Este
estudo se constitui da 5ª parte de um conjunto de fragmentos garimpados
na obra A Cultura e o Problema Humano (título do original:
This Matter of
Culture), de autoria de Jiddu Krishnamurti. Tomando por tema
básico a educação, a cultura e o conceito de verdadeira
vida, Krishnamurti aborda neste livro problemas palpitantes, que dizem
respeito a algumas das preocupações fundamentais do homem
moderno. Entre outros: Qual o papel da disciplina em nossa vida? Como
pode a mente ultrapassar os obstáculos em si própria existentes?
Que é o autoconhecimento, e como alcançá-lo? Que
é o destino? Como poderemos nos livrar das nossas preocupações
de espírito, se não podemos evitar as situações
que as causam? Poderá uma pessoa se abster de fazer o que lhe apraz,
e, ao mesmo tempo, encontrar o caminho da liberdade?
Breve
Biografia
Jiddu
Krishnamurti
Jiddu
Krishnamurti (Madanapalle, 11 de maio de 1895 – Ojai, 17 de fevereiro
de 1986) foi um filósofo, escritor, orador e educador indiano.
Proferiu discursos que envolveram temas como revolução psicológica,
meditação, conhecimento, liberdade, relações
humanas, a natureza da mente, a origem do pensamento e a realização
de mudanças positivas na sociedade global. Constantemente, ressaltou
a necessidade de uma revolução na psique de cada ser humano,
e enfatizou que tal revolução não poderia ser levada
a cabo por nenhuma entidade externa seja religiosa, seja política,
seja social. Uma revolução que só poderia ocorrer
através do autoconhecimento, bem como da prática correta
da meditação do ser-humano-aí-no-mundo liberto
de toda e qualquer forma de autoridade psicológica.
O
cerne dos seus ensinamentos consiste na afirmação de que
a necessária e urgente mudança fundamental da sociedade
só poderá acontecer através da transformação
da consciência individual. A necessidade do autoconhecimento e da
compreensão das influências restritivas e separativas das
religiões organizadas, dos nacionalismos e de outros condicionamentos
foram por ele constantemente realçadas.
Fragmentos
Krishnamurtianos
Prestar
atenção é um processo de estreitamento. A atenção
geralmente recomendada, exercitada ou praticada como enlevo espiritual
consiste em estreitar a mente, em reduzi-la a um ponto, sendo isto um
processo de exclusão, de tal sorte que parte da nossa energia está
sendo consumida nessa resistência. Mas, há uma qualidade
de atenção diferente, um estado mental “não
exclusivo”, isto é, que nada exclui; e, pelo fato de não
haver resistência, de não haver exclusão de nada,
a mente é capaz de uma atenção muito maior. Em toda
resistência há desperdício de energia. Portanto, prestar
atenção é, por exemplo, escutar tanto o som dos sinos
como o silêncio entre as batidas. Isto significa que, se escutarmos
compreensivamente (incluindo tudo), não havendo, pois, divisão
nenhuma e, por conseguinte, nenhuma espécie de resistência,
veremos, então, que a mente é capaz de prestar atenção
completa a qualquer coisa, sem esforço algum. A Verdadeira Atenção
é uma atitude completamente diferente; é estarmos totalmente
despertos, de modo que a nossa mente se conserve atenta em todas as horas,
livre do processo de exclusão. Nossa mente, de fato, é uma
coisa viva; não está morta.
Poderemos
revolucionar ou mesmo quebrar o padrão da sociedade, mas, desse
próprio ato de revolucionar-quebrar nascerá um novo padrão,
que é, novamente, a mesma coisa, em forma diferente, pois, os privilégios
e as sinecuras permanecem – uma sociedade em que há pessoas
imensamente ricas, que têm no mundo tudo o que desejam, e, ao mesmo
tempo, seres-humanos-aí-no-mundo que nada têm. Foi sempre
o que aconteceu depois de cada revolução –
a Francesa, a Russa e a Chinesa. Só poderemos criar uma sociedade
em que não existam tanta corrupção, tanto egoísmo
e tanta miséria, quando, todos nós, como indivíduos,
estivermos livres da ambição e soubermos o que significa
Amar.
No
Silêncio, brota todo pensamento.
