A CULTURA E O PROBLEMA HUMANO
(5ª Parte)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Informação Preliminar

 

 

 

Este estudo se constitui da 5ª parte de um conjunto de fragmentos garimpados na obra A Cultura e o Problema Humano (título do original: This Matter of Culture), de autoria de Jiddu Krishnamurti. Tomando por tema básico a educação, a cultura e o conceito de verdadeira vida, Krishnamurti aborda neste livro problemas palpitantes, que dizem respeito a algumas das preocupações fundamentais do homem moderno. Entre outros: Qual o papel da disciplina em nossa vida? Como pode a mente ultrapassar os obstáculos em si própria existentes? Que é o autoconhecimento, e como alcançá-lo? Que é o destino? Como poderemos nos livrar das nossas preocupações de espírito, se não podemos evitar as situações que as causam? Poderá uma pessoa se abster de fazer o que lhe apraz, e, ao mesmo tempo, encontrar o caminho da liberdade?

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Jiddu Krishnamurti

Jiddu Krishnamurti

 

 

 

Jiddu Krishnamurti (Madanapalle, 11 de maio de 1895 – Ojai, 17 de fevereiro de 1986) foi um filósofo, escritor, orador e educador indiano. Proferiu discursos que envolveram temas como revolução psicológica, meditação, conhecimento, liberdade, relações humanas, a natureza da mente, a origem do pensamento e a realização de mudanças positivas na sociedade global. Constantemente, ressaltou a necessidade de uma revolução na psique de cada ser humano, e enfatizou que tal revolução não poderia ser levada a cabo por nenhuma entidade externa seja religiosa, seja política, seja social. Uma revolução que só poderia ocorrer através do autoconhecimento, bem como da prática correta da meditação do ser-humano-aí-no-mundo liberto de toda e qualquer forma de autoridade psicológica.

 

O cerne dos seus ensinamentos consiste na afirmação de que a necessária e urgente mudança fundamental da sociedade só poderá acontecer através da transformação da consciência individual. A necessidade do autoconhecimento e da compreensão das influências restritivas e separativas das religiões organizadas, dos nacionalismos e de outros condicionamentos foram por ele constantemente realçadas.

 

 

 

Fragmentos Krishnamurtianos

 

 

 

Prestar atenção é um processo de estreitamento. A atenção geralmente recomendada, exercitada ou praticada como enlevo espiritual consiste em estreitar a mente, em reduzi-la a um ponto, sendo isto um processo de exclusão, de tal sorte que parte da nossa energia está sendo consumida nessa resistência. Mas, há uma qualidade de atenção diferente, um estado mental “não exclusivo”, isto é, que nada exclui; e, pelo fato de não haver resistência, de não haver exclusão de nada, a mente é capaz de uma atenção muito maior. Em toda resistência há desperdício de energia. Portanto, prestar atenção é, por exemplo, escutar tanto o som dos sinos como o silêncio entre as batidas. Isto significa que, se escutarmos compreensivamente (incluindo tudo), não havendo, pois, divisão nenhuma e, por conseguinte, nenhuma espécie de resistência, veremos, então, que a mente é capaz de prestar atenção completa a qualquer coisa, sem esforço algum. A Verdadeira Atenção é uma atitude completamente diferente; é estarmos totalmente despertos, de modo que a nossa mente se conserve atenta em todas as horas, livre do processo de exclusão. Nossa mente, de fato, é uma coisa viva; não está morta.

 

Poderemos revolucionar ou mesmo quebrar o padrão da sociedade, mas, desse próprio ato de revolucionar-quebrar nascerá um novo padrão, que é, novamente, a mesma coisa, em forma diferente, pois, os privilégios e as sinecuras permanecem – uma sociedade em que há pessoas imensamente ricas, que têm no mundo tudo o que desejam, e, ao mesmo tempo, seres-humanos-aí-no-mundo que nada têm. Foi sempre o que aconteceu depois de cada revolução a Francesa, a Russa e a Chinesa. Só poderemos criar uma sociedade em que não existam tanta corrupção, tanto egoísmo e tanta miséria, quando, todos nós, como indivíduos, estivermos livres da ambição e soubermos o que significa Amar.

 

No Silêncio, brota todo pensamento.

