A
riqueza daquelas sociedades em que o modo de produção capitalista
prevalece se apresenta como uma imensa acumulação de mercadorias.
Enquanto
o avarento é apenas um capitalista enlouquecido, o capitalista é
um avarento racional.
Quanto
menos comes, bebes, compras livros, vais ao teatro e ao café, pensas,
amas, teorizas, cantas, sofres, praticas desporto etc., mais economizas
e mais cresce o teu capital. «És» menos, mas «tens»
mais. Assim todas as paixões e atividades são tragadas pela
cobiça.
A
mercadoria é, antes de tudo, um objeto externo, uma coisa que, por
suas propriedades, satisfaz necessidades humanas, seja qual for a natureza
ou a origem delas, provenham do estômago ou da fantasia.
Sem
sombra de dúvida, a vontade do capitalista consiste em encher os
bolsos, o mais que possa. E o que temos a fazer não é divagar
acerca da sua vontade, mas investigar o seu poder, os limites deste poder
e o caráter destes limites.
O
Capitalismo gera o seu próprio coveiro.
A
escravatura e a servidão têm existido em conformidade com a
índole da produção e têm desaparecido quando
o grau de desenvolvimento desta torna mais útil o trabalho do homem
livre que a do escravo ou do servo; a justiça e a fraternidade não
intervieram em nada nesta desaparição. Qualquer que seja o
valor subjetivo da moral, do progresso e de outros grandes princípios
do pensamento, esta bela fraseologia não influi em nada nas flutuações
das sociedades humanas; por si só é impotente para efetuar
a menor mudança. As evoluções sociais determinam outras
considerações menos sentimentais. As suas causas se encontram
na estrutura econômica e no modo de produção e de troca,
que presidem a distribuição das riquezas, e, por conseguinte,
a formação das classes e das hierarquias. Quando as evoluções
se efetuam, não é porque obedeçam a um ideal elevado
de justiça, mas, sim, porque se ajustam à ordem econômica
do momento.
De
várias maneiras, os filósofos têm apenas interpretado
o mundo. O ponto fulcral, no entanto, é mudar isto.
A
acumulação da riqueza, por um lado, significa acumulação
igual de pobreza, de sofrimento, de ignorância, de embrutecimento,
de degradação física e moral e de escravidão;
por outro, ou seja, do lado da classe que produz o próprio capital,
significa o trabalhador.
O
homem deve duvidar de tudo.
Capital
e trabalho apresentam um movimento constituído de três momentos
fundamentais: primeiro, a unidade imediata e mediata de ambos; segundo,
a oposição de ambos; e terceiro, a oposição
de cada um contra si mesmo.
As
classes e as raças, fracas demais para absorver e dominar as novas
condições de vida e as novas tecnologias, infelizmente, acabam
cedendo.
A
alienação (ou estranhamento) é descrita por Marx sob
quatro aspectos: 1º) o trabalhador é estranho ao produto de
sua atividade, que pertence a outro; 2º) a alienação
do trabalhador, relativamente ao produto da sua atividade, surge, ao mesmo
tempo, vista do lado da atividade do trabalhador, como alienação
da atividade produtiva. Esta deixa de ser uma manifestação
essencial do homem, para ser um 'trabalho forçado', não-voluntário,
mas, determinado pela necessidade externa. Por isto, o trabalho deixa de
ser a satisfação de uma necessidade, mas, apenas, um meio
para satisfazer necessidades externas a ele; 3º) com a alienação
da atividade produtiva, o trabalhador aliena-se também do gênero
humano. A perversão, que separa as funções animais
do resto da atividade humana e faz delas a finalidade da vida, implica a
perda completa da humanidade; e 4º) a conseqüência imediata
desta alienação do trabalhador da vida genérica, da
humanidade, é a alienação do homem pelo homem. Em geral,
a proposição de que o homem se tornou estranho ao seu ser,
enquanto pertencente a um gênero, significa que um homem permaneceu
estranho a outro homem, e que, igualmente, cada um deles se tornou estranho
ao ser do homem.
Não
é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário,
é o seu ser social que lhe determina a consciência.
Até
os nossos dias, a História da Humanidade é a história
da luta de classes.
O
dinheiro é a essência alienada do trabalho e da existência
do homem; a essência domina-o e ele a adora.
Há
tantas coisas na vida mais importantes do que o dinheiro. Mas, custam tanto!
Se
o bicho-da-seda tecesse para ligar as duas pontas, continuando a ser uma
lagarta, seria o assalariado perfeito.
O
que distingue uma época econômica de outra é menos o
que se produziu do que a forma de o produzir.
