A CULTURA E O PROBLEMA HUMANO
(3ª Parte)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Informação Preliminar

 

 

 

Este estudo se constitui da 3ª parte de um conjunto de fragmentos garimpados na obra A Cultura e o Problema Humano (título do original: This Matter of Culture), de autoria de Jiddu Krishnamurti. Tomando por tema básico a educação, a cultura e o conceito de verdadeira vida, Krishnamurti aborda neste livro problemas palpitantes, que dizem respeito a algumas das preocupações fundamentais do homem moderno. Entre outros: Qual o papel da disciplina em nossa vida? tal qual pode a mente ultrapassar os obstáculos em si própria existentes? Que é o autoconhecimento, e tal qual alcançá-lo? Que é o destino? tal qual poderemos nos livrar das nossas preocupações de espírito, se não podemos evitar as situações que as causam? Poderá uma pessoa se abster de fazer o que lhe apraz, e, ao mesmo tempo, encontrar o caminho da liberdade?

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Jiddu Krishnamurti

Jiddu Krishnamurti

 

 

 

Jiddu Krishnamurti (Madanapalle, 11 de maio de 1895 – Ojai, 17 de fevereiro de 1986) foi um filósofo, escritor, orador e educador indiano. Proferiu discursos que envolveram temas tal qual revolução psicológica, meditação, conhecimento, liberdade, relações humanas, a natureza da mente, a origem do pensamento e a realização de mudanças positivas na sociedade global. Constantemente, ressaltou a necessidade de uma revolução na psique de cada ser humano, e enfatizou que tal revolução não poderia ser levada a cabo por nenhuma entidade externa seja religiosa, seja política, seja social. Uma revolução que só poderia ocorrer através do autoconhecimento, bem tal qual da prática correta da meditação do ser-humano-aí-no-mundo liberto de toda e qualquer forma de autoridade psicológica.

 

O cerne dos seus ensinamentos consiste na afirmação de que a necessária e urgente mudança fundamental da sociedade só poderá acontecer através da transformação da consciência individual. A necessidade do autoconhecimento e da compreensão das influências restritivas e separativas das religiões organizadas, dos nacionalismos e de outros condicionamentos foram por ele constantemente realçadas.

 

 

 

Fragmentos Krishnamurtianos

 

 

 

A beleza é apenas a expressão externa de um estado interior, tal qual uma poesia que escrevamos ou um quadro que pintemos. Mas, para termos Beleza Interior, deverá haver completo abandono de nós mesmos um sentimento de completa ausência de prisões, de restrições, de defesas, de resistências. Entretanto, este abandono se tornará caótico, se for desacompanhado da austeridade. E ser austero é se satisfazer com pouco e não pensar em termos de mais, em termos dc adquirir ou em termos vir a ser ou de se tornar. Portanto, ser austero é quando não há sentimento de compulsão, medo de não ser, medo de não ganhar, medo de não alcançar. Neste sentido, é a simplicidade, nascida do abandono, mais a austeridade que produzem o estado de Beleza Interior Criadora. Mas, se não existir Amor (por todas as pessoas e por todo o statu quo da Terra), que produz um extraordinário sentimento de consideração, de vigilância e de paciência, não poderemos ser simples nem austeros. E só poderá ter e sentir Amor aquele que se abandonar, que se esquecer completamente de si próprio e, dessarte, nascerá o estado de Beleza Interior Criadora. Se, interiormente, despertarmos a Beleza Criadora, ela se expressará exteriormente, e haverá, então, ordem. Mas, nada disto poderá acontecer, se não houver completo abandono de nós mesmos, o que significa um sentimento de grande simplicidade interior. Resumindo: Austeridade + Simplicidade + Amor = Beleza + Estado Criador.