A mente só é preguiçosa
e ignorante quando não está cônscia de suas reações,
dos seus próprios e sutis movimentos. A verdadeira ignorância
é o desconhecimento de si mesmo, é o não percebermos
como funciona a nossa mente, quais são os nossos motivos e as nossas
reações. E a mente ambiciosa, que busca um resultado, não
é uma mente ativa, no genuíno sentido da palavra. Embora,
superficialmente, pareça ativa, esforçada e trabalhe o dia
todo para obter o que deseja, abaixo da superfície está
cheia de desespero e de frustração. O ser-humano-aí-no-mundo
que se limita a aceitar, a rejeitar ou a imitar, que, por medo, cava uma
pequena vala para si próprio, este, sim, é um ser-humano-aí-no-mundo
preguiçoso, e, por conseguinte, sua mente acabará se deteriorando,
se despedaçando. Já o ser-humano-aí-no-mundo vigilante
não é preguiçoso, ainda que freqüentemente se
deixe ficar sentado e muito quieto, a observar as árvores, os pássaros,
as pessoas, as estrelas e o rio silencioso. [Observar
a Vida não é preguiçar; é Viver. É
observando a Vida que aprendemos, e, ao aprender, melhor Servimos.]
A
revolta que nasce da Compreensão é aquela do indivíduo
que se liberta da sociedade, cujas bases são a ambição,
a inveja, a ganância e a avidez –
ou seja, a ânsia de aquisição. A revolução
que nasce da compreensão (na mente e no Coração)
é criadora, modificadora, e nela está o germe de uma cultura
e de uma sociedade completamente diferentes.
Temos
ideais porque temos medo de ser o que somos, porque não temos confiança
em nós mesmos. Por isto, procuramos ser o que a sociedade, o que
nossos pais e o que a nossa religião preceituam. Ora, precisamos
aprender a usar a nossa mente para descobrir o que desejamos, de fato,
fazer na vida, não o que a sociedade ou um certo ideal, seja ele
qual for, nos manda fazer. Isto é ser um verdadeiro revolucionário.
—
Meu ideal é
ser pateta!
O
movimento da Verdade é que criará um novo
mundo, e não a mente que se acha em revolta contra a sociedade.
Na
percepção clara da vastidão e da beleza da Terra
– um arco-íris,
por exemplo –
o que tem muito mais importância é o próprio sentimento,
o êxtase que acompanha a apreciação profunda do belo;
e este sentimento não pode ser despertado pelo mero cultivo da
cultura, do conhecimento ou da memória. E isto porque enquanto
em um certo nível o conhecimento é necessário, em
outro nível ele se torna um empecilho. A tradição,
em coisas mecânicas, é de grande importância, mas,
quando a tradição é utilizada como meio de guiar
o ser-humano-aí-no-mundo espiritualmente, ela se torna um obstáculo
ao descobrimento de coisas mais grandiosas. Dependemos do conhecimento
e da memória nas coisas mecânicas e em nosso viver diário.
Sem conhecimento, seríamos incapazes de fazer muitas coisas. Mas,
o conhecimento é um obstáculo quando se torna tradição
ou crença para guiar o espírito, a psique, o ser interior.
E, também, separa os seres-humanos-aí-no-mundo, cria inimizades
e também impede o descobrimento do profundo significado da Verdade,
da Vida e de Deus. [Haverá
maior exemplo disto do que as guerras religiosas?] O que divide
as pessoas é a tradição, as crenças que condicionam
a mente de uma certa maneira (hinduístas, maometanos, budistas,
cristãos, judeus etc.). Todavia, para descobrirmos o que é
Deus [o nosso Deus Interior],
deverá a nossa mente estar livre de tudo quanto é
tradição, acumulação e conhecimento, que servem
apenas de proteção psicológica. A função
da educação é proporcionar ao estudante abundantes
conhecimentos em vários setores do esforço humano, e, ao
mesmo tempo, libertar sua mente de toda tradição, para ser
capaz de investigar e descobrir. De outro modo, a mente se tornará
mecânica, totalmente ocupada pelo mecanismo do conhecimento. A menos
que se liberte constantemente de sua acumulação das multimilenares
tradições, a mente será incapaz de descobrir o Supremo,
o Eterno, o Verdadeiro. Reconhecer a diferença, ou seja, perceber
onde o conhecimento é destrutivo, e onde ele é essencial,
de tal sorte que funcione o mais amplamente possível –
eis o começo da inteligência. As filosofias, as teorias e
as crenças que haurimos dos livros e que se tornam nossa tradição
constituem um verdadeiro empecilho à mente, porque esta se serve,
então, de tais coisas como meios de segurança psicológica,
para si própria, e, por conseguinte, fica por elas condicionada.
