A CULTURA E O PROBLEMA HUMANO
(1ª Parte)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Informação Preliminar

 

 

 

Este estudo se constitui da 1ª parte de um conjunto de fragmentos garimpados na obra A Cultura e o Problema Humano (título do original: This Matter of Culture), de autoria de Jiddu Krishnamurti. Tomando por tema básico a educação, a cultura e o conceito de verdadeira vida, Krishnamurti aborda neste livro problemas palpitantes, que dizem respeito a algumas das preocupações fundamentais do homem moderno. Entre outros: Qual o papel da disciplina em nossa vida? Como pode a mente ultrapassar os obstáculos em si própria existentes? Que é o autoconhecimento, e como alcançá-lo? Que é o destino? Como poderemos nos livrar das nossas preocupações de espírito, se não podemos evitar as situações que as causam? Poderá uma pessoa se abster de fazer o que lhe apraz, e, ao mesmo tempo, encontrar o caminho da liberdade?

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Jiddu Krishnamurti

Jiddu Krishnamurti

 

 

 

Jiddu Krishnamurti (Madanapalle, 11 de maio de 1895 – Ojai, 17 de fevereiro de 1986) foi um filósofo, escritor, orador e educador indiano. Proferiu discursos que envolveram temas como revolução psicológica, meditação, conhecimento, liberdade, relações humanas, a natureza da mente, a origem do pensamento e a realização de mudanças positivas na sociedade global. Constantemente, ressaltou a necessidade de uma revolução na psique de cada ser humano, e enfatizou que tal revolução não poderia ser levada a cabo por nenhuma entidade externa seja religiosa, seja política, seja social. Uma revolução que só poderia ocorrer através do autoconhecimento, bem como da prática correta da meditação do ser-humano-aí-no-mundo liberto de toda e qualquer forma de autoridade psicológica.

 

O cerne dos seus ensinamentos consiste na afirmação de que a necessária e urgente mudança fundamental da sociedade só poderá acontecer através da transformação da consciência individual. A necessidade do autoconhecimento e da compreensão das influências restritivas e separativas das religiões organizadas, dos nacionalismos e de outros condicionamentos foram por ele constantemente realçadas.

 

 

 

Fragmentos Krishnamurtianos

 

 

 

Se, meramente, nos prepararmos para ganhar o sustento, perderemos o significado essencial da vida; e compreender a vida importa muito mais do que simplesmente nos prepararmos para exames e nos tornarmos bons e proficientes em Matemática, Física etc.

 

 

Bê-á-bá

 

 

O que significa viver? Não é uma coisa extraordinária a vida? Os pássaros, as flores, as árvores floridas, o céu, a estrelas, os rios e seus peixes... Tudo isto é vida. A vida é o pobre e é o rico, é a constante batalha entre grupos, raças e nações, é meditação, é o que chamamos religião. E a vida também inclui as coisas sutis e ocultas da mente as invejas, as ambições, os desejos, as cobiças, as paixões, os temores, os preenchimentos e as ansiedades. Tudo isto, e muito mais ainda, é a vida. Mas, em geral, nos preparamos só para compreender um cantinho dela. Passamos em certos exames, achamos um emprego, nos casamos, geramos filhos e vamos nos tornando cada vez mais semelhantes a máquinas. Permanecemos medrosos, ansiosos e assustados diante da vida.

 

 

Charlie Chaplin

Charlie Chaplin
(O Grande Ditador – The Great Dictator)

 

 

 

Discurso Final do Filme O Grande Ditador (1940)

(Este filme, o primeiro filme falado de Charlie Chaplin, foi lançado em 15 de outubro de 1940, e satiriza o Nazismo, o Fascismo e seus maiores propagadores, Adolf Hitler e Benito Mussolini.)

 

 

Charlie Chaplin

Charlie Chaplin
(O Grande Ditador – The Great Dictator)

 

 

Sinto muito, mas, não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – os judeus, o gentio, os negros, os brancos...

 

Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo não para o seu infortúnio. Por que haveremos de odiar e de desprezar uns aos outros? Neste mundo, há espaço para todos. A Terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.

 

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém, nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... Levantou no mundo as muralhas do ódio... E tem nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e para os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas, nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos nos fizeram céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

 

A aviação e o rádio nos aproximaram muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... Um apelo à fraternidade universal... À união de todos nós. Neste mesmo instante, a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... Milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... Vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir, eu digo: Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... Da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbirão e o poder, que do povo arrebataram, haverá de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.

