Programa
de Governo para a área das comunicações no Brasil:
Um programa que vise à democratização dos meios de
comunicação, procurando dar conteúdo à regra
constitucional que determina a complementaridade dos programas público,
estatal e privado por meio de três propostas: 1ª) concessão
de maior espaço para o desenvolvimento tecnológico de modo
a propiciar a inclusão digital; 2ª) consolidação
e fortalecimento dos instrumentos do marco regulatório da área
de telecomunicações e das estruturas de proteção
ao consumidor desse serviço; e 3ª) percepção sensível
dos interesses que norteiam a comunicação de massa focada
no aspecto do desenvolvimento social e democrático da informação.
Com o advento da TV digital, o espectro eletromagnético vai ser muito
ampliado. Então, a possibilidade de se buscar o equilíbrio
dos entes públicos, privados e estatais no contexto da comunicação
permitirá a criação das oportunidades descritas anteriormente
de forma muito clara. Se houver vontade política dos governantes,
o advento da tecnologia digital vai fortalecer o sistema público
de comunicação em nosso País, permitindo, inclusive,
a intensificação do processo de educação à
distância, superando dificuldades enormes, próprias de um País
de tamanho continental e com tantas diferenças sociais e regionais
como o nosso. Por meio da televisão digital, será possível
a multiprogramação e a interatividade. A técnica de
transmissão de conteúdos à distância se tornará
muito mais eficaz, ajudando a superar o grande fosso que existe em nossa
sociedade, especialmente no ensino superior, permitindo aos jovens brasileiros,
em qualquer lugar do País, acompanhar cursos à distância
de qualidade.
A
digitalização abre novos horizontes, e esses horizontes, na
medida que permitem a entrada em cena de novos atores de caráter
público, poderão, realmente, se tornar um instrumento de resgate
social importante. A TV digital tende a promover a confluência nos
diversos níveis. Se bem utilizada, a tecnologia digital pode se tornar
um instrumento formidável de inclusão social, porque, primeiro,
vai permitir a entrada de novos agentes no contexto da comunicação
nacional. Mesmo porque o horizonte da TV digital aponta para a convergência
de mídias, todas concentradas na televisão. Em um aparelho
de TV, o cidadão vai poder ter acesso à Internet, a serviços
de interação direta com os organismos do Estado, receber conteúdos
à distância de natureza pedagógica e estudar por meio
desse instrumento novo, que vai ser a tecnologia digital convergindo para
o aparelho de TV. Como, em nosso País, mesmo os mais pobres têm
acesso à televisão, a medida que esse processo avance, vai
naturalmente induzir um processo de inclusão massiva de setores hoje
totalmente marginalizados. Havendo vontade política, a perspectiva
de avanço tecnológico com o advento da tecnologia digital
pode transformar-se realmente em um instrumento poderoso e eficaz de inclusão
social.
Sobre
o fato de parlamentares, prefeitos, governadores, ministros e presidentes
da República serem concessionários de emissoras de rádio
e TV ou mesmo controladores de jornais ou revistas: Isto é
uma deformação da nossa realidade, que, infelizmente, vem
de muito tempo. Nós assistimos, em diferentes Governos, a uma verdadeira
farra de concessões, e boa parte da mídia regional hoje de
fato é controlada por políticos. E isto, sem dúvida
nenhuma, é uma deformação muito prejudicial ao fluxo
da informação democrática. Há que se tomar uma
decisão política no sentido de lutar contra esse estado de
coisa. Não é fácil, porque tal modelo envolve interesses
já cristalizados, muito bem representados no Congresso. É
um assunto delicado, que nós vamos ter de enfrentar de forma a fazer
com que as forças majoritárias do País entendam que
a manipulação dos veículos não pode se dar com
esse desvio eleitoral, com base, às vezes, em interesses ilegítimos.
Mas é preciso levar em conta que punir a concessão por categoria
de exercício de cargo é algo pouco eficiente. É preciso
lançar mão de critérios técnicos e sociais capazes
de, de fato, fazer diferença.
