Cristovam Buarque

(Pensamentos e Reflexões)

 

 

 

Cristovam Buarque

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

 

 

 

Este estudo teve por objetivo garimpar, aqui e ali, algumas reflexões e alguns pensamentos do meu colega, professor e Senador da República – Cristovam Buarque. Como eu não desejo mesmo que você confunda Gryllus campestris com Crocodylus niloticus nem a Senhora Carolina de Sá Leitão com a caçarolinha de assar leitão da Dona Kydolina, devo dar uma explicação técnico-lingüística ou, quem sabe, didático-senatorial: digo colega, sim, por que Cristovam é professor e educador, como eu fui – hoje, estou aposentado; senador, não, porque eu nunca fui, não sou e jamais serei senador. Se eu, um dia, amalucasse e me candidatasse a senador, nem eu votaria em mim!

 

 

 

 

Breve Biografia de Cristovam

 

 

 

Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque

 

 

 

Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque (Recife, 20 de fevereiro de 1944) é um engenheiro mecânico, economista, educador, professor universitário e político brasileiro, membro do PDT. É casado e tem duas filhas.

 

Graduado em Engenharia pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1966, envolveu-se na mesma época com a política estudantil, tendo sido militante da Ação Popular, um grupo ligado à Igreja Progressista de Esquerda. Após o golpe militar de 1964, devido às perseguições da ditadura, seguiu para um auto-exílio na França, onde obteve o doutorado em Economia pela Universidade de Sorbonne (Paris), em 1973.

 

Foi reitor da Universidade de Brasília (o primeiro por eleição direta, após a ditadura militar), Governador do Distrito Federal e Ministro da Educação, nomeado por Lula no dia 1º de janeiro de 2003, mas foi demitido do Ministério no início de 2004 via telefone por Lula – com o envolvimento do então Ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Sobre sua saída do PT, declarou: — Eu não saí do PT; foi o PT que saiu de mim. Este é o grande crime do PT: o Partido é de gente honesta, mas acomodada. A corrupção é de alguns petistas. Atualmente é Senador, tendo sido eleito em 2002 com 674.086 votos (30% dos válidos). Após cogitar sua permanência no Senado como independente, decidiu ingressar no PDT, com o qual tem afinidades antigas, tendo participado da campanha de Leonel Brizola à Presidência em 1989.

 

Sua proposta de transformar a educação em grande prioridade nacional é uma continuidade das idéias de Darcy Ribeiro, que foi um importante formulador das políticas educacionais do PDT.

 

Foi candidato a Presidente da República, em 2006, pelo PDT, tendo o senador Jefferson Peres como vice-presidente. A principal bandeira de sua campanha foi a federalização de uma educação pública de qualidade para o nível básico (ensino pré-escolar, fundamental e médio), vista como pré-requisito para a solução de todos os demais problemas brasileiros a médio e longo prazos. Para alcançar esse objetivo, propôs a federalização de alguns aspectos da área, como, por exemplo, a definição de padrões mínimos para a infra-estrutura educacional (prédio, equipamentos etc.), currículos dos cursos e formação de professores, que passariam a ter um piso salarial de R$ 800,00. Obteve a quarta colocação no primeiro turno, atrás de Lula, Geraldo Alckmin e Heloísa Helena, tendo recebido 2.538.834 votos, equivalentes a 2,42% dos votos totais e 2,64% dos votos válidos. Celebridades como Juca Kfouri, José Trajano, Caetano Veloso, Fernanda Torres, Ricardo Noblat e Manoel Carlos declararam que votaram em Cristovam.

 

 

 


Livros Publicados

 

 

 


Como autor:


1. A ressurreição do General Sanchez. Ed. Civilização Brasileira, 1982. Reedição, Ed. Geração, 1997.

 

2. A Avaliação econômica de projetos, Ed. Camus, 1984.

 

3. A Eleição do Ditador, Ed. Paz e Terra, 1988.

 

4. Astrícia. Ed. Civilização Brasileira, 1984. Reedição Ed. Geração, 2004.

 

5. Na Fronteira do futuro – o projeto da UnB, Ed. Universidade de Brasília, 1989. Publicado em Costa Rica, 1990.

 

6. A desordem do progresso – o fim da era dos economistas e a construção do futuro, Ed. Paz e Terra, 1990, editado na Inglaterra, 1991.

 

7. O colapso da modernidade brasileira – e uma proposta alternativa, Ed. Paz e Terra, 1991.

 

8. A revolução na esquerda e a invenção do Brasil, Ed. Paz e Terra, 1992.

 

9. A aventura da universidade, Co-edição Paz e Terra e UNESP, 1994.(Prêmio Jabuti, 1995).

 

10. A revolução nas prioridades, Ed. Paz e Terra, 1994.

 

11. O que é apartação – o apartheid social brasileiro, Ed. Brasiliense, 1994.

 

12. Um tesouro na rua – uma aventura pelos 500 anos da historia econômica do Brasil, Ed. Artes e Contos/Record, 1995 (juvenil).

 

13. A cortina de ouro, Ed. Paz e Terra, 1995, publicado na Espanha, 1996 e Argentina, 2005.

 

14. Modernidade com ética Ed. Revan, 1998.

 

15. A segunda Abolição, Ed. Paz e terra, 1999.

 

16. Os tigres assustados – uma viagem pela fronteira dos séculos, Ed. Artes e Contos/Record, 1999.

 

17. Admirável mundo atual, Ed. Geração Editorial, 2001, publicado em Portugal, 2003 e Argentina, 2005.

 

18. Os Instrangeiros, Ed. Garamond, 2004.



19. Um livro de Perguntas, Ed. Garamond, 2004.

 

20. Os Deuses subterrâneos, Ed. Record, 1994, reedição em 2005.

 

21. Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior. – Brasília: ABMES Editora, 2005. (Série Grandes Depoimentos, 1).

 

22. O Que é Educacionismo. S.Paulo. Ed. Brasiliense, 2008.

 

 

Em parceria:

 

 

1. Tecnologia apropriada: una política para la banca de desorrollo, Cristovam Buarque, Sergio C. Buarque e Alide Lima/Peru, 1982.