 

Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... Que vos desprezam... Que vos escravizam... Que arregimentam as vossas vidas... Que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da Humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... Os que não se fazem amar e os inumanos!

 

Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem não de um só homem ou de grupo de homens, mas, dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... De fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto em nome da Democracia usemos esse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... Um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.

 

É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores se liberam, porém, escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da Democracia, unamo-nos!

 

Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O Sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando em um mundo novo um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A [personalidade-]alma do homem ganhou asas e, afinal, começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!


 

A função da educação é ajudar a compreender o inteiro processo da vida.

 

Inteligência é a capacidade de pensar livremente, sem medo, sem nenhuma fórmula, de modo que, por nós mesmos, comecemos a compreender o que é real, o que é verdadeiro.

 

Nada poderá ser mais importante para um jovem do que viver em um ambiente onde não exista temor.

 

 

Medo

 

 

Medo de viver, medo de perder um emprego, medo da tradição, medo do que digam os vizinhos, do que diga a nossa esposa ou o nosso marido, medo da morte, [medo da própria vida]. Quase todos nós sentimos medo, numa ou noutra forma, e onde houver medo não poderá haver inteligência.

 

Eu tinha medo de tudo.
Medo do chavelhudo,
medo do inferno,
medo do eviterno,
medo do apocalipse,
medo do eclipse,
medo de excomunhão,
medo de tentação,
medo do solstício,
medo do precipício,
medo do equinócio,
medo do sacerdócio,
medo de comício-relâmpago,
medo de guerra-relâmpago,
medo do saci-pererê,
medo do miserê,
medo da vida,
medo da ferida,
medo de não ir pro céu,
medo de quem é acréu,
medo até de ângulo agudo,
medo mesmo de tudo!

 

É importantíssima uma atmosfera de liberdade, não simplesmente para fazermos o que quisermos, porém, para compreendermos o integral processo do viver.

 

Nós todos poderemos fazer
o que quisermos,
mas, compensaremos
os malfeitos que fizermos.

 

Só fruiremos a riqueza, a profundeza e o inefável encanto da vida, se e quando nos afastarmos de tudo particularmente, da religião organizada, da tradição e da corrupção da sociedade. Só assim, então, como entes humanos, descobriremos, por nós mesmos, o que é verdadeiro. [Mas, constantemente, deveremos ter em mente que este verdadeiro será sempre relativo. Sempre haverá um verdadeiro mais verdadeiro. A Escada é ilimitada; não teve começo e não terá fim.]

 

Regra básica: nunca imitar, sempre descobrir. Se houver medo, haverá declínio e morte [± prematuros].

 

Viver é descobrir, por nós mesmos, o que é verdadeiro; e isto só será possível se e quando houver liberdade, quando houver, em nós, uma contínua revolução interior.

 

Não nos estimulam, não nos ensinam a duvidar, não nos ensinam a descobrir por nós mesmos o que é Deus, porque, se nos rebelássemos, nos tornaríamos um perigo para tudo o que é falso.

 

Viver em segurança significa, geralmente, viver imitando, e, por conseguinte, com medo.

 

 

 

 

Vivemos em um mundo insano, completamente confuso, com o comunista combatendo o capitalista, o socialista resistindo a ambos, e cada um lutando por um lugar seguro, uma posição de poder e de conforto. Um mundo dividido por crenças antagônicas, por distinções de classe, por nacionalidades separadas, por toda espécie de estupidez e de crueldade. Um mundo empenhado em guerras intermináveis, dirigido por políticos ambiciosos, sequiosos de poder. Um mundo de advogados, de policiais e de soldados, de homens e de mulheres cobiçosos, ávidos de posição e em luta uns com os outros. [Um mundo de preconceituosos cruéis, como esse tal de Derek Chauvin! Um mundo de boçais, que sem ser médicos, querem empurrar a cloroquina na nossa goela! Um mundo de delirantes, que saem em passeata a pedir a volta da ditadura e um novo AI-5! Um mundo de antidemocratas, que rosnam pelo fechamento do Congresso e do Supremo! Um mundo de...] E há, também, os chamados "santos”, os gurus religiosos, com seus seguidores. [Um mundo de Joãos de Deus, que se dizem médiuns, mas, não valem sequer os feijões-fradinhos que comem!] Também estes querem poder e posição, nesta vida ou em uma vida futura. E todos nós somos incentivados a nos ajustar à estrutura desta desastrosa sociedade. Definitivamente, só com liberdade completa poderemos crescer e criar uma sociedade diferente, um novo mundo. [Vou repetir: a Mãe de todas as categorias é a LIBERDADE.]

