema de saúde pública devastado, pior do que era. A segurança pública piorou. Todo o transporte público ficou muito ruim e o Governo insistiu em produzir crescimento baseado em crédito e consumo. Este crescimento se esgotou. A recessão revelou este esgotamento. Como esta recessão ainda não bateu com toda força no emprego e na renda, o Governo tem até uma chance de conseguir a reeleição, mas, o modelo que ele criou está completamente esgotado. Faz parte deste modelo, a idéia de cotas, a idéia de bolsas. Como você disse, soluções imediatas e individuais para problemas crônicos que permanecem. E só podem ser resolvidos se você toca nas causas. E quais são? A não produção de bens públicos – escolas, hospitais, segurança e transporte.

 

 

 

 

O tema do terror global, que já era uma preocupação séria num círculo restrito de estadistas e analistas das relações internacionais, tornou-se algo central na agenda mundial. Nos EUA, soldou-se a estranha aliança entre neoconservadores e cristãos fundamentalistas, que alicerçou os dois mandatos de George W. Bush. O País se engajou em uma "guerra ao terror" que, lamentavelmente, incorporava a noção do "choque de civilizações" de Bernard Lewis, arranhando os valores do Ocidente no mundo árabe-muçulmano. Bush usou a "guerra ao terror" como pretexto para a invasão do Iraque, concebida como elemento de uma estratégia de reordenamento geopolítico do Oriente Médio. O fracasso desta estratégia e o desastre econômico também provocado pelas políticas de seu Governo criaram as condições para o declínio da liderança americana.

 

Os EUA não são - e nunca foram - um "império". A influência mundial americana entrou realmente em declínio, mas, não devido aos atentados de 11/9. O declínio, que se assiste nitidamente hoje, decorreu das opções de política externa e de política econômica do Governo Bush.

 

Na tradição européia, a guerra não é um desvio patológico, e sim uma etapa do fluxo incessante das relações internacionais. Essa visão, realista e cínica, forjada na geografia das rivalidades dinásticas e das disputas por territórios, não exclui o horror diante do sofrimento. Mas, ela opera na moldura filosófica construída por Maquiavel, que separa a moral política da moral comum. Guerra é história. Guerra é cultura.

 

Os paradigmas da guerra contemporânea são: o choque direto, a batalha campal e a aniquilação física do inimigo. Mas, isto não significa, porém, que a guerra possa se reduzir a uma súbita explosão de violência ofensiva. Justamente por envolver vastos recursos econômicos, humanos e militares, a guerra é um jogo constituído por sucessões de batalhas, em tempos e teatros diferentes. Sua estratégia requer a utilização da ofensiva, da defensiva e da contra-ofensiva. A balança dos chefes militares pesa
probabilidades e calcula o ritmo e a intensidade do dispêndio de recursos. A eventual aniquilação do inimigo é o ato final de um empreendimento complexo, inscrito na esfera da política.

 

A guerra é um fenômeno total, uma expressão condensada das formas de pensar, produzir e consumir das sociedades, o espelho de um tempo e um lugar.

 

A história das guerras é uma história de alteridades. Cada guerra é um fenômeno único, singular, irredutível. Os gregos guerreavam em nome da virtude. Os “bárbaros” germânicos e os cavaleiros das estepes asiáticas, em nome do saque. Os cruzados lutaram na Terra Santa por Deus e pela Igreja. Os franceses e os protestantes alemães combateram o império Habsburgo portando o estandarte da soberania secular. Napoleão Bonaparte marchou sob a bandeira do império. A glória nacional animou o exército prussiano de Bismarck. O “Reich de mil anos”, a Wehrmacht de Hitler. Os vietnamitas enfrentaram a França e os Estados Unidos para conseguir a independência e a soberania. Árabes e israelenses bateram-se por fragmentos de território.

 

A história das guerras é, sobretudo, a história do gênio humano aplicado à destruição. Seja como for, não somos muito diferentes dos gregos de 25 séculos atrás.