Portanto, é necessário, ao mesmo tempo que a mente se liberta
de todas as tradições, que cultive o conhecimento técnico.
[Uma coisa não exclui
a outra.] E tal é a função da educação.
É preciso ter conhecimentos para se estudar um problema, mas, a
mente, para encontrar a solução, deve estar desembaraçada
destes conhecimentos. O que se necessita não é filosofia
ou crença, porém, uma mente livre para investigar, para
descobrir e para ser criadora. Definitivamente, se ou enquanto a mente
não for livre, nos tornaremos escravos do sistema vigente, e isto,
em verdade, significa que não seremos entes humanos criadores [dialéticos].
Enfim, se a nossa mente for livre para descobrir o Verdadeiro, veremos
aparecer uma abundante e incorruptível riqueza, na qual se encontra
uma inefável Alegria. Então, todas as nossas relações
– com
as pessoas, com as idéias e com as coisas [mas,
principalmente, conosco] – assumem um significado totalmente
diferente. [A mudança
é importantíssima e insubstituível, porém,
a Primeira Mudança deverá acontecer em nosso interior. Se
as coisas mudarem do lado de fora (a política, a Economia, a cultura,
a sociedade etc.], mas, nós não mudarmos interiormente,
é como se não tivesse havido mudança alguma, pois,
não a perceberemos.]
Jamais
poderá haver mudança efetiva mediante qualquer forma de
compulsão. De fato, só poderá haver mudança
pela Investigação-Compreensão.
Para
compreendermos e repelirmos as pressões das tradições
[religiosas, políticas,
sociais, familiares etc.], necessitaremos não de força,
porém, de confiança –
aquela extraordinária confiança que nasce quando aprendemos-sabemos
pensar as coisas por nós mesmos. Só aprendendo e sabendo
pensar, um ser-humano-aí-no-mundo poderá se tornar e ser
criador e não uma máquina servil.
Não
devemos aceitar nada, não importa quem o diga, mas, sempre investigar
cada coisa e todas as coisas por nós mesmos. Precisamos aprender
a ser capazes de prestar atenção a uma dada coisa, com todo
o nosso ser, e, ao mesmo tempo, conservar o lado externo de nossa consciência
sensível a tudo o que se passa em redor de nós e dentro
de nós. Enfim, precisamos aprender a prestar atenção
a uma certa coisa e, ao mesmo tempo, conservar a mente realmente sensível
a tudo o que se passa, inclusive as nossas impressões e reações
interiores.
Não
será possível uma completa atenção quando
houver qualquer forma de resistência. Se não houver autoconhecimento,
não se poderá prestar atenção completa.
No
momento em que começarmos a aceitar o que dizem os outros, estaremos
psicologicamente mortos. Todavia, devemos compreender que, para a nossa
mente, não existe morte.
—
Como sói ocorrer,
como sói acontecer,
como sói sempre ser,
eu acabei morrendo.
Mas, sem subtraendo,
eu persistia vivendo.
Nossa mente é imortal.
A Santa LLuz é imortal.
A Santa Vida é imortal.
A Imortalidade é imortal.
O
importante não é o prazer nem a dor. É, antes, estar
em comunhão com todas as coisas, ser sensível tanto ao feio
como ao belo. Poderemos estar rodeados de grande beleza, por montanhas,
campos e rios, mas, se não estivermos plenamente despertos para
tudo, isto equivale a estarmos mortos. Poderemos ter um belo rosto e traços
finos, poderemos nos trajar com gosto e ter maneiras polidas, poderemos
pintar ou descrever bem a beleza de uma paisagem, mas, se não houver
aquele íntimo sentimento de bondade, todos os acessórios
exteriores da beleza só conduzem a uma vida muito superficial,
a uma vida sofisticada, a uma vida sem muita significação.
É a Beleza Interior que dá graça e singular delicadeza
à forma e ao movimento exteriores. Quando a mente só está
preocupada consigo mesma e com suas próprias atividades, não
é bela. O que quer que fizer, ela permanecerá feia, limitada
e, por conseguinte, incapaz de saber o que é a Beleza. Por isto,
só a Bondade Interior nos dará Beleza. E só da sensibilidade
à totalidade da existência brotam a Bondade e o Amor. E só
a mente que Ama é, de fato, uma Mente Religiosa, porque está
inserida no movimento da Realidade, da Verdade, de Deus; só esta
mente pode saber o que é a Beleza. Enfim, a mente que não
pertence a nenhuma nação, a nenhum grupo e a nenhuma sociedade,
que de nenhuma autoridade depende, que não é impelida pela
ambição nem contida pelo medo –
só esta mente está sempre florescendo em Amor
e Bondade. Porque está no movimento da Realidade, ela sabe o que
é a Beleza. Porque é sensível tanto ao feio como
ao belo, é uma mente criadora, de ilimitada compreensão.