2. O berço da desigualdade. Sebastião Salgado e Cristovam Buarque. UNESCO. 2005.

 


Trabalhos produzidos por Cristovam Buarque e publicados em outros países:

 


1. La Universidad em la frontera Del futuro. 1ª ed. En español – Ed. Heredia, C.R. EUNA, 1991.

 

2. The end of Economist. 1ª ed. In english. Ed. Zed Books, 1993.

 

3. Admirável Mundo Actual – Dicionário pessoal dos horrores e das esperanças do mundo globalizado. 1ª edição portuguesa: Terramar, Lisboa, Janeiro de 2004.

 

4. Admirable Mundo Actual – diccionario personal de los horrores y las esperanzas Del mundo globalizado. 1ª ed. – Buenos Aires: Lumen-Hvmanitas, 2005.

 

5. La cortina de oro: Los temores del nuevo mileno y un sueño para realizar. 1ª ed. – Buenos Aires: Lumen-Hvmanitas, 2005.

 

 

Livros escritos sobre o Professor Cristovam Buarque:

 


BURSZTYN, Marcel. Cristovam Buarque: o semeador de utopias. Brasília: UnB, 1998.


SAUTCHUK. Jaime. Para Ler Cristovam Buarque. Brasília: Geração, 1998.


VITAL, Antonio. É possível. As Realizações do Engenheiro Cristovam Buarque Rumo a uma Nova Esquerda. Geração Editorial 2006.

 

 

Prefácios em Livros:

 


LIST, Georg Friedrich. Sistema nacional de economia política. Apresentação de Cristovam Buarque.


OROZ, Silvia. Melodrama. Prefácio de Cristovam Buarque.


PAIVA, Flávio. Retirantes na apartação. Apresentação de Cristovam Buarque.


RETRATO de Brasília: 1996 as primeiras conquistas. Apresentação de Cristovam Buarque.


BURSZTYN, Marcel. Da utopia à exclusão: vivendo nas ruas em Brasília. Prefácio de Cristovam Buarque.


NASCIMENTO, Elimar Pinheiro do (org.) Diversidade étnica e resistências nacionais. Apresentação de Cristovam Buarque.


NASCIMENTO, Francisco das Chagas Firmino do; LIMA, Manoel Cordeiro. Terceirização na educação: a face moderna do retrocesso. Prefácio de Cristovam Buarque.


BRASIL: 100 fotógrafos retratam o cotidiano do país em 24 horas. Apresentação de Cristovam Buarque.

 

 

Orientações de Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado:

 


SILVA NETO, Alfredo Lopes da; BUARQUE, Cristovam (orient.). Dívida pública interna federal: uma análise histórica e institucional do caso brasileiro. 1980. (Mestrado em Economia) – Faculdade de Economia, Universidade de Brasília, Brasília.


SACRE ESPANA, Aldo; BUARQUE, Cristovam (orient.). Seleção da técnica eficiente: um estudo de caso. 1982. Tese – Universidade de Brasília, Brasília.


JORGE, Marcelino José; BUARQUE, Cristovam (orient.). Estudo de caso sobre a microeconomia do progresso técnico: inovações menores na indústria brasileira de óxido de etileno e seus derivados. 1983. Tese – Universidade de Brasília, Brasília.


VIVEROS ASTUDILLO, Guillermo Miguel; BUARQUE, Cristovam (orient.). Distribuição da renda e da propriedade: a experiência latino-americana. 1984. Tese – Universidade de Brasília, Brasília.


BENVINDO, Francisco Martins; BUARQUE, Cristovam (orient.). Acumulação capitalista e urbanização em Goiás: 1920-1980. 1984. Tese – Universidade de Brasília, Brasília.


VERMULM, Roberto; BUARQUE, Cristovam (orient.). Planos de desenvolvimento no Brasil. 1985. Tese – Universidade de Brasília, Brasília.


TASSO, Edson Navarro; BUARQUE, Cristovam (orient.). Excesso ou escassez de oferta de energia elétrica no período de 1952 a 1986. 1987. Tese (Mestrado) – Universidade de Brasília, Brasília.


PAROLA, Alexandre Guido Lopes; BUARQUE, Cristovam (orient.). Estudo das políticas oficiais norte-americanas para a crise do endividamento externo da América Latina: 1982 a 1990. 1991. Tese (Mestrado em Economia) – Faculdade de Economia da Universidade de Brasília, Brasília.

 

MELO, José Airton Mendonça de; BUARQUE, Cristovam (orient.). Petroquímica e desenvolvimento regional: uma avaliação da indústria petroquímica e de seu papel no desenvolvimento do nordeste. 1991. Tese – Universidade de Brasília, Brasília.


CARVALHO, Alice Kalyvas de; BUARQUE, Cristovam (orient.). Economia informal como fator de entrave e/ou aceleração do processo de crescimento econômico e desenvolvimento. 1992. 133 f. Tese – Universidade de Brasília, Brasília.


FAULHABER, João Mário Wood; BUARQUE, Cristovam (orient.). Petrobrás e o desenvolvimento: o exemplo Macaé-Rio de janeiro. 1992. Tese – Universidade de Brasília, Brasília.


FERNANDES, André Eduardo da Silva; BUARQUE, Cristovam (orient.). Da dualidade ao apartheid: crítica à política econômica brasileira. 1993. Tese – Universidade de Brasília, Brasília.


CARVALHO, Maura Lucia Montella de; BUARQUE, Cristovam (orient.). Teorias do valor de Smith a Marshall: a existência de convergências. 1993. Tese – Universidade de Brasília, Brasília.


LIMA E SILVA, Verônica Freire Ferreira; BUARQUE, Cristovam (orient.). Roda da angústia. 1996. Tese – Universidade de Brasília, Brasília.


HAYNE, Luiz Augusto; BUARQUE, Cristovam (orient.). Inovação tecnológica como origem de um processo de desenvolvimento sustentável. 2000. Tese – Universidade de Brasília, Brasília.


BRANDÃO, Flávio Cruvinel; BUARQUE, Cristovam (orient.). Programa de apoio às tecnologias apropriadas - avaliação de um programa de desenvolvimento tecnológico induzido pelo CNPQ. 2001. Tese – Universidade de Brasília, Brasília.


ALLEGRETTI, Mary Helena; BUARQUE, Cristovam (orient.). Construção social de políticas ambientais: Chico Mendes e o movimento dos seringueiros. 2002. Tese – Universidade de Brasília, Brasília.