 

O terrorismo é um fenômeno moderno, essencialmente midiático. As origens do terror se encontram em movimentos políticos do século XIX que, muito minoritários, procuravam influenciar a opinião pública por meio de ações exemplares de grande impacto. Não há, portanto, novidade nessa relação entre terror, mídia e opinião pública. Obviamente, devido às suas feições, os atentados do 11/9 representaram um ápice dessa "estratégia midiática" do terror.

 

A eleição de Barack Obama foi, em certa medida, uma mensagem americana para o mundo. Eles estavam dizendo: nossa nação não é idêntica ao Governo Bush.

 

As notícias não existem como objetos prontos no mundo: são elaboradas a partir de eventos e interpretações. [Às vezes, os eventos nunca aconteceram e as interpretações são furadas e maldosas. Assim nascem as fake news.]

 

 

 

 

As nações mudam, e mesmo os princípios mais sagrados estão sujeitos ao inclemente desgaste causado pela traição continuada.

 

Guantánamo é a síntese da barbárie judicial engendrada pela “guerra ao terror”. Concluídas as investigações, nenhuma acusação pesa sobre 86 dos detentos. Muitos deles deveriam ter sido soltos há anos, mas, permanecem encarcerados, pois, sob alegações de “segurança nacional, o Congresso proibiu tanto sua liberação em solo americano quanto o repatriamento para os países de origem. Os demais, por decisão parlamentar, não podem ser processados por tribunais civis, mas, também não são julgados pelas “comissões militares” inventadas nos tempos de Rumsfeld [Donald Henry Rumsfeld (Evanston, 9 de julho de 1932) é um político aposentado americano, tendo servido como Secretário de Defesa dos Estados Unidos de 1975 a 1977, no Governo do Presidente Gerald Ford, e, novamente, de janeiro de 2001 até dezembro de 2006 no Governo de George W. Bush], cujos trabalhos foram interrompidos quando seus procedimentos se revelaram insanavelmente ilegais. A greve de fome dos prisioneiros esquecidos, essas relíquias humanas dos anos de fúria, representa, objetivamente, um gesto de defesa das liberdades individuais e do império da lei.

 

Terroristas sempre terão pretextos para explodir pessoas inocentes. No limite, o vocabulário dos extremistas não exige mais do que palavras como “imperialismo”, “capitalismo” ou “judeus”.

 

As imagens dos detentos de Guantánamo, essas provas emaciadas de um poder que não reconhece o limite da lei, são uma “ferramenta de recrutamento” mais eficiente do que qualquer discurso produzido na fábrica de ódio do jihadismo.

 

Guantánamo fere a luta pelos direitos humanos e pelas liberdades civis no mundo inteiro.

 

O mito da bomba-relógio que faz tique-taque é o argumento clássico dos advogados da tortura. A resposta a essa malta de arautos da violação dos direitos humanos deveria ser clara e direta: muito pior do que a ameaça hipotética de violência representada por esses indivíduos singulares é a desmoralização dos pilares filosóficos que sustentam as liberdades e os direitos.

 

 

 

 

 

Tortura

 

 

A essência humana é a mesma no mundo inteiro em todos os tempos — existe uma Humanidade Universal. Essa Humanidade Universal é detentora de um conjunto de direitos que têm de ser representados pelos poderes políticos e respeitados pelos Estados.

 

O humanismo com vista para o mar é tão nocivo quanto o negacionismo que nasce do desprezo pela ciência.

 

Economia de emergência nacional, no lugar de economia de mercado, significa: 1º) garantir o salário-mínimo aos trabalhadores informais; 2º) proibir legalmente demissões durante a emergência, que perdurará além do isolamento; e 3º) assegurar a sobrevivência dos pequenos e médios negócios fechados compulsoriamente por meio de empréstimos garantidos pelo Tesouro, de longo prazo e a juros negativos.

 

O Governo não inventa dinheiro. O estouro da dívida pública será pago com inflação ou com austeridade extrema, isto é, pelos pobres. A alternativa encontra-se num imposto emergencial sobre grandes fortunas, bancos e elevados patrimônios financeiros, além da redução temporária de altos salários do funcionalismo público. Humanismo, ok, mas, sem vista para o mar.