[Esta é a Mente Religiosa de um Iniciado nos Mistérios Eternos,
porque fora da Iniciação nada do que acima foi dito poderá
ser compreendido nem realizado. E Jiddu Krishnamurti sabia disto, só
que não comentava. Mas, tudo o que ele ensinou foram Princípios
Iniciáticos elevadíssimos. Por isto, muitas coisas que Krishnamurti
divulgou não foram compreendidas
nem devidamente apreciadas pela maioria da Humanidade. Por enquanto. Todavia,
se apenas uma só pessoa compreender...]
Só
poderemos começar a trabalhar e a ajudar efetivamente, quando,
em nós, já não houver mais o espírito de rejeição,
de condenação, [de
separatividade, de crítica e de ofensividade.]
Buscar
a realização de qualquer desejo, não importa qual,
sempre acarretará sofrimento. O sofrimento é a sombra do
desejo. A ambição, o desejo e a sua realização
[ou não],
inevitavelmente, levam à frustração e ao sofrimento.
—
Eu ambicionava ser presidente;
não consegui, me frustrei e sofri.
Eu ambicionava ser um grande cantor;
não consegui, me frustrei e sofri.
Eu ambicionava ser purpurado cardeal;
não consegui, me frustrei e sofri.
Eu ambicionava ser bom enxadrista;
não consegui, me frustrei e sofri.
Eu ambicionava ser o 'Superman';
não consegui, me frustrei e sofri.
Eu ambicionava ser piloto de avião;
não consegui, me frustrei e sofri.
Eu ambicionava ser marechal-do-ar;
não consegui, me frustrei e sofri.
Eu ambicionava ser juiz de direito;
não consegui, me frustrei e sofri.
Eu ambicionava ser um profeta;
não consegui, me frustrei e sofri.
Parei com essa mania de querer ser,
e meu sofrimento teve fim, porque
tudo o que eu queria ser eu já era.
Normalmente,
os grandes êxitos conseqüentizam grandes sofrimentos.
Só
quando não se sente vivamente a verdade de uma coisa, pode-se dizer
que ela é de difícil execução.
Inventamos
uma "filosofia da dificuldade”, e consideramos uma virtude
fazer esforço, lutar e resistir.
Só
a ação nascida do amor terá significado, vitalidade
e beleza.
O
ser-humano-aí-no-mundo que não é ninguém,
que não deseja ser alguém, que é sempre ele próprio
e compreende a si mesmo é livre da arrogância e do orgulho.
Todos
gostamos de nos mostrar. Mas, um lírio ou uma rosa nunca se mostram
diferentes do que são, e sua beleza consiste em ser o que são.
Em
nossas vidas, em nossas experiências, se não nos libertarmos
dos nossos fundos (hinduísta, cristão, comunista ou o que
quer que sejamos), nossas respostas a todo desafio fortalecerá
ou modificará este fundo. Por conseguinte, nunca estaremos verdadeiramente
livres para explorar, descobrir e compreender o que é a Verdade,
o que é Deus [e
quem, de fato, somos]. Então, na realidade, a experiência
não liberta a mente, e o aprender pela experiência é
apenas um processo de formação de novos padrões [(pre)conceitos],
baseados no antigo condicionamento cultural da pessoa. O pior
é que, à medida que nos tornamos mais velhos, nos entrincheiramos
cada vez mais em nossas experiências, pois, tudo é ditado
pelos nosso fundo. A grande questão é: existirá um
"estado de aprender” em que a mente esteja livre do fundo,
um estado sem busca nenhuma? Existirá um estado em que a mente
não seja um instrumento de aprender, porém, de ser? Existirá
um estado em que a mente não se submeta a autoridade alguma, seja
a autoridade do conhecimento, seja a autoridade da sociedade, seja a autoridade
da religião, seja a autoridade da cultura, seja a autoridade de
qualquer condicionamento? Só quando a mente estiver livre da carga
do conhecimento poderá descobrir o que é verdadeiro, e neste
processo de descobrimento não haverá acumulação.
