Comenius

Comenius

 

 

 

 

O homem nada recebe do exterior; só precisa expandir e desenvolver o que já traz implícito em si, fazendo desabrochar a natureza de cada coisa.

 

Comenius

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Trabalho

 

 

 

A primeira vez que entrei em contato com o pensamento de Comenius foi quando fiz o mestrado em Educação, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1980, no Rio de Janeiro. De certa forma, resgatando este aprendizado, hoje, quase trinta anos depois, estou divulgando uma pequena coletânea de pensamentos deste professor, teólogo, cientista e escritor checo, festejado como fundador da Didática Moderna, que, já em seu tempo, concebeu uma teoria humanista e espiritualista da formação do homem, que resultou em propostas pedagógicas hoje consagradas. Todos os pesquisadores são unânimes em apontar a Didacta Magna como sendo sua obra-prima e sua maior contribuição para o pensamento educacional. A Didacta Magna (Tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a Todos) é, segundo Comenius, um processo seguro e excelente de instituir, em todas as comunidades de qualquer reino cristão, cidades e aldeias, em escolas tais que toda a juventude de um e de outro sexo, sem excetuar ninguém em arte alguma, possa ser formada nos estudos, educada nos bons costumes e impregnada de piedade, e, desta maneira, possa ser, nos anos da puberdade, instruída em tudo o que diz respeito à vida presente e à vida futura, com economia de tempo e de fadiga, com agrado e com solidez.

 

Apesar de reconhecidamente Comenius ter estado vinculado ao Movimento Rosacruz de sua época, alguns de seus pensamentos são apresentados com uma roupagem teológica de vertente católica. Este aspecto religioso-teológico de alguns de seus pensamentos é apenas exterior, para consumo público, por assim dizer, pois, na época em que viveu, se divulgasse suas convicções como hoje podemos todos divulgar (e até abusar), no mínimo, Comenius teria que prestar contas de suas idéias à arrogante, intolerante, opressora, arbitrária, autoritária e calcinatória religião que dava as cartas e fazia as regras escolástico-fideístas1 do seu tempo, e quem não as seguisse poderia acabar pagando com a própria vida. Realmente, a Idade Média (período da história mundial, especialmente européia, que, por convenção, se estende da queda do Império Romano, no século V, até a queda de Constantinopla, em 1453) foi um dos períodos mais negros da história da Humanidade, ainda que, posteriormente, muitas invenções e descobertas da modernidade e da contemporaneidade já estivessem incubadas no pensamento medieval. Isto que acabei de argumentar está perfeitamente claro no seguinte excerto comeniano: Três são as espécies de vida para cada um de nós e três são as moradas: o útero materno, a Terra e o céu. Da primeira morada, se entra na segunda, pelo nascimento. Da segunda, se entra na terceira, pela morte e pela ressurreição. Da terceira, nunca se sai, por toda a eternidade. Na primeira, recebemos apenas a vida, com movimentos e sentidos incipientes; na segunda, recebemos a vida, o movimento e os sentidos com os primórdios do intelecto; na terceira, a plenitude absoluta de tudo. (Grifos meus). O fragmento a seguir reforça o argumento: Entendo por Religião a interna veneração com que o espírito humano se liga e se vincula à Divindade Suprema. Todavia, se substituirmos Divindade Suprema por Deus de nosso Coração...

 

Mas, pergunto: são ou não são de um Iniciado as quatro afirmações a seguir, de Comenius, com que encerro o objetivo deste trabalho? O desejo de tornar melhores as coisas dos homens, públicas e particulares, estimula-me de tal maneira, que não posso deixar envolto no silêncio aquilo que um oculto instinto me sugere constantemente. E esta? Uma intuição divina me sugeriu... E, finalmente, esta é ou não é a confissão de um Iniciado? O meu Cristo sabe que tenho um Coração tão simples que não há para mim diferença alguma entre ensinar e ser ensinado, advertir e ser advertido, entre ser mestre dos mestres (se me é lícito falar assim) e discípulo dos discípulos (se acaso posso esperar algum progresso). Verdadeiramente, cada homem é para o seu Deus um paraíso de delícias... (Grifos meus).

