O
antropólogo é o astrônomo das
ciências sociais: ele está encarregado de descobrir
um sentido para as configurações muito diferentes,
por sua ordem de grandeza e seu afastamento, das que estão
imediatamente próximas do observador.
Meu único desejo é
um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o
ser humano e vai terminar sem ele. Isso é algo que sempre
deveríamos ter presente.
Hoje,
sou um opositor radical da caça; mas, no passado, não
era um mau caçador, e, o que é ainda mais lamentável,
eu gostava disso.
Eu tinha vontade de ver o
mundo, de ir para bem longe. Já na infância e na adolescência,
eu montava várias pequenas expedições no campo
francês... Eu queria aventura, onde quer que a encontrasse...
Naturalmente, quanto mais longe eu fosse, melhor...
Acho que o olhar distanciado
pode ser aprendido; mas acho também que é algo que
se pode possuir desde o nascimento, uma espécie de característica
da personalidade de cada um.
Acho
que há muitos modos de ser antropólogo e de se tornar
um antropólogo. E há muitas moradas na casa do Senhor...
A vocação é um dos modos; há provavelmente
outros.
As
culturas não desaparecem nunca, elas se misturam com outras,
e dão origem a uma outra cultura.
A única esperança
que nos resta é que a diversidade das culturas humanas saibam
refazer diferenças... Creio que isso acontecerá ou,
pelo menos, espero que sim. Este é um período crítico
e, sinceramente, espero que não dure. Fissuras haverão
de ser reproduzidas... Naturalmente não onde estavam antes,
e, certamente, não onde poderíamos supor que surgissem.
De qualquer modo, creio que a Humanidade permanecerá diversa;
esta é sua única chance.
Se,
como escrevi em 'Raça e História', existe entre as
sociedades humanas um certo ótimo de diversidade além
do qual elas não conseguiram prosseguir, mas abaixo do qual
tampouco podem descer sem perigo, deve-se reconhecer que esta diversidade
resulta em grande parte do desejo de cada cultura de se opor às
que a cercam, de se distinguir delas, em suma, de serem elas mesmas;
não se ignoram, imitam-se ocasionalmente, mas, para não
perecerem, é necessário que, sob outros aspectos,
persista entre elas uma certa impermeabilidade.
Que não haja oposição
entre a coerção e a liberdade. Que, ao contrário,
elas se auxiliem, pois toda a liberdade é exercida para contornar
ou para superar uma coerção, e toda a coerção
apresenta fissuras ou pontos de menor resistência que são
incitações à criação. Nada, sem
dúvida, consegue dissipar melhor a ilusão contemporânea
de que a liberdade não suporta entraves e de que a educação,
a vida social e a arte requerem para desabrochar um ato de fé
na onipotência da espontaneidade – ilusão que,
certamente, não é a causa; mas na qual é possível
ver um aspecto significativo da crise que o Ocidente atravessa hoje.
A
história não está ligada ao homem nem a qualquer
objeto em particular. Consiste inteiramente no seu método;
a experiência comprova que ele é indispensável
para inventariar a integralidade dos elementos de uma estrutura
qualquer, humana ou não-humana. Longe, portanto, de a pesquisa
da inteligibilidade resultar na história como o seu ponto
de chegada; é a história que serve de ponto de partida
para toda a busca de inteligibilidade. Assim como se diz de certas
carreiras, a história leva a tudo; mas, contanto que se saia
dela.
O
cientista não é o homem que fornece as verdadeiras
respostas; é quem faz as verdadeiras perguntas.
Há,
entre nós homens bem fornidos, que gozamos de todas as comodidades
da vida, a nossa outra metade – homens emagrecidos pela fome
e pela pobreza que mendigam às nossas portas.
Compreender consiste em reduzir
um tipo de realidade a outro; a realidade verdadeira nunca é
a mais patente; a natureza do verdadeiro já transparece no
zelo que este emprega em se ocultar.
Os
mitos não podem ser estudados isoladamente: um mito é
composto de todas as suas variantes.
Vamos para uma civilização
em escala mundial. Estamos em um mundo ao qual já não
pertenço. O que eu conheci, o que eu amei, tinha 1,5 bilhão
de habitantes. O mundo atual tem 6 bilhões de seres humanos.
