SUA SANTIDADE

O DALAI LAMA

PENSAMENTOS E REFLEXÕES

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

BIOGRAFIA DE SUA SANTIDADE
O DALAI LAMA
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http://www.starnews2001.com.br/dalai.html

 

Sua Santidade o 14º Dalai Lama (Oceano da Sabedoria) Tenzin Gyatso nasceu em uma família de agricultores na aldeia de Takster, no leste do Tibet, em 6 de Julho de 1935, com o nome de Lhamo Dhondrub. Aos 2 anos foi reconhecido por monges tibetanos como a reencarnação do Dalai Lama, autoridade máxima do Budismo Tibetano, e em 22 de Fevereiro de 1940, com cinco anos incompletos, Ele passou a se chamar Tenzin Gyatso e oficialmente declarado Sua Santidade, o décimo quarto Dalai Lama.

O Dalai Lama é considerado um bodhisattva, (que em sânscrito significa o Ser destinado à Iluminação, o Buda da Compaixão). Os dalai lamas são tidos como reencarnações do príncipe Chenrezig, o Avalokitesvara, o portador do lótus branco que representa a compaixão. Aos 4 anos foi separado da família e mudou-se para o Palácio de Potala, em Lhasa, e foi empossado como líder espiritual do Tibet. Passou, então, a se chamar Jampel Ngawang Lobsang Yeshe Tenzin Gyatso. Após uma rigorosa preparação, que inclui o estudo do Budismo, de história e de filosofia, assumiu o poder político em 1950, ano em que o Tibet foi ocupado pela China. Em 1959, depois do fracasso de uma rebelião nacionalista contra o governo chinês exilou-se na Índia (Mao Tsé-tung ordenou um violento ataque contra o Tibet que destruiu quase todos os 400 templos budistas do País).

Na época, Sua Santidade foi seguido por 80.000 tibetanos. Hoje, há mais de 120.000 no exílio. Desde 1960, o Dalai Lama reside em Dharamsala, Índia, conhecida como Pequena Lhasa, a sede do Governo Tibetano no exílio. O Dalai Lama Ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 1989 em reconhecimento pela sua campanha pacifista para acabar com a dominação chinesa no Tibet. Além desse Prêmio, Sua Santidade recebeu, entre outras, as seguintes honrarias:

Doutor em Letras – Universidade de Benares (1959);
Prêmio Lincoln – USA (1960);
Doutor em Teologia – Carrol College (1979);
Doutor em Filosofia Budista – Universidade da Califórnia (1979);
Tocha da Liberdade – New York (1979);
Doutor Honoris Causa – Universidade de Paris (1984);
Prêmio Albert Schweitzer – USA (1987);
Prêmio Lucas – Alemanha (1988);
Le Prix de Memorie – França (1989);
Doutor em Teologia – Instituto de Altos Estudos, Sarnath, Índia (1990);
Doutor em Educação – Universidade de Bolonha (1990);
Prêmio Freedom – USA (1991);
Prêmio Terra – United Earth and Environmental Program, New York (1991);
Doutor em Direito – Universidade de Melbourne, Austrá1lia (1992);
Doutor Honoris Causa – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1992);
Doutor em Direito – Universidade de St. Aberdeen, Reino Unido (1993);
Pêmio pela Humanidade – Fundação Sartorius, Alemanha (1993);
Membro da Universidade Hebraica de Jerusalém – Israel (1994);
Doutor em Letras – Universidade de Berea, EUA (1994);
Doutor em Artes e Letras – Universidade de Colómbia, Nova York, EUA (1994);
Prêmio da Paz e Segurança Mundiais dos Advogados Novaiorquinos – Nova York, EUA (1994);
Prêmio Roosevelt pela Liberdade – Instituto Roosevelt, Middelbourg, Holanda (1994);
Doutor em Filosofia – Universidade Sun Yat-sem Chungshan, Taiwan (1997); e
Prêmio Juliet Hollister – Nova York, EUA (1998).

A decisão do Comitê Norueguês de outorgar o Prêmio Nobel da Paz de 1989 a Sua Santidade teve o apoio e os aplausos de todo o mundo, com exceção da China. A citação do Comitê afirma o seguinte: O Comitê enfatiza que o Dalai Lama é merecedor desse prêmio por sua campanha pacifista pela autonomia do Tibet. Ele sempre diz que a solução pacífica baseada na tolerância e no respeito mútuo é a única forma de preservar a história e a herança cultural de seu povo.

No dia 10 de dezembro de 1989, Sua Santidade aceitou o prêmio em nome dos oprimidos e também daqueles que lutam por um mundo de Paz para o povo tibetano. Ele disse na ocasião: O prêmio reafirma nossa convicção de que com a verdade, com coragem e com determinação como nossas armas, o Tibet será libertado. Nossa luta deve ser sem violência e livre de ódio.

Sua Santidade costuma dizer: Eu sou um simples monge budista, não mais, não menos. Sua Santidade vive como um verdadeiro monge budista. Mora em uma casa de campo em Dharamsala, Índia. Acorda às 4 horas da manhã para meditar, em seguida põe em dia a sua agenda, dá audiências privadas e inicia os estudos religiosos e as práticas cerimoniais. Ele termina o dia com muita oração. Falando de sua grande fonte de inspiração, freqüentemente cita um verso favorito, retirado dos ensinamentos seculares do sagrado Shantideva Budista:

Enquanto existir o espaço,
Enquanto persistirem os seres sencientes,
Que eu também viva
Para dissipar as desgraças do mundo.