 

Economia é vida. Pandemia põe a globalização sob ameaça.

 

Vírus mudam sem parar, mas, só prevalecem as mutações que aumentam suas oportunidades de reprodução. Normalmente, esta regra evolucionária reduz a letalidade, pois, matar o hospedeiro contribui negativamente na velocidade de transmissão. A regra, porém, parece não valer para o Novo Coronavírus [SARS-CoV-2], porque a fase de contágio intenso se dá nos dias iniciais da doença, quando a carga viral concentra-se na garganta. Assim, do ponto de vista do vírus, uma letalidade maior não traz desvantagens. Deste modo, explica-se o surgimento recente de variantes não só mais transmissíveis como, também, mais letais no Reino Unido, na África do Sul e no Brasil. As novas ondas pandêmicas resultam, ao menos em parte, da trajetória evolutiva de um vírus que se espalhou por toda a Humanidade, expandindo suas oportunidades de mutação. Mas, no fim das contas, tudo depende de uma escolha política crucial de Joe Biden. Se os EUA se fecharem no nacionalismo vacinal, perderão sua vantagem potencial. Se, pelo contrário, liderarem o esforço de vacinação dos países em desenvolvimento, virarão o jogo.

 

 

 

 

Engana-se quem interpretou a militarização do núcleo político do Governo [Bolsonaro] como sinal de marginalização dos extremistas do bolsonaro-olavismo. Depois de recolher suas bravatas vazias contra a ditadura de Maduro, Jair Bolsonaro inspira-se no chavismo para ensaiar uma ruptura institucional. “O Povo e o Exército” – a fórmula chavista orienta os dois motins paralelos estimulados pelo presidente contra a Democracia. A estratégia avança à sombra do temor dos líderes parlamentares e dos comandantes militares, que se curvam diante do espectro disforme das redes sociais.

 

Celso de Mello foi ao ponto quando disse que Bolsonaro desconhece o valor da ordem constitucional e, portanto, não está à altura do cargo que exerce.

 

Santos Cruz tem razão ao alertar para o risco de confundir o Exército com assuntos temporários de Governo, partidos políticos e pessoas.

 

Uma certa miopia social pode ser mais produtiva politicamente do que um olho perfeitamente são. A frase, do ex-diretor da Capes Renato Janine Ribeiro, conclui uma comunicação acadêmica consagrada às políticas de identidades, ou seja, no caso do Brasil, especialmente às políticas de preferências raciais. O cerne do texto encontra-se na idéia de que uma estratégia política das diferenças (…) pode sustentar uma tática política da desigualdade, num sentido fortemente compensatório – isto é, de que para chegarmos à igualdade será preciso passarmos pela desigualdade.

 

As pessoas aprendem a odiar. O ódio racial é um substituto míope, mas, fácil, para a complexa nuança da reflexão política sobre nossas ruínas sociais.

 

 

Ruína Social

 

 

A frase direitos humanos só para humanos direitos nos conduz diretamente pra barbárie.

 

Não existe sociedade que viole os direitos dos seus tortos, dos seus criminosos, sem violar os direitos dos seus homens livres.

 

Os países que têm menos crimes são aqueles em que a polícia mais respeita os direitos humanos.

 

 

 

 

Uma das principais ameaças aos diretos humanos, na atualidade, é a reação nacionalista, que tem se espalhado pelo mundo A sociedade vive um recuo da Democracia em nível global, não porque ditaduras se instauram através de golpes militares, mas, porque surgem populistas autoritários que começam a destruir a Democracia por dentro em nome de utopias nacionalistas.

