A CULTURA E O PROBLEMA HUMANO
(4ª Parte)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Informação Preliminar

 

 

 

Este estudo se constitui da 4ª parte de um conjunto de fragmentos garimpados na obra A Cultura e o Problema Humano (título do original: This Matter of Culture), de autoria de Jiddu Krishnamurti. Tomando por tema básico a educação, a cultura e o conceito de verdadeira vida, Krishnamurti aborda neste livro problemas palpitantes, que dizem respeito a algumas das preocupações fundamentais do homem moderno. Entre outros: Qual o papel da disciplina em nossa vida? Como pode a mente ultrapassar os obstáculos em si própria existentes? Que é o autoconhecimento, e como alcançá-lo? Que é o destino? Como poderemos nos livrar das nossas preocupações de espírito, se não podemos evitar as situações que as causam? Poderá uma pessoa se abster de fazer o que lhe apraz, e, ao mesmo tempo, encontrar o caminho da liberdade?

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Jiddu Krishnamurti

Jiddu Krishnamurti

 

 

 

Jiddu Krishnamurti (Madanapalle, 11 de maio de 1895 – Ojai, 17 de fevereiro de 1986) foi um filósofo, escritor, orador e educador indiano. Proferiu discursos que envolveram temas como revolução psicológica, meditação, conhecimento, liberdade, relações humanas, a natureza da mente, a origem do pensamento e a realização de mudanças positivas na sociedade global. Constantemente, ressaltou a necessidade de uma revolução na psique de cada ser humano, e enfatizou que tal revolução não poderia ser levada a cabo por nenhuma entidade externa seja religiosa, seja política, seja social. Uma revolução que só poderia ocorrer através do autoconhecimento, bem como da prática correta da meditação do ser-humano-aí-no-mundo liberto de toda e qualquer forma de autoridade psicológica.

 

O cerne dos seus ensinamentos consiste na afirmação de que a necessária e urgente mudança fundamental da sociedade só poderá acontecer através da transformação da consciência individual. A necessidade do autoconhecimento e da compreensão das influências restritivas e separativas das religiões organizadas, dos nacionalismos e de outros condicionamentos foram por ele constantemente realçadas.

 

 

 

Fragmentos Krishnamurtianos

 

 

 

No Coração do homem que ama não há espaço para nada mais. Só quando amarmos é que poderemos ser livres e felizes. E só os que amam os valorosos, os livres, os felizes poderão criar um mundo novo, e não os políticos, os reformadores ou uns poucos visionários ideológicos.

 

Se começarmos a compreender o que somos e quem somos, não nos compararemos com outrem e tampouco invejaremos quem quer que seja. A inveja nasce quando queremos nos modificar para nos tornar iguais a outra pessoa. Tão-somente da Compreensão surgirá a Integração. [Tão-somente da Compreensão surgirá o Alinhamento. Tão-somente do Alinhamento surgirá a Libertação. Tão-somente da Libertação surgirá a Possibilidade.]

 

Há a força mecânica, a força gerada pelo motor de combustão interna, pelo vapor, pela eletricidade, pela energia nuclear etc. Há também a força que reside numa árvore, que faz correr a seiva, que cria a folha. Há a força de pensar muito claramente, a força de amar, a força de odiar, a força de um ditador, a força de explorar os outros, em nome de Deus, em nome dos Mestres, em nome de uma nação. Tudo isto são formas de poder. O fato é que a mente humana sente necessidade de exercer poder sobre outros. Seja como for, todas as formas de poder são destrutivas e acarretam aflições ao homem. Por outro lado, um ser verdadeiramente atencioso, bondoso e amoroso é uma coisa extraordinária, que tem seu efeito próprio, e é eterno. O amor é sua própria eternidade, e onde há amor, não há poder maligno.

 

Eu amei,
mas, primeiro, amei a mim.
Eu me preocupei,
mas, primeiro, me preocupei comigo.
Eu orei,
mas, primeiro, orei para mim.
Eu fiz,
mas, primeiro, fiz por mim.
Eu tudo,
mas, primeiro, tudo para mim.
Quando sobrava, se sobrasse,
aí, então, eu pensava nos outros.
Nunca cheguei a compreender
o significado do desapego.
Terminei meus dias
esquecido, sozinho e indigente.