 

A mente só é preguiçosa e ignorante quando não está cônscia de suas reações, dos seus próprios e sutis movimentos. A verdadeira ignorância é o desconhecimento de si mesmo, é o não percebermos como funciona a nossa mente, quais são os nossos motivos e as nossas reações. E a mente ambiciosa, que busca um resultado, não é uma mente ativa, no genuíno sentido da palavra. Embora, superficialmente, pareça ativa, esforçada e trabalhe o dia todo para obter o que deseja, abaixo da superfície está cheia de desespero e de frustração. O ser-humano-aí-no-mundo que se limita a aceitar, a rejeitar ou a imitar, que, por medo, cava uma pequena vala para si próprio, este, sim, é um ser-humano-aí-no-mundo preguiçoso, e, por conseguinte, sua mente acabará se deteriorando, se despedaçando. Já o ser-humano-aí-no-mundo vigilante não é preguiçoso, ainda que freqüentemente se deixe ficar sentado e muito quieto, a observar as árvores, os pássaros, as pessoas, as estrelas e o rio silencioso. [Observar a Vida não é preguiçar; é Viver. É observando a Vida que aprendemos, e, ao aprender, melhor Servimos.]

 

A revolta que nasce da Compreensão é aquela do indivíduo que se liberta da sociedade, cujas bases são a ambição, a inveja, a ganância e a avidez ou seja, a ânsia de aquisição. A revolução que nasce da compreensão (na mente e no Coração) é criadora, modificadora, e nela está o germe de uma cultura e de uma sociedade completamente diferentes.

 

 

 

 

Temos ideais porque temos medo de ser o que somos, porque não temos confiança em nós mesmos. Por isto, procuramos ser o que a sociedade, o que nossos pais e o que a nossa religião preceituam. Ora, precisamos aprender a usar a nossa mente para descobrir o que desejamos, de fato, fazer na vida, não o que a sociedade ou um certo ideal, seja ele qual for, nos manda fazer. Isto é ser um verdadeiro revolucionário.

 

 

Pateta

Meu ideal é ser pateta!

 

 

O movimento da Verdade é que criará um novo mundo, e não a mente que se acha em revolta contra a sociedade.

 

Na percepção clara da vastidão e da beleza da Terra um arco-íris, por exemplo o que tem muito mais importância é o próprio sentimento, o êxtase que acompanha a apreciação profunda do belo; e este sentimento não pode ser despertado pelo mero cultivo da cultura, do conhecimento ou da memória. E isto porque enquanto em um certo nível o conhecimento é necessário, em outro nível ele se torna um empecilho. A tradição, em coisas mecânicas, é de grande importância, mas, quando a tradição é utilizada como meio de guiar o ser-humano-aí-no-mundo espiritualmente, ela se torna um obstáculo ao descobrimento de coisas mais grandiosas. Dependemos do conhecimento e da memória nas coisas mecânicas e em nosso viver diário. Sem conhecimento, seríamos incapazes de fazer muitas coisas. Mas, o conhecimento é um obstáculo quando se torna tradição ou crença para guiar o espírito, a psique, o ser interior. E, também, separa os seres-humanos-aí-no-mundo, cria inimizades e também impede o descobrimento do profundo significado da Verdade, da Vida e de Deus. [Haverá maior exemplo disto do que as guerras religiosas?] O que divide as pessoas é a tradição, as crenças que condicionam a mente de uma certa maneira (hinduístas, maometanos, budistas, cristãos, judeus etc.). Todavia, para descobrirmos o que é Deus [o nosso Deus Interior], deverá a nossa mente estar livre de tudo quanto é tradição, acumulação e conhecimento, que servem apenas de proteção psicológica. A função da educação é proporcionar ao estudante abundantes conhecimentos em vários setores do esforço humano, e, ao mesmo tempo, libertar sua mente de toda tradição, para ser capaz de investigar e descobrir. De outro modo, a mente se tornará mecânica, totalmente ocupada pelo mecanismo do conhecimento. A menos que se liberte constantemente de sua acumulação das multimilenares tradições, a mente será incapaz de descobrir o Supremo, o Eterno, o Verdadeiro. Reconhecer a diferença, ou seja, perceber onde o conhecimento é destrutivo, e onde ele é essencial, de tal sorte que funcione o mais amplamente possível eis o começo da inteligência. As filosofias, as teorias e as crenças que haurimos dos livros e que se tornam nossa tradição constituem um verdadeiro empecilho à mente, porque esta se serve, então, de tais coisas como meios de segurança psicológica, para si própria, e, por conseguinte, fica por elas condicionada. Portanto, é necessário, ao mesmo tempo que a mente se liberta de todas as tradições, que cultive o conhecimento técnico. [Uma coisa não exclui a outra.] E tal é a função da educação. É preciso ter conhecimentos para se estudar um problema, mas, a mente, para encontrar a solução, deve estar desembaraçada destes conhecimentos. O que se necessita não é filosofia ou crença, porém, uma mente livre para investigar, para descobrir e para ser criadora. Definitivamente, se ou enquanto a mente não for livre, nos tornaremos escravos do sistema vigente, e isto, em verdade, significa que não seremos entes humanos criadores [dialéticos]. Enfim, se a nossa mente for livre para descobrir o Verdadeiro, veremos aparecer uma abundante e incorruptível riqueza, na qual se encontra uma inefável Alegria. Então, todas as nossas relações com as pessoas, com as idéias e com as coisas [mas, principalmente, conosco] – assumem um significado totalmente diferente. [A mudança é importantíssima e insubstituível, porém, a Primeira Mudança deverá acontecer em nosso interior. Se as coisas mudarem do lado de fora (a política, a Economia, a cultura, a sociedade etc.], mas, nós não mudarmos interiormente, é como se não tivesse havido mudança alguma, pois, não a perceberemos.]