 

 

R.I.P – Cloroquina

R.I.P. – Cloroquina

= Molécula de Cloroquina

 

 

Eu sabia que a Molécula de Cloroquina era perigosa, mas, a recomendei.
Como a
Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que deveria respeitar a Organização Mundial da Saúde, mas, desrespeitei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que deveria respeitar os infectologistas, mas, desrespeitei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que deveria respeitar a imprensa, mas, desrespeitei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que deveria respeitar o povo brasileiro, mas, desrespeitei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que deveria respeitar os Governadores, mas, desrespeitei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que deveria respeitar os Prefeitos, mas, desrespeitei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que a COVID-19 não era uma gripezinha, mas, disse que era.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que a COVID-19 não era um resfriadinho, mas, disse que era.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que deveria sempre usar máscara, mas, não usei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que não deveria cumprimentar as pessoas, mas, cumprimentei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que flexibilizar agora era genocídio, mas, recomendei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que não deveria elogiar a fujimorização, mas, elogiei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que não deveria liberar as armas de fogo, mas, liberei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que não deveria criticar os LGBTQQICAPF2K+, mas, critiquei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que não deveria ofender os meus adversários, mas, ofendi.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que não deveria imitar os boçalões, mas, imitei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que não deveria apoiar atos antidemocráticos, mas, apoiei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que não deveria apoiar a volta da ditadura, mas, apoiei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que não deveria apoiar uma intervenção militar, mas, apoiei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que não deveria apoiar o retorno do AI-5, mas, apoiei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que não deveria louvar o dr. Tibiriçá, mas, louvei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que não deveria apoiar o fechamento do Congresso, mas, apoiei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?

Eu sabia que não deveria apoiar o fechamento do Supremo, mas, apoiei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que não deveria maquilar dados, mas, maquilei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?

Eu sabia que deveria respeitar a Constituição, mas, desrespeitei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?

Eu sabia que não deveria ser insolidário, mas, fui.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?

Eu sabia que não deveria cagar mole, mas, caguei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
Eu sabia que não deveria deixar-pra-lá, mas, deixei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?

Eu sabia que não deveria carambolar, mas, carambolei.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?

Eu sabia que não deveria fazer tantas outras coisas, mas, fiz.
Como a Beleza Interior Criadora poderia se manifestar em mim?
O que eu não sabia é que, no futuro, terei que compensar tudo isto,
mas, compensarei. Será que, enfim, eu aprenderei a lição?

 

 

Brasil

No momento, o distanciamento social
é o único remédio contra a COVID-19.

 

 

STAY HOME

Enquanto durar a COVID-19,
quem não ficar em casa
e furar o isolamento social,
potencialmente, é um suicida.
E aquele que é um suicida,
cosmicamente, é um homicida.
Por quê? Porque somos todos UM.
As compensações cármicas futuras
dos suicidas e dos homicidas
são semelhantes e serão dolorosíssimas!
Mas, não devemos ficar em casa
por medo das compensações cármicas;
esta é uma atitude hipotética.
Todos nós devemos ficar em casa
por AMOR-RESPEITO a nós e ao outro.
Esta, sim, é uma atitude categórica.

 

Saber se há sobrevivência após a morte não é importante. A questão importante é: há ou não possibilidade de conhecermos a morte enquanto estivermos vivos, enquanto estivermos com saúde e vigorosos, enquanto pensarmos e sentirmos? A morte é o desconhecido [a Grande Aventura], e o que importa é tomarmos conhecimento deste desconhecido enquanto estivermos vivos.

