CONDORCET
(Pensamentos)

 

 

 

Condorcet

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução e Objetivo do Estudo

 

 

 

O Iluminismo ou Era da Razão foi um movimento cultural da elite de intelectuais do século XVIII, na Europa, que procurou mobilizar o poder da razão, a fim de reformar a sociedade e o conhecimento prévio. O  Iluminismo promoveu o intercâmbio intelectual e foi contra a intolerância e os abusos da Igreja e do Estado.

 

Este estudo, conseqüentemente, apresenta para reflexão alguns pensamentos daquele que é considerado o último dos iluministas e o que melhor representou o seu jeito de pensar – Condorcet, pensador, matemático, professor, enciclopedista e político revolucionário francês. Condorcet também foi Maçom e membro da Loja Les Neuf Soeurs, Paris.

 

Condorcet foi um dos líderes ideológicos da Revolução Francesa e o elaborador de um projeto de organização geral da instrução pública entregue à Assembléia Nacional. Defendia que a educação era um dever do Estado, que deveria ser laica e que deveria, maiormente, contribuir para a liberdade do pensamento. Portanto, o projeto de Condorcet tem um claro compromisso com a meta de uma sociedade democrática, diz Carlota Boto, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Condorcet, admite a professora, entendia que de nada adiantava declarar um povo como portador de direitos – e a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão foi a marca da Revolução Francesa se cada um dos indivíduos não pudesse desfrutar deles.

 

Enfim, com Nagib Anderáos Neto, penso que a Humanidade deve muito ao Marquês de Condorcet, e haverá de honrar a sua memória comungando com os nobres ideais que inspiraram a sua vida. Por exemplo, disse Condorcet: A instrução deve ser universal, isto é, deve se estender a todos os cidadãos. Ora, como sou professor, isto, para mim, é o bastante. E por que basta? Simplesmente porque admito que a liberdade só poderá advir da compreensão, e o primeiro degrau da compreensão é a instrução (educação). Bem, eu espero que você goste do que irá ler. Eu gostei porque, de maneira geral, concordei.

 

 

 

Porra! Eu não sou o Newton!

 

 

 

Breve Biografia de Condorcet

 

 

 

Marie Jean Antoine Nicolas de Caritat, marquês de Condorcet (Ribemont, Aisne, 17 de setembro de 1743 – Bourg-la-Reine, 28 de março de 1794), normalmente referido como Nicolas de Condorcet, foi um pensador, matemático, professor, enciclopedista e político revolucionário francês.

 

Condorcet ficou órfão de pai pouco depois do seu nascimento. A sua mãe era uma mulher muito religiosa, e colocou-o em um colégio jesuíta, em Reims, onde obteve uma formação básica. Aos dezesseis anos de idade, devido às suas habilidades analíticas, começou a chamar a atenção de Jean le Rond d'Alembert e Alexis Clairault. O primeiro decidiu acolhê-lo como pupilo.


Em 1765, Condorcet publicou a sua primeira obra Ensaio Sobre o Cálculo Integral, tendo sido bastante aclamado, lançando, assim, a sua carreira como matemático. Ingressou na Academia das Ciências de Paris em 1769. Tornou-se também membro de outras academias pelo mundo na Alemanha, na Rússia e nos Estados Unidos da América.

 

Por volta de 1772, Condorcet conheceu Jaques Turgot, vindo este a se tornar um grande amigo. Dois anos depois, foi apontado, por Turgot, para o cargo de inspetor-geral do Monnaie, de Paris. Após este acontecimento, o filósofo mudou o foco das suas reflexões, passando das questões matemáticas às questões filosóficas e políticas. Nos anos seguintes, lutou pelos direitos humanos, focando especialmente as mulheres e os negros. Entrou para a Sociedade dos Amigos dos Negros na década de 1780. Condorcet apoiou a Revolução Americana, e acreditava que algumas das mudanças políticas que esta acarretou no Novo Mundo poderiam ser adotadas na França. Após a demissão de Turgot do cargo de controlador-geral, em 1776, Condorcet tentou se demitir de seu cargo. Sendo o seu pedido recusado, acabou servindo no Monnaie até 1791. Em 1786, Condorcet escreveu Vie de M. Turgot, uma biografia que defendia as idéias do seu amigo e mentor.