CASTRO, Vanessa Maria de; BUARQUE, Cristovam (orient.). Impactos dos programas educacionais bolsa-escola no Brasil e Education Action Zone na Inglaterra. 2004. Tese (doutorado) – Universidade de Brasília, Centro de Desenvolvimento Sustentável, Brasília.

 

 

Produção Acadêmica:

 

 

BUARQUE, Cristovam. Financement public des investissements prives el choix technologiques le fonctionnement de l’economie mixte du Nordeste brasilien, 1972. Tese (Doutorado) – Université de Paris, École Pratique des Hautes Etudes IVe Section. Sciences Economiques et Sociales Sorbonne, Paris.

 

JAVIER OCHOA, Hugo; BUARQUE, Cristovam. Bibliografia para el estudio de projetos.

 

EDELMAN, J.A. Glosario de terminos economicos y contables seccion especial en analisis beneficio–costo. Tradução de Cristovam Buarque.

 

BUARQUE, Cristovam; SACHS, Ignacy. La Seleccion de tecnologia en el proceso de evaluacion economica de proyectos.

 

BUARQUE, Cristovam. Relatório da administração 1985 a 1989: o que falta fazer nas próximas décadas.

 

BUARQUE, Cristovam. Metodologia para avaliação de projetos multinacionais.

 

BUARQUE, Cristovam. O fetichismo da energia.

 

BUARQUE, Cristovam. Petróleo, dívidas e duas idéias atrevidas.

 

BUARQUE, Cristovam. Tecnologia apropriada: una política para la banca de desarrollo de América Latina.

 

BUARQUE, Cristovam. O saber achado na rua.

 

BUARQUE, Cristovam. University: the conquest of freedom.

 

BUARQUE, Cristovam. Ponto de partida.

 

BUARQUE, Cristovam et al. Brasil: realidade e ilusão.

 

BUARQUE, Cristovam. A questão da universidade hoje.

 

MOKDECI, Jorge João; BUARQUE, Cristovam. Brasil: realidade e ilusão.

 

BUARQUE, Cristovam. La universidad en la frontera del futuro.

 

BUARQUE, Cristovam. O destino da universidade: debate com Cristovam Buarque.

 

BUARQUE, Cristovam. A aventura da universidade.

 

BEOZZO, José Oscar (org.); BUARQUE, Cristovam et al. Curso de verão. Ano XV: produzir a esperança: projetos de sociedade e utopia do reino.

 

BUARQUE, Cristovam. Universidade ligada.

 

BUARQUE, Cristovam. Pequeno dicionário da crise universitária.

 

BUARQUE, Cristovam; NUNES, Ivônio Barros. Universidade permanente: gestão do conhecimento para atualização profissional, informação tecnológica e educação superior.

 

BUARQUE, Cristovam. UnB: uma agenda para o presente.

 

 

 

 

Pensamentos e Reflexões Buarquianas

 

 

 

 

 

 

 

 

Vergonha de Quem?

por

Cristovam Buarque

 

 

 

 

Ou são 8 ou são 88888888888888888888888888!

 

 

 

No sábado passado, estava em Londrina, no Paraná. Lá, vi num adesivo de carro o lema: 'Tenho vergonha dos políticos brasileiros'. Pensei em copiá-lo, adaptando o texto para: 'Tenho vergonha dos motoristas brasileiros'.

 

Afinal, se temos vergonha dos políticos, tenhamos também dos motoristas, já que somos o país com maior índice de assassinatos no trânsito. Nossos motoristas são tão assassinos quanto os políticos são ladrões. Mas não vou generalizar: há motoristas cuidadosos e há políticos decentes.

 

Pensei que a lista de adesivos poderia ser bem maior. Alguns exemplos seriam: Tenho vergonha dos profissionais liberais brasileiros, porque nos perguntam se queremos pagar com ou sem recibo; ou Tenho vergonha dos contribuintes brasileiros, porque aceitam sonegar impostos; ou Tenho vergonha dos alfabetizados brasileiros, porque são capazes de conviver tranqüilamente com 14 milhões de compatriotas incapazes de ler, de reconhecer a própria bandeira. Ou, ainda, 'Tenho vergonha dos eleitores brasileiros', porque foram eles que elegeram os políticos que envergonham os brasileiros.

 

Mas considerei que estava generalizando, e pensei em outro adesivo: 'Tenho vergonha dos brasileiros que generalizam'.

 

O adesivo que vi em Londrina não estava errado. Hoje em dia, os motoristas têm razão em sentir vergonha de nós, políticos brasileiros. Assim como nós temos o direito de sentir vergonha dos motoristas. Mas esses adesivos que imaginei só se aplicam se atribuirmos a toda categoria os defeitos de alguns de seus membros. A diferença entre os políticos e as demais categorias é que, embora seja um erro generalizar, no que se refere ao nosso comportamento ético, é correto generalizar nossa incompetência para administrar o País, para eliminar a corrupção, para acabar com as vergonhas que sentimos. É um erro considerar que o comportamento corrupto está generalizado entre todos os políticos, mas é correto generalizar a responsabilidade dos políticos na aprovação das políticas públicas que fazem do Brasil um país atrasado, dividido, não-civilizado, desigual.

 

Aquele motorista de Londrina, com o adesivo no carro, atribuiu incorretamente o comportamento corrupto a todos os políticos. Ele certamente nem pensou em generalizar a incompetência que impede as lideranças políticas de mudarem os rumos do Brasil. Certamente, aquele motorista está incomodado com os políticos que se apropriam do dinheiro público, mas é bem possível que aprove as políticas orçamentárias que constroem mais viadutos do que escolas. Aquele motorista não deve se incomodar com políticas que o beneficiam – como a redução do IPI de automóveis – mesmo que isso reduza recursos que atenderiam as necessidades da população pobre. Ele se declara contra a corrupção no comportamento dos políticos, mas é conivente com a corrupção nas prioridades das políticas públicas que o beneficiam.

 

O adesivo certo seria: 'Tenho vergonha das políticas públicas brasileiras e dos políticos que as criam e aprovam, beneficiando a atual minoria privilegiada, e prejudicando a maioria excluída e as gerações futuras, que ficarão sem os recursos que estamos desperdiçando'. Outra sugestão de adesivo seria: 'Tenho vergonha de ser mais um brasileiro que incinera florestas e cérebros. Tenho vergonha de queimarmos, por minuto, o equivalente a seis campos de futebol na Amazônia, e 60 cérebros de crianças, que são jogadas para fora da escola.'