Sobre
sua política para inclusão digital e adoção
de software livre por parte dos órgãos da administração
direta e indireta: Pretendo
reforçar a utilização do 'software' livre. Esta é
uma tendência que está delineada como inquestionável.
A possibilidade de utilização ampla dos recursos da Internet
e de 'softwares' – especialmente por países pobres e em desenvolvimento
–
é uma questão
crucial. O 'software' traz inegáveis benefícios para a Administração
Direta, especialmente quando se trata do pagamento de 'royalties'. Mas,
investimentos de tal natureza demandam adaptação por parte
da sociedade e a adesão dos operadores das novas ferramentas. Se
é algo que não implica aumento de gastos, é viável
estimular a adesão ao 'software' livre e interessante examinar nossa
entrada neste processo, mas é preciso considerar a velocidade adequada
e o domínio de maiores informações.
Mais
difícil é quebrar a dificuldade de mostrar a realidade ao
povo: tirando-o da alucinação em que vive, cercado por informações
que não refletem a realidade. E, para consolidar a Democracia, a
maior dificuldade está em aproximar eleitores e eleitos, separados
pela brecha entre a realidade e as informações produzidas
pela mídia.
Em nenhum outro país, os ricos
demonstraram mais ostentação do que no Brasil. Apesar disso,
os brasileiros ricos são pobres. São pobres porque compram
sofisticados automóveis importados, com todos os exagerados equipamentos
da modernidade, mas ficam horas engarrafados ao lado dos ônibus de
subúrbio.
Eu
não trocaria um sociólogo de esquerda, cercado de políticos
de direita, por um político de direita, rodeado por sociólogos
de esquerda.
Ontem,
o mundo inteiro comemorou os 40 anos da partida da primeira nave espacial
que foi à Lua. E ontem o Brasil comemorou o primeiro aniversário
da Lei do Piso Salarial. Onde é que está a vinculação
entre estas duas coisas? Onde é que está a vinculação
dos 40 anos do lançamento de um foguete que vai à Lua, realizando
sonhos da Humanidade, desde sempre, com uma coisa tão simples como
a Lei do Piso Salarial para o professor, que, por coincidência, foi
no mesmo 16 de julho? A correlação está no fato de
que o Brasil não foi o país que mandou seres humanos à
Lua, porque o Brasil nunca cuidou da Educação, da produção
de ciência e de tecnologia, e o ponto de partida para isso é
o professor, e um ponto fundamental do professor é o seu salário.
Esta é que é a diferença entre nós, que comemoramos
hoje um ano de piso salarial, e os Estados Unidos, que comemoram hoje 40
anos do envio de uma nave espacial à Lua.
A
palavra apartação tem origem no latim 'partire', que significa
dividir em partes. Com base na raiz latina, no africâner resultou
em 'apartheid', termo que definiu a concepção e o conjunto
das normas que regularam o processo social e econômico, separando
a população entre brancos, negros e mestiços. Em português,
a palavra apartação foi usada no sentido de separar coisas
e animais no estábulo; no seu sentido social, de uma sociedade partida,
separando as pessoas por classe, como o 'apartheid' separa por raças.
Ela foi divulgada, pela primeira vez, em 1992, no livro O Colapso da Modernidade
Brasileira e uma Proposta Alternativa. Outro livro, O que é Apartação
– o Apartheid Social Brasileiro, publicado em 1994, consolidou o termo
de modo a substituir a expressão 'apartheid' social, utilizada para
indicar o desenvolvimento separado entre incluídos e excluídos,
como no caso do Brasil, e não entre brancos e negros como no caso
da África do Sul. O Human Development Report, das Nações
Unidas, de 1994, incluiu o termo na bibliografia a partir da tradução
do texto do livro O que é Apartação. O centro do conceito
de apartação está em que o desenvolvimento brasileiro
não provoca apenas desigualdade social, mas uma separação
entre grupos sociais. Esta idéia foi usada pela primeira vez, pelo
autor, em uma nota na seção Painel do Jornal Folha de São
Paulo, em 1987, ainda com a expressão 'apartheid' social.