 

 

Andando

 

 

Quem realmente ama o que faz não tem nenhuma preocupação em ser ou não famoso. Desejar ser famoso é vulgar, trivial, estúpido e sem qualquer significação, mas, porque, geralmente, não amamos o que fazemos, desejamos enriquecer com a fama. Infelizmente, nossa educação atual está corrompida, porque nos ensina a amar o êxito, e não aquilo que estamos fazendo, e o resultado se torna mais importante do que a ação. Há grande beleza em ser um ente criador que vive anonimamente.

 

Có... Có... Có...
Eu estou botando.
SSS... SSS... SSS...
Eu estou silvando.
ZZZ... ZZZ... ZZZ...
Eu estou zunzunando.
Currupaco... Paco... Paco...
Eu estou 'currupacando'.
Miau... Miau... Miau...
Eu estou miando.
Ruf... Ruf... Ruf...
Eu estou ladrando.
Piu... Piu... Piu...
Eu estou piando.
Oinc... Oinc... Oinc...
Eu estou zurrando.
Croc... Croc... Croc...
Eu estou coaxando.
Ego... Ego... Ego...
Eu estou falando.
Ego... Ego... Ego...
Eu estou mandando.
Ego... Ego... Ego...
Eu estou realizando.
Ego... Ego... Ego...
Eu estou divulgando.
Ego... Ego... Ego...
Eu estou aqui.

 

Quanto mais deixarmos um problema [um conflito, uma excentricidade, uma desinteligência, uma preocupação, um fantasma etc. ] se enraizar em nossa mente, maior será a dificuldade para resolvê-lo. Uma vez bem firmado na mente, é dificílimo extirpar um problema ou uma crença extravagante. O essencial é que a mente veja ela própria o problema, e não lhe propicie solo para se desenvolver. Um dos assuntos mais controversos e básicos que o mundo está enfrentando atualmente é o problema da cooperação. E o que é pior: há sempre alguém que, supostamente, sabe o que é mais acertado e o que é melhor. De fato, sempre que houver alguma forma de persuasão, de obrigação ou de imposição não poderá haver verdadeira cooperação, porque sempre estará latente a idéia de ganhar ou de evitar [para não perder] alguma coisa. Então, o que é cooperação? Cooperação é a alegria fraternal de estarmos juntos e de atuarmos juntos, sem que, necessariamente, estejamos fazendo determinada coisa. Cooperar não é uma questão de acordo ou de desacordo, de recompensa ou de castigo [de alguém liderar e de alguém ser liderado]. A verdadeira cooperação nasce de um sentimento tríplice de solidariedade, de alegria e de união, porque, neste caso, não há obstinação nem opinião pessoal. Mas, também devemos saber quando não cooperar [com o Neonazismo, com Neofascismo, com o Terrorismo, com o racismo, com o fanatismo, com a antidemocracia, por exemplo], e só o saberemos quando conhecermos a alegria da verdadeira cooperação. Enfim, cooperar é estar junto e atuar junto, e se ou quando o que se deverá executar seja o plano, seja o conceito, seja a utopia ideológica assumir importância primária, não haverá real cooperação.

 

 

 

 

Com relação às preocupações, o importante, em primeiro lugar, é que a mente não ofereça solo ao problema para ele se enraizar.

 

A mente que se mantém ocupada (com o que alguém disse, com alguma notícia recebida, com o que faremos amanhã, com a vida, com a morte, [com o Coronavírus e com a Pandemia de COVID-19 que, hoje, assola a Humanidade] etc.) é incapaz de resolver um problema. Só a mente que não está ocupada está fresca e poderá compreender um problema. Enquanto a mente estiver ocupada com o que quer que seja com as coisas mais elevadas ou com as mais insignificantes será sempre limitada e medíocre. E a mente medíocre é incapaz de resolver qualquer problema; só sabe se manter ocupada, mastigando e remastigando. Só se a mente estiver desocupada e, por conseguinte, fresca, poderá considerar e resolver um problema. Mas, ao contrário, a mente que está desocupada, que tem espaço, pode se aplicar a um problema e resolvê-lo, porque essa mente é fresca, e, portanto, se aplica ao problema de maneira nova, criativa, e não com a velha herança das suas próprias lembranças, manias, tradições, [dogmas e imposições].