Já não é o meu mundo.
Todo
pensador célebre pode estar certo de duas coisas: de morrer
e de ser considerado ultrapassado. É uma sorte quando a primeira
coisa acontece antes da segunda.
O dia em que se chegar a
compreender a vida como uma função da matéria
inerte será para descobrir que ela possui propriedades diferentes
das que lhe atribuíam.
As estruturas não
são realidades concretas; estão mais próximas
de modelos cognitivos da realidade que servem ao homem em sua vida
cotidiana.
Não
dispomos de nenhum critério absoluto para julgar uma cultura
em relação a outra.
O
dever moral de cada cultura é tentar continuar sendo o que
é, preservando sua identidade.
Nossa
diferença em relação aos ameríndios,
aos melanésios ou aos africanos de outrora é que não
damos a mesma importância, o mesmo lugar, à história.
Esse juízo que fiz é evidentemente subjetivo, o juízo
de membro de uma sociedade e uma civilização. Não
estou generalizando, estou me referindo à arte na minha civilização.
Dizer que demarcar as terras
dos índios é lhes dar um direito excepcional, me parece
completamente contrário à realidade. Só há
um meio de tentar remediar o enorme mal que lhes foi feito no momento
da colonização, quando foram exterminados por meios
diretos ou indiretos. É preciso lhes devolver uma parte,
ainda que pequena, do que foi o território deles, isto é,
a totalidade do continente. Se eu tivesse o poder, devolveria aos
índios o máximo que pudesse. Mas, ao mesmo tempo,
reconheço que, do ponto de vista brasileiro, há problemas.
Trata-se de um grande país, que tende a se modernizar até
o seu interior mais profundo. Não tenho também argumentos
decisivos a propor.
O
que norteia o pensamento ecológico é
que ele proclama a vontade de defender solidariamente a Natureza
e o homem. Defender a Natureza para as necessidades e dentro dos
interesses do homem. Estou convencido de que as coisas são
profundamente contraditórias. Se tivesse que tomar posições
ecológicas, diria que o que me interessa são as plantas
e os animais – e danem-se os homens. É óbvio
que se trata de uma posição indefensável. Por
isto, guardo-a para mim.
A lição que
tirei de Montaigne é que estamos condenados a viver e pensar
simultaneamente em vários níveis, e que estes níveis
são incomensuráveis. Há saltos existenciais
para passar de um outro. O último nível é um
ceticismo integral. Mas, não se pode viver com ceticismo
integral. Seria preciso se suicidar ou se refugiar nas montanhas.
Somos obrigados a viver, ao mesmo tempo, em outros níveis
em que esse ceticismo está moderado ou totalmente esquecido.
Para fazer ciência, é preciso fazer como se o mundo
exterior tivesse uma realidade e como se a razão humana fosse
capaz de compreendê-lo. Mas é 'como se'.
Estou
convencido de que muito de nossas pesquisas, da Psicologia, da Sociologia,
são modos provisórios de apreender fenômenos
que tratamentos mais sérios vão acabar solucionando.
O filósofo positivista francês Auguste Comte (1798
- 1857) já tinha dito isso antes de mim.
O mundo é de tal riqueza
– e estamos tão longe de esgotar todas essas virtualidades
– que me parece ingênuo querer criar fora disso. Quando
vejo um quadro não-figurativo, penso que é sempre
menos belo do que o espetáculo não-figurativo que
me oferece a Natureza, na forma de um cristal, um jogo de luz etc.
Pergunta
de um repórter da Folha: —
Em uma entrevista recente a Catherine Clément, o senhor disse
que todos os autores de verdade, em arte, são estruturalistas.
Resposta de Lévi-Strauss: —
Não me lembro de ter dito isso. Creio que uma das formas
de interpretar e de compreender a criação artística
é abordá-la pelo ângulo estruturalista. Mas
não me lembro de ter dito que todos os verdadeiros autores
são estruturalistas. Você me desculpe eu lhe dizer
isto, mas, quando dou uma entrevista, respondo qualquer coisa
[risos].
Sempre
haverá o inacessível!