Condorcet publicou também Vie de Voltaire, onde defende as principais idéias do filósofo francês, majoritariamente a sua oposição à Igreja. Por meio de outras obras, como Ensaio na Aplicação de Análises para a Probabilidade das Decisões da Maioria, Condorcet inaugurava, assim, um método próprio de usar teorias matemáticas para resolver questões das ciências sociais – o Método de Condorcet.

 

Em 1789, aderiu com entusiasmo à Revolução Francesa. Envolvendo-se profundamente na atividade política, criou, juntamente com Thomas Paine, um projeto para a nova Constituição do Governo Republicano dos rebeldes, com quem lutava, principalmente, pelo sufrágio feminino. O seu projeto foi rejeitado em favor de um mais radical, de Maximilien de Robespierre. Pelas suas diversas críticas às posições mais radicais tomadas pelos revoltosos, como a sentença de morte dada a Luís XVI de França, Condorcet começou a ser visto com desconfiança pelos jacobinos. Após uma série de mal-entendidos, o pensador foi considerado traidor da Revolução e um mandato de prisão foi expedido em seu nome.

 

Perseguido pela Revolução que tanto apoiara, foi forçado a se esconder em casa de uma amiga, em 1793. Foi neste refúgio que escreveu a obra Ensaio de um Quadro Histórico do Progresso do Espírito Humano, publicado posteriormente, em 1795. Após oito meses escondido, Condorcet desconfiou da sua segurança e, ao tentar fugir, foi capturado e mandado para a prisão. Após dias, apareceu misteriosamente morto na sua cela. A teoria mais aceitável é a de que seu colega de cela, Pierre Jean George Cabanis, lhe deu um veneno para beber, visto que Condorcet estava desesperado. Entretanto, alguns historiadores acreditam que Condorcet foi assassinado por ser muito amado e respeitado, mesmo entre os rebeldes radicais, para ser executado pelo Governo Revolucionário.

 

Todavia, em uma ironia histórica, a Convenção que o tinha condenado decidiu comprar toda a tiragem de três mil exemplares da edição do Esboço, que a mulher de Condorcet havia mandado publicar, e ordena a sua distribuição às escolas francesas, como um livro clássico do filósofo desafortunado. Seu Esboço (que percorre dez épocas) é inteiramente escrito no tempo futuro, dissertando (da primeira a nona época) sobre a trajetória da Humanidade, desde um início hipotético até a Revolução Francesa. Na décima e última época, o autor pretende mostrar os progressos que a Humanidade fará no futuro.

 

 

 

Pensamentos Condorcetianos

 

 

 

Todo poder é inimigo natural da inteligência.

 

 

 

 

Sob a mais livre das Constituições, um povo ignorante é sempre escravo.

 

A insensibilidade do egoísmo tem muitas vezes o nome de filosofia.

 

Não acreditamos que seria possível, em uma nação esclarecida sobre seus direitos, propor à metade dos cidadãos que abdiquem destes direitos, nem que seria útil à tranqüilidade pública separar um povo ativamente ocupado dos interesses políticos em duas partes, em que, em virtude da lei, uma será tudo e a outra nada, apesar da vontade da natureza que, ao fazê-los homens, tornou-os iguais.

 

Pela primeira vez, o sistema geral dos conhecimentos humanos foi desenvolvido. O método de descobrir a verdade tornou-se uma arte que se pode aprender, e a razão, enfim, encontrou o seu caminho. O gênero humano não cairá mais na obscuridade. Não está mais em poder de homem algum apagar esta chama.

 

Conservemos pela prudência o que adquirimos pelo entusiasmo.