 

Mas, esses adesivos, além de muito compridos, não seriam bem compreendidos, porque, com nosso baixo nível de educação, somos incapazes de entender 'nuances' e detalhes. Só entendemos as generalizações simplificadas.

 

Talvez o adesivo certo fosse 'Tenho vergonha do grau de deseducação dos brasileiros', até porque essa é uma generalização bastante aceitável. Porque a deseducação dos brasileiros que não foram educados, ou dos que receberam educação, mas não a usam, ou dos que a utilizam apenas em benefício próprio, sem nenhuma consideração pelo Brasil – presente e futuro – é, sim, generalizada.


 

 

 

Programa de Governo para a área das comunicações no Brasil: Um programa que vise à democratização dos meios de comunicação, procurando dar conteúdo à regra constitucional que determina a complementaridade dos programas público, estatal e privado por meio de três propostas: 1ª) concessão de maior espaço para o desenvolvimento tecnológico de modo a propiciar a inclusão digital; 2ª) consolidação e fortalecimento dos instrumentos do marco regulatório da área de telecomunicações e das estruturas de proteção ao consumidor desse serviço; e 3ª) percepção sensível dos interesses que norteiam a comunicação de massa focada no aspecto do desenvolvimento social e democrático da informação. Com o advento da TV digital, o espectro eletromagnético vai ser muito ampliado. Então, a possibilidade de se buscar o equilíbrio dos entes públicos, privados e estatais no contexto da comunicação permitirá a criação das oportunidades descritas anteriormente de forma muito clara. Se houver vontade política dos governantes, o advento da tecnologia digital vai fortalecer o sistema público de comunicação em nosso País, permitindo, inclusive, a intensificação do processo de educação à distância, superando dificuldades enormes, próprias de um País de tamanho continental e com tantas diferenças sociais e regionais como o nosso. Por meio da televisão digital, será possível a multiprogramação e a interatividade. A técnica de transmissão de conteúdos à distância se tornará muito mais eficaz, ajudando a superar o grande fosso que existe em nossa sociedade, especialmente no ensino superior, permitindo aos jovens brasileiros, em qualquer lugar do País, acompanhar cursos à distância de qualidade.

 

A digitalização abre novos horizontes, e esses horizontes, na medida que permitem a entrada em cena de novos atores de caráter público, poderão, realmente, se tornar um instrumento de resgate social importante. A TV digital tende a promover a confluência nos diversos níveis. Se bem utilizada, a tecnologia digital pode se tornar um instrumento formidável de inclusão social, porque, primeiro, vai permitir a entrada de novos agentes no contexto da comunicação nacional. Mesmo porque o horizonte da TV digital aponta para a convergência de mídias, todas concentradas na televisão. Em um aparelho de TV, o cidadão vai poder ter acesso à Internet, a serviços de interação direta com os organismos do Estado, receber conteúdos à distância de natureza pedagógica e estudar por meio desse instrumento novo, que vai ser a tecnologia digital convergindo para o aparelho de TV. Como, em nosso País, mesmo os mais pobres têm acesso à televisão, a medida que esse processo avance, vai naturalmente induzir um processo de inclusão massiva de setores hoje totalmente marginalizados. Havendo vontade política, a perspectiva de avanço tecnológico com o advento da tecnologia digital pode transformar-se realmente em um instrumento poderoso e eficaz de inclusão social.

 

Sobre o fato de parlamentares, prefeitos, governadores, ministros e presidentes da República serem concessionários de emissoras de rádio e TV ou mesmo controladores de jornais ou revistas: Isto é uma deformação da nossa realidade, que, infelizmente, vem de muito tempo. Nós assistimos, em diferentes Governos, a uma verdadeira farra de concessões, e boa parte da mídia regional hoje de fato é controlada por políticos. E isto, sem dúvida nenhuma, é uma deformação muito prejudicial ao fluxo da informação democrática. Há que se tomar uma decisão política no sentido de lutar contra esse estado de coisa. Não é fácil, porque tal modelo envolve interesses já cristalizados, muito bem representados no Congresso. É um assunto delicado, que nós vamos ter de enfrentar de forma a fazer com que as forças majoritárias do País entendam que a manipulação dos veículos não pode se dar com esse desvio eleitoral, com base, às vezes, em interesses ilegítimos. Mas é preciso levar em conta que punir a concessão por categoria de exercício de cargo é algo pouco eficiente. É preciso lançar mão de critérios técnicos e sociais capazes de, de fato, fazer diferença.

 

Sobre sua política para inclusão digital e adoção de software livre por parte dos órgãos da administração direta e indireta: Pretendo reforçar a utilização do 'software' livre. Esta é uma tendência que está delineada como inquestionável. A possibilidade de utilização ampla dos recursos da Internet e de 'softwares' – especialmente por países pobres e em desenvolvimento é uma questão crucial. O 'software' traz inegáveis benefícios para a Administração Direta, especialmente quando se trata do pagamento de 'royalties'. Mas, investimentos de tal natureza demandam adaptação por parte da sociedade e a adesão dos operadores das novas ferramentas. Se é algo que não implica aumento de gastos, é viável estimular a adesão ao 'software' livre e interessante examinar nossa entrada neste processo, mas é preciso considerar a velocidade adequada e o domínio de maiores informações.

 

 

 

 

Mais difícil é quebrar a dificuldade de mostrar a realidade ao povo: tirando-o da alucinação em que vive, cercado por informações que não refletem a realidade. E, para consolidar a Democracia, a maior dificuldade está em aproximar eleitores e eleitos, separados pela brecha entre a realidade e as informações produzidas pela mídia.

 

Em nenhum outro país, os ricos demonstraram mais ostentação do que no Brasil. Apesar disso, os brasileiros ricos são pobres. São pobres porque compram sofisticados automóveis importados, com todos os exagerados equipamentos da modernidade, mas ficam horas engarrafados ao lado dos ônibus de subúrbio.

 

Eu não trocaria um sociólogo de esquerda, cercado de políticos de direita, por um político de direita, rodeado por sociólogos de esquerda.