Durante
um debate em uma universidade nos Estados Unidos, um estudante perguntou
qual seria a posição do Senador, como humanista, sobre a internacionalização
da Amazônia. Eis a resposta: De
fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização
da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido
cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo
o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia,
posso imaginar a sua internacionalização, como também
de tudo mais que tem importância para a Humanidade. Se
a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada,
internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo
inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar
da Humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso,
os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração
de petróleo e subir ou não o seu preço. Da
mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado.
Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela
não pode ser queimada pela vontade de um dono ou de um país.
Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado
pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não
podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países
inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da
Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de
todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas
à França. Cada museu do mundo é guardião das
mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se
pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio
natural amazônico, seja manipulado e instruído pelo gosto de
um proprietário ou de um país. Não faz muito tempo,
um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro
de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
Durante
esse encontro, as Nações Unidas estão realizando o
Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram
dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por
isto, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas,
deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda
Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília,
Recife, cada cidade com sua beleza específica, sua história
do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. Se
os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la
nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares
dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes
de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de
vezes maiores do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas
do Brasil. Defendo
a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca
de dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que
cada criança do mundo tenha possibilidade de comer e de ir à
escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas,
não importando o país onde nasceram, como patrimônio
que merece cuidados do mundo inteiro. Como
humanista, aceito defender a internacionalização do mundo.
Mas enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia
seja nossa. Só nossa!
A corrupção, as medidas
provisórias, o vazio do Congresso são o mosquito que contaminam
a Democracia.
No
peito, a aventura; nos olhos, a incerteza!
A
globalização está servindo para que os governos joguem
a culpa de seus erros nos vizinhos. Globalizar é exportar a culpa
dos governos para o resto do planeta.
Todo
mundo é neoliberal; cada um quer o seu.
Muitos
estudos mostram que bastaria uma pequena parte da receita do setor público,
investida corretamente, para que, em poucos anos, o Brasil tenha corrigido
o quadro de pobreza da população, garantindo escolas de qualidade
a todas as crianças, um eficiente sistema de atendimento médico
para todos, moradia, água potável, esgoto, limpeza urbana
para todas as famílias e provendo toda a população
de alimento, para que ninguém nunca mais passe fome neste País.
Revolução
pela Educação: Uma revolução com
o lápis substituindo o fuzil; escolas no lugar de trincheiras; professores,
em vez de guerrilheiros; que distribua conhecimento, em vez de concentrar
capital nas mãos do Estado; que tenha a infância e não
o proletariado, como os portadores do futuro. Uma Revolução
Doce. É possível iniciar essa revolução no Brasil
de hoje.
Cristovam
atribui o bom desempenho das urnas de Lula a seu carisma: Isso
não se pode negar. Ele tem habilidade de falar, de compor. Ele atende
ao imediatismo. Fala para setores específicos, não para a
população como um todo. E administra pensando na data base.
Ele não pensa no futuro, na mudança. Mas nos arranjos.
O
berço da desigualdade está na desigualdade do berço
das crianças.
Em
qualquer país, a desigualdade vem com o problema educacional.
Todos
os que entram na universidade têm direito, e até obrigação,
de três coisas: o sucesso pessoal, o reconhecimento público
e ter um papel na transformação social do seu País...
Cada criança que nascer nesse País tem que ter a mesma chance.
É preciso cobrar uma revolução na Educação.
A
Educação é o único caminho para mudar o País.
A Educação sozinha não leva o País a nenhum
lugar, até porque ela não funciona se não tiver uma
base social, política, econômica, onde ela possa caminhar.
Mas, a Economia poderá crescer o quanto ela quiser, que o País
continuará desigual, violento, a corrupção continuará,
o atraso em relação aos outros países também.
Nós não temos outro caminho para dar um salto, saindo do atraso,
a não ser a escola igual para todos. Houve um tempo que nós
dizíamos que a transformação vinha da tomada do Capital,
do capitalista para dar ao trabalhador; isto não tem mais nada a
ver com os tempos de hoje. O que a gente tem que fazer é pegar o
filho do trabalhador e colocar na mesma escola do filho do patrão.
Obviamente, para que isto possa ser feito, vai levar 15 ou 20 anos, no Brasil;
mas precisamos começar já!