 

Os amigos da verdade são aqueles que a procuram e não os que se vangloriam de a ter encontrado.

 

Se o homem pode predizer com uma segurança quase integral os fenômenos dos quais conhece as leis, e se, mesmo quando estas lhe são desconhecidas, ele pode, a partir da experiência do passado, prever com uma grande probabilidade os acontecimentos do futuro.

 

As mulheres têm direito à educação, à participação na vida política e acesso ao emprego.

 

Uma boa lei deve ser boa para todos os homens, tal como uma proposição verdadeira é verdadeira para todos.

 

 

 

Por exemplo, não terão todos violado o princípio da igualdade dos direitos, ao privarem tranqüilamente a metade do gênero humano de concorrer para a formação das leis, ao excluírem as mulheres do direito de cidadania?

 

Não será na qualidade de seres sensatos, capazes de razão, tendo idéias morais, que os homens têm direitos? Portanto, as mulheres devem ter exatamente os mesmos; e, contudo, nunca, em nenhuma constituição dita livre, as mulheres exerceram o direito de cidadãs.

 

Assegurar a cada indivíduo a facilidade de desenvolver, em toda a sua extensão, os talentos que recebeu da Natureza e, através disto, estabelecer uma igualdade de fato entre os cidadãos, e tornar real a igualdade política reconhecida pela lei. Tal deve ser o primeiro objetivo de uma instrução nacional.

 

A instrução não deveria abandonar os indivíduos ao sair da escola. Ela deveria abraçar todas as idades, pois, não há nenhuma idade em que não seja possível e útil aprender.

 

O desejo insano de reinar sobre as opiniões pela força e de manter a pureza de uma religião de paz através de suplícios cobriu, durante muito tempo, a França de sangue e de piras.

 

A Igreja, na Idade Média, e todos os hipócritas que guardaram apenas para si o conhecimento foram uma espécie de barragem no rio do progresso, impediram seu fluxo normal e atrasaram o desenvolvimento.

 

Uma alma nobre presta justiça mesmo àqueles que a recusam.

 

É absolutamente necessário que a superstição e o fanatismo cedam lugar à Filosofia. Os reis perseguem as pessoas, os sacerdotes perseguem as opiniões. Quando não houver mais reis, os homens estarão seguros; quando não houver mais sacerdotes, o pensamento será livre. Então, começará a Idade da Razão! Igualdade de instrução, igualdade de instituições, igualdade de fortunas.

 

O desenvolvimento humano não pode coexistir com os preconceitos e as crenças.

 

Provaremos que estas eloqüentes declamações contra as ciências e as artes são fundadas sobre uma falsa compreensão da história e que, ao contrário, os progressos das virtudes sempre acompanham os progressos das luzes, assim como os progressos da corrupção sempre acompanham a decadência. Então, ver-se-á que esta passagem tempestuosa e penosa de uma sociedade grosseira ao estado de civilização dos povos esclarecidos e livres não é uma degeneração da espécie humana, mas uma crise necessária na marcha gradual em direção ao aperfeiçoamento absoluto.

 

Toda e qualquer ciência é identificável com a matemática social, ou seja, todo o conjunto dos fatos sociais – seja a política, seja a Economia, seja a moral – está submetido à leis gerais similares às que regem a Natureza. É, portanto, necessário realizar um estudo preciso, rigoroso e numérico dos fenômenos sociais.

 

A Ciência neutra é imune a interesses sociais e paixões das classes dominantes. Portanto, é necessário tirar o controle da Ciência das classes dominantes para que uma Ciência Natural possa se impor.

 

Julgamos exercer uma pequena vingança contra a autoridade fazendo secretamente o que ela proíbe.

 

O desenho é a geometria dos olhos; a música, dos ouvidos.

 

 

Molécula Tetraédrica e Apolar de Metano (CH4)

 

 

Os povos mais esclarecidos, ao reassumirem o direito a disporem eles mesmos do seu sangue e das suas riquezas, pouco a pouco, aprenderão a encarar a guerra como o mais funesto dos flagelos, como o maior dos crimes.

