COMPENSAÇÃO CONSCIENTE
(Aconteceu na Rua Leopoldo Miguez)

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

O Rio de Janeiro continua lindo. É mesmo uma Cidade Maravilhosa. Sui generis. Mas, há certos fudelhufinhas de cagahouse que só acontecem aqui, como, por exemplo, este que vou contar, que está mais para fudevu de copacabanê do que para outra coisa.

 

Inverno. Copacabana. Posto Cinco. Era uma noite fria do começo setembro. Terça-feira. Por volta de umas 9 horas da noite, um velho de 70 anos saiu para jantar. Apesar de não estar chovendo e de ainda não ser tão tarde assim, havia, por causa do frio, pouco movimento na rua. Também pode ser que todo mundo estivesse esperando para ver a Griseldinha.

 

O velho, que não suportava novela, morava na Rua Leopoldo Miguez, e de lá até o restaurante Aipo e Aipim, que fica na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, era um pulinho, e ele sempre fazia este trajeto a pé.

 

O velho, todo encapotado por causa do frio, ia caminhando e mastigando idéias, quando, de repente, ainda na Leopoldo Miguez, foi imprensado na parede por dois garotos – um, com um revólver 38; o outro, com uma faca.

 

Tu perdeu velho. Cadê a grana? — falou o garoto que estava com a faca.

 

Mas, o que é isto? — perguntou o velho assustado.

 

Cara, fica quietinho. Não tá vendo que é um assalto? — falou o garoto da faca.

 

O.k. Não vou reagir. O que vocês querem.

 

Já disse, porra; se liga, cara. Passa já a bufunfa, velho filho-da-puta — falou o garoto da faca. O que estava com o 38, que parecia ser o mais velho, não dizia uma palavra. Só dava apoio.

 

O velho pegou a carteira e passou para ele.

 

Mas só isso? Quarenta pratas? — chiou o garoto da faca.

 

É; eu estava indo jantar — respondeu o velho.

 

Puta que pariu. Tu mora aqui em Copacabana e só tem isso?

 

Bem... murmurou o velho meneando a cabeça.

 

Me dá o casaco, o relógio e o celular. Rápido — ordenou o garoto da faca.

 

Mas tá frio? — reclamou o velho.

 

Dá logo, senão tu vai dançar.

 

Tá bem — disse o velho, entregando o casaco de lã e o relógio. Celular eu não tenho.

 

Tá justo. Agora o tênis.

 

O velho tirou o tênis e o deu para o garoto.

 

Agora a camisa e a calça — mandou o garoto da faca, dando uma risadinha.

 

Por favor, meu filho, a calça não. Eu estou sem cueca — apelou o velho.

 

Foda-se. Quem mandou? Tira logo e me dá disse o garoto da faca, sem dó nem piedade.

 

Fazia um frio do cão. E o pobre velho, nu, só de meia, tiritando dos pés à cabeça, mesmo assim, fraterno e cheio de amor em seu Coração, falou para os dois garotos: — Meus filhos: que os Deuses de nossos Corações não nos desamparem e se apiedem de nós. Eu por estar compensando o que precisava ser compensado; vocês por estarem fazendo cumprir o que precisava ser cumprido. LLuz, Vida e Amor para todos nós.

 

Quando o velho acabou de dizer isto, o garoto com o revólver, sem pestanejar, deu um tiro na barriga do velho. O velho não deu um ai. Desabou ali mesmo, morto, bem na fria calçada da Rua Leopoldo Miguez.

 

Quase imediatamente, o velho foi cercado por diversos Seres Espirituais que vieram ajudá-lo a suportar e a superar aquele transe doloroso de sua vida. Mas ele não quis ir logo embora com aqueles Seres de LLuz, e disse:

 

Irmãos, só um momentinho; eu já vou. Mas, antes, quero abençoar aqueles dois garotos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Música de fundo:

Don't Let Me Down
Composição: John Lennon
Interpretação: The Beatles

Fonte:

http://search.4shared.com/postDownload/FgkFUz
EB/The_Beatles_-_Dont_Let_Me_Down.html

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.clker.com/clipart-14849.html

http://peperonity.com/go/sites/
mview/khalid48/33061603/33062368