Confúcio

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

Introdução

 

 

 

As reflexões de Confúcio, apesar de terem se passado vinte e cinco séculos de sua peregrinação pela China, parecem ter sido escritas diretamente para os problemas que assoberbam este início de Terceiro Milênio. Logo, pode-se muito bem admitir que suas máximas são eternas, em virtude da universalidade de suas concepções profundamente morais. Se não é assim, por que em outubro 1994 as autoridades comunistas patrocinaram em Pequim um gigantesco simpósio para celebrar o 2545º aniversário do nascimento de Confúcio? Bem, talvez para as autoridades comunistas chinesas não seja lá tão bem assim, pois, o interesse real do simpósio, segundo Simon Leys, era tentar descobrir a receita mágica (supostamente encontrada em Confúcio) para combinar uma política autoritária com prosperidade capitalista. Terá sido assim? Mas, contraditoriamente, o Confucionismo, nos tempos que correm, está associado à tirania feudal, e todos os movimentos revolucionários da China do século XX foram incondicionalmente anticonfucionistas.

 

 

 

Dados Biográficos

 

 

 

Confúcio (551 a. C. - 479 a. C.) é o nome latino do pensador chinês Kung-Fu-Tzu ou Mestre Kong. Até os dias de hoje, Confúcio continua sendo a figura histórica mais conhecida na China como mestre, filósofo e teórico político. Sua doutrina, o Confucionismo, teve forte influência não apenas sobre a China mas também sobre toda a Ásia oriental. Hoje, é difícil que se encontre alguém que, pelo menos, não tenha ouvido falar no seu nome.

Conhece-se muito pouco da sua vida. Parece que os seus antepassados foram aristocratas, mas o Filósofo e moralista viveu pobre, e desde a infância teve que trabalhar muito para poder viver e auxiliar no sustento da família, pois seu pai faleceu quando tinha apenas três anos de idade. Aos quinze anos, resolveu dedicar suas energias em busca da Illuminação.

Confúcio viajou por diversos reinos e esteve em íntimo contato com o povo. Pregou a necessidade de uma mudança total do sistema de governo por outro que se destinasse a assegurar o bem-estar dos súditos, pondo em prática processos tão simples como a diminuição de contribuições e o abrandamento das penalidades. Sua idéia de organização da sociedade buscava recuperar os valores antigos perdidos pelos seus contemporâneos, pois a época em que viveu estava mergulhada em violência e barbárie e a China vivia uma aguda crise social, cultural e política. Embora tentasse ocupar um alto cargo administrativo que lhe permitisse pôr em prática suas idéias, nunca o conseguiu, pois tais idéias eram consideradas muito perigosas pelos que estavam no poder. Porém, o que não pôde fazer pessoalmente acabaram por fazer alguns dos seus discípulos, que, graças à boa preparação por ele ministrada, se guindaram, dia após dia, aos cargos mais elevados. Já idoso, Confúcio retirou-se para a sua terra natal, onde morreu com 72 anos.

Sua escola foi sistematizada nos seguintes princípios: Ren (altruísmo); Li (cortesia); Zhi (conhecimento ou sabedoria moral); Xin (integridade); Zhing (fidelidade); e Yi (justiça, retidão e honradez). O livro principal (e talvez o único por ele escrito) foi Os Analectos – estruturado sobre a afirmação de uma moral humanista – que serviu de inspiração filosófica e cultural para os chineses e para toda a Ásia Oriental. Esta obra, uma compilação dos ditos e dos escritos de Confúcio, hoje, é lida e festejada nos quatro cantos do mundo. Nenhum livro, na história da Humanidade, exerceu por tanto tempo uma influência tão marcante sobre uma quantidade tão grande de pessoas, de religiosos e de dirigentes políticos.

 

 

 

Cronologia em Seis Momentos

 

 

 

551 a. C. - Confúcio nasce em Zou de Lu.

517 a . C. - Confúcio deixa Lu e vai para Qi. O duque Jing de Qi faz com que ele volte a Lu.

510 a. C. - Apogeu de Confúcio.

497 a. C. - Confúcio vai para Wei.

484 a. C. - Confúcio abandona suas aspirações políticas e retorna ao Estado de Lu.

