Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Compreendendo

 

 

Quando se consegue compreender,

as coisas deixam de aparentar ser;

passam a ser o que na realidade são,

diminuindo o nosso nível de ilusão.

 

Mas, todo discernimento é transitivo

e depende de o indivíduo ser ativo;

toda evidência é inerentemente parcial,

impermanente, subjetiva e temporal.

 

Logo, devemos evitar estacionar

em um bem-conformado patamar.

Esse é o interrogar-se da Peregrinação

de um Rosa+Cruz sempre–em–ação.

 

Ainda que possa não mudar o objetivo,

todo termo acabará perempto e relativo;

e ainda que se consiga chegar a conhecer,

nunca poderá ser integral o Eu–no–Ser.

 

Todos os argumentos teológicos

— teleológicos1 e escatológicos2

derivam da teimosa desaprovação

de que tudo está em remodelação.

 

Não há objetivos catastróficos;

não há contextos apocalípticos.

In Corde, estão o 999 e o 666.

A escolha é: vassalos ou Reis?

 

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Teleologia: qualquer doutrina que identifica a presença de metas, fins ou objetivos últimos e definitivos guiando e aguardando a sociedade, a Humanidade e a Natureza, considerando a finalidade como o princípio explicativo fundamental na organização e nas transformações de todos os seres-no-mundo inseridos na realidade. No aristotelismo, a Teleologia foi fundamentada na idéia de que tanto os múltiplos seres existentes, quanto o Universo como um todo, direcionam-se, em última instância, a uma finalidade que, por transcender a realidade material, é inalcançável de maneira plena ou permanente. Porém, se finalidade transcende a realidade material, como pode existir um finalidade no Kosmikós? No hegelianismo, o processo histórico da Humanidade – assim como o movimento de cada realidade particular – é explicável como um trajeto em direção a uma finalidade que, em última instância, é a realização plena e exeqüível do espírito humano. David Hume (1711 1776), um século antes do naturalista britânico Charles Robert Darwin (1809 1882), usou o criticismo clássico do Argumento Teleológico (argumento que se baseia em uma finalidade, uma causa final, um fim) para examinar essa questão. Alguns pontos do pensamento de Hume são:

a) Para o Argumento Teleológico funcionar, seria necessário que só nos pudéssemos aperceber da ordem quando essa ordem resulta do desígnio (criação). Mas nós vemos 'ordem' constantemente, resultante de processos presumivelmente sem consciência, como a geração e a vegetação. O desígnio (criação) apenas diz respeito a uma pequena parte da nossa experiência de 'ordem' e de 'objetivo'.

b) O Argumento do Desígnio, mesmo que funcionasse, não poderia suportar uma robusta fé em Deus. Tudo o que se pode esperar é a conclusão de que a configuração do Universo é o resultado de algum agente (ou agentes) moralmente ambíguo, possivelmente não–inteligente, cujos métodos possuam alguma semelhança com a criação humana.

c) Pelos próprios princípios do Argumento Teleológico, a ordem mental de Deus e a funcionalidade necessitam de explicação. Senão, podemos considerar a ordem do Universo inexplicável.

d) Muitas vezes, o que parece ser objetivo, onde parece que o objeto X tem o aspecto A por forma a assegurar o fim F, é melhor explicado pelo processo da filtragem: ou seja, o objeto X não existiria se não possuísse o aspecto A, e o fim F é apenas interessante para nós; uma projeção humana de objetivos em a Natureza. Esta explicação mecânica da Teleologia antecipou a seleção natural.

O Argumento Teleológico, por outro lado, também é bastante conhecido como Argumento de Design (que, na realidade, desde sempre dominou o pensamento judaico-cristão). O Argumento de Design declara que um Designer deve existir no Universo, e que todas as coisas vivas exibem marcas de um plano em sua ordem, consistência, unidade e modelo. Uma analogia típica disto é o exemplo do Relojoeiro, que foi dado pelo teólogo britânico William Paley (1743 – 1805). O Argumento (prova inequívoca da existência de Deus, para Paley, mas contestado abertamente por Darwin com a publicação de A Origem das Espécies) é como se segue:

Se você encontra um relógio no chão, você concluiria que ele foi desenhado, e não produto do acaso. Igualmente, quando nós olhamos a vida e o Universo, é natural concluir, segundo Paley, que há um Designer onipotente que deu perfeição e ordem para a vida operar. O olho é tipicamente usado como exemplo de design. É um maravilhoso desenvolvimento, e para que ele funcione, é necessário haver muitas partes individuais trabalhando juntas, que, se isoladas, não teriam finalidade alguma, servindo tão-só ao todo. É só na sua totalidade que elas exibem sua função. Resumidamente, o Argumento de Paley é como se segue:

a) Os artefatos humanos são produto de um plano inteligente.

b) O Universo se parece com os artefatos humanos.

c) Por conseguinte, o Universo é um produto de um plano inteligente.

d) Mas o Universo é complexo e gigantesco, comparado com os artefatos humanos.

e) Há provavelmente, pois, um Designer poderoso e imensamente inteligente que criou o Universo.

Agora, com estas rápidas informações, cada qual deve chegar às suas próprias conclusões. Eu já tive oportunidade de especular, de escrever e de declarar diversas vezes que sou um Místico Rosacruz Ateu. Se você quiser ler, de minha autoria, o poema Ateísmo Místico, dirija-se a:

http://paxprofundis.org/
livros/ateismomistico/ateismo.html

2. Escatologia: parte da Teologia e da Filosofia que trata dos últimos eventos na história do mundo ou do destino final do gênero humano, comumente denominado como fim do mundo. Em muitas religiões, o fim do mundo é um evento futuro profetizado no texto sagrado ou no folclore. De forma ampla, a Escatologia costuma se relacionar com conceitos tais como o messianismo (movimento ou sistema ideológico que prega a salvação da Humanidade através da entronização de um messias que pode ser um indivíduo, uma classe ou uma idéia), o pós-vida e a existência da alma, podendo apresentar-se em discurso profético ou em contexto apocalíptico. Enquanto permitirmos nos iludir...

 

 

Observação:

A animação Compreendendo foi produzida a partir dos belíssimos trabalhos de Javier López Barbosa disponibilizados na Página:

http://www.javierlopezbarbosa.com/
galleryC.html

 

Páginas da Internet consultadas:

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Escatologia

http://www.logoshp.hpg.ig.com.br/
APOteleo.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/David_Hume

http://pt.wikipedia.org/
wiki/teleologia

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Argumento_Teleol%C3%B3gico

 

Fundo musical:

Concierto de Aranjuez (Joaquin Rodrigo)

Fonte:

http://www.geocities.com/
SoHo/Square/6365/windchimes.html