 

Precisamos enfrentar o mundo e compreendê-lo, em vez de a ele nos ajustarmos. [Ajustamento (aceitação) é uma mistura de covardia + neutralidade, o que é uma desgraça.]

 

Só aqueles que se acham em constante revolta (contra a ambição, a avidez etc.) descobrem o verdadeiro, e não o os que se ajustam, que seguem uma certa tradição. Só quando estivermos investigando constantemente, observando constantemente e aprendendo constantemente poderemos achar a Verdade, Deus ou o Amor. Mas, não poderemos investigar, observar, aprender e estar profundamente lúcidos, se tivermos medo. Assim, a função da educação, sem dúvida nenhuma, é erradicar, tanto interior como exteriormente, esse medo que destrói o pensamento humano, as relações humanas e o amor.

 

Revoltar-se, aprender e amar não são três processos separados; é um processo unitário. E aprender por esforço pessoal, de e com todas as coisas, e, por conseguinte, sem necessitar de nenhum guia, de nenhum filósofo, de nenhum guru. [Este APRE(E)NDER a que se refere Krishnamurti significa ouvir a Voz do Silêncio, a Voz do nosso Deus Interior, mas, isto só será possível quando o fiat voluntas mea for substituído pelo FIAT VOLUNTAS TUA.]

 

Um novo mundo só poderá ser criado quando cada um de nós estiver interiormente, psicologicamente e espiritualmente em completa revolta. Então, daremos nosso Coração, nossa mente e nosso corpo em prol da criação de uma escola onde não exista o medo e tudo o que ele implica. Descobrir o verdadeiro requer que estejamos libertos da tradição, [libertos do que é velho], e, portanto, libertos de todos os temores.

 

Para podermos dar toda atenção a algo que é belo, a nossa mente deverá estar livre de preocupações. A mente não deverá estar ocupada com problemas, com tribulações, com especulações. É só com a mente muito tranqüila que se poderá observar realmente, porque, então, a mente será sensível à beleza extraordinária. E, talvez, aqui, tenhamos a chave do problema da liberdade.

 

Ser livre é ser inteligente, porém, a inteligência não nasce só porque desejamos ser livres. A inteligência começa a nascer ao começarmos a compreender, no seu todo, o nosso ambiente as influências sociais, religiosas, paternas e tradicionais que continuamente vos envolvem. Mas, para compreendermos todas essas influências a influência dos nossos pais, do nosso Governo, da sociedade, do meio cultural a que pertencemos, das nossas crenças, dos nossos deuses, das nossas superstições, da tradição a que impensadamente nos ajustamos — para compreendermos todas estas influências e delas nos livrarmos, necessitaremos de profundo discernimento. A liberdade é, com efeito, um estado mental em que não existe medo, nem compulsão, nem ânsia de segurança. O fato é que, no momento em que desejarmos ser algo, em que desejarmos ser alguém, já não seremos mais livres. Só seremos de fato livres, se não imitarmos ninguém, e se formos sempre nós mesmos. Só seremos de fato livres, se, a cada instante, compreendermos o que somos. [Todavia, para compreendermos o que somos ou quem somos, precisaremos compreender quem fomos! Só assim poderemos construir o que seremos.]

 

 

Tempo

 

 

Só começaremos a saber quem de fato somos quando não desejarmos mais ser alguém, quando não imitarmos ninguém e quando já não seguirmos ninguém o que, com efeito, significa estar em revolta contra esta tradição de "vir a ser algo”. Esta é a única revolução verdadeira conducente a uma extraordinária liberdade. Cultivar esta liberdade é a verdadeira função da educação.

 

A esperança de um novo mundo [de uma nova Raça-raiz] está naqueles que começam a ver o que é falso e a se revoltar contra o que é falso, não apenas verbalmente, porém, realmente. [Atitudinalmente.]