 

Como os povos coincidirão, enfim, nos princípios da política e da moral, e como cada um, de per si, tendo em mente o benefício próprio, convidará os estrangeiros a partilhar de um modo mais eqüitativo os bens que recebeu da Natureza ou adquiriu com o seu próprio engenho, todas as causas que provocam, envenenam e perpetuam os ódios nacionais irão desaparecendo pouco a pouco, deixando de fornecer ao furor belicoso alimento ou pretexto.

 

Um dia, o Sol, ao brilhar, só se deparará com homens que não reconhecerão outro mestre que não seja a razão.

 

É apenas pelo conhecimento que os cidadãos poderão conservar as virtudes republicanas, aperfeiçoar a espécie humana e conservar a verdade e a justiça.

 

A ignorância e a desigualdade de instrução são as duas principais causas da tirania.

 

A igualdade que os antigos queriam estabelecer entre os cidadãos tinha constantemente por base a desigualdade monstruosa entre o escravo e o senhor, pois todos os seus princípios de liberdade e de justiça eram fundados sobre a iniqüidade e a servidão.

 

Todos os partidos que se afastam do povo acabarão por se perder, e, talvez, perdê-lo.

 

Qualquer indivíduo da raça humana tem os mesmos direitos.

 

O amor dos povos antigos pela liberdade não era a paixão generosa pela independência e pela igualdade, mas a febre da ambição e do orgulho; uma mistura de dureza e de injustiça que corrompia suas mais nobres virtudes. De que modo uma liberdade tranqüila – a única que pode ser durável – teria pertencido a homens que não podiam ser independentes, a não ser exercendo a dominação, e não podiam viver com seus concidadãos como irmãos, sem tratar como seus inimigos o resto dos homens?

 

Qualquer sociedade que não seja iluminada pelos filósofos é enganada pelos charlatães.

 

Entre nós, os empregos penosos da sociedade são confiados a homens livres que, obrigados a trabalhar para satisfazer suas necessidades, têm, contudo, os mesmos direitos e são iguais àqueles que a fortuna dispensou destes trabalhos. Grande parte dos filhos dos cidadãos está destinada a ocupações duras, cujo aprendizado deve começar cedo, cujo exercício ocupará todo o seu tempo. Seu trabalho se torna uma parte dos recursos de sua família, mesmo antes que tenham saído completamente da infância, enquanto um grande número, a quem a boa situação da família permite dedicar mais tempo e mesmo destinar mais recursos a uma educação mais extensa, prepara-se, por meio desta educação, para profissões mais lucrativas. Para outros, enfim, nascidos com uma fortuna independente, a educação tem como único fim assegurar os meios para viver feliz e adquirir a riqueza e a consideração conferidas pelos cargos, serviços ou talentos.

 

Se a educação for estabelecida para aqueles que têm menos tempo para consagrar à instrução, a sociedade será forçada a sacrificar todas as vantagens que pode esperar do progresso das luzes. Se, ao contrário, se quiser fazê-la para aqueles que podem sacrificar sua juventude inteira para se instruir, encontraríamos obstáculos insuperáveis, ou então seria preciso renunciar aos benefícios de uma instituição que abarcasse a generalidade dos cidadãos. Enfim, tanto numa quanto noutra suposição, as crianças não seriam educadas nem para si mesmas, nem para os deveres que serão obrigados a cumprir.

 

Uma educação comum não pode ser graduada como a instrução. Ela precisa ser completa, senão será nula e mesmo prejudicial.

 

Nosso primeiro cuidado deveria ser o de tornar, por um lado, a educação tão igual, quanto universal; por outro lado, tão completa quanto as circunstâncias pudessem permitir. É necessário oferecer a todos igualmente a instrução que é possível estender universalmente, sem recusar a uma parte dos cidadãos a instrução mais elevada, que é impossível estender a todos os indivíduos. Estabelecer uma, porque ela é útil àqueles que a recebem; e a outra, porque ela é igualmente útil àqueles que não a receberam.