 

 

 

OBJETIVO DESTE TRABALHO

 

Este trabalho tem por objetivo apresentar uma pequena coletânea de pensamentos, excertos de pronunciamentos, fragmentos de entrevistas e reflexões de Sua Santidade o 14º Dalai Lama Tenzin Gyatso, incluídos neste estudo alguns preceitos budistas por ele citados. Pode-se não ser budista, mas refletir sobre as máximas deste Místico certamente será iluminador. Por outro lado, o Cristianismo e o Islamismo, por exemplo, não vieram para derribar os Ensinamentos do Senhor Buddah e, na qualidade de dignas religiões representantes da Segunda Via, não se constituem na última verdade revelada, como o próprio Budismo Tibetano também não. A última verdade jamais poderá ser revelada por nenhum ser humano nem por nenhuma religião, porque, simplesmente, não existe uma última verdade que possa ser revelada (ou alcançada). A Verdade é um instante único de compreensão-illuminação, e a ascensão se incumbe de transmutar e atualizar essa Verdade. Entretanto, o Amai-vos uns aos outros é uma verdade insubstituível e irredutível. Todos os Iluminados do passado sabiam disso, e não é necessário ser um Iluminado para admitir esse fato irrecusável. Assim, fazer a guerra e invadir um país em nome de uma presumida verdade (ideológica, salvífica, teológica etc.) é, no mínimo, uma escandalosa e maquiavélica mentira que só engana os desinformados ou os fanáticos.

 

O Predador

Como sempre faço quando elaboro textos como este, informo (e repito) que para ajustar os pensamentos do Autor à esta forma de trabalho, às vezes se torna necessário que sejam feitas determinadas edições. Isto, obviamente, não significa que eu tenha adulterado o pensamento original do Dalai Lama ou que tenha interposto pensamentos meus misturados com os Dele. Ora, isto seria, como costumo dizer, simplesmente uma heresia. Para arrematar, uma outra obviedade: concordar ou discordar das reflexões de Sua Santidade é um privilégio de todos nós.

Talvez se possa dispensar a religião – como afirma o Dalai Lama – o que não se pode dispensar são as qualidades espirituais básicas. Fundamentado nesta afirmação, com a qual concordo inteiramente, pergunto: será alguém tão auto-suficiente que possa abrir mão de um pequeno instante de meditação sobre as pérolas místico-filosóficas que se seguirão? Admito que não. Finalmente, como decidi que não farei qualquer comentário neste trabalho sobre o pensamento vivo de Sua Santidade, apenas direi: A Religião que Liberta jamais poderá ser encontrada em qualquer religião. A Religião que Liberta jamais poderá ser encontrada em qualquer templo. A Religião que Liberta jamais poderá ser encontrada de joelhos.

 

PENSAMENTOS E REFLEXÕES
de
SUA SANTIDADE TENZIN GYATSO

 

 

Om Mani Padme Hum


 

  Cada uma de nossas ações conscientes e, de certa forma, toda a nossa vida podem ser vistas como resposta à grande pergunta que desafia a todos: Como posso ser feliz?

 Não esqueça a história do cachorro: você ganhou de presente um cachorro bravo. Quando quis acariciá-lo, ele mordeu sua mão. Você pode mantê-lo acorrentado, para que não fuja e não morda. Porém, assim, o cão nunca se tornará seu amigo. Se, ao contrário, você lhe der comida e uma esteira macia para dormir, logo ele lhe retribuirá os bons tratos e será seu fiel amigo. Da mesma forma devemos proceder com nosso corpo, com nós mesmos. (Maharishi Mahesh Yogi, apud Dalai Lama).

 Quatro verdades fundamentais do Budismo: 1 - A essência do mundo humano é o sofrimento. A mente humana está estruturada em termos de sofrimento; 2 - A origem do sofrimento é o desejo – apego às próprias necessidades, às próprias idéias e ao que se julga ser a vida; 3 - A libertação do sofrimento é possível mediante o domínio dos desejos e dos apegos até a obtenção de sua extinção; e 4 - A extinção dos desejos e do sofrimento é o que se chama de Nirvana (eterna tranqüilidade da natureza que segue imperturbavelmente suas leis eternas).

 Oito etapas para as quatro verdades: 1ª - Visão reta do mundo e das coisas. Só a meditação a dá; 2ª - Pensamento reto – controle das idéias e desejos; 3ª - Palavra reta, de acordo com o pensamento (reto); 4ª - Vida reta, de acordo com a sabedoria das idéias contidas no pensamento (reto). Isto é muito difícil. Geralmente se pensa de um modo e se vive de outro; 5ª - Ação reta; 6ª - Trabalho reto (esforço), profissão reta; 7ª - Conhecimento reto implicando em boa instrução e boa ciência; e 8ª - Meditação reta como chave de tudo e como fonte conhecedora de nós mesmos e auto-reguladora de nossas desordens.

 O sofrimento, a insatisfação, os conflitos (dukka), enfim, são a enfermidade, o desejo ou a raiz da doença. Pela remoção ou pelo equilíbrio do desejo elimina-se a doença. É este o caminho da cura.

 O budismo não afirma nem desmente a afirmação da vida eterna, apenas acha que na discussão deste tema, a pessoa fica divagando enquanto sua curta vida se vai acabando. Seus valores máximos são: a paz, a tranqüilidade e o encontro do homem consigo mesmo. Mas, isto não determina sua alienação da vida pública e e da vida política.