 

A Realidade-Verdade se encontra no mundo inteiro [no Universo inteiro, e, portanto, também, em nosso interior], e, necessariamente, não está em um templo. A Realidade-Verdade pode ser encontrada debaixo de uma folha morta, em uma pedra à beira do caminho, nas águas que refletem os encantos de uma tarde, nas nuvens, no sorriso da mulher que carrega um fardo. Mas, por que, em geral, a Realidade-Verdade não está em um templo? Porque todos os templos foram e são edificados pelo medo do ser-humano-aí-no-mundo, e estão alicerçados no seu desejo de segurança e nas suas divisões de fé, de credo e de casta. Definitivamente, os templos dividem a Humanidade. A igreja cristã, a mesquita muçulmana, o templo hinduísta, [a sinagoga israelita, o terreiro de candomblé etc.] estão dividindo e separando os seres-humanos-aí-no-mundo, e aquele que está em busca de Deus não quer saber de nenhum desse statu quo. [Mas, a ignorância humana chama aqueles que não querem saber de nenhum desse statu quo de irreligiosos, de hereges, de ateístas, de ateus, de cépticos, de descrentes, de gentios, de heresiarcas, de heréticos, de heterodoxos, de ímpios, de incrédulos, de incréus, de infiéis, de mouros, de pagãos, de Jiddus, de Rodolfos etc.]

 

"Fazei” e "não façais” são as grades da gaiola das nossas vidas. Ora, o que acontece à mente limitada pela disciplina? Decerto, só quando temos medo de alguma coisa, quando estamos resistindo a alguma coisa, necessitamos de disciplina; temos, então, de nos controlar, de nos conter. Ou fazemos isto voluntariamente ou somos obrigados a fazê-lo pela sociedade, por nossos pais, por nossos mestres, pela nossa tradição, pelos nossos livros sagrados. Mas, se começamos a investigar, a pesquisar, se aprendemos e compreendemos sem medo, então, não é necessária qualquer disciplina. E esta mesma compreensão produz sua ordem própria e verdadeira, ordem não nascida de imposição ou de compulsão. Pensem nisto, porque, quando somos disciplinados pelo medo, esmagados pela compulsão da sociedade, dominados pelo que dizem os nossos pais e os nossos professores, não há, para nós, nenhuma liberdade, nenhuma alegria e nenhum iniciativa. E quanto mais antiga for a cultura ou a civilização, tanto maior será o peso da tradição que nos disciplina, que nos diz o que devemos fazer e o que não devemos fazer. E, desta maneira, psicologicamente, somos esmagados e arrasados, tal qual se sobre nós tivesse passado um rolo compressor. Enfim, acabamos deixando de ser indivíduos, para nos tornarmos meras engrenagens da máquina social. O medo corrói o Coração. E, enquanto houver medo, não haverá alegria nem criação.

 

 

Rolo Compressor

Rolo Compressor

 

 

Se desejarmos profundamente compreender a Realidade-Verdade, deveremos largar a sombra, e não ficar hipnotizados pela sombra, pelo símbolo, pela pintura, pela imagem de pedra. Ora, pode haver uma multiplicidade de sombras, mas, só há uma Realidade-Verdade indivisível. Para se alcançar esta Realidade-Verdade não há um caminho religioso, seja cristão, seja muçulmano, seja hinduísta, seja qualquer outro.

 

 

Deuses, Deuses e mais Deuses!

 

 

Por que não fazemos uso da nossa inteligência para descobrirmos o que é verdadeiro, e, assim, podermos ajudar a criar uma nova sociedade? Por que não tratamos de descobrir o que é uma sociedade justa e verdadeira, e, mediante uma revolta interior revolucionária, não edificarmos uma nova civilização? [Por que temos que continuar a obedecer os ignorantes e imitar os boçalões? Por que temos que continuar a nos sujeitar à tradição e ficar ancorados na medievalidade?]

 