 

 

Cadeira de Balanço

 

 

Jamais poderá haver mudança efetiva mediante qualquer forma de compulsão. De fato, só poderá haver mudança pela Investigação-Compreensão.

 

Para compreendermos e repelirmos as pressões das tradições [religiosas, políticas, sociais, familiares etc.], necessitaremos não de força, porém, de confiança aquela extraordinária confiança que nasce quando aprendemos-sabemos pensar as coisas por nós mesmos. Só aprendendo e sabendo pensar, um ser-humano-aí-no-mundo poderá se tornar e ser criador e não uma máquina servil.

 

Não devemos aceitar nada, não importa quem o diga, mas, sempre investigar cada coisa e todas as coisas por nós mesmos. Precisamos aprender a ser capazes de prestar atenção a uma dada coisa, com todo o nosso ser, e, ao mesmo tempo, conservar o lado externo de nossa consciência sensível a tudo o que se passa em redor de nós e dentro de nós. Enfim, precisamos aprender a prestar atenção a uma certa coisa e, ao mesmo tempo, conservar a mente realmente sensível a tudo o que se passa, inclusive as nossas impressões e reações interiores.

 

Não será possível uma completa atenção quando houver qualquer forma de resistência. Se não houver autoconhecimento, não se poderá prestar atenção completa.

 

No momento em que começarmos a aceitar o que dizem os outros, estaremos psicologicamente mortos. Todavia, devemos compreender que, para a nossa mente, não existe morte.

 

Como sói ocorrer,
como sói acontecer,
como sói sempre ser,
eu acabei morrendo.
Mas, sem subtraendo,
eu persistia vivendo.
Nossa mente é imortal.
A Santa LLuz é imortal.
A Santa Vida é imortal.
A Imortalidade é imortal.

 

O importante não é o prazer nem a dor. É, antes, estar em comunhão com todas as coisas, ser sensível tanto ao feio como ao belo. Poderemos estar rodeados de grande beleza, por montanhas, campos e rios, mas, se não estivermos plenamente despertos para tudo, isto equivale a estarmos mortos. Poderemos ter um belo rosto e traços finos, poderemos nos trajar com gosto e ter maneiras polidas, poderemos pintar ou descrever bem a beleza de uma paisagem, mas, se não houver aquele íntimo sentimento de bondade, todos os acessórios exteriores da beleza só conduzem a uma vida muito superficial, a uma vida sofisticada, a uma vida sem muita significação. É a Beleza Interior que dá graça e singular delicadeza à forma e ao movimento exteriores. Quando a mente só está preocupada consigo mesma e com suas próprias atividades, não é bela. O que quer que fizer, ela permanecerá feia, limitada e, por conseguinte, incapaz de saber o que é a Beleza. Por isto, só a Bondade Interior nos dará Beleza. E só da sensibilidade à totalidade da existência brotam a Bondade e o Amor. E só a mente que Ama é, de fato, uma Mente Religiosa, porque está inserida no movimento da Realidade, da Verdade, de Deus; só esta mente pode saber o que é a Beleza. Enfim, a mente que não pertence a nenhuma nação, a nenhum grupo e a nenhuma sociedade, que de nenhuma autoridade depende, que não é impelida pela ambição nem contida pelo medo só esta mente está sempre florescendo em Amor e Bondade. Porque está no movimento da Realidade, ela sabe o que é a Beleza. Porque é sensível tanto ao feio como ao belo, é uma mente criadora, de ilimitada compreensão. [Esta é a Mente Religiosa de um Iniciado nos Mistérios Eternos, porque fora da Iniciação nada do que acima foi dito poderá ser compreendido nem realizado. E Jiddu Krishnamurti sabia disto, só que não comentava. Mas, tudo o que ele ensinou foram Princípios Iniciáticos elevadíssimos. Por isto, muitas coisas que Krishnamurti divulgou não foram compreendidas nem devidamente apreciadas pela maioria da Humanidade. Por enquanto. Todavia, se apenas uma só pessoa compreender...]