 Para pôr o espírito e a mente em ordem – em sintonia com a ordem eterna universal – um longo caminho se torna necessário, cujas principais etapas são:

1 - Abstenção (yama). A dieta alimentar é de fundamental importância para o bom funcionamento ou equilíbrio da mente. Há toda uma teoria da saúde física e mental implícita nesta parte. A boa harmonia da saúde resulta do equilíbrio yin-yang (negativo-positivo). Quando se dá o equilíbrio, há saúde. A alimentação deve obedecer à proporção equilibrada dos elementos yin-yang.

2 - Observância (nyana). É a prática de vários preceitos de higiene mental para dirigir e concentrar a mente para um exercício correto e equilibrado. Estão incluídos hábitos de vigília e sono e como evitar preocupações e começar a viver.

3 - Postura correta (asana). A finalidade é obter disciplina do corpo. Atua sobre os movimentos dos músculos tornando-os mais aptos para a concentração que é, segundo a ioga, a verdadeira vida do espírito.

4 - Regulação da respiração (prana-yama). Tem por finalidade o domínio dos músculos involuntários.

5 - Introversão ou bloqueio dos sentidos (pratyahara). Através de um alheamento de contatos com o mundo externo feito de tal maneira que as respostas naturais dos sentidos fiquem desligadas. Para se obter a parte fundamental, que é a concentração, precisa-se, ainda: Atenção fixa (dharana). Contemplação (dhyãna). Concentração em diversas verdades. Concentração (samãdhi). Conseguida quando se persiste naquela contemplação até sentir uma grande iluminação interior ou alheamento (luz súbita na mente).

 A prática da Meditação do Amor Universal deve começar pela própria pessoa, porque se alguém não se ama torna-se impossível estender amor e benevolência a outras pessoas. Inicia-se com o pensamento: Estou limpando minha mente de todas as impurezas. Que eu esteja livre de maldades. Que eu esteja livre de inimizades. Que eu fique livre do sofrimento. Que eu me sinta muito feliz, com muito amor e muita paz. Depois disso, com a mente e o coração repletos de amor e paz, o pensamento deve ser dirigido a uma pessoa muito querida, da qual gostamos muito. Visualizamos essa pessoa recebendo todo o nosso carinho, toda a paz e todo o amor que estamos sentindo. Em seguida, visualizamos uma pessoa que nos é indiferente, um conhecido do qual não gostamos nem deixamos de gostar, e enviamos o mesmo pensamento. Finalmente, lembramos de alguém que por algum motivo não gostamos, que nos é desagradável, pela qual temos algum tipo de rancor, e enviamos em forma de pensamento o nosso perdão, banhando-a com pensamentos de amor, paz e compreensão.

 A Paz do Espírito é a Paz Verdadeira. A Paz do Indivíduo será a Paz Verdadeira. Luz na Mente e Paz na Alma.

 Quando você mantém um sentimento de compaixão, bondade e amor, algo abre automaticamente sua porta interna. Com isso, você pode se comunicar mais facilmente com as outras pessoas. E esse sentimento de calor cria uma espécie de abertura. Você descobre que todos os seres humanos são exatamente iguais a você e se torna capaz de se relacionar mais facilmente com eles. Isso lhe confere um espírito de amizade. Então há menos necessidade de esconder as coisas e, conseqüentemente, sentimentos de medo, dúvida e insegurança se dispersam automaticamente.

 Na nossa vida diária, certamente aparecem problemas. Os maiores problemas em nossas vidas são aqueles que temos de enfrentar inevitavelmente, como a velhice, a doença e a morte. Tentar evitar nossos problemas ou simplesmente não pensar neles pode nos dar um alívio temporário, mas acho que há um modo melhor de lidar com eles. Se você enfrentar seu sofrimento diretamente, terá mais condições de avaliar a profundidade e a natureza do problema. Enfim, se você enfrentar seus problemas em vez de os evitar terá mais condições de lidar com eles.

 Sempre que me relacionar com alguém, que eu me considere a criatura mais ínfima de todas e que encare o outro como supremo do fundo do meu coração!

 Quando eu vir seres de natureza perversa, oprimidos por tormentos e pecados violentos, que eu considere de alto valor essas criaturas raras como se tivesse encontrado um precioso tesouro!

 Quando os outros, por inveja, me tratarem mal com insultos, calúnias e atitudes semelhantes, que eu sofra a derrota e ofereça a vitória aos outros!

 Quando aquele, a quem beneficiei com grande esperança, me ferir profundamente, que eu possa encará-lo como meu supremo Guru!

 Que eu possa, direta ou indiretamente, oferecer benefícios e felicidade a todos os seres; que eu, em segredo, possa assumir nos meus ombros a dor e o sofrimento de todos os seres!

 Nas circunstâncias difíceis, se nós fizermos uma tentativa de buscar respostas e soluções nas coisas externas estaremos equivocados. Isso porque a mente desempenha um fator básico nas nossas vidas. Se uma pessoa estiver cercada por uma situação externa que lhe seja hostil, e se ainda assim ela conseguir preservar a clareza, a serenidade mental vai ser
pouco afetada pelas circunstâncias externas.