 

A mente inteligente é aquela que está aprendendo constantemente, sem jamais tirar conclusões. [Toda conclusão é um ponto de parada. Quanto mais tempo demorarmos aferrados a uma conclusão, menos rapidamente avançaremos. Toda síntese deve, o mais rapidamente possível, se tornar uma nova tese. Isto significa que quanto mais satisfeitos estivermos conosco e com as nossas conquistas, mais ancorados estaremos na impossibilidade de prosseguir.] A mente que se satisfaz com explicações é muito superficial e, por conseguinte, ininteligente. A mente inteligente é aquela que investiga, que observa, que aprende, que estuda. E, de fato, só poderá haver inteligência quando não houver medo, quando estivermos dispostos a nos rebelar contra toda a estrutura social, a fim de descobrir a verdade relativa a qualquer coisa. A inteligência surgirá com a compreensão de nós mesmos, e só poderemos nos compreender em relação com o mundo das pessoas, das coisas e das idéias. Inteligência não é coisa adquirível, como a sapiência; ela surge quando há uma grande revolta, e isto significa inexistência de medo, pois, quando não há medo, há Amor.

 

Quando nos observamos (quando nos percebemos) nos transformamos.

 

O ser-humano-aí-no-mundo que tenta se tornar alguma coisa é feio, insensível e rude.

 

Quanto às crianças e aos jovens, deve ser criado um ambiente propício e agradável para que eles possam vir a se conhecer (a se perceber), sem que sejam obrigados a isso, ou seja, sob pressão da autoridade. O autoconhecimento não pode ser imposto; a autocompreensão não pode ser forçada

 

Se uma experiência está contaminada pelo passado, ela é, meramente, uma continuidade do passado, e, por conseguinte, não é uma experiência original.

 

É preciso que todos nós criemos uma atmosfera em que as crianças possam crescer em liberdade e sem medo.

 

É bom e fundamental ver o que é belo, mas, é necessário, também, observar o lado feio, triste, sombrio e tenebroso da vida. Nós devemos estar despertos para tudo. Ou será que andamos tão atarefados, tão ocupados com a nossa rotina diária, que esquecemos (ou nunca conhecemos) a própria beleza desta Terra desta Terra em que juntos temos de viver? Quer nos denominemos comunistas ou capitalistas, hinduístas ou budistas, muçulmanos ou cristãos, quer sejamos cegos e aleijados ou sãos e felizes, esta Terra é nossa. É muito importante sentir isto e amar a nossa Terra, não apenas ocasionalmente, numa tranqüila manhã, mas, em todas as horas. E só poderemos sentir que este é nosso mundo, e amá-lo, se e quando compreendermos o que é liberdade.

 

Depois da Noite, Nasceu o Dia,

e eu vi que foi muito bom e foi belo.

Depois da Noite, perdurou a Noite,

e eu vi que foi mau e feio, mas, útil.

 

Depois da 11ª Hora, pintou a 12ª Hora,

e eu vi que foi muito bom e foi belo.

Um cruel não pôde ver a 6ª Raça-raiz,

e eu vi que foi mau e feio, mas, útil.

 

Uma personalidade-alma (re)nasceu,

e eu vi que foi muito bom e foi belo.

Uma guerra feriu, devastou e ceifou,

e eu vi que foi mau e feio, mas, útil.

 

Uma boa mãe amamentou o seu filho,

e eu vi que foi muito bom e foi belo.

Uma outra colocou seu filho na roda,

e eu vi que foi mau e feio, mas, útil.

 

Uma linda rosa-da-montanha brotou,

e eu vi que foi muito bom e foi belo.

Uma queimada calcinou e arrasou,

e eu vi que foi mau e feio, mas, útil.

 

Um 'sem-porra-nenhuma' foi auxiliado,

e eu vi que foi muito bom e foi belo.

Um afro-americano foi 'assassinasfixiado',

e eu vi que foi mau e feio, mas, útil.

 

Um refugiado foi amparado e abrigado,

e eu vi que foi muito bom e foi belo.

Um 'gay' foi covardemente apedrejado,

e eu vi que foi mau e feio, mas, útil.

 

Um país acabou com a pena capital,

e eu vi que foi muito bom e foi belo.

Um 'serial killer' foi executado,

e eu vi que foi mau e feio, mas, útil.

 

Um vira-lata foi defendido e protegido,

e eu vi que foi muito bom e foi belo.

Um golfinho-branco foi esquartejado,

e eu vi que foi mau e feio, mas, útil.

 

Um altruísta mandou erigir um hospital,

e eu vi que foi muito bom e foi belo.

Um déspota mandou construir um foguete,

e eu vi que foi mau e feio, mas, útil.

 

Um filantropo beneficiou um ceguinho,

e eu vi que foi muito bom e foi belo.

Um misantropo 'shylockou' um anãozinho,

e eu vi que foi mau e feio, mas, útil.

 

Um pedreiro-livre foi justo e perfeito,

e eu vi que foi muito bom e foi belo.