 

 

Cruz

 

 

As relações (entre nós e nossos pais, entre nós e nossos filhos, entre nós e nossos mestres, entre nós e o rio, os animais, as árvores e a Terra, entre nós e as idéias e os livros, enfim, entre nós e os nossos pensamentos) são um espelho em que nós poderemos nos ver, não como desejaríamos ser, mas, tal qual somos de fato.

 

Poderemos ter todos os graus acadêmicos do mundo, mas, se não nos conhecermos a nós mesmos, seremos extremamente estúpidos. Conhecer a si próprio é a verdadeira finalidade da educação. Sem autoconhecimento, o cuidar meramente de colecionar fatos ou de tomar notas é uma maneira muito estúpida de existir. Poderemos ser capazes de citar o Bhagavad Gita, os Upanishads, o Alcorão e a Bíblia, mas, se não nos conhecermos a nós mesmos, seremos tal qual um papagaio a repetir palavras. O fato é que, se não nos conhecermos a nós mesmos, assim como conhecemos o nosso próprio rosto refletido em um espelho, qualquer outro conhecimento muito pouco significará.

 

 

 

O autoconhecimento não tem fim. Com e pelo autoconhecimento, começaremos a descobrir o que é Deus, o que é a Verdade e o que é aquele estado em que o tempo não existe. Precisamos aprender a conhecer o funcionamento da nossa própria mente e do nosso próprio Coração, de tal sorte que nos vejamos exatamente como somos, no espelho das relações. No autoconhecimento está contido o Universo inteiro; ele abarca todas as lutas da Humanidade.

 

 

Espelho

 

 

No momento em que, para termos inspiração, passarmos a depender psicologicamente de uma pessoa, de uma instituição, de um ritual ou de uma idéia, será inevitável que surjam a insegurança [falta de confiança em nós mesmos] e o medo, e, por conseguinte, não poderá haver, de modo nenhum, Verdadeira Inspiração. [E, se houver alguma inspiração, ela será extremamente limitada.] Efetivamente, se fizermos de uma pessoa nosso instrutor, estaremos perdidos, e essa pessoa acabará se tornando um peso em nossa vida. Por isto, é tão importante não seguir ninguém, não ter instrutor nenhum e, em Silêncio, aprender do rio, do mar, das flores, das árvores, da mulher que leva um fardo, dos membros de nossa família, e, principalmente, dos nossos próprios pensamentos e das nossas próprias reflexões. Esta é uma Educação que ninguém poderá nos ministrar, e nisso é que consistem a sua beleza e a sua insubstituibilidade. Ela exige uma vigilância incessante e uma mente constantemente aberta para investigar. Nós temos que aprender pelo observar, pelo lutar, pelo ser feliz, e pelo verter lágrimas. [Na escola da encarnação, nada se perde; tudo é experiência, aprendizagem, mudança e progressão.]

 

Se não conseguirmos resolver uma contradição em nós existente, é claro que não poderá haver a integração do existir e do atuar. Enquanto estivermos envencilhados na autocontradição, não poderemos pensar; assim, deveremos acabar com a autocontradição, e fazer ou uma coisa ou a outra. O principal, pois, é que nos livremos da autocontradição. Então, ou vencemos a autocontradição ou seremos levados como carneiros para o matadouro.1

 

Poderá alguém nos dizer qual é o nosso dever? Poderá alguém nos obrigar a fazer alguma coisa? Só uma coisa importa: ver muito claramente o que é verdadeiro, e ao verdadeiro se ater por toda a vida, ainda que isto signifique passar fome, sofrimento e até morte. Para tanto, é necessário muita inteligência, percebimento, discernimento e, também, principalmente, muito Amor.

 

Faça isto.
Faça aquilo.
Não faça isto.
Não faça aquilo.

...............

Faço isto.
porque é justo
Faço aquilo.
porque é digno.
Não faço isto
porque é fajuto
Não faço aquilo
porque é ilídimo.