 

Cometer-se-ia uma verdadeira injustiça se déssemos à maioria real dos chefes de família, e, mais ainda, se confiássemos aos representantes o poder de obrigar os pais a renunciar ao direito de educar eles mesmos sua família. Uma tal instrução que, quebrando os laços da Natureza, destruísse a felicidade doméstica, enfraquecesse ou mesmo aniquilasse estes sentimentos de reconhecimento filial – primeiro germe de todas as virtudes – condenaria a sociedade que a tivesse adotado a não ter senão uma felicidade de convenção e virtudes fictícias. Este meio pode formar, sem dúvida, uma ordem de guerreiros ou uma sociedade de tiranos, mas nunca fará uma nação de homens, um povo de irmãos.

 

Nada é mais comum do que as máximas de compaixão e de justiça; nada é mais quimérico do que propor aos homens para se conformar sua conduta à elas.

 

A educação, se a considerarmos em toda a sua extensão, não se limita apenas à instrução positiva, ao ensino das verdades de fato e de cálculo, mas abarca todas as opiniões, morais e religiosas.

 

Os preconceitos que recebemos da educação doméstica são um efeito da ordem natural das sociedades, e uma sábia instrução, difundindo as luzes, é o seu remédio, ao passo que os preconceitos infundidos pelo poder público são uma verdadeira tirania, um atentado contra uma das partes mais preciosas da liberdade natural.

 

Enfim, uma educação completa deve se estender à todas as opiniões religiosas. O poder público seria obrigado a estabelecer tantas educações quantas sejam as diferentes religiões antigas e novas confissões houvesse em seu território, ou obrigaria os cidadãos de diversas crenças a adotar a mesma para seus filhos ou se limitar a escolher entre o pequeno número que se tivesse escolhido encorajar. Sabe-se que a maioria dos homens segue, neste gênero, as opiniões que recebeu desde sua infância, e que raramente lhe vem à mente a idéia de examiná-las. Se, pois, elas fizerem parte da educação pública, deixam de ser escolha livre dos cidadãos e se tornam um jugo imposto por um poder ilegítimo. Em suma, é igualmente impossível rejeitar ou admitir a instrução religiosa em uma educação pública que excluísse a educação doméstica, sem ferir a consciência dos pais, se estes consideram a religião exclusiva necessária ou mesmo útil à moral e à felicidade em uma outra vida. É preciso, portanto, que o poder público se limite a regular a instrução, deixando às famílias o resto da educação.

 

É bem mais importante que o poder público não dite a doutrina comum do momento como verdade eterna, por temor de fazer da instrução um meio de consagrar preconceitos que lhe serão úteis e um instrumento de poder daquilo que deve ser a barreira mais segura contra o poder injusto.

 

O que, em cada época, assinala o verdadeiro termo das luzes não é a razão particular de qualquer homem de gênio, que pode ter também seus preconceitos pessoais, mas a razão comum dos homens esclarecidos. É necessário que a instrução se aproxime deste termo das luzes mais do que o poder público possa, por si mesmo, se aproximar dele. De fato, o objetivo da instrução não é perpetuar os conhecimentos que se tornam gerais em uma nação, porém, aperfeiçoá-los e estendê-los.

 

O Poder Legislativo é aquele que consiste em declarar quais as regras comuns de ação que parecem ser, de acordo com o pensamento da maioria, mais conformes à razão.

 

Não deve haver uma vontade geral, mas, sim, uma razão geral, onde a maioria não tem autoridade nem poder por simples questões aritméticas.

 

O sistema social deve ser dirigido por uma ação única, limitada e regulada pela lei.