 

Só poderemos começar a trabalhar e a ajudar efetivamente, quando, em nós, já não houver mais o espírito de rejeição, de condenação, [de separatividade, de crítica e de ofensividade.]

 

Buscar a realização de qualquer desejo, não importa qual, sempre acarretará sofrimento. O sofrimento é a sombra do desejo. A ambição, o desejo e a sua realização [ou não], inevitavelmente, levam à frustração e ao sofrimento.

 

Eu ambicionava ser presidente;
não consegui, me frustrei e sofri.
Eu ambicionava ser um grande cantor;
não consegui, me frustrei e sofri.
Eu ambicionava ser purpurado cardeal;
não consegui, me frustrei e sofri.
Eu ambicionava ser bom enxadrista;
não consegui, me frustrei e sofri.
Eu ambicionava ser o 'Superman';
não consegui, me frustrei e sofri.
Eu ambicionava ser piloto de avião;
não consegui, me frustrei e sofri.
Eu ambicionava ser marechal-do-ar;
não consegui, me frustrei e sofri.
Eu ambicionava ser juiz de direito;
não consegui, me frustrei e sofri.
Eu ambicionava ser um profeta;
não consegui, me frustrei e sofri.
Parei com essa mania de querer ser,
e meu sofrimento teve fim, porque
tudo o que eu queria ser eu já era.

 

Normalmente, os grandes êxitos conseqüentizam grandes sofrimentos.

 

Só quando não se sente vivamente a verdade de uma coisa, pode-se dizer que ela é de difícil execução.

 

Inventamos uma "filosofia da dificuldade”, e consideramos uma virtude fazer esforço, lutar e resistir.

 

 

 

 

Só a ação nascida do amor terá significado, vitalidade e beleza.

 

O ser-humano-aí-no-mundo que não é ninguém, que não deseja ser alguém, que é sempre ele próprio e compreende a si mesmo é livre da arrogância e do orgulho.

 

Todos gostamos de nos mostrar. Mas, um lírio ou uma rosa nunca se mostram diferentes do que são, e sua beleza consiste em ser o que são.

 

Em nossas vidas, em nossas experiências, se não nos libertarmos dos nossos fundos (hinduísta, cristão, comunista ou o que quer que sejamos), nossas respostas a todo desafio fortalecerá ou modificará este fundo. Por conseguinte, nunca estaremos verdadeiramente livres para explorar, descobrir e compreender o que é a Verdade, o que é Deus [e quem, de fato, somos]. Então, na realidade, a experiência não liberta a mente, e o aprender pela experiência é apenas um processo de formação de novos padrões [(pre)conceitos], baseados no antigo condicionamento cultural da pessoa. O pior é que, à medida que nos tornamos mais velhos, nos entrincheiramos cada vez mais em nossas experiências, pois, tudo é ditado pelos nosso fundo. A grande questão é: existirá um "estado de aprender” em que a mente esteja livre do fundo, um estado sem busca nenhuma? Existirá um estado em que a mente não seja um instrumento de aprender, porém, de ser? Existirá um estado em que a mente não se submeta a autoridade alguma, seja a autoridade do conhecimento, seja a autoridade da sociedade, seja a autoridade da religião, seja a autoridade da cultura, seja a autoridade de qualquer condicionamento? Só quando a mente estiver livre da carga do conhecimento poderá descobrir o que é verdadeiro, e neste processo de descobrimento não haverá acumulação. A Verdade é viva, não é estática, e a mente que desejar descobrir a Verdade deverá ser também viva, livre da carga do conhecimento ou da experiência. Só então poderá existir um estado em que a Verdade poderá se tornar existente.