Depois
da Segunda Guerra, houve um pacto pelo desenvolvimento econômico:
foi criado o Banco Mundial e o Fundo Monetário; cada região
do mundo tem seu banco. O mundo conseguiu investir, pois houve um desenvolvimento.
Eu proponho o mesmo para a Educação: ter recursos mundiais,
por exemplo, para erradicar o analfabetismo em todos os países do
mundo, ter um fundo mundial para dar um bom salário para o professor,
em qualquer lugar do mundo e não apenas nos países ricos,
com recursos e organismos mundiais que possam levar a essa revolução
educacional. Só isso vai impedir que a Europa seja invadida pelos
pobres da África ou da Ásia. É educando que se consegue
fazer isso.
Criança
não pode esperar que deputados e senadores aprovem e regulamentem
dispositivos legais para que os
recursos do FUNDEB cheguem. Criança cresce todo dia.
Todas
as crianças precisam ter a mesma chance. Elas não podem ser
discriminadas só porque nasceram em uma cidade muito pequena ou porque
os pais são pobres e vivem em uma área de periferia. Elas
devem ter a chance de estudar em escolas que são iguais às
melhores escolas do País. Todas as escolas devem ter o mesmo padrão.
Todos os professores e professoras devem ser formados(as) em universidades
e em cursos com a mesma qualidade. Isto é possível. Se você
vai à uma agência do Banco do Brasil ou da Caixa Econômica
Federal, em qualquer cidade do Brasil, o padrão de atendimento e
de serviço é o mesmo; são instituições
que mostram que o Estado Brasileiro tem capacidade de gerar organizações
que funcionam. Assim deveria ser também com as escolas. Professores
e professoras bem remunerados(as), com meios de trabalho e ambiente adequados.
Livros, currículo, computadores, tudo para ajudar a ter o mesmo padrão
e a formar as crianças oferecendo-lhes a mesma chance. Os(as) professores(as)
devem ter seus salários pagos pelo Governo Federal, seguindo um plano
nacional de educação de qualidade, e a escola gerenciada pela
prefeitura e pela comunidade, aberta à participação
dos pais, das mães e de toda a comunidade.
O
Ceará foi o primeiro Estado brasileiro a libertar os escravos. Aqui
começou a abolição, antes do restante do Brasil. Mas,
120 anos depois, ainda não somos livres. A liberdade não existirá
enquanto não houver uma mesma escola para os filhos da senzala e
os filhos da casa grande.
Enquanto
o País não se conscientizar de que o filho do rico e o filho
do pobre têm que estudar em escolas iguais e com a mesma qualidade,
o Brasil não será um país verdadeiramente livre da
escravidão.
Se
o povo não for às ruas pedir, cobrar, exigir, não acontece
nada neste País. Então, está na hora de fazermos uma
grande marcha pela Educação-Já. A hora é agora.
Eu quero estar presente na primeira dessas manifestações.
Quero sair no retrato, na foto da primeira grande passeata brasileira pela
Educação-Já.
Políticas
públicas de Educação não podem ser interrompidas
porque quem era oposição e virou situação decidiu
mudar as regras. Por isto, precisamos de um projeto nacional, maduro, da
sociedade e de todos os Partidos.
O
Brasil precisa ter todas as escolas funcionando em regime de tempo integral.
Se
os CIEPs1
tivessem
sido mantidos como política pública, não do Brizola,
mas na condição de patrimônio da educação
do Rio de Janeiro, é possível que o País não
estivesse mergulhado na violência que temos hoje. É possível
que não tivesse ocorrido a morte trágica do menino João
Hélio. Não teríamos o grau de desemprego e de desigualdade
que aí está. Não teríamos o atraso que exibimos
em relação ao exterior. A idéia dos CIEPs, que previa
escola em tempo integral há mais de vinte anos, era para ter se espalhado
por todo o Brasil. São os dois muros que nos emperram: o do atraso
em relação aos países desenvolvidos e o muro da desigualdade
eterna aqui dentro. Só revolucionando a educação eles
serão derrubados.