 

O que aconteceria se o poder público ficasse dócil à voz de alguns zeladores de doutrinas ocultas e ordenasse que se preferissem as ilusões da iluminação interior às luzes da razão? O que se tornaria a instrução, em um povo no qual seria necessário que o direito público e a Economia Política mudassem juntamente com a opinião dos legisladores, onde não se permitisse estabelecer verdades que condenariam sua conduta? Enfim, o que seria a instrução, na qual, contentes em enganar ou oprimir seus contemporâneos, eles estendessem à vergonha eterna de partilhar de sua corrupção ou de seus preconceitos?

 

A única obrigação social consiste em obedecer à razão coletiva da maioria. À razão, digo; não à vontade.

 

O fim da instrução não é fazer que os homens admirem uma legislação pronta, mas torná-los capazes de avaliá-la e de corrigi-la. Não se trata de submeter cada geração às opiniões e às vontades daquela que a precedeu, porém, de esclarecê-la, a fim de que cada uma se torne cada vez mais digna de se governar por sua própria razão.

 

É necessário tornar o progresso da indústria e a atividade do comércio cada vez mais independente da existência de grandes capitalistas.

 

Qualquer igualdade estabelecida pelo Poder Legislativo, com o tempo poderá levar a uma desigualdade de fato, seja pelo vício da constituição, seja pelos defeitos nas formas de eleição, seja, ainda, pela imperfeição da declaração dos direitos. Assim, nenhuma constituição e nem mesmo a Declaração dos Direitos deve ser tomada como perpétua ou fundamental, sendo necessário estabelecer uma data para que ambas sejam reexaminadas de modo independente por uma comissão especialmente eleita pelos cidadãos.

 

Todo homem deve ser um soldado, quando se trata de combater a tirania.

 

Diz-se que as mulheres, apesar de muito espírito, de sagacidade e da faculdade de raciocinar tão elevada como as dos mais sutis dialéticos, não seriam nunca conduzidas por aquilo que costuma se chamar razão. Esta observação é falsa e injusta: elas não são conduzidas, é verdade, pela razão dos homens; mas elas o são pela razão delas.

 

 

 

 

Os direitos do homem decorrem unicamente do fato e da idéia de que eles são seres sensíveis, suscetíveis de adquirir idéias morais e de raciocinar sobre essas idéias.

 

Segundo a consciência – e mesmo por consciência – más escolhas são feitas tal como são praticadas más ações.

 

A racionalidade não é a observação e a perfectibilidade não é a relatividade.

 

Uma boa lei deve ser boa para todos os homens, tal como uma proposição verdadeira é verdadeira para todos.

 

A palavra revolucionária aplica-se às revoluções que têm a liberdade de se opor.

 

A instrução pública é um dever da sociedade para com todos os cidadãos. Em vão seria declarado que todos os homens têm os mesmo direitos, em vão seriam respeitadas as leis se não respeitassem este primeiro princípio da justiça eterna, se a desigualdade das faculdades morais impedisse o maior número de pessoas de gozar este direito em toda sua plenitude.

 

Não importa que tudo esteja bem. Importa, sim, que possamos garantir que tudo esteja melhor agora do que estava antes de nós.

 

A obrigação de incluir todas as classes da sociedade, ou seja, de instruir tanto os membros das classes mais ricas como os membros das classes mais empobrecidas, consiste em não deixar que subsista nenhuma desigualdade que ocasione dependência. Basta para a manutenção da igualdade de direitos que esta superioridade não traga dependência real e que cada um esteja suficientemente instruído para exercer, por si mesmo e sem se submeter cegamente a razão do próximo, aquilo cuja posse lhe é garantida por lei.

 

Com passos firmes e seguros, a Humanidade marcha rumo à virtude, à verdade e à felicidade.

 

Entendemos que o poder público deveria dizer aos cidadãos pobres: a fortuna de vossos pais apenas pôde proporcionar-vos os conhecimentos mais indispensáveis; mas asseguram-se-vos os meios fáceis de os conservar e ampliar. Se a Natureza vos deu talento, podeis desenvolvê-lo, a fim de que não se perca, nem para vós nem para a pátria. Assim, a instrução deve ser universal, isto é, deve se estender a todos os cidadãos.