 

Ontem, o mundo inteiro comemorou os 40 anos da partida da primeira nave espacial que foi à Lua. E ontem o Brasil comemorou o primeiro aniversário da Lei do Piso Salarial. Onde é que está a vinculação entre estas duas coisas? Onde é que está a vinculação dos 40 anos do lançamento de um foguete que vai à Lua, realizando sonhos da Humanidade, desde sempre, com uma coisa tão simples como a Lei do Piso Salarial para o professor, que, por coincidência, foi no mesmo 16 de julho? A correlação está no fato de que o Brasil não foi o país que mandou seres humanos à Lua, porque o Brasil nunca cuidou da Educação, da produção de ciência e de tecnologia, e o ponto de partida para isso é o professor, e um ponto fundamental do professor é o seu salário. Esta é que é a diferença entre nós, que comemoramos hoje um ano de piso salarial, e os Estados Unidos, que comemoram hoje 40 anos do envio de uma nave espacial à Lua.

 

A palavra apartação tem origem no latim 'partire', que significa dividir em partes. Com base na raiz latina, no africâner resultou em 'apartheid', termo que definiu a concepção e o conjunto das normas que regularam o processo social e econômico, separando a população entre brancos, negros e mestiços. Em português, a palavra apartação foi usada no sentido de separar coisas e animais no estábulo; no seu sentido social, de uma sociedade partida, separando as pessoas por classe, como o 'apartheid' separa por raças. Ela foi divulgada, pela primeira vez, em 1992, no livro O Colapso da Modernidade Brasileira e uma Proposta Alternativa. Outro livro, O que é Apartação – o Apartheid Social Brasileiro, publicado em 1994, consolidou o termo de modo a substituir a expressão 'apartheid' social, utilizada para indicar o desenvolvimento separado entre incluídos e excluídos, como no caso do Brasil, e não entre brancos e negros como no caso da África do Sul. O Human Development Report, das Nações Unidas, de 1994, incluiu o termo na bibliografia a partir da tradução do texto do livro O que é Apartação. O centro do conceito de apartação está em que o desenvolvimento brasileiro não provoca apenas desigualdade social, mas uma separação entre grupos sociais. Esta idéia foi usada pela primeira vez, pelo autor, em uma nota na seção Painel do Jornal Folha de São Paulo, em 1987, ainda com a expressão 'apartheid' social.

 

 

 

Apartação

 

 

Durante um debate em uma universidade nos Estados Unidos, um estudante perguntou qual seria a posição do Senador, como humanista, sobre a internacionalização da Amazônia. Eis a resposta: De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo mais que tem importância para a Humanidade. Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da Humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e instruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito tempo, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante esse encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isto, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maiores do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Defendo a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca de dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de comer e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!

 

A corrupção, as medidas provisórias, o vazio do Congresso são o mosquito que contaminam a Democracia.

 

No peito, a aventura; nos olhos, a incerteza!

 

A globalização está servindo para que os governos joguem a culpa de seus erros nos vizinhos. Globalizar é exportar a culpa dos governos para o resto do planeta.

 

 

 

Todo mundo é neoliberal; cada um quer o seu.

 

Muitos estudos mostram que bastaria uma pequena parte da receita do setor público, investida corretamente, para que, em poucos anos, o Brasil tenha corrigido o quadro de pobreza da população, garantindo escolas de qualidade a todas as crianças, um eficiente sistema de atendimento médico para todos, moradia, água potável, esgoto, limpeza urbana para todas as famílias e provendo toda a população de alimento, para que ninguém nunca mais passe fome neste País.

 

Revolução pela Educação: Uma revolução com o lápis substituindo o fuzil; escolas no lugar de trincheiras; professores, em vez de guerrilheiros; que distribua conhecimento, em vez de concentrar capital nas mãos do Estado; que tenha a infância e não o proletariado, como os portadores do futuro. Uma Revolução Doce. É possível iniciar essa revolução no Brasil de hoje.

 

Cristovam atribui o bom desempenho das urnas de Lula a seu carisma: Isso não se pode negar. Ele tem habilidade de falar, de compor. Ele atende ao imediatismo. Fala para setores específicos, não para a população como um todo. E administra pensando na data base. Ele não pensa no futuro, na mudança. Mas nos arranjos.

 

O berço da desigualdade está na desigualdade do berço das crianças.

 

Em qualquer país, a desigualdade vem com o problema educacional.

 

 

 

 

Todos os que entram na universidade têm direito, e até obrigação, de três coisas: o sucesso pessoal, o reconhecimento público e ter um papel na transformação social do seu País... Cada criança que nascer nesse País tem que ter a mesma chance. É preciso cobrar uma revolução na Educação.

 

A Educação é o único caminho para mudar o País. A Educação sozinha não leva o País a nenhum lugar, até porque ela não funciona se não tiver uma base social, política, econômica, onde ela possa caminhar. Mas, a Economia poderá crescer o quanto ela quiser, que o País continuará desigual, violento, a corrupção continuará, o atraso em relação aos outros países também. Nós não temos outro caminho para dar um salto, saindo do atraso, a não ser a escola igual para todos. Houve um tempo que nós dizíamos que a transformação vinha da tomada do Capital, do capitalista para dar ao trabalhador; isto não tem mais nada a ver com os tempos de hoje. O que a gente tem que fazer é pegar o filho do trabalhador e colocar na mesma escola do filho do patrão. Obviamente, para que isto possa ser feito, vai levar 15 ou 20 anos, no Brasil; mas precisamos começar já!

 

Depois da Segunda Guerra, houve um pacto pelo desenvolvimento econômico: foi criado o Banco Mundial e o Fundo Monetário; cada região do mundo tem seu banco. O mundo conseguiu investir, pois houve um desenvolvimento. Eu proponho o mesmo para a Educação: ter recursos mundiais, por exemplo, para erradicar o analfabetismo em todos os países do mundo, ter um fundo mundial para dar um bom salário para o professor, em qualquer lugar do mundo e não apenas nos países ricos, com recursos e organismos mundiais que possam levar a essa revolução educacional. Só isso vai impedir que a Europa seja invadida pelos pobres da África ou da Ásia. É educando que se consegue fazer isso.

 

 

 

 

Criança não pode esperar que deputados e senadores aprovem e regulamentem dispositivos legais para que os recursos do FUNDEB cheguem. Criança cresce todo dia.