Alguma vez já estivestes sentado, muito quieto, de olhos fechados, observando o movimento de vosso pensar? Já observastes vossa mente funcionando, ou melhor, vossa mente já observou a si própria em funcionamento, para ver quais são vossos pensamentos, vossos sentimentos, como olhais para as árvores, para as flores, para as aves, para as pessoas, como respondeis a uma sugestão ou reagis a uma idéia nova? Já fizestes isto? Alguma vez? Se não fizestes, estais perdendo muita coisa. Se não sabeis como vossa mente reage, se vossa mente não está cônscia de suas próprias atividades, nunca descobrireis o que é a sociedade, [e pior, muito pior: nunca descobrireis quem de fato és, de onde vieste e o que estás fazendo aqui. Mas, se quiseres continuar a acreditar que és um bonifrate de Deus e que estás aqui porque Deus quer, és livre para pensar assim.] Podeis ler livros de Sociologia, estudar ciências sociais, mas, se não sabeis como funciona vossa mente, não compreendereis o que é a sociedade, pois, vossa mente é parte integrante da sociedade. Ela é a própria sociedade. Vossas reações, vossas crenças, vossas idas ao templo, os trajes que usais, as coisas que fazeis ou que não fazeis, o que pensais — a sociedade se constitui de tudo isto, é a réplica de tudo o que se passa em vossa mente. Vossa mente, pois, não está separada da sociedade, não é distinta de vossa cultura, de vossa religião, de vossas divisões de classe, das ambições e dos conflitos da Humanidade em geral. Tudo isto é a sociedade, da qual sois parte integrante. Não existe vós separados da sociedade. Enfim, a revolta real, a revolução verdadeira é aquela que quebra as cadeias do padrão, para investigar fora dele.

 

Não somos bonifrates de Deus.
N
ão somos fantoches do demônio.
Não fomos criados do nada.
Não estamos aqui de araque.
Somos todos deuses inconscientes.
Nos tornaremos deuses conscientes.

 

 

Pensando

 

 

A verdadeira educação não deve apenas exigir que os alunos passem nos exames ou que escrevam sobre algo que aprenderam de cor, porém, sim, ajudar a perceber os muros da prisão em que suas mentes estão cativas. Precisamos estar cônscios do que cremos e sabemos ou do que não cremos e não sabemos. Tudo isto constitui o padrão da sociedade, e a não ser que estejamos cônscios deste padrão e dele nos libertemos, continuaremos prisioneiros, embora pensemos ser e estar livres. A liberdade está fora dos muros, fora do padrão da sociedade; mas, para ficarmos livres deste padrão, teremos que compreender todo o seu conteúdo, ou seja, compreender a nossa própria mente. Isto é autoconhecimento, e autoconhecimento significa estarmos cônscios de todas as nossas atividades, de todos os nossos pensamentos e de todos os nossos sentimentos. Para isto, deveremos observar sossegadamente como funciona a nossa mente, sem a corrigir, dizendo: Isto é certo, aquilo é errado. Deveremos observá-la apenas como quem assiste a um filme: os atores e as atrizes estão desempenhando os seus papéis, e nós apenas vendo. Pela mesma maneira, deveremos observar como funciona a nossa mente. Isto é verdadeiramente interessante, muito mais interessante do que qualquer filme, pois, a nossa mente é o resíduo de todo o mundo, e contém tudo o que os entes humanos têm experimentado. Nossa mente é a Humanidade, [nossa mente é o Universo], e, quando percebermos isto, teremos uma imensa compaixão. Desta compreensão nascerá um grande Amor. E, então, ao vermos coisas belas, saberemos o que é a Beleza! [E a Beleza é a própria LLuz e a própria Vida! E esta Beleza, esta LLuz e esta Vida estão em nós.]

 

 

 

 

Quando decidimos empreender a jornada do autoconhecimento, os livros deixam de ter importância. Esta jornada é como entrar em um país desconhecido, onde se vêem coisas novas, onde começamos a fazer extraordinários descobrimentos. Todavia, a viagem será muito longa, e, por isto, deveremos levar muito pouca bagagem. Se desejarmos galgar grandes alturas, devemos viajar leves. [Melhor do que viajar leve é viajar sem peso algum, sem carregar nada, porque o que carregarmos nesta Viagem será passado, e o passado é obstrutor.] O descobrimento e a compreensão vêm com o autoconhecimento, pela observação dos movimentos da mente. E todas as coisas são importantes, porque atuam como espelhos que nos mostram exatamente como somos, em todos os momentos.