 

O papel do Estado é tornar a educação não só tão igual e tão universal, mas, também, tão completa como as circunstâncias o permitam.

 

É um erro acreditar que a salvação pública possa ser imposta pela injustiça.

 

É necessário, enfim, cultivar em cada geração as faculdades físicas, intelectuais e morais, e contribuir, desta forma, para o aperfeiçoamento geral e progressivo da espécie humana, derradeira meta a que deve visar toda a instituição social. Tal será ainda o objetivo da instrução, e este é, para o poder público, um dever imposto pelo interesse comum da sociedade e pelo da Humanidade inteira.

 

 

 

 

Condorcet propôs uma divisão sistematizada em três partes do processo de instrução pública: 1º) a instrução comum: ensinar a todos os diversos conhecimentos; 2º) despertar disposições particulares de cada um e empregá-las para vantagem geral; e 3º) formação específica para a profissão escolhida.

 

Direitos Fundamentais = Liberdade + Segurança + Igualdade.

 

Princípios Constituintes do Político = Razão + Tolerância + Humanidade.

 

As verdades absolutas – aquelas que subsistem independentemente de toda medida, de todo cálculo – são freqüentemente inaplicáveis e vagas para as coisas suscetíveis de serem medidas ou de receber numerosas combinações; elas não ultrapassam os primeiros princípios e se tornam insuficientes desde os primeiros passos.

 

Chegará o tempo em que o Sol brilhará, e o homem, já livre, não conhecerá outro mestre que não seja a sua razão. Então, os tiranos e os escravos, os sacerdotes e os seus instrumentos estúpidos e hipócritas existirão apenas em obras de história e no teatro.

 

Na lógica ordinária, o resultado de uma seqüência de proposições se forma pelo julgamento de um só; mas naquela de uma assembléia deliberante, ele é formado pela opinião da maioria, que não é sempre composta por indivíduos iguais. E ainda que cada um tenha raciocinado justamente, o resultado de suas opiniões combinadas poderia conter uma contradição evidente.

 

Quase todas as regras que parecem arbitrárias são fundadas sobre razões que os jogadores sentem vagamente, das quais os matemáticos, acostumados ao cálculo das probabilidades, poderiam dar conta.

 

 

 

 

O meio de evitar as insurreições é dominar a vontade do povo pela razão, de forçá-lo, esclarecendo-o, não a se dobrar diante da lei, mas de querer se manter submisso à ela. O meio de evitar as insurreições é, portanto, organizar reclamações regulares, irresistíveis, que forcem a soberania nacional a pronunciar sua opinião. O meio de prevenir as revoluções é dar aos cidadãos a facilidade de as fazerem de modo legal e pacífico. Enfim, os cidadãos não serão mais expostos a se enganar sobre a vontade geral, a confundi-la com os caprichos dos homens que os cercam, se eles têm um meio seguro de interrogá-la e conhecê-la.

 

Não há liberdade para o ignorante.

 

Eu não posso exigir que uma determinada regra seja conforme a minha razão, já que, então, ela poderia ser contrária à razão de outro, à qual eu não tenho nenhum direito de submeter à minha. Devo, portanto, conforme a minha razão mesmo, procurar um sinal ('caractère') independente dela, ao qual devo ligar a obrigação de me submeter; e este sinal eu encontro no voto da maioria.

 

A vontade geral (política) não pode ser interpretada nem, muito menos, monopolizada por ninguém. Cada um deve percebê-la como sua própria obra.

 

Entre as regras que a maioria reconhece conforme seus direitos, são as que mais estão de acordo com a razão.

 

Defender uma concepção política como verdadeira e, somente por isto, considerá-la o único fundamento adequado da razão pública é uma atitude de sectarismo, que, com certeza, fomentará a divisão política.

 

Um dia, espero ver a reunião de todas as pessoas cultas da Terra em um congresso mundial de cientistas.

 

Para sabermos se estamos de acordo com a razão pública ou não, precisamos perguntar: como nossos argumentos nos pareceriam sob a forma de uma opinião na Suprema Corte?