 

Tenhamos a certeza de que, no momento em que soubermos, com toda a clareza, o que desejamos fazer, acontecerão coisas. A Vida virá em nossa ajuda. Por outro lado, a Vida não acudirá nunca aos que, por simples medo, se sujeitam a uma dada exigência. Enfim, no momento em que nos aventurarmos, algo acontecerá dentro em nós e ao redor de nós, [como uma espécie de Ligação de Hidrogênio.]2

 

 

Ligação de Hidrogênio

 

 

Não ser uma mera cópia, um simples imitador, eis o verdadeiro milagre! Mas, de maneira geral, nós não queremos nos abrir para a Vida; queremos fazer "jogo seguro”. Entretanto, os que fazem "jogo seguro" costumam morrer de maneira muito segura!3

 

Mais cedo ou mais tarde, ocorrerá a morte do corpo, mas, a maioria de nós já tem a mente morta, pois, nela já se verificou a deterioração. Por que se deteriora a mente? O corpo se deteriora porque o mantemos em uso constante, e o organismo físico se gasta. Doença, acidente, velhice, má alimentação, deficiências hereditárias tais são alguns fatores responsáveis pela deterioração e morte do corpo. Mas, por que deve a mente se deteriorar, envelhecer e se tornar pesada e embotada? E isto acontece não só a pessoas idosas, mas, também, a pessoas jovens. Nossa mente envelhece sufocada pelo medo, pelos hábitos, pela imitação, pela repetição, pelo peso do passado e da tradição, enfim, pela nossa própria incapacidade para enfrentar essa coisa extraordinária que se chama Vida. A rotina lubrifica e traz segurança e ausência de perturbação, mas, quando a mente se renova sem formar novos padrões, novos hábitos e sem tornar a cair na rotina da imitação, permanece, então, fresca, jovem, inocente, sendo, portanto, capaz de ilimitada compreensão. Para esta mente, para esta mente que compreende, não há morte, uma vez que já não existe o processo de acumulação. É o processo de acumulação que cria o hábito, a imitação, e, para a mente que acumula, há deterioração e morte. Mas, para a mente que não está acumulando, juntando, que está morrendo a cada dia, a cada minuto, para esta mente não há morte. Assim, pois, deve a mente se livrar de tudo o que acumulou, de todos os hábitos e de todas as virtudes imitadas, de todas as coisas que se acostumou a depender, para ter o sentimento de segurança, e se libertar da rede de seu próprio pensar. No ato de se libertar do passado, a cada instante, a mente se torna fresca, nova e nunca se deteriorará, não pondo em movimento a "onda da escuridão”.

 

 

Velho

 

 

Como unir o vão? Como ligar o nosso pensar à nossa ação? O importante é ver a verdade relativa a uma certa coisa. Então, se nos pusermos a investigar, com mente atenta e livres de todo preconceito, e se nisso pusermos todo o nosso ser, descobriremos, por nós mesmos, a verdade relativa àquilo que desejamos compreender. Assim, é a verdade que nos libertará, e não a nossa busca de uma maneira de nos libertarmos do que quer que seja.

 

Sempre que houver desejo de preenchimento e medo, haverá, ipso facto, obstáculo e contradição. Tenhamos em mente que a inveja, a ambição, a crença e a imitação são indícios de medo. No desejo de preenchimento haverá sempre a sombra da frustração, e em nosso Coração não haverá Cânticos, porém, apenas gritos.

 

Eu fiz tudo
para me tornar
um grande homem,
um grande sábio,
um grande santo,
um grande isto
e um grande aquilo,
respeitado e reconhecido,
festejado e aplaudido.
Nunca me livrei de querer-ser;
nunca me livrei de mim mesmo;
nunca me livrei do Manipura.
E morri ouvindo gritos!
E morri na escuridão!
E nunca ouvi um Cântico!
E morri aflito e só!
E morri sem ver a LLuz!
Desalegre e desfigurado!

 

No momento em que uma pessoa se torna cônscia de ser estúpida e, em vez de tentar se tornar inteligente, começa a examinar e a compreender a sua própria estupidez, neste momento se dá o despertar da inteligência.

 

Um ente humano deveras inteligente está interessado em O-que-é, e não em imitar o que deveria ser.

 

Imitei e fiquei na mesma...
Imitei e fiquei na mesma...
Imitei e fiquei na mesma...
Imitei e fiquei na mesma...
Imitei e fiquei na mesma...
Imitei e fiquei na mesma...
Imitei e fiquei na mesma...
Imitei e fiquei na mesma...
Imitei e fiquei na mesma...

 

Estar habituado a alguma coisa é algo terrível. Quando uma pessoa se habitua com alguma coisa, sua mente já está a caminho do cemitério.

 

Segunda-feira: uma porcaria.
Terça-feira: total anestesia.
Quarta-feira: é só mais um dia.
Quinta-feira: sonho e fantasia.
Sexta-feira: delírio da folia.
Sábado-feira: a maior acedia.
Domingo-feira: fim da alegria.
Segunda-feira: nova porcaria.