 

Hoje, [LAMENTAVELMENTE], a palavra Internet está cada vez mais associada à expressão “cultura do ódio”. Farhad Manjoo, jovem e respeitado colunista de tecnologia do “New York Times”, sustenta que a Internet está afrouxando nossa compreensão sobre a verdade. [Não é sobre verdade que a Internet está afrouxando a nossa compreensão, mas, sim, sobre a dignidade e sobre o que é ser digno.] John Naughton, de Cambridge, sugere que a rede tornou-se um Estado falido. Estados autoritários aproveitam-se do desencanto para legitimar a censura, enquanto financiam as 'fake news'. [Na verdade, tudo isto se resume à cultura. Quem não tem ou tem pouca cultura influencia quem tem pouca cultura ou não tem nenhuma. E o cordão dos imitadores cada vez aumenta mais!]

 

A negligência com a saúde pública [do Governo Bolsonaro] deve ser qualificada como crime de responsabilidade.

 

Os conceitos de esquerda e direita não estão ultrapassados, desde que sejam compreendidos no marco da Democracia. No sistema democrático, há uma tensão permanente entre liberdade e igualdade. A primeira está associada à direita democrática, para a qual existe um conjunto indissociável de liberdades: a de expressão e organização, a econômica e a de pluralidade de opiniões. Já o conceito de igualdade está associado à esquerda democrática, que defende a necessidade de restringir um pouco a liberdade econômica para que as desigualdades não cresçam muito. As Democracias maduras oscilam entre a direita e a esquerda, em busca ora de mais liberdade, ora de mais igualdade. Esta é a história das eleições na Europa e nos Estados Unidos no último meio século. Acredito que a História do Brasil também será essa. Trata-se de algo muito diferente dos conceitos de esquerda e direita não-democráticas, estes, sim, ultrapassados.

 

A palavra “direita” esteve associada no século XX ao Fascismo e ao Nazismo. Tais regimes foram condenados de maneira absoluta pela população mundial. Em países da América Latina, em particular, a direita foi ligada a regimes militares. Por isto, no Brasil, a expressão “direita” ainda é usada, embora cada vez com menor freqüência, como sinônimo de tudo o que deve ser rejeitado. Já o termo “esquerda” costuma ser relacionado a uma idéia de transformação humanista do mundo, imaginada a partir da Revolução Francesa [período compreendido entre 1789 e 1799 de intensa agitação política e social na França, que teve um impacto duradouro na história do país e, mais amplamente, em todo o continente europeu] e das lutas sociais do século XIX. Muita gente esquece que elas, em sua origem, deceparam milhares de cabeças por meio da guilhotina. Assim como esquece a brutalidade do stalinismo e do maoísmo, no século XX.

 

O preconceito contra a direita tende a diminuir, e isto acontece quando um país experimenta a esquerda no poder, como é o caso do Brasil, hoje. Nos países de Democracia madura, o argumento “isso é de direita” não serve para encerrar uma discussão. Não gosto do Governo Lula, mas, ele está sendo bom para o nosso amadurecimento político. O PT no poder revelou a esquerda que faz o mensalão, persegue o caseiro, tenta controlar os meios estatais para os seus próprios fins e confunde Estado com Governo e Partido. Com o tempo, os brasileiros irão se convencer de que os partidos de direita e de esquerda devem existir dentro de um mesmo espectro político, desde que aceitem a Democracia. Esta mudança de percepção pode ser verificada nas últimas eleições municipais. A classe média de São Paulo, que no passado votou em massa em candidatos do PT, agora elegeu Gilberto Kassab, e não o vê como um candidato da velha direita – apesar de pertencer ao DEM, o antigo PFL. Os eleitores não compraram a idéia de que as eleições eram a luta do bem contra o mal, como a campanha do PT tentou vender. O PT se imbuiu, nessas eleições, da missão de eliminar o DEM. A idéia de eliminar um Partido, de centro-direita ou não, é antidemocrática. O que o discurso do PT revela é o desejo de ser Partido único. Resultado: a classe média que acreditou no PT agora desconfia de sua natureza democrática.

 

A corrupção é um fenômeno muito antigo na História do Brasil e completamente suprapartidário. O que espantou muita gente foi o estilo PT de corromper – e que, claro, tem a ver com a sua visão de mundo. O Partido apresentou um modo centralizado de praticar a corrupção. Ao contrário da prática tradicional, feita em nome de interesses localizados, o PT deliberou e organizou a corrupção a partir da sua cúpula. Isto provocou uma ruptura muito grande entre o Partido e boa parte do seu eleitorado tradicional, principalmente nas grandes cidades.