 

Todas as crianças precisam ter a mesma chance. Elas não podem ser discriminadas só porque nasceram em uma cidade muito pequena ou porque os pais são pobres e vivem em uma área de periferia. Elas devem ter a chance de estudar em escolas que são iguais às melhores escolas do País. Todas as escolas devem ter o mesmo padrão. Todos os professores e professoras devem ser formados(as) em universidades e em cursos com a mesma qualidade. Isto é possível. Se você vai à uma agência do Banco do Brasil ou da Caixa Econômica Federal, em qualquer cidade do Brasil, o padrão de atendimento e de serviço é o mesmo; são instituições que mostram que o Estado Brasileiro tem capacidade de gerar organizações que funcionam. Assim deveria ser também com as escolas. Professores e professoras bem remunerados(as), com meios de trabalho e ambiente adequados. Livros, currículo, computadores, tudo para ajudar a ter o mesmo padrão e a formar as crianças oferecendo-lhes a mesma chance. Os(as) professores(as) devem ter seus salários pagos pelo Governo Federal, seguindo um plano nacional de educação de qualidade, e a escola gerenciada pela prefeitura e pela comunidade, aberta à participação dos pais, das mães e de toda a comunidade.

 

O Ceará foi o primeiro Estado brasileiro a libertar os escravos. Aqui começou a abolição, antes do restante do Brasil. Mas, 120 anos depois, ainda não somos livres. A liberdade não existirá enquanto não houver uma mesma escola para os filhos da senzala e os filhos da casa grande.

 

Enquanto o País não se conscientizar de que o filho do rico e o filho do pobre têm que estudar em escolas iguais e com a mesma qualidade, o Brasil não será um país verdadeiramente livre da escravidão.

 

Se o povo não for às ruas pedir, cobrar, exigir, não acontece nada neste País. Então, está na hora de fazermos uma grande marcha pela Educação-Já. A hora é agora. Eu quero estar presente na primeira dessas manifestações. Quero sair no retrato, na foto da primeira grande passeata brasileira pela Educação-Já.

 

Políticas públicas de Educação não podem ser interrompidas porque quem era oposição e virou situação decidiu mudar as regras. Por isto, precisamos de um projeto nacional, maduro, da sociedade e de todos os Partidos.

 

O Brasil precisa ter todas as escolas funcionando em regime de tempo integral.

 

Se os CIEPs1 tivessem sido mantidos como política pública, não do Brizola, mas na condição de patrimônio da educação do Rio de Janeiro, é possível que o País não estivesse mergulhado na violência que temos hoje. É possível que não tivesse ocorrido a morte trágica do menino João Hélio. Não teríamos o grau de desemprego e de desigualdade que aí está. Não teríamos o atraso que exibimos em relação ao exterior. A idéia dos CIEPs, que previa escola em tempo integral há mais de vinte anos, era para ter se espalhado por todo o Brasil. São os dois muros que nos emperram: o do atraso em relação aos países desenvolvidos e o muro da desigualdade eterna aqui dentro. Só revolucionando a educação eles serão derrubados.

 

O Governo Lula é bastante competente na Economia. Tinha que ser, como está sendo, com algumas mudanças, mas muito seguras. Não é igual ao anterior; é melhor. Ousado na política externa, avançado, de esquerda. Generoso, o que é uma forma de esquerda, cristã, no social. Competentíssimo na área de integração política, e, por conta disso, houve um retrocesso no nível de consciência. Vou dar um exemplo: a parte da generosidade, ao levar o Bolsa-família a todos, o Governo gerou um retrocesso no nível de consciência da população. Antes, quando ela recebia crédito do Bolsa-escola, com a idéia de que tinha que estudar, pensava: 'eu recebo o Bolsa-escola porque meu filho estuda.' Agora, pensa: 'eu recebo o Bolsa-família porque sou pobre'. Isto é um retrocesso. A tomada de consciência do pobre da importância da educação é o grande desafio da esquerda hoje.

 

Por que se viciou em dizer que público é o Estado? Público é aquilo que serve ao interesse público.

 

A universidade praticamente está de costas para a educação de base. Desconhece. Isto aconteceu pelo 'apartheid' social que se construiu no Brasil, nas últimas décadas. Quando éramos jovens, a melhoria de vida do povo nos beneficiava. Hoje, ela pode não nos beneficiar economicamente porque os recursos são limitados. Inclusive os ecológicos. A universidade virou as costas porque houve um 'apartheid' e ela está do lado dos 'brancos'. Perdeu o contato com o povo. Além disso, tem a violência que se caracteriza mais como uma violência das camadas sem alternativas, que são os pobres. Então, criou-se o conflito. Junte a isto o Neoliberalismo2 que criou um individualismo muito grande. Nós, os mais velhos, somos os culpados.

 

As escolas estão no mundo inteiro. As igrejas são um pouco escolas. As fábricas e os consultórios são também um pouco escolas.

 

Todo mundo diz: 'o gargalo é o ensino médio'. É verdade. Mas o fundamental não está no gargalo, está embaixo. Toda criança deve aprender a ler antes dos 7 anos. Todas. Toda criança deve ter já uma base de literatura; deve saber as operações bem feitas. É no ensino fundamental que a gente vai dar o salto no ensino médio; e depois, na universidade. Isto não quer dizer que temos que abandonar o ensino médio e a universidade. Não; mas fazer tudo isto. A revolução é embaixo.

 

Eu, pessoalmente, acho que a energia nuclear é a energia mais limpa que existe, se formos capazes de resolver os problemas da engenharia civil para que não deixe vazar e onde colocar o lixo nuclear. É uma questão técnica; mandem os engenheiros estudar isto. A energia nuclear é a mais limpa que tem: não gera lago nem fumaça. Agora, é assustadora.

 

Não há solução para o problema da pobreza no campo sem um intenso programa de reforma agrária.

 

É lamentável que a mídia foque apenas nos 'escândalos visíveis'. Por exemplo, 27% das crianças do Piauí não sabem ler, e isto fica invisível... Temos que nos escandalizar com a corrupção no comportamento, mas também com a corrupção existente nas prioridades. Tornar os escândalos invisíveis também é uma corrupção. A mídia não consegue ver escândalo na falta de prioridades das políticas, mas só no comportamento dos políticos.