 

 

Cemitério

 

O que se vê por aí? A maioria dos entes humanos cava para si mesma um pequeno fosso, à margem da célere Corrente da Vida, onde fica estagnada, a morrer, corrupta e deteriorada. E a essa corrupção, estagnação e deterioração os entes humanos chamam 'existência'. Isto é: todos nós desejamos um estado de permanência, queremos que certos desejos durem infinitamente, queremos prazeres sem fim. Cavamos um pequeno fosso em que nos entrincheiramos com nossas famílias, nossas ambições, cobiças e paixões, nossas culturas, nossos temores, nossos deuses, nossas variadas devoções, e ali nos deixamos morrer, enquanto a Vida passa a nosso lado, aquela Vida que é impermanente, que varia constantemente, que é tão veloz, com tão prodigiosa profundeza, tanta força e tanta beleza! Enfim, dizemos que essa existência estagnada é correta, e inventamos uma filosofia para a justificar, criamos teorias sociais, políticas, econômicas e religiosas para protegê-la. E não desejamos ser perturbados, porque o que nos interessa é o sentimento de permanência. Mas, o que significa permanência? Permanência significa desejar que as coisas agradáveis durem eternamente, e que as desagradáveis terminem o mais rápido possível. Desejamos que o nosso nome se torne famoso e que tenha continuidade em nossa família e em nossos bens materiais; queremos o sentimento de permanência em nossas relações e atividades. E tudo isto significa que desejamos uma existência duradoura, contínua, em nosso fosso estagnado. Lá, no fosso, não queremos verdadeiras mudanças e, assim, edificamos uma sociedade que nos garante a permanência dos nossos bens, do nosso nome, da nossa fama. Mas, a Vida, de modo nenhum, é assim. A Vida, em coisa nenhuma, é permanente. Como as folhas que caem da árvore, todas as coisas são impermanentes, nada perdura. Há sempre mudança, movimento e morte. [E renascimento.] Nossa grande ignorância é nos recusarmos a aceitar a Vida como ela efetivamente é. E, por isto, construímos uma muralha em torno de nós mesmos: a muralha da tradição, da religião organizada, das teorias políticas e sociais [do preconceito, do fanatismo, do nacionalismo, do racismo, da xenofobia, da homofobia, do pode, do não-pode, do... da...] Sim, exigimos permanência, e criamos uma cultura baseada nesta permanência, e inventamos deuses que não são deuses, mas, tão-só projeções dos nossos próprios desejos, cobiças e paixões. Todavia, aprenderemos que a busca de preenchimento só atrai sofrimento e desdita, e que nossa mente é a própria Vida, porque a Vida não tem pouso. A Verdade, Deus, a Realidade ou o nome que quisermos dar se encontra além dos limites do fosso. Um Dia, chegará um momento em que não haverá busca de espécie alguma; e este findar da busca é o começo de algo Totalmente Novo, e neste Totalmente Novo viveremos e, conscientemente, seremos uma parte da Vida. [Assim como o fim do viver é o morrer, o princípio do MORRER é o VIVER.MORRENDO RENASCEREMOS.]

 

Você já observou os pássaros a voar muito alto, sem um bater de asas, deixando-se levar pelo vento? Como parecem se deliciar! Não têm preocupações com a morte. Quando a morte chegar, muito bem, acabou-se tudo. Mas, não lhes dá cuidados o que irá acontecer; eles vivem momento por momento, não é verdade? Só nós, aqui na Terra, seres-humanos-aí-no-mundo, estamos sempre preocupados com a morte porque estamos vivendo, mas, não estamos Vivendo! Na verdade, estamos morrendo, não estamos Vivendo! Existe esta preocupação com a morte, porque tememos perder o conhecido, as coisas que temos acumulado. Temos medo de perder a mulher ou o marido, um filho ou um amigo, o que aprendemos, o que acumulamos. Se pudéssemos levar conosco tudo o que acumulamos nossos amigos, nossos bens, nossas virtudes, nosso caráter não temeríamos a morte. Não queremos nos separar do conhecido, portanto, é o nosso apego ao conhecido [ao supostamente conhecido] que cria em nós o medo, e não o desconhecido-em-si. O desconhecido não pode ser percebido pelo conhecido. Isto é um fato. Mas a mente, constituída que é do conhecido, diz: "Eu acabarei”. E, por conseguinte, tem medo. Ora, se pudéssemos viver a cada momento sem preocupações sobre o futuro, se pudéssemos viver sem a idéia do amanhã (o que, entretanto, não implica a superficialidade de se ocupar meramente com o dia de hoje), se, cônscios do inteiro processo do conhecido, pudéssemos abandonar o conhecido, soltá-lo completamente, veríamos, então, ocorrer uma coisa estupenda, inimaginável pelo conhecido. Experimentem isto um dia: ponham para o lado tudo o que vocês conhecem, esquecem-no, para verem o que acontece. Não transportem suas tribulações de dia para dia, de hora para hora, de momento para momento. Soltem-nas todas, e vocês verão como, desta liberdade, surgirá uma vida maravilhosa, que incluirá tanto o viver como o morrer. A morte significa apenas o fim [temporário] de uma coisa, e neste próprio [temporário] findar há sempre renovação. [Para que possa haver reconstrução é necessário que haja destruição.]