 

Não há, efetivamente, Iniciado (de qualquer fraternidade mística) ou Rosacruz, que foi o caso de Comenius, que não ensine e que não aprenda humildemente com quem está sendo ensinado, que, ao advertir, não aceite com simplicidade uma advertência, e que não seja, se for o caso, um Mestre-neófito entre neófitos, que um dia, se tiverem mérito para ser, serão Mestres. Todos os professores sabem que aprendem mais ensinando do que acumulando saberes não partilhados.

 

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Jan Amos Komenský (em português Comenius ou Comênio), nascido em 28 de março de 1592 e falecido em 15 de novembro de 1670, foi um professor, teólogo, cientista e escritor checo, sendo considerado o fundador da Didática Moderna, na qual enfatiza a relação ensino/aprendizagem, levando em conta haver diferença entre o ensinar e o aprender. Ainda estudante, começou a escrever Problemata Miscelânea e Syloge Questiorum Controversum, suas as primeiras obras. Um fato insólito da vida de Comenius foi seu encontro, na Suécia, com René Descartes, também Rosacruz, que lá vivia sob a proteção da Rainha Cristina.

 

Comenius propôs um sistema articulado de ensino, reconhecendo o igual direito de todos os homens ao saber. O maior educador e pedagogo do século XVII produziu obra fecunda e sistemática, cujo principal livro é a Didática Magna. Suas idéias podem ser resumidas em cinco propostas: 1ª) educação realista e permanente; 2ª) método pedagógico rápido, econômico e sem fadiga; 3ª) ensinamento a partir de experiências cotidianas; 4ª) conhecimento de todas as ciências e de todas as artes; e 5ª) ensino unificado.

 

Deixou mais de 200 obras, sendo que as principais são: Labirinto do Mundo (1623); Didática Checa (1627); Guia da Escola Materna (1630); Porta Aberta das Línguas (1631); Didacta Magna (versão latina da Didática Checa) (1631); Novíssimo Método das Línguas (1647); Mundo Ilustrado (1651); Opera Didactica Omnia ab Anno 1627 ad 1657 (1657); Consulta Universal Sobre o Melhoramento dos Negócios Humanos (1657);
O Anjo da Paz (1667); e A Única Coisa Necessária (1668).

 

Comenius morreu em 15 de novembro de 1670, em Amsterdã, famoso e prestigiado, tendo sempre lutado pela fraternidade entre os povos e as igrejas. Foi enterrado em Naarden, onde foi construído um mausoléu. Em 1956, a Conferência Internacional da UNESCO em Nova Delhi (Índia) decidiu publicar todas as suas obras, e o apontou como um dos primeiros propagadores das idéias que inspiraram – quase 300 anos depois – a fundação da própria UNESCO.

 

 

 

 

Ensinamentos Didáticos Comenianos

 

 

 

Comenius

 

 

É lícito, foi lícito e sempre será lícito procurar as coisas grandes. E nunca será em vão o trabalho começado em nome do Senhor.

 

Propostas educacionais de Comenius: educação realista e permanente; método pedagógico rápido, econômico e sem fadiga; ensinamento a partir de experiências quotidianas; conhecimento de todas as ciências e de todas as artes; e ensino unificado.

 

Ensinar tudo a todos.

 

Resumo do método de Comenius: tudo o que se deve saber deve ser ensinado; qualquer coisa que se ensine deverá ser ensinada em sua aplicação prática, ou seja, no seu uso definido; deve-se ensinar de maneira direta e clara; deve-se ensinar a verdadeira natureza das coisas, partindo de suas causas; deve-se explicar primeiro os princípios gerais; deve-se ensinar as coisas em seu devido tempo; não se deve abandonar nenhum assunto até sua perfeita compreensão; deve-se dar a devida importância às diferenças que existem entre as coisas.