 

Peregrino, procurei nos livros,
mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nos alfarrábios,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nos Upanishads,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei no Ramayana,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei no Mahabarata,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei na Codificação Espírita,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei no Guru Granth Sahib,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei no Rubaiyat,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nas iluminuras,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei no Tripitaca,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei na Alquimia,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei no Tao Te Ching,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nos Analectos,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nas Enéadas,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei na Bíblia,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nos Evangelhos Apócrifos,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei na Divina Comédia,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei na Suma Teológica,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei na Mein Kampf,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nos Protocolos,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei em A República,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei no Catecismo Positivista,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei na Ética a Nicômaco,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nos almanaques,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei no Talmude,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei no Alcorão,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei no Livro de Urântia,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei no Livro de Mórmon,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nas Centúrias,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei no Codex Sinaiticus,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nos rituais,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei com os sábios,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei com os ignaros,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nas ideologias,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei no materialismo,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei no espiritualismo,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nas religiões,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei com os gurus,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nos países,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nos palácios,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nas prisões,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nos oceanos,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nas montanhas,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nas cavernas,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nas catacumbas,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nas pirâmides,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei em Stonehenge,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei em Machu Picchu,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei em Jericó,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei em Biblos,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei em Faiyum,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei em Jerusalém,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei em Plovdiv,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei em Derinkuyu,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei na Lua,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei em Marte,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei em Plutão,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei no Cometa 1P
/Halley,
mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nos desertos,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei no equinócio,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei no solstício,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nas gavetas,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nos sacrários,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei nos balaios,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei lamentando,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei bendizendo,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei no espaço-tempo,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei com os ETs,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei com os ITs,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei por todo lado,

mas, pouco encontrei.
Peregrino, procurei 'in Corde meo',

então, tudo encontrei.
Entretanto, foi tão-só no Silêncio

que pude ouvir a Voz.
Entretanto, foi tão-só no Silêncio

que pude Compreender.
Entretanto, foi tão-só no Silêncio

que pude me Alforriar.
Entretanto, foi tão-só no Silêncio

que pude me tornar um Deus.

 

Na vida, o importante é que nos encontremos com outro ser-humano-aí-no-mundo sempre com a mente fresca, e não com os nossos preconceitos, com as nossas idéias fixas e com as nossas opiniões.

 

Eu achava que fulano era assim,
mas, na verdade, ele era assado.
E achava que gavelano era frito,
mas, na verdade, ele era ensopado.
E achava que beltrano era cozido,
mas, na verdade, ele era refogado.
Eu achava que sicrano era à milanesa,
mas, na verdade, ele era empanado.
Um dia, olhando para mim mesmo,
percebi que quem estava cru era eu!

Buscar a felicidade é lutar, se esforçar e tentar descobrir o que é Deus, o que é a Verdade. O impulso para descobrir o que é a Verdade e o que é Deus é o único impulso real e atemporal. Todos os outros impulsos são subsidiários. E, se ou quando, por algum motivo, este movimento se detiver, a cultura declinará. E, se ou quando este movimento for embargado pela autoridade, pela tradição, pela ameaça, pelos condicionamentos e pelo medo, haverá declínio e deterioração. Poderemos pôr as vestes de um asceta, ingressar nesta ou naquela sociedade, abandonar uma religião e trocar por outra, tentar de várias maneiras ser livres, mas, se não houver dentro de nós aquele movimento para descobrir o que é o Real, o que é a Verdade, nossos esforços não terão qualquer significação. Poderemos, enfim, ser muito ilustrados e fazer as coisas que a sociedade chama "boas”, porém, se tudo isto estiver dentro da prisão da tradição, não terá nenhum valor revolucionário.

 

Definitivamente, nós não temos que aceitar os decretos da sociedade. [Definitivamente, nós não temos que aceitar os decretos de ninguém.]