 

Sempre somei
1
+ 1 e achei 2.
Um dia, me libertei,
e somei 1
+ 1,
e encontrei 1!

 

Quando o aprender é apenas um meio de "chegar a alguma parte", no momento em que chegarmos aonde desejávamos chegar, esqueceremos o meio, e isto, certamente, de modo nenhum é aprender. Assim, só poderá haver o "estado de aprender” quando não houver motivo, incentivo, quando fizermos uma coisa por amor à própria coisa. [Platonicamente, isto significa substituir a caverna pela lanterna. Cartesianamente, isto significa substituir a res extensa pela Res Cogitans. Kantianamente, isto significa substituir o hipotético pelo categórico. Iniciaticamente, isto significa substituir o fiat voluntas mea pelo Fiat Voluntas Tua. Cosmicamente, isto significa substituir o hoje-ego-tempo pelo Ad Æternum.]

 

 

 

Aprendi Geografia,
mas, esqueci tudo.
Aprendi Biologia,
mas, esqueci tudo.
Aprendi Geometria,
mas, esqueci tudo.
Aprendi Psicologia,
mas, esqueci tudo.
Aprendi Astronomia,
mas, esqueci tudo.
Aprendi Antropologia,
mas, esqueci tudo.
Aprendi Sociologia,
mas, esqueci tudo.
Aprendi Alquimia,
mas, esqueci tudo.
Eu queria ser advogada,
por isto, esqueci tudo.

 

 

Não busqueis o que deveria ser, mas, compreendei O-que-é. A compreensão de o que realmente sois é muito mais importante do que a busca do que deveríeis ser. Por quê? Porque na compreensão de o que sois começa um espontâneo processo de transformação, ao passo que no "vir a ser" o que pensais que deveríeis ser não há nenhuma transformação, porém, tão-só, a continuação da mesma "coisa velha” em forma diferente.

 

 

Andando

 

 

Não há ponto de partida fixo nem ponto de chegada fixo. A idéia de que há em cada um de nós um ponto fixo e que a Realidade é também fixa é uma ilusão. Precisamos nos conscientizar de que a Realidade está além do tempo, não tem ponto fixo. Só a mente livre de todas as acumulações, tanto conscientes como inconscientes, será capaz de descobrir o que é a Verdade, o que é Deus.

 

Para o Ser
nunca houve começo,
pois, o nada
não pode dar origem
a alguma coisa.

Para o Ser
jamais haverá fim,
pois, o espaço-tempo
é uma miralusão
1
agrilhoante e retardante.

 

As crenças são uma verdadeira desgraça, porquanto dividem os seres-humanos-aí-no-mundo e geram antagonismo. Só depois de transcender todas as crenças, todas as diferenças e todas semelhanças poderá a mente ser livre e capaz de descobrir o Verdadeiro.

 

Assim que a mente se acostuma com alguma coisa, começa a funcionar na rotina do hábito e, por conseguinte, se torna embotada, perdendo, 'ipso facto', aquela serenidade tão necessária para descobrir o que é Deus, o que é a Beleza e o que é o Amor.

 

Matamos tigres porque gostamos de matar, pela sensação de matar. Há um forte traço de crueldade em nós, e todos nós praticamos atos inconsiderados, tais como arrancar as asas de uma mosca para ver o que acontece. Tagarelamos e dizemos coisas ofensivas, a respeito de outras pessoas. Matamos para comer, matamos em prol da chamada paz, matamos pela pátria e matamos por nossas idéias. [E cada vez que matamos nos suicidamos mais um pouco.]

 

Aceitamos o sofrimento como parte inevitável da vida, e criamos filosofias acerca dele, e, justificando o sofrimento, dizemos que ele é necessário para se encontrar Deus. Mas, eu digo que há sofrimento porque o homem é cruel para com o homem [e de maneira geral, pois, é cruel, também, com os animais, com os vegetais e consigo mesmo]. Também há, na vida, muitas coisas que não compreendemos e que, por conseguinte, causam sofrimento, coisas tais, como a morte, o desemprego, ver os pobres e sua desdita, [esta Pandemia de COVID-19] etc. Nada disto compreendemos e, por isto, nos torturamos; e, quanto mais sensível for a pessoa, tanto mais ela sofrerá. Em vez de procurarmos compreender estas coisas, justificamos o sofrimento, e, em vez de nos revoltarmos contra todo este sistema corrupto e dele nos libertarmos, tratamos de nos ajustar a ele. [Como agora, que estamos nos (des)ajustando à COVID-19, flexibilizando antes da hora, esquecendo que bumerangue não existe só na Austrália e alhures.] Para ficar livre do sofrimento, deve a pessoa estar livre do desejo de fazer mal e também de "fazer bem" esse "bem” que é também resultado do nosso condicionamento, [e que, às vezes, é muito pior do que fazer mal, como, por exemplo, receitar (hidroxi)cloroquina para quem pegou a COVID-19.]