A Verdade é viva, não é estática, e a mente
que desejar descobrir a Verdade deverá ser também viva,
livre da carga do conhecimento ou da experiência. Só então
poderá existir um estado em que a Verdade poderá se tornar
existente.
—
Sempre somei
1 + 1 e achei 2.
Um dia, me libertei,
e somei 1 + 1,
e encontrei 1!
Quando
o aprender é apenas um meio de "chegar a alguma parte",
no momento em que chegarmos aonde desejávamos chegar, esqueceremos
o meio, e isto, certamente, de modo nenhum é aprender. Assim, só
poderá haver o "estado de aprender” quando não
houver motivo, incentivo, quando fizermos uma coisa por amor à
própria coisa. [Platonicamente,
isto significa substituir a caverna pela lanterna. Cartesianamente, isto
significa substituir a res
extensa pela Res
Cogitans. Kantianamente, isto significa substituir o hipotético
pelo categórico. Iniciaticamente, isto significa substituir o
fiat voluntas mea pelo
Fiat Voluntas Tua. Cosmicamente, isto significa substituir
o hoje-ego-tempo pelo Ad
Æternum.]
—
Aprendi Geografia,
mas, esqueci tudo.
Aprendi Biologia,
mas, esqueci tudo.
Aprendi Geometria,
mas, esqueci tudo.
Aprendi Psicologia,
mas, esqueci tudo.
Aprendi Astronomia,
mas, esqueci tudo.
Aprendi Antropologia,
mas, esqueci tudo.
Aprendi Sociologia,
mas, esqueci tudo.
Aprendi Alquimia,
mas, esqueci tudo.
Eu queria ser advogada,
por isto, esqueci tudo.
Não
busqueis o que deveria ser, mas, compreendei O-que-é. A compreensão
de o que realmente sois é muito mais importante do que a busca
do que deveríeis ser. Por quê? Porque na compreensão
de o que sois começa um espontâneo processo de transformação,
ao passo que no "vir a ser" o que pensais que deveríeis
ser não há nenhuma transformação, porém,
tão-só, a continuação da mesma "coisa
velha” em forma diferente.
Não
há ponto de partida fixo nem ponto de chegada fixo. A idéia
de que há em cada um de nós um ponto fixo e que a Realidade
é também fixa é uma ilusão. Precisamos nos
conscientizar de que a Realidade está além do tempo, não
tem ponto fixo. Só a mente livre de todas as acumulações,
tanto conscientes como inconscientes, será capaz de descobrir o
que é a Verdade, o que é Deus.
—
Para
o Ser
nunca houve começo,
pois, o nada
não pode dar origem
a alguma coisa.
Para o Ser
jamais haverá fim,
pois, o espaço-tempo
é uma miralusão1
agrilhoante e retardante.
As
crenças são uma verdadeira desgraça, porquanto dividem
os seres-humanos-aí-no-mundo e geram antagonismo. Só depois
de transcender todas as crenças, todas as diferenças e todas
semelhanças poderá a mente ser livre e capaz de descobrir
o Verdadeiro.
Assim
que a mente se acostuma com alguma coisa, começa a funcionar na
rotina do hábito e, por conseguinte, se torna embotada, perdendo,
'ipso facto', aquela serenidade tão necessária para descobrir
o que é Deus, o que é a Beleza e o que é o Amor.
Matamos
tigres porque gostamos de matar, pela sensação de matar.
Há um forte traço de crueldade em nós, e todos nós
praticamos atos inconsiderados, tais como arrancar as asas de uma mosca
para ver o que acontece. Tagarelamos e dizemos coisas ofensivas, a respeito
de outras pessoas. Matamos para comer, matamos em prol da chamada paz,
matamos pela pátria e matamos por nossas idéias. [E
cada vez que matamos nos suicidamos mais um pouco.]