 

seja assim.
seja assado.
seja frito.
seja ensopado.
seja cozido.
seja refogado.
seja à milanesa.
seja empanado.
E fui tudo isso aí!
E não prosperei!
E não encontrei!
E não transmutei!
E não ascensionei!
E não me alforriei!
E vivi só de noite!
E só tomei banho de Lua!
E só delirei e sonhei!
A existência? Um açoite!
Uma felicidade fictícia!
E não achei a Estrada!
E não realizei nada!
E não vi meu Sol nascer!
E não vi o Amanhecer!
E, nas miralusões1 fixo,
joguei a vida no lixo!

 

 

Lixo

Lixo

 

 

O sentimento de confiança que deriva da capacidade de ser bem-sucedido dentro da estrutura social é, em verdade, uma presunção – uma estranha arrogância. Mas se, ao contrário, pela investigação [busca] e pela compreensão, nos libertarmos da estrutura social, da qual, inevitavelmente, somos partes integrantes, advirá uma confiança de espécie totalmente diferente, na qual não haverá sentimento da nossa própria importância. Então, são coisas inteiramente distintas a presunção colorida de arrogância e a confiança livre [incolor] do ego... A busca de Deus ou a busca da Verdade [que, no fundo, são a mesma coisa] não se efetuam dentro do padrão estabelecido, [seja pela tradição multissecular, seja pela sociedade contemporânea, seja pela família, seja pelo que ou por quem quer que seja], porém, antes, compreendendo a prisão e rompendo os muros deste padrão [normalmente imposto]. E este próprio movimento para a liberdade cria uma nova cultura, um mundo diferente.

 

Tomista, eu era muito arrogante.
Visionário, me achava importante.
Fantasista, me achava um portento.
Soberboso, era cheiinho de vento.

Absolutista, só causei aflição.
Reformador, só projetei contramão.
Cesarista, fiz a sociedade sofrer.
Mandão, fiz o ente-aí escurecer.

Sempre fui um autômato eficiente;
jamais percebi que estava doente.
Plagiei. Segui ordens. Obedeci.
Sim, estava vivo, mas, morto vivi.

Nunca busquei a Vera Resposta,
e levei uma duração de labrosta.
Perdi-me no meio da mediocridade,
e nunca conquistei a Maioridade.

Nunca tive a confiança da inocência.
Nunca, de fato, tive independência.
Nunca me libertei do padrão social.
Quis fazer o bem, mas, só fiz o mal.

Time after time, conduzi cegos.
Time after time, pastoreei pregos.
Time after time, fomentei vaidades.
Time after time, alastrei inverdades.

E qual foi o fim desta história?
A de todos os que buscam a glória.
Uma existência cinzenta e chocha,
e —› †raspassação à la patocha!

Demanda excepcional inteligência o estar só, e nós deveremos estar sós, para acharmos Deus e a Verdade.

 

No meio da multidão,
busquei Deus e a Verdade.
Lutei, mas, não encontrei.
Sozinho, em Silêncio,
busquei Deus e a Verdade.
Então, um dia, eu encontrei.

 

A Verdadeira Riqueza só surgirá quando descobrirmos o movimento da Realidade-sem-começo-nem-fim. Por isto, é muito importante estar só, por exemplo, sentado debaixo de uma árvore não com um livro ou com um companheiro só e simplesmente observar. Observar a queda de uma folha, ouvir o murmúrio da água, escutar o canto do pescador, observar o vôo de uma ave e o mais importante: observar os nossos próprios pensamentos, que atravessam o espaço da mente em rápida sucessão. Se formos capazes de estar sozinhos e de observar as coisas, descobriremos Maravilhosas Riquezas, que nenhum Governo poderá tributar, que nenhuma ação humana poderá corromper e que jamais poderão serão destruídas.