 

Nós temos que transformar um recurso esgotável [o petróleo] em um recurso permanente... Fui recentemente à Doha. Lá eles têm poços de petróleo cujo dinheiro vai todinho para montar centros de conhecimento. Eles estão investindo na energia do futuro. Quem disse que petróleo é energia? Petróleo é lama. Energia é a engenharia de furar, puxar, transportar e refinar. Esta é a verdadeira energia – a cinzenta. A gente tem que pegar essa energia que o Brasil tem e aproveitar em educação, ciência e tecnologia. A Irlanda era um país muito atrasado; não teve o pré-sal, mas a sorte dela foi entrar na Comunidade Européia. Quando isto aconteceu, eles reuniram todos os partidos – são poucos, apenas 3 – com os líderes empresariais e sindicais, em um castelo, por duas semanas, e discutiram o que fazer a partir da entrada na Comunidade. Eles decidiram gastar todo o dinheiro em educação, saúde e tecnologia, fosse qual fosse o Governo, durante 30 anos. Nós temos que transformar isso. Como? O petróleo é um bem nacional; nós podemos permitir que entidades privadas o explorem, desde que paguem pelo petróleo. E esse petróleo e os 'royalties' têm que ir para um investimento permanente. Eu acho que investimento permanente é a educação.

 

Luta de classe não é mais entre Capital e Trabalho, mas ter ou não conhecimento. Emancipação não é mais ser dono do seu trabalho, mas ter o capital conhecimento... Nós não soubemos reformar o pensamento de Marx... Quando Marx morreu, não havia luz elétrica nas casas, não havia automóveis nas ruas nem motosserras nas florestas. Nós tínhamos que mudar o pensamento dele e não soubemos fazer isso. Ficamos vagando. Aí veio a vitória do Neoliberalismo, a sedução do consumo, que realmente é uma coisa fascinante, e ficamos perdidos. Nós, os líderes; não os jovens.

 

 

— E eu acreditei!

 

 

Eu tenho vontade de montar um projeto de Lei que diga: em dez anos fica proibido ter o quadro-negro. Quadro-negro é o computador; não tem jeito. Aluno não gosta de ficar olhando para o professor, e grande parte do ensino será a distância. Mas, para isso, o professor tem que saber usar o computador. O professor do futuro não vai ser mais artesanal, como eu sou; vai ser uma mistura do que segue a disciplina, do que sabe pegar dessas idéias e desenhar bem em desenho gráfico, e levar isto para todos os cantos, para o menino chegar em casa e ver na tela. O professor do futuro será o cara que vai ensinar o aluno a surfar nas ondas do conhecimento. Antigamente, o conhecimento estava na cabeça do professor, que entrava na sala cheio de conhecimento. Hoje, não é mais. O conhecimento está espalhado na televisão, no computador, na Internet. Qual o papel do professor? Primeiro, ensinar o aluno a surfar e mostrar onde ele vai buscar a informação. Segundo, transformar informação em conhecimento. Terceiro, complementar, com o lado estético e ético, o que o computador não passa. O professor precisa dessas três coisas; sem o computador ele não faz. Agora, o computador sozinho também não faz. Gera uma geração de 'nerds'1 – como eles chamam – cheios de informaçõezinhas sem informação, sem ética, sem gosto estético e só competitiva.

 

Uma coisa, é vacinar; outra, é vacinar todos. (Grifo meu).4

 

Sou contra a redução da idade de responsabilidade penal. Mas, reconheço que hoje é preciso haver um mecanismo que permita exceções para casos muito especiais de infratores menores que de fato possam representar graves ameaças para outros menores ou para adultos. Mas, reduzir de maneira geral, por causa de algumas exceções, seria um equívoco. Além disso, reduzir para que idade? 16 anos, 14 anos, 10 anos, 8 anos? Então sou contra a redução.




 

Um Poeminha Final

 

 

 

Sou professor e assevero:

só a Educação liberta.

Sou Rosacruz e pondero:

só a Educação desperta.

 

 

A Educação só desinteressa

aos senhores donos do poder,

pois – a eles – não interessa

que o ser-aí5 deixe de não-ser!

 

 

Oh!, crueldade infamante!

Oh!, desonrosa repulsão!

Oh!, malquerença insultante!

Oh!, ignominiosa abominação!

 

 

Mas, o abominábil de hoje

será o retribuidor de amanhã.

E, cá ou acolá, não há moloje

que reduza ou suspenda o afã.

 

 

— Oh! E agora?




______

Notas:

1. Os CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública) são instituições idealizadas no Brasil para a experiência de escolarização em tempo integral, voltadas para as crianças das classes populares, tentando atender as suas necessidades e interesses. Os CIEPs foram criados na década de 80 por Darcy Ribeiro, quando era Secretário da Educação no Rio de Janeiro, no Governo de Leonel Brizola. O objetivo era proporcionar educação, esportes, assistência médica, alimentos e atividades culturais variadas, em instituições colocadas fora da rede educacional regular. Além disso, estas escolas deveriam obedecer a um projeto arquitetônico uniforme. Alguns estudiosos acreditam que, para criar os CIEPs, Darcy Ribeiro havia se inspirado no projeto Escola-Parque de Salvador, de Anísio Teixeira, datado de 1950. A idéia dos CIEPs considerava que todas as unidades deveriam funcionar de acordo com um projeto pedagógico único e com uma organização escolar padronizada, para evitar a diferença de qualidade entre as escolas. No entanto, o projeto dos CIEPs recebeu muitas críticas, entre elas algumas referentes ao custo dos prédios, à qualidade de sua arquitetura, sua localização, e até sobre o sentido de um período letivo de oito horas. Muitos acreditam que o projeto arquitetônico tinha primazia sobre o pedagógico, sobretudo pela ausência de equipes de educadores qualificados para esse projeto educacional. Os CIEPs ainda existem com este nome mas, no Governo de Fernando Collor de Melo, novas unidades passaram a se chamar CIACs (Centros Integrados de Atendimento à Criança). A partir de 1992, estes últimos passaram a ter novo nome - CAICs (Centros de Atenção Integral à Criança). Ao todo, foram construídos cerca de 500 CIEPs e 400 CIACs.