479 a. C. - Confúcio morre no dia 11 da quarta lua.

 

 

 

Objetivo Deste Trabalho

 

 

 

Este despretensioso estudo recolheu da obra Os Analectos os cinqüenta e quatro fragmentos que considerei mais próximos do Misticismo ocidental, ainda que o pensamento de Confúcio não entre em choque ou em contradição com esse mesmo Misticismo. Em alguns momentos fiz algumas edições, contudo sem adulterar ou comprometer o pensamento do autor. Seja como for, primeiro, este texto nada tem de original e, segundo, não substitui a obra, nomeadamente por estar incompleto e por apenas refletir o que mais me impressionou nas reflexões confucianas. Mas, certamente, estes cinqüenta e quatro fragmentos são iluminadores.

 

 

 

Excertos dos Analectos

 

 

 

Conversa cheia de vaidade e maneira pretensiosa são raramente compatíveis com os benevolentes.

 

Não se preocupe se os outros não o compreendem; preocupe-se com o fato de você não compreender os outros.

 

Não julgue com maldade.

 

Explorar o antigo e deduzir o novo formam um mestre.

 

O homem de bem abrange tudo e não é parcial; o homem mesquinho é parcial e não abrange tudo.

 

O homem de bem não se desvia da benevolência; seja durante as refeições, seja nas épocas turbulentas, seja na miséria.

 

Escutar pela manhã que o Caminho prevalece significa poder morrer à noite sem se lamentar.

 

Para o homem de bem não há, em nenhum lugar sob o céu, nada absolutamente positivo nem nada absolutamente negativo. A retidão é a sua medida.

 

É verdadeiramente infreqüente que se engane um homem temperante.

 

Com virtude não há solidão; sempre há companhia.

 

De que serve falar artificialmente?

 

O conhecimento não é igual à devoção; a devoção não é igual ao júbilo.

 

Trabalhar no que é bom para o povo e respeitar os espíritos e os deuses que se acham longe pode julgar-se sabedoria.

 

Ser o primeiro a enfrentar as dificuldades e o último a receber os benefícios pode julgar-se benevolência.

 

O meio, como virtude, é realmente supremo!

 

 

 

 

Aspire ao Caminho, alinhe-se com a virtude, atue com benevolência e mergulhe nas artes.1

 

Sem determinação não poderá haver revelação2; sem ânsia de expressar as convicções não poderá haver iluminação.

 

Refeições simples, água para beber, o cotovelo dobrado como travesseiro; aí está a felicidade. As riquezas e a posição sem integridade são como as nuvens que flutuam.

 

Os quatro ensinamentos de Confúcio:

 

Literatura

Conduta [digna]

Lealdade

Integridade

 

Com extravagância não há humildade; com frugalidade há avareza. É preferível ser avaro do que não ter humildade.

 

Ao falar, deve-se evitar a crueza e a irracionalidade.

 

Ser capaz, mas consultar aqueles que não são capazes; possuir muito, mas consultar aqueles que possuem pouco; ter, mas aparentar não ter; possuir plenitude, mas aparentar estar vazio; ser desrespeitado, mas não se importar.

 

Aprenda como se fosse inferior, e, ainda assim, tema perder o que tem aprendido.

 

Confúcio nunca permitia quatro coisas:

 

Especulação

Precisão absoluta

Inflexibilidade

Egoísmo

 

Vem o frio do inverno! Então se sabe que o pinheiro e o cipreste são os últimos a secar.

 

Com sabedoria não há engano; com benevolência não há preocupação; com coragem não há temor.

 

Realize sempre uma oferenda solene, mesmo para uma simples refeição de sopa e legumes.

 

Sem saber sobre a vida, como é possível saber sobre a morte?

 

Incapaz de servir aos vivos, como é possível servir aos espíritos?

 

Ir além é o mesmo que ficar atrás. [Por isso, três virtudes um neófito deve cultivar: paciência, paciência, paciência.]

 

 

Saber Esperar

 

Não deseje a pressa; não procure os lucros pequenos. Se deseja a pressa, não terá sucesso; se procura os lucros pequenos, as tarefas importantes não se consumarão.3

 

O caminho do homem altruísta: Não atravessar o caminho gasto e não entrar no cômodo interior.