 

Se Amarmos sem estar buscando nenhum resultado, sem estar desejando algo, nunca ficaremos cansados. Se buscarmos o autopreenchimento, aí, sim, ficaremos cansados. Mas, se houver Amor em nosso Coração, e nosso Coração não estiver repleto das coisas da mente, Ele se tornará e, de fato, será, então, como uma fonte, como uma nascente, de onde brotará eternamente água fresca.

 

Amar verdadeiramente é dar completamente a nossa mente, o nosso Coração e todo o vosso ser sem pedir qualquer retribuição, sem estender a mão para pedir amor [ou o que seja].

 

Nós nos encolerizamos porque queremos que alguém seja o que queremos que ela seja, que faça alguma coisa, que se ajuste a um certo padrão, que achamos que seja bom e que representa o nosso próprio preenchimento, e, quando isto não acontece, ficamos zangados e nos irritamos violentamente.

 

Sempre que houver dependência psicológica, terá de haver frustração, e a frustração, inevitavelmente, gerará cólera, azedume, ciúme e várias outras formas de conflito.

 

Conservar a inocência e o amor, que é o perfume da vida, é dificílimo. Requer muita inteligência e claro discernimento.

 

Cmo somos educados para julgar e condenar, não conseguimos observar uma coisa sem ter ou emitir uma opinião, sem ter nenhum preconceito a seu respeito. Analogamente, como não costumamos conseguir observar os obstáculos existentes na mente, não só os obstáculos superficiais, mas também os mais profundos, do inconsciente, sem condenação, não conseguimos ultrapassá-los. Todavia, só o ultrapassamento será um movimento para a Verdade.

 

Eu achava e julgava.
Eu julgava e condenava.
Eu condenava e ficava
igualzinho como estava!

E, como estava, vivi.
E, como estava, sofri.
E, como estava, adoeci.
E, como estava, morri.

 

Viver não é essa coisa insípida, medíocre e disciplinada que chamamos nossa existência. Viver é coisa completamente diferente. O viver é transbordante de riqueza, é eterna transformação e, enquanto não compreendermos este movimento eterno, nossa vida será, decerto, muito pouco significativa.

 

Eu vivi apenas
para sentir prazer.
E, devido ao apenas,
eu morri sem Viver!

 

A chuva que cai no solo ressecado é uma coisa maravilhosa. Lava as folhas, refresca o ar e renova a terra. E eu acho que todos nós deveríamos lavar e purificar nossa mente, da mesma maneira como as árvores são lavadas pela chuva, tão pesada que a nossa mente está da poeira de muitos séculos, dessa poeira que chamamos conhecimento, experiência. Se nós fizéssemos, todos os dias, uma limpeza em nossa mente, livrando-a das reminiscências de ontem, cada um de nós possuiria uma mente nova, uma mente capaz de enfrentar os numerosos problemas da existência. Uma coisa precisamos entender: ainda que cada um de nós esteja desempenhando uma diferente, porém, necessária função na sociedade, essa coisa chamada "igualdade” é inexistente, porque todos temos diferentes capacidades. Seja como for, a noção de autoridade, no sentido de superior e de inferior, de mais e de menos, de importante e de sem importância são ilusões. O que importa é vivermos em perfeita segurança, sem medo e livres de quaisquer constrangimentos. Só assim desabrocharemos, compreenderemos e nos descerraremos. Só assim seremos verdadeiramente felizes e não teremos vontade de magoar ninguém nem de destruir coisa alguma.

 

O verdadeiro encargo da educação correta é encaminhar os alunos para serem entes-humanos-aí-no-mundo valorosos e sensíveis, sem medo e sem a falsa idéia do respeito devido à posição.