 

Justificativa do método de Comenius: 1º) o fim é o mesmo: sabedoria, moral e perfeição; 2º) todos são dotados da mesma natureza humana, apesar de terem inteligências diversas; 3º) a diversidade das inteligências é tão-somente um excesso ou uma deficiência da harmonia natural; e 4º) o melhor momento para remediar excessos e deficiências acontece quando as inteligências são novas.

 

Projeto Pedagógico e organização escolar de Comenius: 1º) que toda a juventude seja educada; 2º) que seja educada em todas as coisas que possam tornar o homem sábio, honesto e piedoso; 3º) que a preparação para a vida seja concluída antes da idade adulta; 4º) que se desenvolva sem severidade e sem pancadas, sem qualquer coarctação, com a máxima delicadeza e suavidade, quase de modo espontâneo (assim como um corpo vivo aumenta lentamente sua estrutura, sem que seja preciso esticar e distender seus membros, visto que alimentado com prudência, assistido e exercitado, o corpo adquire robustez); da mesma forma, os alimentos, os nutrientes, os exercícios se convertam no espírito em sabedoria, virtude e piedade; 5º) que todos sejam educados para uma cultura não vistosa, mas verdadeira, não superficial mas sólida, de tal sorte que o homem, como animal racional, seja guiado por sua própria razão e não pela de outrem, e se habitue não só a ler e a entender nos livros a opiniões alheias, mas a penetrar, por si mesmo, na raiz das coisas e delas extrair autêntico conhecimento e utilidade. A mesma solidez é necessária para a moral e a piedade; e 6º) que essa educação não seja cansativa, mas facílima, e que aos exercícios de classe não sejam dedicadas mais do que quatro horas, de tal modo que um só preceptor possa ensinar até cem alunos.

 

Tudo o que deve ser aprendido deve ser disposto segundo a idade, para que nunca se ensine nada que não possa ser compreendido.

 

Os exemplos devem preceder as regras.

 

Deve-se começar a formação muito cedo, pois não se deve passar a vida a aprender, mas a fazer.

 

Age idioticamente aquele que pretende ensinar aos alunos não quanto eles podem aprender, mas quanto ele próprio deseja.

 

Quanto maior é o número de problemas em que pensamos, maior é o perigo de não compreendermos nenhum.

 

Objetivo fundamental da obra de Comenius: reforma radical do conhecimento humano e da educação, unidos e sistematizados em uma ciência universal.

 

Negar oportunidades educacionais é, antes, ofender a Deus do que aos homens.

 

Um melhor conhecimento de si mesmo e uma melhor capacidade de autocrítica levam a uma melhor vida social, assim como deve haver a solidez moral que pode ser conseguida por meio da educação.

 

A didática é, ao mesmo tempo, processo e tratado. É tanto o ato de ensinar como a arte de ensinar.

 

A razão humana deve assumir uma atitude de pesquisa diante do Universo com uma visão integrada das coisas.

 

A aprendizagem inicia pelos sentidos. As impressões sensoriais obtidas e internalizadas através da experiência mais tarde serão interpretadas pela razão.

 

Compreensão
Retenção
Experimentação
Erudição
Virtude
Religião
Intelecto
Vontade
Memória

 

Se queremos igrejas e Estados bem ordenados e florescentes e boas administrações, primeiro, ordenemos as escolas e façamo-las florescer, a fim de que sejam verdadeiras e vivas oficinas de homens, e viveiros eclesiásticos, políticos e econômicos. Assim, facilmente atingiremos nosso objetivo; doutro modo nunca o atingiremos.

 

Quem ingressar na escola deve ser perseverante; para qualquer estudo encetado, é preciso predispor as mentes dos alunos; devem ser afastados dos estudantes todos os tipos de obstáculos.

 

Há uma grande confusão que deriva de se querer abarrotar as mentes dos alunos com muitos conhecimentos ao mesmo tempo.