 

Você já percebeu que muitos falam de inocência, e, no entanto, tudo o que fazem é destrutivo, expressando sua brutalidade interior, seu horrível desrespeito aos seres vivos. Pois é. Muitos são brutais em sua ambição, se massacram uns aos outros em suas guerras e se corrompem mutuamente com e por dinheiro. Mas, por que fazemos mal a outras pessoas, aos animais, às flores? Sim, precisamos aprender a Amar. Amar é ter aquele extraordinário sentimento de afeição em que nada se pede em retribuição.

 

Dizimei,
para poder ser ajudado.
Ajoelhei-me,
para poder ser prelevado.
Confessei-me,
para poder ser perdoado.
Comunguei,
para poder ser abençoado.
Orei,
para poder ser afortunado.

Não pequei,
para não ser castigado.
Sacrifiquei-me,
para não ser tentado.
Ciliciei-me,
para afastar o condenado.
Persignei-me,
para poder ser resguardado.
E pensei:
com Deus, no céu, estarei sentado.

 

Quando desejamos, já temos em nós o germe da corrupção. O Verdadeiro Brâmane é aquele que nada pede a ninguém, não porque seja orgulhoso, mas porque ele é a Luz de si mesmo.

 

Uma sociedade sem Amor é como terra sem rios, como um deserto [sem oásis.]

 

Não devemos dar ouvidos à opinião, não importa de quem seja, mas, descobrir, por nós mesmos, o que é Verdadeiro. Uma opinião pode mudar da noite para o dia, mas, a Verdade não pode mudar.

 

 

Opiniões

Opiniões

 

 

A mente faz e desfaz deuses. Mas, a mente não pode criar a Verdade. Pode criar opiniões, juízos, idéias, teorias, hipóteses, teses, presunções, conceitos, mas, não pode criar a Verdade.

 

Propiciamos os deuses porque temos medo deles. Só a mente serena sem, compulsoriamente, ter sido posta serena poderá descobrir e compreender o que é Verdadeiro, o que é Belo, o que é Deus.

 

Por medo,
eu me ajoelhei.
Por medo,
eu me persignei.
Por medo,
eu rezei.

Por medo,
eu me confessei.

Por medo,
eu comunguei.

Por medo,
eu me sacrifiquei.
Por medo,
eu me ciliciei.
Por medo,
eu dizimei.

Por medo,
eu não pequei.

Por medo,
eu jejuei.

Por medo,
eu a mão beijei.
Por medo,
eu partilhei.
Por medo,
eu hipotetizei.

Por medo,
eu me escravizei.

Por medo,
eu não me libertei.

Por medo,
eu não me Illuminei.

Por medo,
eu na mesma fiquei.

 

 

 

Continua...

 

 

 

_____

Nota:

1. Miralusão = Miragem + Ilusão.

 

Música de fundo:

Symphony Nº 6 (Pastorale), em Fá Maior, opus 68
Compositor: Ludwig van Beethoven

Fonte:

http://www.kunstderfuge.com/beethoven/variae.htm#Symphonies

Observação:

A Sinfonia nº 6 em Fá Maior, opus 68, de Ludwig van Beethoven, também chamada Sinfonia Pastoral, é uma obra musical precursora da música programática. Esta Sinfonia foi completada em 1808, e teve a sua primeira apresentação no Theater an der Wien, em 22 de dezembro de 18081. Dividida em cinco andamentos, tem por propósito descrever a sensação experimentada nos ambientes rurais. Beethoven insistia que essas obras não deveriam ser interpretadas como um quadro sonoro, mas, como uma expressão de sentimentos. É uma das mais conhecidas obras da fase romântica de Beethoven.

 

Páginas da Internet consultadas:

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