2. Neoliberalismo é um termo que foi usado em duas épocas diferentes com dois significados semelhantes, porém distintos: na primeira metade do século XX, significou a doutrina proposta por economistas franceses, alemães e norte-americanos voltada para a adaptação dos princípios do Liberalismo clássico às exigências de um Estado regulador e assistencialista; a partir da década de 1970, passou a significar a doutrina econômica que defende a absoluta liberdade de mercado e uma restrição à intervenção estatal sobre a Economia, esta só devendo ocorrer em setores imprescindíveis e ainda assim em um grau mínimo (minarquia – teoria política que prega que a função do Estado é assegurar os direitos negativos da população, isto é: impedir a coerção física da população). É nesse segundo sentido que o termo é mais usado hoje em dia. A partir da década de 1950 o ordoliberalismo tornou-se a variante alemã do Neoliberalismo. O Ordoliberalismo – também denominado de Ordoliberalismo alemão – é uma doutrina econômica, adotada principalmente na Alemanha do pós-guerra, que se auto-denomina uma 'terceira via' entre o Socialismo e o Capitalismo. Existem três pontos fundamentais no conceito ordoliberal: 1º) criar uma 'ordem' (ordo) que remedie as falhas dos mercados; 2º) organizar a Economia com mercados eficientes e competitivos; e 3º) estabelecer uma 'ordem' forte que deve assegurar uma Economia justa em uma Economia social de mercado. O Ordoliberalismo é uma escola de pensamento econômico do Liberalismo que enfatiza a necessidade de o Estado assegurar de que os livre-mercados produzam os resultados mais eficientes segundo seu potencial teórico, corrigindo as eventuais imperfeições dos mercados. Esta teoria foi criada por economistas e juristas alemães como Wilhelm Röpke, Walter Eucken, Franz Böhm, Hans Großmann-Doerth, Alfred Müller-Armack e Alexander Rüstow juntamente com a Escola de Freiburg, entre 1930 e 1950. Os ideais ordoliberais, com algumas modificações, inspiraram a criação da Economia Social de Mercado na Alemanha do pós Segunda Guerra Mundial e o conseqüente Wirtschaftswunder (milagre econômico, em alemão), e é considerada a variante alemã do Neoliberalismo.

3. Nerd é um termo que descreve, de forma estereotipada, muitas vezes com conotação depreciativa, uma pessoa que exerce intensas atividades intelectuais, que são consideradas inadequadas para a sua idade, em detrimento de outras atividades mais populares. Por essa razão, um nerd é muitas vezes excluído de atividades físicas e considerado um solitário pelos seus pares. Nerd pode descrever uma pessoa que tenha dificuldades de integração social e seja atrapalhada, mas que nutre grande fascínio por conhecimento ou tecnologia.

 

 

— Se disputares comigo, vais quebrar a cara!

 

 

4. O que se deprende? O que se conclui? Uma coisa é educar; outra, bem diferente, é educar todos. Se é verdade ou não, em 25 de outubro de 2005, o então Ministro da Educação venezuelano, Aristóbulo Istúriz, declarou que a Venezuela estava livre do analfabetismo.

5. Ser-aí ou ser-aí-no-mundo é a tradução portuguesa do vocábulo alemão Dasein (termo principal da Filosofia Existencialista de Martin Heidegger, 1889 - 1976), muito usado no discurso filosófico como sinônimo para existência. Na sua obra Ser e Tempo, Heidegger se põe a examinar a questão filosófica do ser. O que é o ser? Heidegger afirma que esta pergunta só pode ser posta e proposta pelo ser humano, pois nenhuma outra espécie é capaz de filosofar deste jeito. O ser humano é, portanto, um ente privilegiado: o ser humano, que é capaz de questionar o ser, que possui uma compreensão do ser. Este ente é o homem, que Heidegger chama de ser-aí – o homem enquanto ente que existe imediatamente no mundo. Ser-aí é o homem na medida em que existe na existência cotidiana, do dia-a-dia, junto com os outros homens e em seus afazeres e preocupações. Para investigar o ser-aí, impõe-se uma analítica existencial, que tem como tarefa explorar a conexão das estruturas existenciais que definem a existência do ser-aí. No hegelianismo, filosofia do filósofo alemão Georg Friedrich Hegel (1770 - 1831) e de seus seguidores, portanto anterior ao heideggerianismo, o ser-aí é o ser que alcançou um desenvolvimento pleno, superando o caráter abstrato e indeterminado que apresentava no início do seu processo transformativo. Pergunta: seja o ser-aí hegeliano, seja o ser-aí heideggeriano, isto poderá interessar aos abominábeis senhores donos do poder? Resposta: nãonão.

 

Páginas da Internet acessadas:

http://mairathums.com/in-vento/

http://www.cristovam.org.br/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cristovam_Buarque

http://stuff.ratjed.com/computer%20jokes%
20-%20upgrade%20your%20software.gif

http://www.fndc.org.br/internas.php?
p=noticias&cont_key=95981

http://www.estadao.com.br/arquivo/cidades/
2006/not20061029p68666.htm

http://coisasdesaocristovao.blogspot.com/
2009_01_01_archive.html

http://static.blogstorage.hi-pi.com/

http://www.via6.com/comunidade.php?cid=10262

http://perspectivapolitica.com.br/

http://portalimprensa.com.br/portal/ultimas_
noticias/2009/07/14/imprensa29458.shtml

http://www.cristovam.org.br/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Nerd

http://www.zedirceu.com.br/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ordoliberalismo

http://pt.wikipedia.org/wiki/Minarquia

http://pt.wikipedia.org/wiki/Neoliberalismo

http://www.letraselivros.com.br/index2.php?
option=com_content&do_pdf=1&id=574

http://www.unoeste.br/site/destaques
/not_destaque.asp?ID=1933

http://www.integral.br/noticias
/noticia.asp?noticia=37936

http://www.sefloral.com.br/an01110501.htm

http://www.pensador.info/autor/
Cristovao_Buarque-senador_brasileiro/

http://www.zerooitocentos.org/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Aparta
%C3%A7%C3%A3o#cite_note-0

http://www.cristovam.org.br/portal2/

http://www.cristovam.org.br

http://pt.wikiquote.org/wiki/
Cristovam_Buarque

 

Fundo musical:

I’ve Got A Crush On You
Música: George Gershwin
Letra: Ira Gershwin 
Intérpretes: Frank Sinatra e Barbra Streisand

Fonte:

http://www.midisvoices.com.br/

 

Dê só uma espiada:

http://www.youtube.com/watch?v=-K2jnV7-Bng