A
propriedade privada tornou-nos tão estúpidos e tão
limitados, que um objeto só é nosso quando o possuímos.
Os
donos do Capital incentivarão a classe trabalhadora a adquirir, cada
vez mais, bens caros, casas e tecnologia, impulsionando-a, cada vez mais,
ao caro endividamento, até que sua dívida se torne insuportável
[impagável
e incobrável].
Na
manufatura e no artesanato, o trabalhador utiliza a ferramenta; na fábrica,
ele é um servo da máquina.
Horrorizai-vos
porque queremos abolir a propriedade privada. Mas, em vossa sociedade a
propriedade privada já está abolida para nove décimos
de seus membros.
O
povo que subjuga outro forja suas próprias cadeias.
As
idéias dominantes de uma época sempre foram as idéias
da classe dominante.
A
desvalorização do mundo humano aumenta em proporção
direta com a valorização do mundo das coisas.
As
únicas engrenagens acionadas pela Economia Política são
a avidez pelo dinheiro e a guerra entre aqueles que padecem disto –
a concorrência.
Para
o capitalista, a aplicação mais útil do Capital é
aquela que lhe rende, com igual segurança, o maior ganho. Esta aplicação
não é sempre a mais útil para a sociedade.
O
dinheiro é o alcoviteiro entre a necessidade e o objeto, entre a
vida e o meio de vida do homem. Mas, o que medeia a minha vida para mim,
medeia-me também a existência de outro homem para mim. Isto
para mim é o outro homem…
O
que é para mim pelo dinheiro, o que eu posso pagar, isto é,
o que o dinheiro pode comprar, isto sou eu, o possuidor do próprio
dinheiro. Tão grande quanto a força do dinheiro é a
minha força. As qualidades do dinheiro são minhas –
seu possuidor – qualidades e forças essenciais. O que eu sou
e consigo não é determinado de modo algum, portanto, pela
minha individualidade.
Se
o dinheiro é o vínculo que me liga à vida humana, que
liga à sociedade a mim, que me liga à Natureza e ao homem,
não é o dinheiro o vínculo que me liga a todos os vínculos?
O
que eu, como homem, não consigo, o que, portanto, todas as minhas
forças essenciais individuais não conseguem, consigo-o eu
por intermédio do dinheiro. O dinheiro faz assim de cada uma destas
forças essenciais algo que, em si, ela não é, ou seja,
o seu contrário.
A
acumulação de Capital por via da dívida
pública não significa senão o desenvolvimento de uma
classe de credores do Estado que são autorizados a cobrar para si
próprios uma parte do montante dos impostos. Estes fatos demonstram
que uma acumulação de dívidas passa a ser uma acumulação
de Capital.
O
valor-de-troca surge, antes de tudo, como a relação quantitativa,
a proporção em que valores-de-uso de espécie diferente
se trocam entre si, relação que varia constantemente com o
tempo e o lugar. O valor-de-troca parece, portanto, qualquer coisa de arbitrário
e de puramente relativo; um valor-de-troca intrínseco, imanente à
mercadoria, parece ser, como diz a escola, uma 'contradictio in adjecto'
[uma contradição
em si].
Se
abstrairmos do valor-de-uso das mercadorias, resta-lhes uma única
qualidade: a de serem produto do trabalho.
O
tempo socialmente necessário à produção das
mercadorias é o tempo exigido pelo trabalho executado com um grau
médio de habilidade e de intensidade e em condições
normais, relativamente ao meio social dado. Depois da introdução
do tear a vapor na Inglaterra, passou a ser necessário, talvez, apenas,
metade de trabalho que anteriormente era necessário para transformar
em tecido uma certa quantidade de fio. O tecelão manual inglês,
este continuou a precisar do mesmo tempo que antes para executar esta transformação;
mas, a partir deste momento, o produto da sua hora de trabalho individual
passou a representar apenas metade de uma hora social, não criando
mais do que metade do valor anterior.
Substância
do Valor: o Trabalho.
Medida
da Grandeza do Valor: o Trabalho.
De
cada um, de acordo com suas habilidades; a cada um, de acordo com suas necessidades.
Em
uma certa etapa do seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais
da sociedade entram em contradição com as relações
de produção existentes ou, o que é apenas uma expressão
jurídica delas, com as relações de propriedade no seio
das quais se tinham até aí movido. De formas de desenvolvimento
das forças produtivas, estas relações se transformam
em grilhões das mesmas. Ocorre então uma época de revolução
social.
A
produtividade do trabalho é determinada pelas mais diversas circunstâncias,
dentre elas a destreza média dos trabalhadores, o grau de desenvolvimento
da ciência e sua aplicação tecnológica, a organização
social do processo de produção, o volume e a eficácia
dos meios de produção e as condições naturais.