O
Governo Lula é bastante competente na Economia. Tinha
que ser, como está sendo, com algumas mudanças, mas muito
seguras. Não é igual ao anterior; é melhor. Ousado
na política externa, avançado, de esquerda. Generoso, o que
é uma forma de esquerda, cristã, no social. Competentíssimo
na área de integração política, e, por conta
disso, houve um retrocesso no nível de consciência. Vou dar
um exemplo: a parte da generosidade, ao levar o Bolsa-família a todos,
o Governo gerou um retrocesso no nível de consciência da população.
Antes, quando ela recebia crédito do Bolsa-escola, com a idéia
de que tinha que estudar, pensava: 'eu recebo o Bolsa-escola porque meu
filho estuda.' Agora, pensa: 'eu recebo o Bolsa-família porque sou
pobre'. Isto é um retrocesso. A tomada de consciência do pobre
da importância da educação é o grande desafio
da esquerda hoje.
Por
que se viciou em dizer que público é o Estado? Público
é aquilo que serve ao interesse público.
A
universidade praticamente está de costas para a educação
de base. Desconhece. Isto aconteceu pelo 'apartheid' social que se construiu
no Brasil, nas últimas décadas. Quando éramos jovens,
a melhoria de vida do povo nos beneficiava. Hoje, ela pode não nos
beneficiar economicamente porque os recursos são limitados. Inclusive
os ecológicos. A universidade virou as costas porque houve um 'apartheid'
e ela está do lado dos 'brancos'. Perdeu o contato com o povo. Além
disso, tem a violência que se caracteriza mais como uma violência
das camadas sem alternativas, que são os pobres. Então, criou-se
o conflito. Junte a isto o Neoliberalismo2
que criou um individualismo muito grande. Nós, os mais velhos, somos
os culpados.
As escolas estão no mundo
inteiro. As igrejas são um pouco escolas. As fábricas e os
consultórios são também um pouco escolas.
Todo
mundo diz: 'o gargalo é o ensino médio'. É verdade.
Mas o fundamental não está no gargalo, está embaixo.
Toda criança deve aprender a ler antes dos 7 anos. Todas. Toda criança
deve ter já uma base de literatura; deve saber as operações
bem feitas. É no ensino fundamental que a gente vai dar o salto no
ensino médio; e depois, na universidade. Isto não quer dizer
que temos que abandonar o ensino médio e a universidade. Não;
mas fazer tudo isto. A revolução é embaixo.
Eu,
pessoalmente, acho que a energia nuclear é a energia mais limpa que
existe, se formos capazes de resolver os problemas da engenharia civil para
que não deixe vazar e onde colocar o lixo nuclear. É uma questão
técnica; mandem os engenheiros estudar isto. A energia nuclear é
a mais limpa que tem: não gera lago nem fumaça. Agora, é
assustadora.
Não
há solução para o problema da pobreza no campo sem
um intenso programa de reforma agrária.
É
lamentável que a mídia foque apenas nos 'escândalos
visíveis'. Por exemplo, 27% das crianças do Piauí não
sabem ler, e isto fica invisível... Temos que nos escandalizar com
a corrupção no comportamento, mas também com a corrupção
existente nas prioridades. Tornar os escândalos invisíveis
também é uma corrupção. A mídia não
consegue ver escândalo na falta de prioridades das políticas,
mas só no comportamento dos políticos.
Nós
temos que transformar um recurso esgotável [o
petróleo] em
um recurso permanente... Fui recentemente à Doha. Lá eles
têm poços de petróleo cujo dinheiro vai todinho para
montar centros de conhecimento. Eles estão investindo na energia
do futuro. Quem disse que petróleo é energia? Petróleo
é lama. Energia é a engenharia de furar, puxar, transportar
e refinar. Esta é a verdadeira energia – a cinzenta. A gente
tem que pegar essa energia que o Brasil tem e aproveitar em educação,
ciência e tecnologia. A Irlanda era um país muito atrasado;
não teve o pré-sal, mas a sorte dela foi entrar na Comunidade
Européia. Quando isto aconteceu, eles reuniram todos os partidos
– são poucos, apenas 3 – com os líderes empresariais
e sindicais, em um castelo, por duas semanas, e discutiram o que fazer a
partir da entrada na Comunidade. Eles decidiram gastar todo o dinheiro em
educação, saúde e tecnologia, fosse qual fosse o Governo,
durante 30 anos. Nós temos que transformar isso. Como? O petróleo
é um bem nacional; nós podemos permitir que entidades privadas
o explorem, desde que paguem pelo petróleo. E esse petróleo
e os 'royalties' têm que ir para um investimento permanente. Eu acho
que investimento permanente é a educação.