Um político foi engaiolado por corrupção,

e eu vi que foi mau e feio, mas, útil.

 

Um educador transformou e mudou,

e eu vi que foi muito bom e foi belo.

Um terrorista supliciou e degolou,

e eu vi que foi mau e feio, mas, útil.

 

e eu vi que foi muito bom e foi belo.

Um 'pecante' rogou –› um padre o absolveu,

e eu vi que foi mau e feio, mas, útil.

 

A Vida destruiu e reconstruiu,

e eu vi que foi muito bom e foi belo.

A COVID-19 fez sofrer e extinguiu,

e eu vi que foi mau e feio, mas, útil.

 

Do 'mânvântâra' nasceu o 'prâlâya',

e eu vi que foi muito bom e foi belo.

Carolina viu o tempo passar na janela,

e eu vi que foi mau e feio, mas, útil.

 

Eu compreendi todas estas coisas,

e eu vi que foi muito bom e foi belo.

Depois, me esqueci e 'deixeipralá',

e eu vi que foi mau e feio, mas, útil.

 

Um Discípulo recebeu a Palavra,

e eu vi que foi muito bom e foi belo.

Um pérfido traiu seu Compromisso,

e eu vi que foi mau e feio, mas, útil.

 

A G.'.L.'.B.'. acudiu a Humanidade,

e eu vi que foi muito bom e foi belo.

A G.'.L.'.N.'. molestou a Humanidade,

e eu vi que foi mau e feio, mas, útil.

 

Com o tempo, acabei compreendendo,

que, no Universo, não há mau nem feio.

No Universo, tudo é mudança e movimento,

e prevalece a Lei da Causa e do Efeito.

 

Nós costumamos não ver a utilidade,

porém, xongas é desútil ou supérfluo.

Também, raras vezes vemos a necessidade,

mas, lhufas é desfavorável ou malpropício.

 

Ser livre não é, meramente, fazermos o que nos apraz ou fugirmos das circunstâncias externas que nos tolhem, mas, sim, compreender todo o problema da dependência interior, emocional e psicológica, [que escraviza, tolhe e retrasa]. Então, para podermos ser livres, teremos de nos revoltar contra todas as dependências interiores, e não poderemos nos revoltar se não compreendermos porque somos dependentes. [Por isto, como eu disse mais acima, precisamos conhecer e saber quem fomos.]

 

A liberdade e o amor andam juntos. O amor não é reação. Se amamos porque nos amam, isto é pura transação, uma compra no mercado. Amar é nada pedir em troca: não sentir, sequer, que se está dando alguma coisa. Só este amor poderá conhecer a liberdade.

 

De maneira geral, nosso amor é sempre cercado de ansiedade, de ciúme e de medo, e isto deriva de estarmos dependendo de outrem, interiormente, porque desejamos ser amados também. Não amamos simplesmente, sem nada mais desejarmos. Queremos retribuição; e isto, justamente, nos torna dependentes.

 

Plantar uma árvore e cuidar dela, olhar o rio e fruir a prodigalidade da Terra, observar uma ave no ar e a beleza de seu vôo, ter sensibilidade e se manter aberto a esse extraordinário movimento que se chama a vida para tudo isto há necessidade de liberdade. E, para sermos livres, deveremos amar. Sem amor, não há liberdade. Sem amor, a liberdade é mera idéia, uma simples palavra sem nenhum valor. Assim, só os que compreenderam a íntima dependência e dela se libertaram, que sabem, por conseguinte, o que é o amor só estes poderão conhecer a liberdade, só estes poderão criar uma nova civilização, um mundo diferente.

 

 

 

 

A própria ânsia de ficar livre do desejo ainda faz parte do desejo, e, com efeito, é inspirada pelo medo, [o que é um prisão.]

 

Desejei ficar livre do desejo,
pois, eu sentia muito pejo
de ser um escravo do desejo
que me prendia ao mesmo lugarejo,
e me impedia de ser um andarejo.
Todavia, meu desejo era sobejo,
e continuei agrilhoado ao desejo,
e nunca realizei este almejo.
Findei meus dias servo do desejo!

 

De fato, o que todos nós queremos não é, verdadeiramente, ficar livres do desejo, porém, ficar livres da inquietação, da ansiedade e do sofrimento causados pelo desejo. Ou seja: desejamos ficar e estar livres dos amargos frutos do desejo, e não do próprio desejo 'per se'. Se pudéssemos despojar o desejo do sofrimento, das ânsias e dos temores que o acompanham, de modo que só restasse o prazer, ninguém quereria ficar livre do desejo!