Antes
de surgir um alfaiate, pressionado pela necessidade de se vestir, o ser
humano costurou durante milênios.1
Se
prescindirmos do valor-de-uso da mercadoria, só lhe resta uma propriedade:
a de ser produto do trabalho. Mas, então, o produto do trabalho já
terá passado por uma transmutação. Pondo de lado seu
valor-de-uso, abstraímos, também, das formas e elementos materiais
que fazem dele um valor-de-uso. Ele não é mais mesa, casa,
fio ou qualquer outra coisa útil. Sumiram todas as suas qualidades
materiais. Também não é mais o produto do trabalho
do marceneiro, do pedreiro, do fiandeiro ou de qualquer outra forma de trabalho
produtivo. Ao desaparecer o caráter útil dos produtos do trabalho,
também desaparece o caráter útil dos trabalhos neles
corporificados; desvanecem-se, portanto, as diferentes formas de trabalho
concreto, elas não mais se distinguem umas das outras, mas reduzem-se,
todas, a uma única espécie de trabalho, o trabalho humano
abstrato.
40
metros de linho valem o quê? Dois casacos. Desempenhando o casaco,
no caso, o papel de equivalente, sendo o valor-de-uso casaco o corpo do
valor de linho, basta determinada quantidade de casacos para expressar determinada
quantidade de valor de linho. Dois casacos podem por isto, expressar a magnitude
do valor de 40 metros de linho, mas nunca a magnitude do próprio
valor, a magnitude do valor dos dois casacos.
O
valor de uma mercadoria só adquire expressão geral porque
todas as outras mercadorias exprimem seu valor através do mesmo equivalente,
e toda nova espécie de mercadoria tem de fazer o mesmo. Evidencia-se,
deste modo, que a realidade do valor das mercadorias só pode ser
expressa pela totalidade de suas relações sociais, pois esta
realidade nada mais é do que a 'existência social' delas, tendo
a forma do valor, portanto, de possuir validade social reconhecida.
O
reflexo religioso do mundo real só poderá
desaparecer quando as condições práticas das atividades
cotidianas do homem representarem, normalmente, relações racionais
claras2
entre os homens e entre estes e a Natureza.
O
valor não traz escrito na fronte o que ele é.
Longe disso, o valor transforma cada produto do trabalho em um hieróglifo
social. Mais tarde, os homens procuram decifrar o significado do hieróglifo,
descobrir o segredo de sua própria criação social,
pois a conversão dos objetos úteis em valores é, como
a linguagem, um produto social dos homens.
Há
uma relação física entre coisas físicas. Mas
a forma mercadoria e a relação de valor entre os produtos
do trabalho, a qual caracteriza essa forma, nada têm a ver com a natureza
física destes produtos nem com as relações materiais
dela decorrentes. Uma relação social definida, estabelecida
entre os homens, assume a forma fantasmagórica de uma relação
entre coisas. Para encontrar um símile, temos de recorrer à
região nebulosa da crença. Aí, os produtos do cérebro
humano parecem dotados de vida própria, figuras autônomas que
mantêm relações entre si e com os seres humanos. É
o que ocorre, no mundo das mercadorias, com os produtos da mão humana.
Chamo a isto de fetichismo, que está sempre grudado aos produtos
do trabalho, quando são gerados como mercadorias. É inseparável
da produção de mercadorias.
Ninguém pode vender sem que
alguém compre. Mas ninguém é obrigado a comprar imediatamente,
apenas porque algo está sendo vendido.3
O
tecelão de linho pode vender seu linho, porque o camponês vendeu
o trigo; o apologista do copo, sua bíblia, porque o tecelão
vendeu seu linho; o destilador, sua aguardente, porque outro vendeu a água
da vida eterna. E assim por diante.
Já
nos primórdios do desenvolvimento da circulação das
mercadorias, desenvolvem-se a necessidade e a paixão de reter o produto
da primeira metamorfose, a forma transfigurada da mercadoria – a crisálida
áurea.
Em
sua onipotência, o dinheiro é o intermediário entre
a necessidade e o objeto, entre a vida e o meio de vida do homem.
Sou feio, mas posso comprar para
mim a mais bela mulher. Portanto, não sou feio, pois o efeito da
fealdade e sua força repelente são anulados pelo dinheiro.
Eu sou – segundo minha individualidade – coxo, mas o dinheiro
me proporciona vinte e quatro pés; não sou, portanto, coxo.
Sou um ser humano mau, sem honra, sem escrúpulos, sem espírito,
mas o dinheiro é honrado e, portanto, também o seu possuidor.