Luta
de classe não é mais entre Capital e Trabalho, mas ter ou
não conhecimento. Emancipação não é mais
ser dono do seu trabalho, mas ter o capital conhecimento... Nós não
soubemos reformar o pensamento de Marx... Quando Marx morreu, não
havia luz elétrica nas casas, não havia automóveis
nas ruas nem motosserras nas florestas. Nós tínhamos que mudar
o pensamento dele e não soubemos fazer isso. Ficamos vagando. Aí
veio a vitória do Neoliberalismo, a sedução do consumo,
que realmente é uma coisa fascinante, e ficamos perdidos. Nós,
os líderes; não os jovens.
—
E eu acreditei!
Eu
tenho vontade de montar um projeto de Lei que diga: em dez anos fica proibido
ter o quadro-negro. Quadro-negro é o computador; não tem jeito.
Aluno não gosta de ficar olhando para o professor, e grande parte
do ensino será a distância. Mas, para isso, o professor tem
que saber usar o computador. O professor do futuro não vai ser mais
artesanal, como eu sou; vai ser uma mistura do que segue a disciplina, do
que sabe pegar dessas idéias e desenhar bem em desenho gráfico,
e levar isto para todos os cantos, para o menino chegar em casa e ver na
tela. O professor do futuro será o cara que vai ensinar o aluno a
surfar nas ondas do conhecimento. Antigamente, o conhecimento estava na
cabeça do professor, que entrava na sala cheio de conhecimento. Hoje,
não é mais. O conhecimento está espalhado na televisão,
no computador, na Internet. Qual o papel do professor? Primeiro, ensinar
o aluno a surfar e mostrar onde ele vai buscar a informação.
Segundo, transformar informação em conhecimento. Terceiro,
complementar, com o lado estético e ético, o que o computador
não passa. O professor precisa dessas três coisas; sem o computador
ele não faz. Agora, o computador sozinho também não
faz. Gera uma geração de 'nerds'1
– como eles chamam – cheios de informaçõezinhas
sem informação, sem ética, sem gosto estético
e só competitiva.
Uma
coisa, é vacinar; outra, é vacinar todos.
(Grifo
meu).4
Sou
contra a redução da idade de responsabilidade penal. Mas,
reconheço que hoje é preciso haver um mecanismo que permita
exceções para casos muito especiais de infratores menores
que de fato possam representar graves ameaças para outros menores
ou para adultos. Mas, reduzir de maneira geral, por causa de algumas exceções,
seria um equívoco. Além disso, reduzir para que idade? 16
anos, 14 anos, 10 anos, 8 anos? Então sou contra a redução.
Um
Poeminha Final
Sou
professor e assevero:
só
a Educação liberta.
Sou
Rosacruz e pondero:
só
a Educação desperta.
A Educação
só desinteressa
aos
senhores donos do poder,
pois
– a eles – não interessa
que
o ser-aí5
deixe de não-ser!
Oh!,
crueldade infamante!
Oh!,
desonrosa repulsão!
Oh!,
malquerença insultante!
Oh!,
ignominiosa abominação!
Mas,
o abominábil de hoje
será
o retribuidor de amanhã.
E,
cá ou acolá, não há moloje
que
reduza ou suspenda o afã.
—
Oh! E agora?
______
Notas:
1. Os
CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública) são
instituições idealizadas no Brasil para a experiência
de escolarização em tempo integral, voltadas para as crianças
das classes populares, tentando atender as suas necessidades e interesses.