 

Desfrute sua própria vida sem compará-lo com a de outrem.

 

A constituição não é o que a Suprema Corte diz o que ela é, e, sim, o que o povo, agindo constitucionalmente por meio de outros poderes, permitirá dizer o que ela é.

 

A universalização é um corolário da unidade do gênero humano.

 

 



 

 

 

Sempre... Sempre... Sempre...

 

 

 

Sempre se cantarão carmanholas

enquanto forem mendigadas esmolas.

Sempre haverá distúrbio e comoção

enquanto for calada a Voz do Coração.

 

 

 

 

 

 

Páginas da Internet consultadas:

http://pt.wikipedia.org/wiki/La_Carmagnole

http://pt.wikipedia.org/wiki/Sans-culottes

http://pronountrouble2.wordpress.com/
tag/animated-gif/

http://animoteca.blogcindario.com/2006/11/
00600-newton-y-la-manzana-que-cae.html

http://www.quotableonline.com/
frases/MarieJeanAntoineCondorcet.html

http://fr.wikiquote.org/wiki/Nicolas_de_Condorcet

http://ns1.evene.info/citations/
mot.php?mot=condorcet

http://www.dico-citations.com/mots-cl%C3%
A9s-citations/condorcet-citations-liberte/

http://quotes.rationalmind.net/random.php?
show_author=Marquis%20de%20Condorcet

http://www.brainyquote.com/quotes/
authors/m/marquis_de_condorcet.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Iluminismo

http://www.physics.uiowa.edu/
~gpayne/ho/1D1particle.htm

http://www.unimep.br/phpg/editora/
revistaspdf/imp29art01.pdf

http://www.pucpr.br/eventos/educere/
educere2009/anais/pdf/2475_1176.pdf

http://liveunderconstruction.wordpress.com/

http://www.pucpr.br/eventos/educere/
educere2008/anais/pdf/782_782.pdf

http://www.cfh.ufsc.br/ethic@/et91art5Cristiane.pdf

http://maltez.info/biografia/condorcet.pdf

http://www.unioeste.br/travessias/EDUCACAO
/EDUCACAO%20E%20INSTRUCAO.pdf

http://ma-tematica.wikispaces.com/

http://informacaomusical.com/pensamentos.php

http://www.clube.spm.pt/arquivo/532

http://www.ponteiro.com.br/vf.php?p4=8491

http://www.amigosdolivro.com.br/
lermais_materias.php?cd_materias=6544

http://www.eselx.ipl.pt/ciencias-sociais/T
emas/direitos_mulher/

http://www.freemasons-freemasonry.com/rela
%C3%A7%C3%A3o_ma%C3%A7ons.html

http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/
condorcet-revolucao-francesa-451111.shtml

http://pt.wikipedia.org/wiki/Marie_
Jean_Antoine_Nicolas_Caritat

http://restolhando.blogspot.com/2009/07/
marques-de-condorcet-citacao.html

http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/marie-
jean-antoine-caritat-marques-de-condorcet

 

Música de fundo:

La Carmagnole

Fonte:

http://www.krafta.info/br/info.php

 

Observação:

La Carmagnole foi uma famosa canção francesa que exaltava os feitos dos sans-culottes (denominação dada pelos aristocratas aos artesãos, aos trabalhadores e até aos pequenos proprietários) em diversos episódios da Revolução Francesa (5 de maio de 1789 a 9 de novembro de 1799), ironizando o destino da arquiduquesa da Áustria e rainha consorte de França – Marie Antoinette Josèphe Jeanne de Habsbourg-Lorraine (1755 – 1793) – e dos que apoiavam a monarquia francesa. Carmagnole é um tipo de jaqueta curta que era utilizada pelas camadas populares de trabalhadores na França. Os autores de La Carmagnole não são conhecidos.

 

 

Sans-culotte

Quadro de um típico sans-culotte
por Louis-Léopold Boilly (1761 – 1845)