O dinheiro é o bem supremo, logo, é bom também o seu
possuidor. O dinheiro me isenta do trabalho de ser desonesto, sou, portanto,
presumidamente honesto. Sou tedioso, mas o dinheiro é o espírito
real de todas as coisas, como poderia seu possuidor ser tedioso? Além
disto tudo, ele pode comprar para si as pessoas ricas de espírito,
e quem tem o poder sobre os ricos de espírito não é
ele mais rico de espírito do que o rico de espírito? Eu, que
por intermediário do dinheiro, consigo tudo o que o coração
humano deseja. Logo, não possuo, eu, todas as capacidades humanas?
Meu dinheiro não transforma, portanto, todas as minhas incapacidades
no seu contrário?4
O
dinheiro, como disse Shakespeare, é a divindade visível, mas
é também a prostituta universal, o proxeneta universal dos
homens e dos povos.
O que é para mim pelo dinheiro,
o que eu posso pagar, isto é, o que o dinheiro pode comprar, isso
sou eu, o possuidor do próprio dinheiro.
Quem
pode comprar a valentia é valente, ainda que seja covarde.
O
dinheiro – enquanto exterior, não oriundo do homem enquanto
homem nem da sociedade humana enquanto sociedade – meio e capacidade
universais, faz da representação efetividade e da efetividade
uma pura representação, transformando igualmente as forças
essenciais humanas efetivas e naturais em puras representações
abstratas e, por isto, em imperfeições e angustiantes fantasias,
assim como, por outro lado, transforma as efetivas imperfeições
e fantasias, as suas forças essenciais realmente impotentes que só
existem na imaginação do indivíduo, em forças
essenciais efetivas e efetiva capacidade.
Pressupondo
o homem enquanto homem e seu comportamento com e no mundo como humanizador,
tu só poderás trocar amor por amor, confiança por confiança
etc. Se tu quiseres fruir da arte, terás de ser uma pessoa artisticamente
cultivada. Se quiseres exercer influência sobre outros seres humanos,
tu terás de ser um ser humano que atue efetivamente sobre os outros
de modo estimulante e encorajador. Cada uma de tuas relações
com o homem e com a Natureza terá de ser uma exteriorização
determinada de tua vida individual efetiva correspondente ao objeto de tua
vontade. Se tu amares sem despertar amor recíproco, se mediante tua
exteriorização de vida como homem amante não te tornares
homem amado, então, teu amor será impotente e tudo será
uma infelicidade.
Na
verdade, o valor se torna o agente de um processo em que, através
do contínuo revezamento das formas dinheiro e mercadoria, modifica
sua própria magnitude como valor excedente, se afasta de si mesmo
como valor primitivo, e se expande a si mesmo.
Nunca se deve considerar o valor-de-uso
objetivo imediato do capitalista. Tampouco o lucro isolado, mas o interminável
processo de obter lucros. Este impulso de enriquecimento absoluto, esta
caça apaixonada ao valor, é comum ao capitalista e ao entesourador,
mas, enquanto este é o capitalista enlouquecido, aquele é
o entesourador racional. A expansão incessante do valor, por que
luta o entesourador, procurando salvar, tirar dinheiro da circulação,
obtém-na de maneira mais sagaz o capitalista, lançando-o continuamente
na circulação.
A
forma autônoma, a forma dinheiro, que o valor das mercadorias assume
na circulação simples, serve apenas para possibilitar a troca
de mercadorias, e desaparece com o resultado final do movimento. Na circulação
D – M – D, ao contrário, funcionam dinheiro (D) e mercadoria
(M), apenas como modos de existência diversos do próprio valor,
sendo o dinheiro seu modo de existência geral, e a mercadoria seu
modo particular ou dissimulado. O valor passa continuamente de uma forma
para outra, sem se perder neste movimento, transformando-se em uma entidade
que opera automaticamente.
Se,
na circulação simples, o valor das mercadorias adquire, no
máximo, em confronto com o valor-de-uso, a forma independente de
dinheiro, na circulação do Capital esse valor se revela subitamente
uma substância que tem um desenvolvimento, um movimento próprio,
e da qual a mercadoria e o dinheiro são meras formas.
O
fetichismo do Capital consiste não só na ilusão de
que o Capital também é uma fonte autônoma de produção
de valor, mas, principalmente, em seu poder efetivo de subordinar o trabalho
e as condições de sua autovalorização, crescendo
e expandindo sua dominação às várias esferas
da vida econômica.