 

Quando Aquela Coisa vibrar em nossos Corações, aprenderemos tudo com muito mais rapidez, e, em vez de medíocre, nossa mente será Superior. Quando compreendermos o quanto é estúpido ser escravo de alguma coisa, lutaremos contra o hábito estabelecido (que é uma coisa morta, uma ação que se tornou mecânica), nos disciplinaremos contra ele e procuraremos, por todos os meios, dele nos libertar. A mente, por meio do hábito, sempre deseja se pôr a dormir, a fim de não ser perturbada. Mas, só quando compreendermos tudo isto, nossa mente se tornará fresca, jovem, ativa, viva, de modo que cada dia será um dia novo, cada alvorada refletida no rio um deleitável espetáculo.

 

A Verdade ou Deus não se encontram em nenhum templo.

 

A Verdade ou Deus
se encontram
e não se encontram
em nenhum templo.
Encontram-se
e não se encontram
porque a Verdade ou Deus
estão em toda parte.
Mas, efetivamente,
ambos são encontrados
em nossos Corações.

 

Um ser-humano-aí-no-mundo poderá levar a sério o nacionalismo, mas, qualquer nacionalismo é falso. Sabeis o que é o nacionalismo? É o sentimento de "minha Índia, my country, right or wrong" ou o sentimento de que a Índia possui imensos tesouros de sabedoria espiritual, e, por isto, ela é maior do que qualquer outra nação. Quando nos identificamos com determinado país, e disso nos orgulhamos, suscitamos no mundo o nacionalismo. O nacionalismo é um falso deus, mas, milhões de pessoas o levam muito a sério, e estão dispostas a ir para a guerra, a matar ou ser mortas, em nome da Nação. Esta espécie de seriedade é utilizada e explorada pelos políticos. Assim, pois, pode-se ser sério a respeito de coisas falsas!

 

Quando uma causa é posta em marcha, inevitavelmente, produzirá um resultado, um efeito. [Lei da Causa e do Efeito.]

 

Integração significa ser um só todo, em todos os níveis, ao mesmo tempo. O estado de integração implica o sentimento de liberdade, e, quando se realiza este estado, não existe por certo nenhuma necessidade de disciplina. Havendo integração não haverá contradição, e, por conseguinte, não haverá nenhuma ação forçada. Enquanto não houver integração, terá de haver disciplina; mas, a disciplina é destrutiva, porque não conduz à liberdade.

 

Ajoelha e reza.
Reza e pede.
Pede e recebe.
Recebe e agradece.
Agradece e ajoelha...

 

Seguir é sempre destrutivo, já que é mecânico, mero ajustamento, sem nenhum surto criador.

 

Só o Amor leva à ação correta. O que produz ordem no mundo é amar, e, portanto, devemos deixar o amor fazer o que quiser.

 

 

 

Continua...

 

 

 

_____

Nota:

1. Miralusões = Miragens + Ilusões.

 

Música de fundo:

Symphony Nº 6 (Pastorale), em Fá Maior, opus 68
Compositor: Ludwig van Beethoven

Fonte:

http://www.kunstderfuge.com/beethoven/variae.htm#Symphonies

Observação:

A Sinfonia nº 6 em Fá Maior, opus 68, de Ludwig van Beethoven, também chamada Sinfonia Pastoral, é uma obra musical precursora da música programática. Esta Sinfonia foi completada em 1808, e teve a sua primeira apresentação no Theater an der Wien, em 22 de dezembro de 18081. Dividida em cinco andamentos, tem por propósito descrever a sensação experimentada nos ambientes rurais. Beethoven insistia que essas obras não deveriam ser interpretadas tal qual um quadro sonoro, mas, tal qual uma expressão de sentimentos. É uma das mais conhecidas obras da fase romântica de Beethoven.

 

Páginas da Internet consultadas:

https://pt.vecteezy.com/

https://giphy.com/

http://www.netanimations.net/

https://www.msf.org.br/

https://br.123rf.com/

https://gifer.com/en/TzZ7

https://www.megapixl.com/

https://giphy.com/

http://clipart-library.com/

http://serieemdevaneios.blogspot.com/

https://krishnamurtibox.wordpress.com/downloads/livros/

 

Direitos autorais:

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