 

Não olhe o que não esteja de acordo com os ritos; não escute o que não esteja de acordo com os ritos; não fale se não é de acordo com os ritos; não atue se não é de acordo com os ritos.4

 

Trabalhe você próprio antes de fazer trabalhar os outros.

 

Se alguém não é capaz de se corrigir a si próprio, como será capaz de corrigir os outros?

 

Se você não é capaz de estar com aqueles que seguem o curso médio,5 então, aproxima-se dos que não têm controle e dos santarrões. Os que não têm controle avançam e tornam; os santarrões se abstêm de realizar certos atos.

 

 

Ignorância da Ignorância

 

 

A resolução6, a persistência, a simplicidade e a moderação ao falar estão próximas à benevolência.

 

Um homem virtuoso certamente terá alguma coisa para dizer. Um homem que sempre tem alguma coisa para dizer não é seguro que seja virtuoso. [Quem pouco sabe ou nada sabe adora fazer discurso; quem efetivamente sabe, cala.]

 

Há momentos em que um homem de bem não é benevolente; mas em nenhum momento um homem mesquinho7 é benevolente.

 

Um homem de bem se envergonha se suas palavras eclipsam seus atos.

 

 

 

 

Não se preocupe se os outros não o apreciam; preocupe-se com suas próprias incapacidades.

 

Recompensa a queixa com a honestidade, e a virtude com a virtude.

 

Não me queixo contra o céu nem acuso os homens. Procuro aprender o que se acha abaixo para compreender o que se acha acima.

 

Há virtuosos que evitam o mundo8; há aqueles que evitam o lugar8a; há aqueles que evitam a expressão8b; há aqueles que evitam a palavra8c.

 

Não falar com um homem digno de conversa é desperdiçar o homem; falar com um homem indigno de conversa é desperdiçar palavras. Os sábios não desperdiçam nem homens nem palavras.

 

A intolerância em assuntos de pouca importância transtorna os grandes planos.9

 

Os homens podem expandir o Caminho; o Caminho não pode expandir os homens.

 

O homem de bem se preocupa com o Caminho, não com a pobreza.

 

O homem de bem [sempre] é fiel ao que é correto sem ter em conta a fé dos outros para com ele.

 

Ensina sem discriminação.

 

Para o homem de bem existem nove coisas nas quais sempre pensa:

Quando observa, pensa na iluminação.

Quando escuta, pensa na claridade.

Quando adquire compostura, pensa na bondade.

Quando forma expressão facial, pensa na cortesia.

Quando fala, pensa na lealdade.

Quando serve, pensa no respeito.

Quando duvida, pensa na pergunta.

Quando se enfada, pensa nas dificuldades.

Quando considera a aquisição, pensa na retidão.

 

Em verdade, os ritos significam mais do que jade e seda. Em verdade, a música significa mais do que os sinos e os tambores.

 

Espalhar rumores irrefletidamente é abandonar a virtude.

 

 

 

 

É detestável que o roxo desloque o vermelho. [É detestável que o mal desloque o bem.]

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. As seis artes: os ritos, a música, o tiro ao arco, as concorrências de carruagens, a língua e a matemática.

2. Conhecimento.

3. Mesquinharias.

4. Não estaremos errando se substituirmos de acordo com os ritos por Voz Insonora do Coração.

5. Filosofia de vida baseada na moderação e no equilíbrio.

6. Firmeza de caráter.

7. Se a mãe de todos os defeitos (vícios) é a preguiça, seu primeiro filho é o egoísmo.

8, 8a, 8b e 8c. Quando isto não está de acordo com o Caminho.

9. Na realidade, a intolerância transtorna tudo.

 

Bibliografia:

Confúcio. Os analectos. 2ª edição. Tradução de Claudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://voxcards.ig.com.br/
figura/anim/fofoca/anim_fofocaanjo.gif

http://sol.sapo.pt/blogs/Central/

http://www.confucius.org/
mainp.htm

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Conf%C3%BAcio

http://www.hottopos.com/
mirand5/mario2.htm

 

Fundo musical:

China Roses (Enya)

Fonte:

http://www.wtv-zone.com/
homeaway/PickOfTheDay/2003.html