A
troca de mercadorias começou nas fronteiras da comunidade primitiva,
nos seus pontos de contato com outras comunidades ou com membros de outras
comunidades. Mas, virando os produtos mercadorias na vida externa da comunidade,
por contágio, também se tornam mercadorias dentro dela. De
início, sua relação quantitativa de troca é
inteiramente casual. São permutáveis por mútua vontade
de seus possuidores de aliená-los reciprocamente. Nesse ínterim,
arraiga-se, progressivamente, a necessidade de objetos úteis vindos
de fora. A repetição constante da troca torna-a um processo
social regular. Por isto, com o tempo, passa-se a fazer para a troca, intencionalmente,
pelo menos uma parte dos produtos do trabalho.
Mais-valia
=
lucro
auferido pelo capitalista resultante da diferença entre o que é
pago pela mão-de-obra e o valor que é cobrado pela mercadoria
produzida por esta força de trabalho =
base da
acumulação capitalista =
exploração
do trabalho =
valor que
o trabalhador assalariado cria acima do valor da sua força de trabalho
=
trabalho
humano expropriado e não pago.
Mais-valia
absoluta =
intensificação
do ritmo de trabalho, através de uma série de controles impostos
aos operários, que incluem a mais severa vigilância a todos
os seus atos na unidade produtiva até a cronometragem e determinação
dos movimentos necessários à realização das
suas tarefas. O capitalista obriga os trabalhadores a trabalhar a um ritmo
tal que, sem alterar a duração da jornada, eles produzem mais
mercadorias e mais valor.
Mais-valia
relativa =
incremento dos lucros aumentando a produtividade por meio da mecanização.
Com
o desenvolvimento da mais-valia relativa no modo de produção
especificamente capitalista, que implica a expansão das forças
produtivas sociais do trabalho, estas forças e as conexões
sociais do trabalho no processo direto de trabalho aparecem transferidas
do trabalho para o Capital. Em conseqüência, o Capital se torna
sumamente místico, pois todas as forças produtivas sociais
do trabalho parecem provir e brotar dele mesmo, e não do trabalho
como tal.
O
processo capitalista de produção é forma historicamente
determinada do processo social de produção. Este abrange a
produção das condições materiais da vida humana
e, ao mesmo tempo, é processo que se desenvolve dentro das relações
de produção específicas, histórico-econômicas,
produzindo e reproduzindo estas relações de produção
e, por conseguinte, os agentes deste processo, no contexto deles: as condições
materiais de existência e as relações recíprocas,
isto é, a forma econômica particular de sociedade que lhes
corresponde. É que o conjunto das relações que os agentes
da produção, produzindo dentro delas, mantêm entre si
e com a Natureza constitui justamente a sociedade, considerada em sua estrutura
econômica. Como todos os anteriores, o processo capitalista de produção
se efetua em certas condições materiais que, ao mesmo tempo,
servem de suporte a determinadas relações sociais contraídas
pelos indivíduos no processo de reprodução da vida.
São
duas magnitudes bem diversas que a mercadoria custa ao capitalista e o que
custa produzi-la. Da mercadoria, a parte constituída pela mais-valia
nada custa ao capitalista, justamente por custar ao trabalhador trabalho
que não é pago.
O
capitalista apenas personifica o Capital. Sua alma é a alma do Capital.
Mas o Capital tem seu próprio impulso vital, o impulso de valorizar-se,
de mais-valia, de absorver com sua parte constante, com os meios de produção,
a maior quantidade possível de trabalho excedente. O Capital é
trabalho morto que, como um vampiro, se reanima sugando trabalho vivo, e,
quanto mais o suga, mais forte se torna.
O
processo de consumo da força de trabalho é, simultaneamente,
o processo de produção de mercadoria e de mais-valia.
Enquanto
for consciência e vontade do Capital em suas ações e
omissões, verá no seu próprio consumo privado o equivalente
a um roubo contra a acumulação. Aliás, no sistema de
escrituração de partidas dobradas, as despesas particulares
são lançadas contra o Capital, no lado devedor da conta do
capitalista. Acumular é empreender a conquista do mundo da riqueza
social. Juntamente com a quantidade de material humano explorado, a acumulação
amplia o domínio direto e indireto do capitalista.
Nos
primórdios históricos do modo capitalista de produção
– e todo capitalista novo-rico percorre este estágio –,
dominam o impulso para enriquecer e a avareza como paixões absolutas.
Mas o progresso da produção capitalista não cria apenas
um mundo de fruições. Com a especulação e com
o crédito, abre milhares de fontes de enriquecimento rápido.
Em certo nível do desenvolvimento, certa dose convencional de prodigalidade
se torna necessária para o negócio do 'infeliz' capitalista,
a qual serve para exibir riqueza, sendo, por isto, meio de obter crédito.