 

Enquanto houver desejo de ganho, de enriquecer, de realização, de "vir a ser”, em qualquer nível que seja, terá de haver, inevitavelmente, ansiedade, sofrimento, medo, [prisão]. A ambição de ser rico, de ser isto ou de ser aquilo, só desaparecerá quando percebermos o caráter malsão, a natureza corruptora da própria ambição. No momento em que percebermos que o desejo de poder, em qualquer forma o poder de um primeiro-ministro, de um presidente, de um rei, de um juiz, de um sacerdote, de um guru é essencialmente mau, já não teremos o desejo de ser poderosos.

 

Um meio errôneo não pode ser usado para um fim correto. Se o meio for mau, o fim haverá de ser mau. O bem não é o oposto do mal; o bem só poderá se tornar existente quando o mal deixar completamente de existir. Assim, se não compreendermos o pleno significado do desejo, seus resultados e suas conseqüências indiretas, nenhuma significação terá o simples ato de tentarmos nos livrar do desejo.

 

 

Tapando o Sol com uma peneira!

 

 

A verdadeira função da educação deve ser nos ajudar a compreender toda a estrutura da nossa sociedade corrompida e apodrecida, e nos permitir crescer em liberdade, de modo que sejamos capazes de quebrar todas as prisões e criar uma sociedade diferente, justa e equânime um mundo novo. Assim, a verdadeira função da educação é não só nos ajudar a nos descondicionar das ambições e dos desejos, mas, também, nos ajudar a compreender o inteiro processo do viver, o dia-a-dia, para que possamos crescer em liberdade e criar um novo mundo, um mundo totalmente diferente do atual. Entretanto, infelizmente, o fato é que nem os pais, nem os professores, nem o público em geral estão interessados nisso. Eis por que a educação deve ser um processo de educar tanto o educando como o educador.

 

Só poderemos ter uma mente simples quando soubermos amar.

 

O que é a inveja? Simplesmente, descontentamento com o que somos. E assim, o nosso desejo de mudança gera inveja e ciúme, ao passo que na Compreensão do que somos há uma Transformação do que somos. Saber como pensar exige muita penetração e muita compreensão, mas, saber o que pensar é relativamente fácil. Nossa atual educação consiste em ensinar o que pensar; ela não nos ensina como pensar, como penetrar, como explorar.

 

Devemos nos esforçar para compreender a totalidade da vida, e não apenas uma parte dela.

 

Escutar apenas em busca de confirmação de algo que corrobore o nosso próprio modo de pensar tem muito pouca significação. Mas, escutar com o fim de descobrir, indica uma mente livre, que não está presa a coisa alguma. Este tipo de mente é, então, muito perspicaz, penetrante, investigadora e curiosa, e, por conseguinte, capaz de descobrimento.

 

 

 

 

 

Continua...

 

 

 

Música de fundo:

Symphony Nº 6 (Pastorale), em Fá Maior, opus 68
Compositor: Ludwig van Beethoven

Fonte:

http://www.kunstderfuge.com/beethoven/variae.htm#Symphonies

Observação:

A Sinfonia nº 6 em Fá Maior, opus 68, de Ludwig van Beethoven, também chamada Sinfonia Pastoral, é uma obra musical precursora da música programática. Esta Sinfonia foi completada em 1808, e teve a sua primeira apresentação no Theater an der Wien, em 22 de dezembro de 18081. Dividida em cinco andamentos, tem por propósito descrever a sensação experimentada nos ambientes rurais. Beethoven insistia que essas obras não deveriam ser interpretadas como um quadro sonoro, mas, como uma expressão de sentimentos. É uma das mais conhecidas obras da fase romântica de Beethoven.

 

Páginas da Internet consultadas:

https://www.kindpng.com

https://giphy.com/

https://www.ilikesticker.com/Store/en

http://nominuto.com/

https://gfycat.com/gifs/search/apple+tree

http://paulistapoeta.blogspot.com/

https://br.depositphotos.com/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Freddy_Krueger

https://pt.wikipedia.org/wiki/JBS

https://www.1001freedownloads.com/

http://it.creepypasta.wikia.com/

https://pncaearouca.wordpress.com/

http://www.culturabrasil.org/
discurso_grande_ditador_chaplin.htm

https://makeagif.com/

https://tenor.com/

https://krishnamurtibox.wordpress.com/downloads/livros/

 

Direitos autorais:

As animações, as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las, se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei do ar imediatamente.