Alguém:
— Tu existes?
Deus:
— Existo e não existo.
Alguém:
— Bem, se existes, porque permites tanta dor e tanto sofrimento?
Deus:
— Não permito nem coíbo.
Alguém:
— E porque autorizas as guerras?
Deus:
— Não autorizo nem desautorizo.
Alguém:
— E porque tanta fome no mundo?
Deus:
— Porque os homens se tornaram egoístas. Eu nada posso
fazer.
Alguém:
— E Tu não podes acabar com o egoísmo?
Deus:
— Não. Não posso. Essa tarefa não cabe a
mim; cabe exclusivamente ao homem.
Alguém:
— Qual a origem do terrorismo? Tu bem que podias pôr termo
nisso.
Deus:
— Intolerância. Essa é a causa básica. Eu
nada posso fazer. Enquanto os homens insistirem em dividir a Terra em Leste
e Oeste e em Norte e Sul, o Leste e o Oeste tentarão mutuamente se
destruir tanto quanto o Norte e o Sul. A Terra é uma. A Humanidade
é uma. Tudo é um. Enquanto persistirem as divisões,
o homem sofrerá. O que Eu posso fazer? Quem deverá encontrar
uma solução é o próprio homem, pois foi ele
quem concebeu tudo isso.
Alguém:
— Não adianta, então, ficar perguntando se podes
ou se não podes fazer alguma coisa por nós. Sempre respondes
que é o homem que deverá resolver seus problemas e impasses.
Certo?
Deus:
— Sim, sem dúvida. Como disse Protágoras de Abdera,
'o homem é a medida de todas as coisas: das coisas que são,
enquanto são; e das coisas que não são, enquanto não
são'. É exclusivamente o homem quem deve dar sentido às
coisas. Toda e qualquer mudança começa no próprio homem.
Alguém:
— Penso que sejas impotente.
Deus:
— Se assim pensas...
Alguém:
— Incapaz, talvez?
Deus:
— Se assim pensas...
Alguém:
— Acho que Tu não estás Te importando com o que
puder vir a acontecer com a Humanidade.
Deus:
— Se assim pensas...
Alguém:
— Mas... Não foste Tu que criaste tudo? O céu, a
Terra, a luz, o firmamento, as águas, a erva verde, as árvores
frutíferas, os luzeiros no firmamento do céu, os répteis,
as aves, os peixes, os animais domésticos e o homem à Tua
imagem e semelhança? Enfim, não foste Tu que criaste tudo?
Deus:
— Não. Nada é criado. Tudo é. O foi e o será
são aspectos mutáveis do sempre é. O nada não
pode dar origem a alguma coisa. Tudo é originado pelo movimento e
pela eterna transformação do Cosmos, que é o que é.
Ninguém tem o poder de criar nada. Nem Eu. Portanto, nem o homem
foi criado por Mim. Ao contrário, foi ele quem criou todos os deuses
que existem.
Alguém:
— Isso é demais! Acho que mais do que impotente e ciumento
Tu és um grande mentiroso. Como é possível que o homem
possa criar deuses?
Deus:
— Em sua consentida ignorância, sempre os criou e continua
a criá-los.
Alguém:
— Isso é mesmo demais! Olha, eu não quero mais saber
de Ti. Para mim, basta. Estou confuso e muito irritado. Não acredito
e não quero mais acreditar que Tu existas ou que um dia pudesses
ter existido.
Deus:
— Isso é muito bom. Estás dando o primeiro passo
para a tua libertação consciente.
Alguém:
— Não quero mais tomar o Teu tempo, mas gostaria, ao menos,
para concluir nossa infrutífera conversa, de ter uma explicação
coerente. Quando à pouco Te perguntei se existias, Tu me respondeste
que existias e que não existias. Não posso compreender que
algo ou alguém possam, ao mesmo tempo, existir e não existir.
Se duas coisas não podem ocupar, simultaneamente, o mesmo lugar no
espaço, duas coisas também não podem existir e não
existir ao mesmo tempo, e também não podem ser duas coisas
diferentes ao mesmo tempo. Ou existem ou não existem. Então,
afinal, Tu existes ou não existes?
Deus:
— Sim, é verdade, isso é mesmo difícil de
ser compreendido. Mas o fato é que existo e não existo. Não
existo para aqueles que querem se encontrar Comigo de joelhos. Também
não existo para aqueles que querem se encontrar Comigo para pedir
coisas absurdas ou outras tantas que eles mesmos podem fazer por si. E existo
para aqueles que, de pé, ouvem Minha Voz em seus Corações.
Para esses, Eu sempre existi e sempre existirei.
Alguém:
— Deus? Deus? Onde estás? Eu menti quando disse que não
queria mais saber de Ti. Perdão! Perdão! Eu quero sim. Quero
muito. Eu preciso de Ti!
Páginas
Web e Websites consultados:
http://www.flickr.com/photos/
clube_da_luluzinha/115446448/
Música de fundo:
Te
Deum (Henry Purcell - 1659-1695)
Fonte:
http://centrecoral.org/midis.htm