Antes
de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a Natureza,
processo em que o ser humano, com sua própria ação,
impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a Natureza.
Na
pessoa do capitalista – na realidade o Capital personificado –
os produtos se tornam força autônoma ante os produtores.
Como
representante consciente deste movimento [exploração
da força humana de trabalho no processo de produção
da mais-valia], o possuidor do dinheiro se torna capitalista.
Sua pessoa, ou melhor, seu bolso, é de onde sai e para onde volta
o dinheiro. O conteúdo objetivo da circulação em causa
– a expansão do valor – é sua finalidade subjetiva.
Enquanto a apropriação crescente da riqueza abstrata for o
único motivo que determina suas operações, funcionará
ele como capitalista, ou como Capital personificado, dotado de vontade e
de consciência.
A
autovalorização do Capital – a criação
de mais-valia – é, pois, objetivo determinante, predominante
e avassalador do capitalista, impulso e conteúdo absoluto das suas
ações; na realidade, não é outra coisa senão
o afã e a finalidade racionalizados do entesourador. Conteúdo
absolutamente mesquinho e abstrato, que, sob certo ponto de vista, faz o
capitalista aparecer como que submetido a uma servidão para com a
relação do Capital que é igual, embora também
de outra maneira, à do seu pólo oposto, à do operário.
O
capitalista individual não faz mais do que produzir tanto mais-valia
quanto for possível.
O
capitalista é um fanático da expansão do valor, compelindo
impiedosamente a Humanidade a produzir por produzir, a desenvolver as forças
produtivas sociais e a criar as condições materiais de produção,
que são os únicos fatores capazes de constituir a base real
de uma forma social superior, tendo por princípio fundamental o desenvolvimento
livre e integral de cada indivíduo.
A
divisão social do trabalho faz se confrontarem os produtores independentes
de mercadorias, os quais não reconhecem outra autoridade além
da concorrência, além da coação exercida sobre
eles pela pressão dos recíprocos interesses, do mesmo modo
que, no reino animal, o 'bellum omnium contra omnes' [guerra
de todos contra todos] preserva mais ou menos as condições
de existência de todas as espécies.
Mas,
o Pecado Original se manifesta por toda parte. Com o desenvolvimento do
modo capitalista de produção, da acumulação
e da riqueza, deixa o capitalista de ser mera encarnação do
Capital. Sente compaixão por si mesmo e atinge um nível de
educação que o leva a sorrir do apego à ascese, considerando-o
preconceito do entesourador arcaico. Enquanto o capitalista clássico
condena o consumo individual como pecado contra sua função
e atentado contra a acumulação, o capitalista moderno é
capaz de considerar a acumulação uma renúncia ao impulso
de fruir a vida. Em seu peito, coitadinho, moram duas almas que lutam por
se separar!
Na
realidade, em condições normais, parte da mais-valia tem de
ser consumida como renda e parte tem de ser capitalizada, não importando
que a mais-valia produzida em certos períodos seja totalmente consumida
ou inteiramente capitalizada.
No
Capital e na pessoa do capitalista – na realidade o capital personificado
– os produtos se tornam força autônoma ante os produtores.
A terra, por sua vez personificada no proprietário, resiste e se
torna força autônoma que exige participação no
produto obtido com sua ajuda. Deste modo, o que à terra cabe receber
para renovar e acrescer a produtividade, o proprietário embolsa por
meio da renda com que transaciona e que dissipa. É claro que o Capital
requer previamente que o trabalho seja assalariado. Mas, é claro
também que, e o ponto de partida é o trabalho assalariado,
parecerá natural identificar o trabalho em geral com o trabalho assalariado,
e o Capital e a terra monopolizada parecerão ser necessariamente
a forma lógica das condições de trabalho, em face do
trabalho em geral.
Para
o Capital poder se formar e se apoderar da produção, é
necessário certo nível de desenvolvimento do comércio,
portanto da circulação e da produção de mercadorias,
pois, os artigos não podem entrar como mercadorias na circulação
se não forem produzidos para a venda, como mercadorias. Mas a produção
de mercadorias só se torna o sistema normal, dominante, na base da
produção capitalista.
Sob
a forma dinheiro, o capitalista lança menos valor na circulação
do que dela retira, e sob a forma mercadoria lança na circulação
mais valor do que dela retira. Enquanto personifica apenas o Capital, funcionando
como capitalista industrial, sua oferta de valor-mercadoria é sempre
maior do que sua procura.