 

A Verdade deverá ser descoberta de momento a momento, e não apenas ser lembrada. Uma verdade lembrada é uma coisa morta. A Verdade deve ser descoberta a cada instante, porque é viva e nunca é a mesma; todavia, cada vez que a descobrimos, ela a Verdade é a mesma. A Vida deve ser descoberta momento por momento, dia por dia. A Vida tem de ser permanentemente descoberta. Não podemos ter suposições a seu respeito. Se ficarmos enredados nos nossos tabus, preconceitos, xenofobias, manias, medos, filosofias, religiões, fideísmos, crenças, costumes etc., nunca descobriremos a Vida, porque nada disto é a Vida. O ser-humano-aí-no-mundo que diz que sabe, já está morto. Mas, aquele que pensa "não sei”, que está descobrindo, investigando, sendo dialético, que não está em busca de um fim nem pensando em termos de "chegar” ou de “vir-a-ser”, este ser-humano-aí-no-mundo, sim, está Vivendo, e este Viver é a Verdade. [Portanto, ainda que a Verdade seja Absoluta e sempre a mesma, para nós será sempre relativa, devendo ser conquistada permanentemente.]

 

Verdades Relativas

 

Só a mente que está muito quieta, que não está premeditando, inventando, projetando, pode conhecer um momento de perfeição, um momento completo.

 

Sem descobrirmos qual é a verdadeira função do ser-humano-aí-no-mundo, cuidarmos apenas de reformas, de remodelar o que já foi feito, não iremos a parte alguma. Sem dúvida, a verdadeira função do ser-humano-aí-no-mundo é descobrir a Verdade, Deus [em nossos Corações]. A verdadeira função do ser-humano-aí-no-mundo é Amar, e não se deixar envolver em atividades egocêntricas. No próprio descobrir o que é Verdadeiro encontraremos o Amor, e esse Amor, nas relações humanas, criará uma civilização diferente, um mundo novo.

 

Adoramos Deus porque O tememos. Há medo em nossos Corações, e não Amor. O templo, o puja [honra, adoração, atenção devocional] e as vestes sagradas não são de Deus, são criações da vaidade, da ignorância e do medo do homem. Só os que são infelizes e os que sentem medo adoram Deus. Os que têm riqueza, posição e autoridade não são entes felizes. O homem ambicioso é um ente humano muito infeliz. A felicidade só virá quando estivermos libertos de tudo isso, e, então, não adoraremos mais qualquer Deus. São os infelizes, os torturados e os desesperados que se arrastam para os templos; mas, se abandonarem esta suposta devoção e compreenderem sua desdita, eles serão, então, homens e mulheres felizes, porque descobrirão o que é a Verdade, o que é Deus, [porque tanto a Verdade quanto Deus não estão nos templos, nas adorações, nas orações, nos rituais etc., mas, em nossos Corações.]

 

 

 

Continua...

