NO CORAÇÃO 'SP'RANÇA

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

A esperança, enganadora como é, serve, contudo, para nos levar ao fim da vida pelos caminhos mais agradáveis.

François La Rochefoucauld

 

Quem vive de esperanças morre em jejum.

Benjamim Franklin

 

O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!

Aqui à beira do rio
Sossego sem ter razão.
Este seu correr vazio
Figura, anónimo e frio,
A vida vivida em vão.

A ‘sp’rança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola de criança
Sobe mais que a minha ‘sp’rança,
Rola mais que o meu desejo.

Ondas do rio, tão leves
Que não sois ondas sequer,
Horas, dias, anos, breves
Passam – verduras ou neves
Que o mesmo Sol faz morrer.

Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou.
A ilusão, que me mantinha,
Só no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou.

Leve som das águas lentas,
Gulosas da margem ida,
Que lembranças sonolentas
De esperanças nevoentas!
Que sonhos o sonho e a vida!

Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava já perdido.
Impaciente deixei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido.

Som morto das águas mansas
Que correm por ter que ser,
Leva não só as lembranças,
Mas as mortas esperanças –
Mortas, porque hão-de morrer.

Sou já o morto futuro.
Só um sonho me liga a mim –
O sonho atrasado e obscuro
Do que eu devera ser – muro
Do meu deserto jardim.

Ondas passadas, levai-me
Para o olvido do mar!
Ao que não serei legai-me,
Que cerquei com um andaime
A casa por fabricar.

O Andaime, Fernando Pessoa

 

 

 

 

Corda Bamba da Vida

 

 

 

No Coração, 'sp'rança;

na rotina, só lambança.

No culto, contri[sta]ção;

na cachola, só armação.

 

Imperante dicotomia:

abdicação & arrelia.

Co-mandante cardinal:

 

A onda sobe, desce,

desafasta e coalesce.

O tempo voa, voando;

o ser vadia, vadiando.

 

Ora cara, ora coroa;

ora paz, ora bordoa.

Fudelhufas-cagahouse;

cagalhufas-fudehouse.

 

Mas, existe um jeito:

está em nosso peito.

Non fiat mea volvntas!

Fiat, sic, Tva Volvntas!

 

Só assim, a Liberdade

– a Ascensionabilidade!

Só assim, a desprisão!

 

 

 

Coração Encarcerado

 

 

 

Música de fundo:

Send in the Clowns
Composição: Stephen Sondheim
Interpretação: Ray Conniff e sua orquestra

Fonte:

http://mp3lemon.org/song/98651/

 

Bibliografia:

PESSOA, Fernando. Obra poética e em prosa. Volume I; poesia. Introduções, organização, biobibliografia e notas de António Quadros e Dalila Pereira da Costa. Porto: Lello & Irmão - Editores, 1986.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.citador.pt/frases/
citacoes/t/esperanca/10

http://www.123rf.com/
stock-photo/clown_shoes.html

 

Direitos autorais:

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