O
capitalista tem realmente de vender mais caro do que comprou, mas só
consegue isto porque, através do processo de produção
capitalista, transforma a mercadoria mais barata, de menor valor que adquiriu,
em mercadoria de maior valor, mais cara. Vende mais caro não por
vender sua mercadoria acima do valor, mas por estar o valor de sua mercadoria
acima do valor global dos elementos de sua produção.
O
poder de ataque de um esquadrão de cavalaria ou o poder de resistência
de um regimento de infantaria diferem essencialmente da soma das forças
individuais de cada cavalariano ou de cada infante. Do mesmo modo, a soma
das forças mecânicas dos trabalhadores isolados difere da força
social que se desenvolve quando muitas mãos agem simultaneamente
na mesma operação indivisa, por exemplo, quando é mister
levantar uma carga, fazer girar uma pesada manivela ou remover um obstáculo.
A
manufatura, além da sua dependência da capacidade física
do trabalhador, depende da habilidade, da rapidez e da segurança
do trabalhador individual ao manejar seu instrumento.
Não
só o trabalho é dividido e suas diferentes frações
são distribuídas entre os indivíduos, mas o próprio
indivíduo é mutilado e transformado no aparelho automático
de um trabalho parcial, tornando-se, assim, realidade a fábula absurda
de Menennius Agrippa que representa um ser humano como simples fragmento
de seu próprio corpo.
A
subordinação técnica do trabalhador ao ritmo uniforme
do instrumental de trabalho e a composição peculiar do organismo
de trabalho, formado de indivíduos de ambos os sexos e das mais diversas
idades, criam uma disciplina de caserna, que vai ao extremo no regime integral
de fábrica.
Somente
a produção capitalista transforma o processo produtivo material
na aplicação da ciência na produção –
na ciência posta em prática, mas somente submetendo o trabalho
ao Capital e reprimindo o próprio desenvolvimento intelectual e profissional...
Ao
se converter em maquinaria, o instrumental de trabalho exige a substituição
da força humana por forças naturais, e a rotina empírica
pela aplicação consciente da ciência.
Na
agricultura moderna, como na indústria urbana, o aumento da força
produtiva e a maior mobilização do trabalho obtêm-se
com a devastação e a ruína física da força
de trabalho. E todo progresso da agricultura capitalista significa progresso
na arte de despojar não só o trabalhador, mas também
o solo; e todo aumento da fertilidade da terra em um tempo dado significa
esgotamento mais rápido das fontes duradouras desta fertilidade.
Quanto
mais o desenvolvimento de um país se apóia na indústria
moderna, como é o caso dos Estados Unidos, mais rápido é
o processo de destruição da terra. A produção
capitalista, portanto, só desenvolve a técnica e a combinação
do processo social de produção, exaurindo as fontes originais
de toda a riqueza: a terra e o trabalhador.
Todo
trabalho, diretamente social ou coletivo, executado em grande escala, exige,
com maior ou menor intensidade, uma direção que harmonize
as atividades individuais e preencha as funções gerais ligadas
ao movimento de todo o organismo produtivo, que difere do movimento dos
seus órgãos isoladamente considerados. Um violinista isolado
comanda a si mesmo; uma orquestra exige um maestro. Esta função
de dirigir, superintender e mediar assume-a o Capital logo que o trabalho
a ele subordinado se torna cooperativo. Enquanto função específica
do Capital, adquire a função de dirigir caracteres especiais.
Na
sociedade burguesa reina a ficção jurídica de que todo
ser humano, como comprador, tem um conhecimento enciclopédico das
mercadorias.
A
máquina não é apenas o concorrente todo-poderoso sempre
pronto a tornar supérfluo o trabalho assalariado. Ela se torna a
arma mais poderosa para reprimir as revoltas periódicas e as greves
dos trabalhadores contra a autocracia do Capital.
Excetuados
os períodos de prosperidade, travam-se entre os capitalistas os mais
furiosos combates, procurando, cada um deles, obter uma participação
no mercado. Esta participação está na razão
direta do barateamento do produto. Por isto, rivalizam-se no emprego de
maquinaria aperfeiçoada que substitui a força de trabalho
e na aplicação de novos métodos de produção.
Mas, em todo ciclo industrial, chega o momento em que se procura baratear
as mercadorias, diminuindo-se à força o salário abaixo
do valor da força de trabalho.
Os
trabalhadores ocupados efetivamente nas operações da máquina,
isto é, o autêntico esqueleto da oficina, está formado
por trabalhadores que executam o mesmo trabalho, de tal modo que não
existe uma divisão do trabalho propriamente dita, senão uma
simples cooperação, cuja ação, não obstante,
não se baseia economicamente na cooperação de várias
pessoas, senão no fato de que em muitas destas máquinas se
consegue a economia graças a um motor comum e a um sistema comum
de mecanismo de transmissão (sem contar a economia que se alcança
por causa dos edifícios etc., própria também da manufatura
baseada na cooperação simples).