Aceitamos
o sofrimento como parte inevitável da vida, e criamos filosofias
acerca dele, e, justificando o sofrimento, dizemos que ele é necessário
para se encontrar Deus. Mas, eu digo que há sofrimento porque o
homem é cruel para com o homem [e
de maneira geral, pois, é cruel, também, com os animais,
com os vegetais e consigo mesmo]. Também há,
na vida, muitas coisas que não compreendemos e que, por conseguinte,
causam sofrimento, coisas tais, como a morte, o desemprego, ver os pobres
e sua desdita, [esta Pandemia
de COVID-19] etc. Nada disto compreendemos e, por isto, nos
torturamos; e, quanto mais sensível for a pessoa, tanto mais ela
sofrerá. Em vez de procurarmos compreender estas coisas, justificamos
o sofrimento, e, em vez de nos revoltarmos contra todo este sistema corrupto
e dele nos libertarmos, tratamos de nos ajustar a ele. [Como
agora, que estamos nos (des)ajustando à COVID-19, flexibilizando
antes da hora, esquecendo que bumerangue não existe só na
Austrália e alhures.] Para ficar livre do sofrimento,
deve a pessoa estar livre do desejo de fazer mal –
e também de "fazer bem" –
esse "bem” que é também resultado do nosso
condicionamento, [e que,
às vezes, é muito pior do que fazer mal, como, por exemplo,
receitar (hidroxi)cloroquina para quem pegou a COVID-19.]
Você
já percebeu que muitos falam de inocência, e, no entanto,
tudo o que fazem é destrutivo, expressando sua brutalidade interior,
seu horrível desrespeito aos seres vivos. Pois é. Muitos
são brutais em sua ambição, se massacram uns aos
outros em suas guerras e se corrompem mutuamente com e por dinheiro. Mas,
por que fazemos mal a outras pessoas, aos animais, às flores? Sim,
precisamos aprender a Amar. Amar é ter aquele extraordinário
sentimento de afeição em que nada se pede em retribuição.
—
Dizimei,
para poder ser ajudado.
Ajoelhei-me,
para poder ser prelevado.
Confessei-me,
para poder ser perdoado.
Comunguei,
para poder ser abençoado.
Orei,
para poder ser afortunado.
Não pequei,
para não ser castigado.
Sacrifiquei-me,
para não ser tentado.
Ciliciei-me,
para afastar o condenado.
Persignei-me,
para poder ser resguardado.
E pensei:
com Deus, no céu, estarei sentado.
Quando
desejamos, já temos em nós o germe da corrupção.
O Verdadeiro Brâmane é aquele que nada pede a ninguém,
não porque seja orgulhoso, mas porque ele é a Luz de si
mesmo.
Uma
sociedade sem Amor é como terra sem rios, como um deserto [sem
oásis.]
Não
devemos dar ouvidos à opinião, não importa de quem
seja, mas, descobrir, por nós mesmos, o que é Verdadeiro.
Uma opinião pode mudar da noite para o dia, mas, a Verdade não
pode mudar.
Opiniões
A
mente faz e desfaz deuses. Mas, a mente não pode criar a Verdade.
Pode criar opiniões, juízos, idéias, teorias, hipóteses,
teses, presunções, conceitos, mas, não pode criar
a Verdade.
Propiciamos
os deuses porque temos medo deles. Só a mente serena –
sem, compulsoriamente, ter sido posta serena –
poderá descobrir e compreender o que é Verdadeiro, o
que é Belo, o que é Deus.
—
Por medo,
eu me ajoelhei.
Por medo,
eu me persignei.
Por medo,
eu rezei.
Por medo,
eu me confessei.
Por medo,
eu comunguei.
Por medo,
eu me sacrifiquei.
Por medo,
eu me ciliciei.
Por medo,
eu dizimei.
Por medo,
eu não pequei.
Por medo,
eu jejuei.
Por medo,
eu a mão beijei.
Por medo,
eu partilhei.
Por medo,
eu hipotetizei.
Por medo,
eu me escravizei.
Por medo,
eu não me libertei.
Por medo,
eu não me Illuminei.
Por medo,
eu na mesma fiquei.
Continua...
_____
Nota:
1.
Miralusão
= Miragem + Ilusão.
Música
de fundo:
Symphony
Nº 6 (Pastorale), em Fá Maior, opus 68
Compositor: Ludwig van Beethoven
Fonte:
http://www.kunstderfuge.com/beethoven/variae.htm#Symphonies
Observação:
A Sinfonia nº
6 em Fá Maior, opus 68, de Ludwig van Beethoven, também
chamada Sinfonia Pastoral, é uma obra musical precursora da música
programática. Esta Sinfonia foi completada em 1808, e teve a sua
primeira apresentação no Theater an der Wien, em 22 de dezembro
de 18081. Dividida em cinco andamentos, tem por propósito descrever
a sensação experimentada nos ambientes rurais. Beethoven
insistia que essas obras não deveriam ser interpretadas como um
quadro sonoro, mas, como uma expressão de sentimentos. É
uma das mais conhecidas obras da fase romântica de Beethoven.
Páginas
da Internet consultadas:
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as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por
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são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei
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