 A semente da paz mental é a compaixão. Aquele tipo de sentimento que sentimos em relação aos amigos íntimos é quase sempre um sentimento de apego. E o apego, na verdade, vem carregado de preconceitos. A compaixão é isenta de preconceito. O apego, normalmente, parte de uma projeção mental de que aquela pessoa nos parece algo boa, algo bela, e, então, aquele sentimento aí se desenvolve. No momento em que aquela aparência muda, ainda que a pessoa seja a mesma, aquele sentimento normalmente acaba. Assim é importante distinguir apego de compaixão. E é importante ter compaixão sem apego... A compaixão é uma fonte de força interior.

 As crianças que recebem afeição e carinho têm uma saúde melhor, têm um estado mental melhor e podem aproveitar melhor a educação a que têm acesso. Por outro lado, uma criança privada de carinho vai ter mais dificuldade em
aprender, em desenvolver o seu potencial mental, e estará mais sujeita a perturbações. O que mantém o ser humano é a mansidão – a docilidade – e não a agressividade.

 Se observarmos com uma visão correta, o próprio conflito é causa de nosso progresso. Através de nossa sofisticada inteligência podemos perceber muitos de nossos conflitos. E quando estamos diante de um problema, de um conflito, se olharmos para ele de uma certa distância vamos sempre encontrar naquela situação um elemento comum que é aglutinador daquela circunstância. E a partir do reconhecimento daquele elemento comum que tem a possibilidade de aglutinar, nós nos convencemos de que é necessário mantermos o controle – de não perdermos a cabeça – e a partir dessa postura utilizando a nossa inteligência humana nós devemos trabalhar buscando um caminho para a solução. É a isso que chamamos de Sabedoria.

 O sofrimento interior está claramente associado a uma confusão cada vez maior sobre o que de fato constitui a moralidade e quais são os seus fundamentos.

A meu ver, criamos uma sociedade em que as pessoas acham cada vez mais difícil demonstrar um mínimo de afeto aos outros. Em vez da noção de comunidade e da sensação de fazer parte de um grupo, encontramos um alto grau de solidão e a perda de laços afetivos. O que gera essa situação é a retórica contemporânea de crescimento e desenvolvimento econômico, que reforçam intensamente a tendência das pessoas para a competitividade e a inveja.

 

 

 O descaso pela dimensão interior do homem fez com que todos os grandes movimentos dos últimos cem anos ou mais - democracia, liberalismo, socialismo - tenham deixado de produzir os benefícios que deveriam ter proporcionado ao mundo, apesar de tantas idéias maravilhosas.

 Considero que a espiritualidade esteja relacionada com aquelas qualidades do espírito humano – tais como amor e compaixão, paciência, tolerância, capacidade de perdoar, contentamento, noção de responsabilidade, noção de harmonia – que trazem felicidade tanto para a própria pessoa quanto para os outros. É por isso que às vezes digo que talvez se possa dispensar a religião. O que não se pode dispensar são essas qualidades espirituais básicas.

 Quando os seres humanos se desentendem, mostram que esqueceram suas semelhanças fundamentais para supervalorizar razões secundárias. Por razões secundárias um homem destrói outro homem e destrói o planeta que o abriga. As crises, a violência, as queixas sobre o declínio da moralidade que nos assolam, mostram que o enorme desenvolvimento externo — sem dúvida útil e necessário — não corresponde a um mesmo nível de desenvolvimento interno da humanidade. Esse cultivar-se internamente é que garantirá nosso direito à felicidade e até à sobrevivência. Porque, por mais mortíferas que sejam as armas produzidas pelo medo e pelo ódio, é necessária a mão de um homem para detonar o gatilho.

 Hoje, enfrentamos muitos problemas. Alguns criados por nós em conseqüência de diferenças ideológicas, religiosas, raciais e econômicas. Entretanto, chegou o momento de pensarmos em um nível mais profundo, em um nível humano, e, a partir daí, apreciarmos e respeitarmos essa mesma condição nos outros seres humanos. Devemos construir relacionamentos mais próximos, de confiança mútua, compreensão e ajuda. Todos queremos a felicidade e evitar o sofrimento. Todos temos o mesmo direito de ser felizes, e aí reside a nossa igualdade fundamental. Não é necessário seguir filosofias complicadas. Nosso próprio coração é o nosso templo. A filosofia é a bondade.

 O cultivo do amor e da compaixão são a verdadeira essência de todas as crenças. O importante é que em sua vida diária você pratique as coisas essenciais e, nesse nível, quase não existe diferença entre budismo, cristianismo, judaísmo, islamismo ou qualquer outra fé. Todas elas focalizam o desenvolvimento, o aperfeiçoamento dos seres humanos, o sentimento de fraternidade e de solidariedade. Nesse sentido, as diferenças entre as religiões não são de maneira alguma essenciais.

 Seria muito mais produtivo se as pessoas procurassem compreender seus pretensos inimigos. Aprender a perdoar é muito mais proveitoso do que simplesmente tomar de uma pedra e arremessá-la contra o objeto de sua ira. Quanto maior a provocação, maior a vantagem do perdão. É quando padecemos os piores infortúnios que surgem as grandes oportunidades de se fazer o bem a si e aos outros.

 O que mais nos incomoda é ver nossos sonhos frustrados. Mas permanecer no desânimo não ajuda em nada para a concretização desses sonhos. Se ficamos assim, nem vamos em busca dos nossos sonhos, nem recuperamos o bom humor! Este estado de confusão – propício ao crescimento da ira – é muito perigoso. Temos de nos esforçar e não permitir que a nossa serenidade seja perturbada. Quer estejamos vivenciando um grande sofrimento, quer já o tenhamos experimentado, não há razão para alimentarmos o sentimento de infelicidade.