Os CIEPs foram criados na década de 80 por Darcy Ribeiro, quando
era Secretário da Educação no Rio de Janeiro, no Governo
de Leonel Brizola. O objetivo era proporcionar educação, esportes,
assistência médica, alimentos e atividades culturais variadas,
em instituições colocadas fora da rede educacional regular.
Além disso, estas escolas deveriam obedecer a um projeto arquitetônico
uniforme. Alguns estudiosos acreditam que, para criar os CIEPs, Darcy Ribeiro
havia se inspirado no projeto Escola-Parque de Salvador, de Anísio
Teixeira, datado de 1950. A idéia dos CIEPs considerava que todas
as unidades deveriam funcionar de acordo com um projeto pedagógico
único e com uma organização escolar padronizada, para
evitar a diferença de qualidade entre as escolas. No entanto, o projeto
dos CIEPs recebeu muitas críticas, entre elas algumas referentes
ao custo dos prédios, à qualidade de sua arquitetura, sua
localização, e até sobre o sentido de um período
letivo de oito horas. Muitos acreditam que o projeto arquitetônico
tinha primazia sobre o pedagógico, sobretudo pela ausência
de equipes de educadores qualificados para esse projeto educacional. Os
CIEPs ainda existem com este nome mas, no Governo de Fernando Collor de
Melo, novas unidades passaram a se chamar CIACs (Centros Integrados de Atendimento
à Criança). A partir de 1992, estes últimos passaram
a ter novo nome - CAICs (Centros de Atenção Integral à
Criança). Ao
todo, foram construídos cerca de 500 CIEPs e 400 CIACs.
2. Neoliberalismo
é um termo que foi usado em duas épocas diferentes com dois
significados semelhantes, porém distintos: na primeira metade do
século XX, significou a doutrina proposta por economistas franceses,
alemães e norte-americanos voltada para a adaptação
dos princípios do Liberalismo clássico às exigências
de um Estado regulador e assistencialista; a partir da década de
1970, passou a significar a doutrina econômica que defende a absoluta
liberdade de mercado e uma restrição à intervenção
estatal sobre a Economia, esta só devendo ocorrer em setores imprescindíveis
e ainda assim em um grau mínimo (minarquia – teoria política
que prega que a função do Estado é assegurar os direitos
negativos da população, isto é: impedir a coerção
física da população). É nesse segundo sentido
que o termo é mais usado hoje em dia. A partir da década de
1950 o ordoliberalismo tornou-se a variante alemã do Neoliberalismo.
O Ordoliberalismo – também denominado de Ordoliberalismo alemão
– é uma doutrina econômica, adotada principalmente na
Alemanha do pós-guerra, que se auto-denomina uma 'terceira via' entre
o Socialismo e o Capitalismo. Existem três pontos fundamentais no
conceito ordoliberal: 1º) criar uma 'ordem' (ordo)
que remedie as falhas dos mercados; 2º) organizar a Economia com mercados
eficientes e competitivos; e 3º) estabelecer uma 'ordem' forte que
deve assegurar uma Economia justa em uma Economia social de mercado. O Ordoliberalismo
é uma escola de pensamento econômico do Liberalismo que enfatiza
a necessidade de o Estado assegurar de que os livre-mercados produzam os
resultados mais eficientes segundo seu potencial teórico, corrigindo
as eventuais imperfeições dos mercados. Esta teoria foi criada
por economistas e juristas alemães como Wilhelm Röpke, Walter
Eucken, Franz Böhm, Hans Großmann-Doerth, Alfred Müller-Armack
e Alexander Rüstow juntamente com a Escola de Freiburg, entre 1930
e 1950. Os ideais ordoliberais, com algumas modificações,
inspiraram a criação da Economia Social de Mercado na Alemanha
do pós Segunda Guerra Mundial e o conseqüente Wirtschaftswunder
(milagre econômico, em alemão), e é considerada a variante
alemã do Neoliberalismo.
3. Nerd
é um termo que descreve, de forma estereotipada, muitas vezes com
conotação depreciativa, uma pessoa que exerce intensas atividades
intelectuais, que são consideradas inadequadas para a sua idade,
em detrimento de outras atividades mais populares. Por essa razão,
um nerd é muitas vezes excluído de atividades físicas
e considerado um solitário pelos seus pares. Nerd pode descrever
uma pessoa que tenha dificuldades de integração social e seja
atrapalhada, mas que nutre grande fascínio por conhecimento ou tecnologia.