 

Erram os instrutores que querem levar a cabo a formação da juventude ditando muitas coisas e obrigando a decorá-las sem uma cuidadosa explicação. Erram também os que querem explicar mas não conhecem o método, não sabem de que modo abrir lentamente a raiz para nela inserir o enxerto das ciências. Deste modo, estragam os alunos como alguém que, para cortar uma planta, usasse um bastão ou um bate-estacas em vez de uma faca. Por isso: antes se forme o entendimento das coisas, depois a memória e, em terceiro lugar, a língua e as mãos.

 

Os docentes devem procurar todos os caminhos para abrir o intelecto e usá-los com sabedoria.

 

Que qualquer língua, ciência ou arte seja ensinada no início apenas por meio de rudimentos simples, de modo que delas se tenha uma idéia geral para depois se aprimorar o estudo por meio de regras e exemplos, e, depois, por meio de sistemas completos, incluindo as irregularidades; finalmente, se necessário, que sejam incluídos comentários. Na verdade, quem compreende uma coisa desde seus fundamentos não precisa de comentários; aliás, pouco depois poderá fazê-los por conta própria.

 

Todas as ações educacionais exigem o momento oportuno, e não só o momento, mas os graus, e não só os graus, mas uma série de inumeráveis graus.

 

É um absurdo que os mestres não distribuam os estudos, para si e para os alunos, de tal modo que não só uns se sucedam naturalmente aos outros, mas que cada matéria seja completada em dado limite de tempo. Se não se estabelecem muito bem os fins, os meios para atingir esses fins e a ordem dos meios, será fácil esquecer ou inverter alguma coisa, e todo o estudo, de algum modo, será prejudicado. Conclui-se, pois, que: 1º) todas as matérias de estudo devem ser divididas em aulas, de tal modo que as primeiras sempre aplanem e iluminem o caminho das seguintes. 2º) O tempo deve ser bem distribuído para que, a cada ano, mês, dia, hora, seja atribuída uma tarefa particular. 3º) A medida do tempo e dos trabalhos deve ser rigidamente observada, para que nada seja esquecido ou invertido.

 

É prejudicial mandar as crianças para a escola a intervalos de meses e de anos, distraindo-as com outras preocupações. O preceptor também erra se inicia, com o aluno, ora uma coisa, ora outra, sem nunca se aprofundar em nada com seriedade. Também erra se a cada hora não estabelece nem leva a termo nada de definitivo, de tal modo que o progresso seja cada vez mais notável. Onde falta esse calor tudo se esfria; não por acaso se diz que o ferro deve ser batido enquanto está quente; se esfriar, batê-lo com o martelo será em vão, sendo necessário levá-lo de volta ao fogo com prejuízo inevitável, seja de tempo, seja de ferro. Porque a cada vez que se volta ao fogo, perde-se um pouco do material.

 

Primordialmente, as Sagradas Escrituras nos ensinam que não há caminho mais eficaz para corrigir a corrupção humana do que a correta educação da juventude.

 

Se for preciso curar a corrupção do gênero humano, é preciso fazê-lo, sobretudo, por meio de uma atenta e prudente educação da juventude.

 

Educar os jovens com sabedoria significa, ademais, prover a que sua alma seja preservada da corrupção do mundo; favorecer para que germinem, com grande eficácia, as sementes de honestidade que neles se encontram, por meio de ensinamentos e exemplos castos e assíduos.

 

Grande parte da juventude cresce sem a devida educação, como uma selva que ninguém cuida de plantar, irrigar, podar e fazer crescer bem. Por esse motivo, hábitos e costumes selvagens e indômitos acabaram prevalecendo em todo o mundo.

 

O que somos, fazemos, pensamos, dizemos, inventamos, conhecemos e possuímos é como uma escada com a qual, subindo sempre mais, alcançamos degraus mais altos, mas nunca chegamos ao topo.