 

 

 

______

Notas:

1. Na Lógica Clássica, o Princípio da Não-contradição (ou Princípio da Contradição, ou Lei da Não-contradição, ou Lei da Contradição) afirma que duas afirmações contraditórias não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo, exemplo: As duas proposições "A é B" e "A não é B" são mutualmente exclusivas. O Princípio da Não-contradição foi (primeiramente) formulado por Aristóteles (Estagira, 384 a.C. – Atenas, 322 a.C.), e diz que uma proposição não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo. Nenhuma proposição, na Lógica Clássica, portanto, pode ser as duas coisas ao mesmo tempo. O Princípio da Não-contradição é representado do seguinte modo: . A Lei da Não-contradição, assim como seu complemento, a Lei do Terceiro Excluído, a terceira das três leis do pensamento – Para qualquer proposição, ou esta proposição é verdadeira ou sua negação é verdadeira – são correlatas à Lei da Identidade, a primeira das três leis – Todo objeto é idêntico a si mesmo – formulada por Parmênides de Eléia (530 a.C. – 460 a.C.). Acrescentei esta notinha, na verdade, para recapitular o seguinte: ou nos manifestamos como Deuses ou nos manifestamos como demônios. Não podemos viver como Deuses e como demônios ao mesmo tempo e na mesma dimensão, ainda que, de fato, sem saber, todos nós, in potentia, sejamos Deuses. Então, o que é um demônio? Um demônio é um Deus que ainda não sabe que é Deus. Portanto, a boa-nova é que o estado de demonidade é ilusório, passageiro, transitório, e, oportunamente, será vencido e ultrapassado pela Compreensão. Enfim, não temos que nos preocupar por ainda sermos demônios, mas, sim, lutar o Bom Combate para nos transmutarmos em Deuses.

 

 

Dimensões

 

2. Aqui, vale a pena lembrar que há Cinco Iniciações abertas e disponíveis, hoje, para a Humanidadepreparatórias para a Senda da Evolução Superior. Todavia, para podermos recebê-Las, deveremos aprender a pensar em forma abstrata, como ensinou o Mestre Ascensionado Tibetano Djwhal Khul na obra Os Raios e as Iniciações.

3. Acho que, aqui, cabe recordar o If (Se), do contista, poeta e romancista inglês Joseph Rudyard Kipling (Bombaim, 30 de dezembro de 1865 – Londres, 18 de janeiro de 1936):

 

Rudyard Kipling

 

Se és capaz de manter tua calma quando todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa...

Se és capaz de crer em ti quando estão todos duvidando, e, para estes, no entanto, achar uma desculpa...

Se és capaz de esperar sem te desesperares, ou, enganado, não mentir ao mentiroso, ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares, e não parecer bom demais, nem pretensioso...

Se és capaz de pensar sem que a isto só te atires de sonhar sem fazer dos sonhos teus senhores...

Se és capaz de, encontrando a desgraça e o triunfo, conseguires tratar da mesma forma a estes dois impostores...

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas em armadilhas as verdades que disseste e as coisas por que deste a vida estraçalhadas, e refazê-las com o bem pouco que te reste...

Se és capaz de arriscar, em uma única parada, tudo quanto ganhaste em toda a tua vida, e perder, e, ao perder, sem nunca dizer nada, resignado, tornar ao ponto de partida...

Se és capaz de forçar coração, nervos, músculos, tudo, a dar, seja o que for que neles ainda exista, e a persistir assim, quando, exausto, contudo, resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes, e, entre os Reis não perderes a naturalidade, e de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes, se a todos podes ser de alguma utilidade...

Se és capaz de dar, segundo por segundo, ao minuto fatal todo valor e brilho...

Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo, e o que ainda é muito mais és um Homem, meu filho!

 

Música de fundo:

Symphony Nº 6 (Pastorale), em Fá Maior, opus 68
Compositor: Ludwig van Beethoven

Fonte:

http://www.kunstderfuge.com/beethoven/variae.htm#Symphonies

Observação:

A Sinfonia nº 6 em Fá Maior, opus 68, de Ludwig van Beethoven, também chamada Sinfonia Pastoral, é uma obra musical precursora da música programática. Esta Sinfonia foi completada em 1808, e teve a sua primeira apresentação no Theater an der Wien, em 22 de dezembro de 18081. Dividida em cinco andamentos, tem por propósito descrever a sensação experimentada nos ambientes rurais. Beethoven insistia que essas obras não deveriam ser interpretadas como um quadro sonoro, mas, como uma expressão de sentimentos. É uma das mais conhecidas obras da fase romântica de Beethoven.

 

Páginas da Internet consultadas:

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da_n%C3%A3o_contradi%C3%A7%C3%A3o

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Direitos autorais:

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