—
Se disputares comigo, vais quebrar a cara!
4.
O que se deprende? O que se conclui? Uma coisa é educar; outra, bem
diferente, é educar todos. Se é verdade ou não,
em 25 de outubro de 2005, o então Ministro da Educação
venezuelano, Aristóbulo Istúriz, declarou que a Venezuela
estava livre do analfabetismo.
5.
Ser-aí
ou ser-aí-no-mundo
é a tradução portuguesa do vocábulo alemão
Dasein (termo principal
da Filosofia Existencialista de Martin Heidegger, 1889 - 1976), muito usado
no discurso filosófico como sinônimo para existência.
Na sua obra Ser e Tempo, Heidegger se põe a examinar a questão
filosófica do ser. O que é o ser? Heidegger afirma que esta
pergunta só pode ser posta e proposta pelo ser humano, pois nenhuma
outra espécie é capaz de filosofar deste jeito. O ser humano
é, portanto, um ente privilegiado: o ser humano, que é capaz
de questionar o ser, que possui uma compreensão do ser. Este ente
é o homem, que Heidegger chama de ser-aí
– o homem enquanto ente que existe imediatamente no mundo.
Ser-aí
é o homem na medida em que existe na existência cotidiana,
do dia-a-dia, junto com os outros homens e em seus afazeres e preocupações.
Para investigar o ser-aí,
impõe-se uma analítica existencial, que tem como tarefa explorar
a conexão das estruturas existenciais que definem a existência
do ser-aí.
No hegelianismo, filosofia do filósofo alemão Georg Friedrich
Hegel (1770 - 1831) e de seus seguidores, portanto anterior ao heideggerianismo,
o ser-aí
é o ser que alcançou um desenvolvimento pleno, superando o
caráter abstrato e indeterminado que apresentava no início
do seu processo transformativo. Pergunta: seja o ser-aí
hegeliano, seja o ser-aí
heideggeriano, isto poderá interessar aos abominábeis senhores
donos do poder? Resposta: nãonão.
Páginas
da Internet acessadas:
http://mairathums.com/in-vento/
http://www.cristovam.org.br/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cristovam_Buarque
http://stuff.ratjed.com/computer%20jokes%
20-%20upgrade%20your%20software.gif
http://www.fndc.org.br/internas.php?
p=noticias&cont_key=95981
http://www.estadao.com.br/arquivo/cidades/
2006/not20061029p68666.htm
http://coisasdesaocristovao.blogspot.com/
2009_01_01_archive.html
http://static.blogstorage.hi-pi.com/
http://www.via6.com/comunidade.php?cid=10262
http://perspectivapolitica.com.br/
http://portalimprensa.com.br/portal/ultimas_
noticias/2009/07/14/imprensa29458.shtml
http://www.cristovam.org.br/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nerd
http://www.zedirceu.com.br/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ordoliberalismo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Minarquia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Neoliberalismo
http://www.letraselivros.com.br/index2.php?
option=com_content&do_pdf=1&id=574
http://www.unoeste.br/site/destaques
/not_destaque.asp?ID=1933
http://www.integral.br/noticias
/noticia.asp?noticia=37936
http://www.sefloral.com.br/an01110501.htm
http://www.pensador.info/autor/
Cristovao_Buarque-senador_brasileiro/
http://www.zerooitocentos.org/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Aparta
%C3%A7%C3%A3o#cite_note-0
http://www.cristovam.org.br/portal2/
http://www.cristovam.org.br
http://pt.wikiquote.org/wiki/
Cristovam_Buarque
Fundo
musical:
I’ve
Got A Crush On You
Música: George Gershwin
Letra: Ira Gershwin
Intérpretes: Frank Sinatra e Barbra Streisand
Fonte:
http://www.midisvoices.com.br/
Dê
só uma espiada:
http://www.youtube.com/watch?v=-K2jnV7-Bng