 É através da arte de Escutar que seu espírito se enche de fé e devoção e que você se torna capaz de cultivar a alegria interior e o equilíbrio da mente. A arte de Escutar lhe permite alcançar sabedoria, superando toda ignorância. Então, é vantajoso dedicar-se a ela, mesmo que isto lhe custe a vida. A arte de Escutar é como uma luz que dissipa a escuridão da ignorância. Se você é capaz de manter sua mente constantemente rica através da arte de Escutar, não tem o que temer. Este tipo de riqueza jamais lhe será tomado. Essa é a maior das riquezas.

 O aprimoramento da paciência requer a presença de alguém que deliberadamente nos faça mal. Esse tipo de pessoa nos dá a chance de praticarmos a tolerância. A nossa força interior é posta à prova com mais intensidade do que aquela de que o nosso guia espiritual seria capaz. Em essência, o exercício da paciência nos protege da perda da confiança.

 Passagem selecionada da Carta do Dalai Lama enviada ao Presidente dos Estados Unidos George W. Bush após o atentado de 11 de Setembro de 2001: Poderá parecer presunçoso de minha parte, mas acredito, pessoalmente, que devemos pensar seriamente se uma reação violenta seja a coisa certa a se fazer e no melhor interesse da nação e de seu povo, a longo prazo. Creio que a violência somente aumentará o ciclo de violência. Contudo, como lidar com o ódio e a ira que, freqüentemente, estão na base dessa violência absurda? Esta é uma questão muito difícil, especialmente quando diz respeito a uma nação inteira, e quando temos certas concepções fixas de como lidar com tais ataques. Estou certo de que vocês tomarão as decisões apropriadas.

 Muitos dos problemas que estamos enfrentando são o resultado de negligências por anos e décadas... A exploração, o imperialismo e o colonialismo por parte de países industrialmente avançados causaram a presente situação. Ao invés de investir na violência, os Estados Unidos deveriam explorar caminhos pacíficos para combater o terrorismo internacional.

 Passe algum tempo sozinho todos os dias. Lembre-se de que o silêncio, às vezes, é a melhor resposta.

 Do ponto de vista budista, a meditação é uma disciplina espiritual que nos permite algum nível de controle sobre nossos pensamentos e emoções.

 A idéia de produzir uma mudança tão fundamental em nós mesmos pode à primeira vista parecer impossível. No entanto, é realmente possível realizar essa mudança através de um processo de disciplina tal como a meditação. Escolhemos um objeto específico, e então treinamos a mente desenvolvendo nossa capacidade de manter a atenção concentrada no objeto. Normalmente, se tirarmos apenas um momento para refletir, veremos que nossa mente é totalmente dispersiva. Podemos estar pensando em alguma coisa e, de repente, descobrimos que fomos distraídos porque algum outro pensamento entrou na nossa cabeça. Nossos pensamentos estão constantemente correndo atrás disso ou daquilo porque não temos a disciplina de concentrar a atenção. Portanto, através da meditação, o que podemos alcançar é a capacidade de voltar nossa mente para qualquer objeto determinado e focalizar a atenção nele, de acordo com nossa vontade.

 De uma perspectiva budista, a meditação deve ser praticada em relação a um objeto positivo, com o que queremos dizer um objeto que aumente nossa capacidade de concentração. Através da familiaridade, nós nos aproximamos cada vez mais do objeto e temos uma sensação de envolvimento com ele. Na literatura budista clássica, esse tipo de meditação é descrito como shamatha, a permanência serena, que é uma meditação de ponto único de concentração. Mas, a shamatha em si só não basta. No Budismo, associamos a meditação de ponto único à prática da meditação analítica, que é conhecida como vipasyana, discernimento penetrante. Nessa prática, aplicamos o raciocínio. Quando reconhecemos os pontos fortes e fracos de diferentes tipos de pensamentos e emoções, bem como suas vantagens e desvantagens, conseguimos aprimorar nossos estados mentais positivos que contribuem para uma sensação de serenidade, tranqüilidade e contentamento além de reduzir a incidência daquelas atitudes e emoções que conduzem ao sofrimento e à insatisfação. Desse modo, o raciocínio desempenha um papel de grande auxílio nesse processo.

 Se aquele que medita se mantiver concentrado no pensamento de que tudo muda de um momento para outro, essa é a meditação de ponto único. Ao passo que, se alguém meditar sobre a impermanência através da aplicação constante, a tudo o que encontrar, dos diversos argumentos referentes à natureza impermanente das coisas, reforçando sua convicção no fato da impermanência por meio desse processo analítico, ele estará praticando a meditação analítica sobre a impermanência. As duas têm um objeto comum – a impermanência – mas o modo de aplicação de cada meditação é diferente. É, portanto, possível integrar os dois tipos de meditação numa religião teísta. Um cristão, por exemplo, poderia dedicar-se à contemplação refletindo sobre os mistérios do mundo, sobre o poder da graça divina ou sobre várias razões que considere intensamente inspiradoras e que aumentem sua crença no divino Criador. Através de um processo dessa natureza, o indivíduo poderia chegar a uma profunda fé em Deus, e poderia, então, pousar sua mente nesse estado mantendo o foco nesse ponto único. Desse modo, o praticante chega a uma meditação de ponto único sobre Deus através de um processo analítico. Portanto, os dois aspectos da meditação estão presentes.