 

A queda do Muro de Berlim fez muito mal ao PT. O fracasso da União Soviética e de seus satélites no Leste Europeu tirou de cena o foco da crítica petista, que em sua origem repudiava o chamado Socialismo real. A partir daí, o Partido tomou um rumo regressivo e foi dominado por três grupos. O primeiro é a corrente de origem castrista, representada, entre outros, por José Dirceu. O segundo é o dos sindicalistas, notadamente os que controlam a CUT. O terceiro é formado pelas correntes católicas ligadas à Teologia da Libertação, cujo principal representante é Frei Betto, que foi um alto assessor de Lula. Com isto, o PT adotou uma ideologia retrógrada do Estado como salvador da sociedade. Deixou de fazer qualquer crítica ao Socialismo real – a não ser em dias de festa, em documentos para inglês ver – e passou a falar como um velho partido comunista de outros tempos. O PT se tornou uma agremiação de esquerda estatizante, para a qual a história é uma ferrovia cujo destino final é a redenção da Humanidade – e que vê a si própria como a locomotiva do comboio. Este é o conceito de história que deveria ter desaparecido depois de 1989, com a queda do Muro de Berlim. Ao encampá-lo, o PT se tornou uma espécie de relíquia.

 

Há bastante crítica à esquerda tradicional e stalinista nas universidades. Mas, sem dúvida, é fato que existe um apoio grande a esta ideologia no meio acadêmico. O filósofo francês Raymond Aron (1905 - 1983) disse que o Marxismo é o ópio dos intelectuais. Isto porque o Marxismo lhes oferece a ilusão de que são donos de um saber maior: o do fim da história. Como conseqüência, os intelectuais teriam a função de dirigir a sociedade. É natural que uma ideologia assim os seduza. Afinal de contas, dá a eles uma perspectiva de poder, influência e prestígio que o simples compromisso com a Democracia não permite.

 

A falta do espelho do Socialismo real na União Soviética e no Leste Europeu faz com que a esquerda latino-americana se entusiasme com governantes como Hugo Chávez. A esquerda latino-americana ainda imagina que deve construir o mundo de novo. Chávez, da Venezuela, Evo Morales, da Bolívia, Rafael Correa, do Equador, e Lula são muito diferentes entre si. Mas, o que há em comum entre os Partidos e os movimentos que apóiam esses governantes é a noção do Estado como instrumento de salvação. Esta é uma idéia fundamentalmente antidemocrática. Não há nada parecido com isto fora da América Latina.

 

 

Juan Evo Morales Ayma

 

 

Não é verdade que o PT como um todo siga Chávez, mas, existem no seu interior correntes que o fazem. O chavismo exerce forte sedução sobre a sua Secretaria de Relações Internacionais. Acho triste que a direção nacional do Partido tenha chegado ao ponto de soltar uma nota oficial em apoio ao fechamento, por motivos políticos, do canal venezuelano RCTV. Esta nota não foi contestada pelos parlamentares do PT, de quem se esperaria uma palavra em defesa da Democracia, como Eduardo Suplicy e José Eduardo Cardozo.

 

A política externa brasileira tem duas cabeças. A oficial, que segue a linha histórica do Itamaraty, e a extra-oficial, que é a política externa do PT, representada por Marco Aurélio Garcia, assessor de Lula, que boicota a diplomacia tradicional. Garcia acha que a integração latino-americana deve ser feita em bases nacionalistas e antiamericanas, quase chavistas. Ele recusa que a América do Sul deva participar da globalização – o que significa recusar a realidade. Por isto, o Brasil deixou de falar duro com Evo Morales diante do aparatoso cerco militar às instalações da Petrobras, das intimidações contra agricultores brasileiros na Bolívia e da ruptura unilateral de contratos que estabeleciam o valor das refinarias. Logo, logo vamos ter uma crise no Paraguai. Temo que o Governo Lula faça pouco para defender os agricultores brasileiros naquele país.