Se
a aparência e a essência das coisas coincidissem diretamente,
qualquer ciência seria supérflua.
A
especialização da passividade, ou seja, a eliminação
da especialização mesma enquanto especialização,
caracteriza o trabalho realizado com a máquina.
Na
manufatura considerada em seu conjunto, o trabalhador individual constitui
a parte viva da máquina coletiva, da oficina que, por sua vez, é
um mecanismo formado por homens. Na oficina mecânica (considerado
também em seu desenvolvimento como um sistema de máquinas)
o homem é, ao contrário, o objeto vivo do corpo coletivo e
da máquina automática, que existem fora dele mesmo. Entretanto,
a máquina coletiva está formada por máquinas que constituem
suas partes. Os homens são simplesmente o acessório vivo,
o apêndice consciente da máquina inconsciente, mas que opera
de maneira uniforme.
É
incontestável que, em si mesma, a maquinaria não
é responsável por serem os trabalhadores despojados dos meios
de subsistência.
A
maquinaria, como instrumental que é, encurta o tempo de trabalho,
facilita o trabalho, é uma vitória do homem sobre as forças
naturais, aumenta a riqueza dos que realmente produzem, mas, com sua aplicação
capitalista, gera resultados opostos: prolonga o tempo de trabalho, aumenta
sua intensidade, escraviza o homem por meio das forças naturais e
pauperiza os verdadeiros produtores.
Os
verdadeiros fatos, dissimulados pelo otimismo econômico, são
estes: os trabalhadores despedidos pela máquina são transferidos
da fábrica para o mercado de trabalho e, lá, aumentam o número
das forças de trabalho que estão à disposição
da exploração capitalista.
Cada
passo de um movimento real é mais importante do que uma dúzia
de programas.
No
século XVIII, muitos outros cientistas trataram de descobrir uma
lei geral, de acordo com a qual fosse possível determinar de maneira
mais precisa a força da pressão. Em geral, no século
XVIII, a hidráulica e a
hidrotécnica se voltaram para inúmeros descobrimentos,
a maior parte dos quais encontrou uma aplicação frutífera
nos moinhos: contudo, esta aplicação seguia com muita lentidão
o progresso teórico, especialmente na Alemanha.
A
burguesia é tão necessária para a revolução
socialista como é o proletariado.
Capital
produtos gerados pelos trabalhadores
e convertidos em potências autônomas dominando e comprando os
produtores, e, mais ainda, são as forças sociais e a forma
do trabalho com elas conexa, as quais fazem frente aos trabalhadores como
se fossem propriedades do produto deles. Temos aí, portanto, determinada
forma social, envolvida em uma névoa mística, de um dos fatores
de um processo social de produção fabricado pela história.
Todo
empreendimento de produção de mercadorias se torna, ao mesmo
tempo, empreendimento de exploração de força de trabalho.
Entretanto, só a produção capitalista de mercadorias
se torna um modo de exploração que marca uma nova era, e que,
em seu desenvolvimento histórico, através da organização
do processo de trabalho e dos gigantescos progressos da técnica,
revoluciona toda a estrutura econômica da sociedade e ultrapassa incomparavelmente
todos os períodos anteriores.
A
estrutura do processo vital da sociedade, isto é, do processo da
produção material, só pode se desprender do seu véu
nebuloso e místico no dia em que for obra de homens livremente associados,
submetida a seu controle consciente e planejado. Para isto, precisa a sociedade
de uma base material ou de uma série de condições materiais
de existência, que só podem ser o resultado natural de um longo
e penoso processo de desenvolvimento.5
Fonte
da criação do valor, atributo que confere à mercadoria
sutilezas metafísicas e argúcias teológicas.
Capital
entidade que opera automaticamente.
O
antigo dono do dinheiro marcha agora à frente, como capitalista;
segue-o o proprietário da força de trabalho, como seu trabalhador.
O primeiro, com um ar importante, sorriso velhaco e ávido de negócios;
o segundo, tímido, contrafeito, como alguém que vendeu sua
própria pele, apenas espera ser esfolado.
Recomendo
a leitura da Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal
da Bahia (UFBA), na Linha de Pesquisa em Filosofia e Teoria Social –
Sobre o Fetichismo
do Capital em Karl Marx – de autoria de Francisco de Assis
Silva, e orientada por Mauro Castelo Branco de Moura. Endereço eletrônico:
http://www.ppgf.ufba.br/dissertacoes/
Francisco_Silva.pdf