 Quais são as estruturas de causas e efeitos que produzem as emoções perturbadoras? A mente é uma entidade individual ou separada? Ela é misteriosa e precisa de ser estudada. A mente, ainda que sempre presente, segue misteriosa. Até agora, as pessoas têm-se dedicado a ver o mundo material, mas, recentemente, procuraram também compreender a natureza da mente, que produz a experiência do mundo material. Tentam compreender como o reflexo das emoções altera a saúde e como a visão do mundo, produzida pela própria mente, está diretamente ligada às emoções. Transformando as visões, transformamos a experiências do mundo material e também a saúde. Quando a mente permanece na condição natural sem qualquer conceitualização, o que surge é uma espécie de vacuidade, uma experiência directa da luminosidade da mente. Olhem silenciosamente para dentro. Tentem descobrir o estado não-conceptual. Tentem, mas não levem isso demasiado a sério!

 Situação atual do Tibet: Em poucas palavras, é uma nação ancestral com uma herança cultural única e que enfrenta agora a extinção total.

 ONU: De fato, no começo, em 1959 e princípios dos anos 60, levantamos a questão do Tibet junto à ONU e foram aprovadas três Resoluções. Mas, depois, preferimos dialogar com o Governo Chinês numa abordagem direta. Em 1979, desenvolvemos um contato direto com o Governo Chinês. No início dos anos 80, houve alguma esperança. O Governo Chinês estava bastante realista sob a liderança de Deng Xiaoping e, no Executivo, estava um comunista extraordinário, de mente aberta. Durante o seu tempo, houve uma esperança real. Admitiu publicamente o erro da China e pediu desculpas, publicamente, ao povo tibetano. Julgo que chegou até a mencionar, em público, a retirada da mão chinesa do Tibete em 80 por cento. Mas, depois, rapidamente, no meio dos anos 80, toda a política chinesa tornou-se mais severa. A atitude do Governo Chinês para com o Tibet endureceu e, recentemente, na última década, os oficiais locais chineses declararam publicamente o Budismo Tibetano como uma espécie de separatismo. Por isso, impuseram mais restrições ao Budismo e passaram a usar também o método do terror – qualquer tipo de atitude de ressentimento por parte de um Tibetano resulta logo em detenção e, por vezes, em prisão.

 Sabedoria: Se observarmos com uma visão correta, o próprio conflito é causa de nosso progresso. Através de nossa sofisticada inteligência poderemos perceber muitos de nossos conflitos. E quando estamos diante de um problema, de um conflito, se olharmos para ele de uma certa distância, iremos sempre encontrar naquela situação um elemento comum que é aglutinador daquela circunstância. E a partir do reconhecimento daquele elemento comum que tem a possibilidade de aglutinar, nós nos convenceremos de que é necessário mantermos o controle, de que é necessário não perdermos a cabeça, e a partir dessa postura utilizando a nossa inteligência humana nós vamos trabalhar buscando um caminho para a solução. É a isso que chamo de Sabedoria.

 Compaixão não é um sentimento que sentimos em relação àquelas pessoas que estão próximas de nós, nossos amigos íntimos. Não é disso que eu estou falando. Estou falando, sim, da compreensão, do entendimento, de que existe um direito à felicidade, um direito de as pessoas serem felizes e de buscarem a felicidade, e de um respeito nosso quanto a este direito. Esta é a verdadeira base da compaixão, aquele tipo de compaixão que também se manifesta em relação aos inimigos. Aquele tipo de sentimento que sentimos em relação aos amigos íntimos é quase sempre um sentimento de apego. E o apego, na verdade, vem carregado de preconceitos. A compaixão é isenta de preconceito. O apego, normalmente, parte de uma projeção mental de que aquela pessoa nos parece algo bom, algo belo, e aquele sentimento aí se desenvolve. No momento em que aquela aparência muda, ainda que a pessoa seja a mesma, aquele sentimento normalmente acaba. Assim, é importante distinguir apego de compaixão. E é importante ter compaixão sem apego.

 Alguns problemas acontecem e têm solução e não há necessidade de nos preocuparmos. Outros acontecem e não têm solução e não há nenhuma utilidade em nos preocuparmos com eles.

 Mesmo as diferentes religiões do mundo no passado e nos dias de hoje manifestam um certo conflito. Se observarmos as diferentes religiões ou filosofias vamos ver que seus fundamentos, às vezes, parecem contraditórios. Por exemplo: o Budismo e o Janaísmo não acreditam em um Criador, mas para a maior parte das religiões a figura de um Criador é básica, é fundamental. Mas, apesar das diferenças, existem pontos de base comuns apesar da maneira diferente que certos valores são apresentados. Por exemplo: em todas as religiões vamos encontrar um ponto comum que é o calor do coração e em todas há a valorização da compaixão, do amor e do perdão. Uma única religião não é capaz de satisfazer a diversidade dos seres humanos. Olhando por este ângulo, não só é possível termos respeito pelas diferentes religiões, como também iremos encontrar uma unidade entre as diferentes religiões. Este ponto de vista não só é possível como necessário.

 Antigamente, as nações conseguiam sobreviver de forma isolada, até mesmo elas eram eram auto-suficientes, bastavam-se a si próprias. Porém, com a economia que temos hoje no mundo isto é impossível devido à globalização, à comunicação que existe. Agora o interesse de cada um está diretamente entrelaçado com o interesse de todos. O seu próprio futuro depende do futuro dos outros. Em outras palavras: há um só mundo. Nessas circunstâncias, vai haver o bem geral se houver harmonia, se houver cooperação entre as nações. Isto é principalmente relevante no que se refere à Ecologia. Os problemas estão além das fronteiras nacionais. Nessas circunstâncias é crucial ter o sentido da responsabilidade universal.