 

Os cachorros latem, as pessoas batem panela, porque existe uma indignação de todo mundo. Não é uma indignação de direita, de esquerda ou de centro. As pessoas estão morrendo porque falta uma coisa simples e básica, que são cilindros de oxigênio em uma das grandes metrópoles do Brasil que é Manaus.

 

O que teria sido o Brasil se o PSDB e o PT tivessem optado pela aliança, no lugar da letal rivalidade? Opção não é o termo apropriado. A rivalidade é fruto de escolhas anteriores dos dois principais Partidos que nasceram na transição à Democracia. Na sua complexa trajetória ideológica, o PT roçou a socialdemocracia para, imediatamente, trocá-la pela tradição populista da esquerda latino-americana. O PSDB, por sua vez, afastou-se da socialdemocracia para conduzir as reformas liberais de estabilização da Economia e, depois daquela etapa heróica, dissolveu seus ensaios programáticos na mera pregação da ortodoxia econômica e num defensivo antipetismo. Uma muralha separou FHC de Lula. O resultado foram as alianças sucessivas do PSDB e do PT com o PMDB — e o colapso do sistema político da Nova República.

 

O traço marcante do cenário brasileiro é a fadiga do centro político: Lula e Bolsonaro emergem como relevos notáveis na planície desolada. As escolhas do PSDB e do PT têm forte responsabilidade pela desolação.

 

O Socialismo democrático emana da herança socialdemocrata, mas, distingue-se pela sua abordagem do tema da igualdade. Na socialdemocracia tardia, o “bem público” tornou-se quase indistinguível dos interesses corporativos: a inflexível regra trabalhista, a aposentadoria precoce, os subsídios aos “campeões nacionais”, os privilégios das castas superiores do funcionalismo. O Socialismo Democrático, em contraste, sublinha o valor dos direitos sociais universais e dos serviços públicos: o hospital, a escola, o metrô, a água limpa, o teatro, a biblioteca, a praça e o parque.

 

A Democracia constitui um sistema político avesso à utopia porque, por definição, rejeita atribuir estatuto de verdade incontestável a qualquer conjunto de premissas ideológicas. Os intelectuais utópicos têm um lugar na Democracia – o de instigadores do debate público. Mas, o sistema democrático de convivência de idéias contraditórias se estiola quando eles são alçados à posição de sábios oficiais e suas utopias são convertidas em verdades estatais.

 

A corrupção, no Brasil, perdeu o glamour, com a chegada do baixo clero ao poder.

 

O debate político não deve impedir as pessoas de se tratar decentemente, mas, a atividade intelectual pressupõe o exercício da crítica. Intelectuais que elogiam Governos têm algum problema. Provavelmente querem um emprego.

 

Minha visão de mundo não é a mesma de vinte anos atrás nem, menos ainda, a de trinta anos atrás. Na faculdade, nos tempos da ditadura militar, eu participei de uma organização trotskista, a Liberdade e Luta (Libelu), cujo verdadeiro nome era Organização Socialista Internacionalista. Quando escrevi meus primeiros livros, no entanto, já havia rompido com a organização, e não me via mais como alguém de esquerda ou comunista. Meu primeiro livro didático, de 1989, era detestado pela esquerda. Talvez, os pais desse colégio estivessem um pouco assustados com fantasmas do passado.

 

Às vezes, as Democracias morrem de uma enfermidade chamada medo.

 

 

 

 

 

 

Música de fundo:

Guantanamera
Composição: José Martí (letra) & Joseíto Fernandez (música)
Interpretação: Jose Maria Paniagua

Fonte:

https://www.youtube.com/watch?v=MlbHfApI44k

 

Páginas da Internet consultadas:

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https://www.pensador.com/autor/demetrio_magnoli/

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https://pt.wikipedia.org/wiki/Demétrio_Magnoli

https://pt.wikiquote.org/wiki/Demétrio_Magnoli

 

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