 Se falarmos em paz, é necessário pensar na paz interior, na paz de espírito. A paz imposta pelo ódio é impossível. A paz mundial, a paz internacional, a paz entre as famílias e a paz entre cidades vem do indivíduo, da paz individual, da iniciativa individual. Quando proclamamos a necessidade de haver paz devemos desenvolver primeiro a necessidade de haver paz dentro de nossos corações. A paz com compaixão, a redução dos sentimentos negativos, a isso podemos chamar de desarmamento interior. Mas o desarmamento interno é suficiente? A resposta é: Não. Primeiro o desarmamento interior, depois a desmilitarização. O aparelho militar é muito caro de ser mantido, é um desperdício e é muito destrutivo. Chegou a hora de nós pensarmos com seriedade na desmilitarização do mundo. É claro que isso não é uma coisa a ser conseguida da noite para o dia. Isso é uma evolução gradual. Podemos começar banindo as armas nucleares, depois armas ofensivas, até chegar a uma desmilitarização. E é possível que continue necessária uma polícia internacional sob um certo controle. Mas eu acredito que se houvesse uma desmilitarização global nós não mais teríamos guerras nacionais, guerra civil, ditadores...

 

 

 Nós, como humanos, já conseguimos realizar muitos progressos materiais mas, apesar disso, os problemas ainda são enormes, e principalmente os novos problemas criados pelo desenvolvimento. Parece-me que não é muito produtivo nós ficarmos lastimando esses problemas, criticando, ou mesmo rezando na esperança de que eles se evaporem. Precisamos ter uma ação efetiva para lidarmos com estes problemas. Estou convencido de que, como na sua essência esses problemas foram criados pelo homem, a Humanidade também tem a capacidade de encontrar a solução para eles. Para isso, nós necessitamos de sincera motivação, determinação e sabedoria – esses três fatores são essenciais.

 O desenvolvimento espiritual não quer dizer necessáriamente religioso, mas o desenvolvimento da qualidade essencial que é a compaixão, que é paixão, estou falando de qualidades humanas essenciais que são a compaixão e o afeto entre os homem. Se uma pessoa vai ter uma prática religiosa ou não, cabe a ela decidir, isto é um direito que ela tem. Porém, enquanto ser humano, permanecendo como membro desta comunidade humana que existe no Planeta ela tem a obrigação de ter um coração caloroso. Isso não pode ser negado.

 Existem dois tipos de espiritualidade: a espiritualidade ligada a uma fé religiosa e outra que independe de fé religiosa. Esse segundo tipo de espiritualidade se baseia em valores universais.

 Um obstáculo ao desenvolvimento da compaixão é o apego excessivo ao amigo e a aversão aos inimigos. Quando nós criamos essa polaridade nos nossos relacionamentos deixamos de ver as pessoas com equanimidade, que é a base da compaixão. Aquele a quem nós chamamos inimigo é o professor nos dando lições de desenvolvimento, de tolerância e de compaixão, independente de qual seja a motivação. Para exercitar a paciência, temos de ficar diante de situações difíceis. Ninguém aprende a ser paciente entre amigos ou apenas em situações agradáveis e confortáveis. Cultivar a tolerância e a compaixão não significa se curvar diante do inimigo. Significa não deixar a raiva tomar conta, porque ela anula nossa capacidade de discernir entre ações construtivas e ações destrutivas.

  Não acredito que uma mudança no calendário possa mudar a vida das pessoas. É certo que a Humanidade está amadurecendo e o nível de consciência vem aumentando, mas somente aqueles que estiverem fazendo seu trabalho de transformação pessoal é que se beneficiarão disso. As pessoas que não estiverem fazendo seu esforço pessoal continuarão tendo que lidar com as mesmas questões e terão os mesmos obstáculos. A Humanidade vem atravessando décadas de violação dos direitos humanos. Então, as pessoas não devem ter as expectativas de que as mudanças aconteçam da noite para o dia. Mas temos que perseverar, porque é o único caminho.

 Quando perdemos a esperança o resultado é que nos tornamos deprimidos e talvez até suicidas. Portanto, nossa existência é fortemente enraizada na esperança. Embora não haja garantia de que o futuro chegará, é porque temos esperança no futuro que somos capazes de continuar vivendo. Podemos dizer que o propósito de nossa vida, nosso objetivo de vida, é a felicidade.

 Hoje, por causa da crescente mudança tecnológica e da natureza da economia mundial estamos muito mais dependentes uns dos outros do que antes. Diferentes países e continentes tornaram-se mais intimamente associados uns com os outros. Na realidade, a sobrevivência de uma região do mundo depende da de outras. Portanto, o mundo tornou-se mais próximo, muito mais interdependente. Como conseqüência, há mais interação humana. Sob tais circunstâncias, a idéia de pluralismo entre as religiões mundiais é muito importante. Em tempos passados, quando as comunidades viviam separadas uma das outras e as religiões surgiam num relativo isolamento, a idéia que havia só uma religião era muito útil. Mas agora a situação mudou, e as circunstâncias são inteiramente diferentes. Agora é crucial aceitar o fato de que existem diferentes religiões, e a fim de desenvolver verdadeiro respeito mútuo entre elas é essencial aproximar o contato entre as várias religiões... Todas as religiões do mundo têm o potencial para produzir boas pessoas, a despeito das suas diferenças de filosofia e de doutrina. Cada tradição religiosa tem sua própria maravilhosa mensagem a transmitir.

 Do ponto de vista do Budismo o conceito de um Criador é ilógico. É difícil para os budistas entenderem esse conceito por causa do modo que eles analisam a causalidade. Contudo, este não é o lugar para discutir questões filosóficas. O ponto importante aqui é que esta abordagem é eficaz para as pessoas que seguem esses ensinamentos nos quais a crença básica está em um Criador. De acordo com essas tradições, o ser humano individual é criado por Deus. O que se segue a isso é o ensinamento que deveríamos amar nossos semelhantes – esta é a mensagem principal aqui. O raciocínio é que se amamos a Deus deveremos amar nossos semelhantes, porque eles, como nós, foram criados por Deus. O futuro deles, como o nosso, depende do Criador, portanto, sua situação é igual a nossa. Logo, a crença das pessoas que dizem ame a Deus mas não mostram amor verdadeiro para seus semelhantes é questionável. A pessoa que acredita em Deus e no amor a Deus deve demonstrar a sinceridade de seu amor a Deus através do amor dirigido aos semelhantes.

 Acredito que não há problemas em permanecer não-crente, mas enquanto você fizer parte da Humanidade, enquanto você for um ser humano, você precisa de afeição humana, de compaixão humana. Este é realmente o ensinamento essencial de todas as tradições religiosas: o ponto crucial é a compaixão ou a afeição humana. Sem afeição humana, mesmo crenças religiosas podem se tornar destrutivas. Assim, a essência, mesmo na religião, é um bom coração. Considero que a afeição humana, ou compaixão, é a religião universal. Crente ou não-crente, todos necessitam de afeição humana e de compaixão, porque compaixão nos dá força interior, esperança e paz mental. Assim, ela é indispensável para todos.

 Diante da situação global atual, a cooperação é essencial, especialmente em campos como a economia e a educação. O conceito de que diferenças são importantes está agora mais ou menos ultrapassado, como demonstra o movimento por uma Europa Ocidental unificada. Acho que esse movimento é verdadeiramente maravilhoso e chega em boa hora. Ainda assim, esse trabalho entre as nações não aconteceu por causa da compaixão ou da fé religiosa, mas por necessidade. Há uma tendência crescente em direção da conscientização global. Nas atuais circunstâncias, um relacionamento mais íntimo com os outros tornou-se um elemento da nossa própria sobrevivência. Portanto, o conceito de responsabilidade universal baseado na compaixão e num senso de irmandade é essencial.

 Pensar apenas em dinheiro, em lucrar vendendo armas, é realmente horrível. Certa vez, encontrei uma francesa que passara muitos anos em Beirute, no Líbano. Ela me disse, com grande tristeza, que durante a crise em Beirute havia gente de um lado da cidade ganhando dinheiro com a venda de armas, enquanto do outro lado, no mesmo dia, havia gente inocente sendo morta pelas mesmas armas. Da mesma forma, de um lado do planeta há pessoas vivendo suntuosamente com o lucro auferido da venda de armas, enquanto pessoas inocentes morrem do outro lado do planeta, vítimas daquelas balas sofisticadas. O primeiro passo, portanto, é parar a venda de armas. Às vezes eu brinco com meus amigos suecos: Vocês são mesmo maravilhosos. Mantiveram a neutralidade durante o último conflito e sempre consideram a importância dos direitos humanos e da paz mundial.Ótimo. Mas, nesse meio tempo, estão vendendo muitas armas. Há uma pequena contradição aí, não há? Assim, desde a crise do Golfo Pérsico, prometi a mim mesmo que pelo resto da minha vida contribuirei para avançar a idéia da desmilitarização. No que diz respeito ao meu país, já resolvi que, futuramente, o Tibet deverá ser uma zona totalmente desmilitarizada.

 

 



 

Alguns textos consultados disponibilizados na Web

A Flor de Lótus do Amor Universal

A Arte da Felicidade

Ética para um Novo Milênio

Transformando a Mente

Conferência pronunciada no Maracanãzinho, Rio de Janeiro, 10 de junho de 1992

 

Páginas Web e Websites consultados

 

http://www.geocities.com/sakyabr/

http://www.starnews2001.com.br/flor_de_lotus.html

http://www.dalailama.com/

http://www.savetibet.org/

http://www.studentsforafreetibet.org/

http://www.tibet.org/norling/

http://www.shambhala.org/

http://www.starnews2001.com.br/dalai.html

http://www.dremin.com/3dstudio/3dstudio.htm

http://www.mensageirodapaz.hpgvip.ig.com.br/

http://www.dharmanet.com.br/dalai/

http://www.comamor.com.br/mensagens_dalai.asp

http://www.imediata.com/lancededados/IMPERIO/dalai.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Dalai_Lama

http://www.estadao.com.br/ultimas/

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/geae/meditacao.html

http://www.beijaflor.online.pt/18/padma.htm

http://www.beijaflor.online.pt/18/dalai.htm

http://www.geocities.com/sakyabr/DLTit.htm

http://www.geocities.com/sakyabr/DLEnsin1.htm

http://www.geocities.com/sakyabr/DLEnsin2.htm

http://www.geocities.com/sakyabr/DLEnsin3.htm

http://www.geocities.com/sakyabr/DLEnsin4.htm

http://www.salves.com.br/om_mani.htm