 

A caridade manda que o que Deus manifestou para salvação do gênero humano (assim fala o eminente Lubin da sua Didática), se não esconda dos mortais, mas se manifeste a todo o mundo. Efetivamente, é da natureza de todos os bens (continua o mesmo Lubin) que sejam comunicados a todos; e quanto mais é a riqueza e se põe em comum, tanto melhor é e tanto mais cabe a todos.

 

Quem ama o poder e a riqueza não encontrará onde saciar sua fome, mesmo que possua todo o Universo. Quem almeja demasiadas honras não ficará satisfeito nem que seja adorado por todo o Universo. Quem se entrega aos prazeres, por mais que os sentidos se engolfem em rios de delícias, tudo acaba se consumindo, e o desejo se volta de um objeto para outro. Quem aplica o espírito no estudo da sabedoria nunca encontrará o fim: quanto mais souber, tato mais compreenderá que falta muito por saber.

 

Três são as espécies de vida para cada um de nós e três são as moradas: o útero materno, a Terra e o céu. Da primeira morada, se entra na segunda pelo nascimento. Da segunda, se entra na terceira pela morte e pela ressurreição. Da terceira, nunca se sai, por toda a eternidade. Na primeira, recebemos apenas a vida, com movimentos e sentidos incipientes; na segunda, recebemos a vida, o movimento e os sentidos com os primórdios do intelecto; na terceira, a plenitude absoluta de tudo. (Grifos meus).

 

É também uma lei de humanidade que, se se conhece qualquer meio de ir em auxílio do próximo para o tirar das suas dificuldades, não se deve hesitar; sobretudo quando se trata, não de um homem só, mas de muitos, e não apenas de muitos homens, mas de muitas cidades, províncias e reinos e, digo até, do gênero humano inteiro, como é o caso presente.

 

Entendo por Instrução todo conhecimento das ciosas, das artes e das línguas; por Costumes, não só a correção do comportamento externo, mas o equilíbrio interno e externo dos movimentos da alma; por Religião, a interna veneração com que o espírito humano se liga e se vincula à Divindade Suprema.

 

Quem prefere as coisas agradáveis às saudáveis é tolo. É ainda mais tolo quem, desejando ser homem, cuide mais dos ornamentos do homem que da essência.

 

Todo homem nasceu com a capacidade de adquirir a ciência das coisas, antes de mais nada, porque é imagem de Deus.

 

O homem nada recebe do exterior; só precisa expandir e desenvolver o que já traz implícito em si, fazendo desabrochar a natureza de cada coisa.

 

No homem, é inerente o desejo de saber e também de enfrentar (e não apenas de suportar) os esforços que isto implica. Tal já acontece na primeira infância e nos acompanha por toda vida.

 

Os exemplos dos autodidatas mostram com muita clareza que o homem, com a orientação da Natureza, tudo pode alcançar.

 

Nosso cérebro, forja de pensamentos, é com justiça comparado à cera, sobre a qual são impressos os selos ou com a qual se moldam estatuetas. De fato, assim como a cera, que se adaptando a todas as formas, pode ser plasmada e replasmada de todas as maneiras, também o cérebro, abrangendo as imagens de todas as coisas, recebe em si o que o Universo contém.

 

Como somos cegos não reconhecemos que estão em nós as raízes de toda a harmonia.

 

Nos movimentos da alma, a roda principal é a vontade; os pesos que a fazem se mover são os desejos e os afetos que a fazem pender para um lado ou para outro. O escapo, que aumenta e diminui o movimento, é a razão que mede e determina o que deve acolher ou do que deve fugir, onde e em que medida. Os outros movimentos da alma são como as rodas menores que seguem a principal. Se aos desejos e aos afetos não for atribuído um peso excessivamente grande, e se o escapo, que é a razão, aumentar ou diminuir os movimentos do discernimento, só poderá se seguir a harmonia e o acordo perfeito nas virtudes, ou seja, um equilíbrio conveniente entre as ações e as paixões.

 

 

 

 

É coisa torpe e nefanda, sinal evidente de ingratidão, insistir na degeneração e esquecer a regeneração!

 

A Natureza dá as sementes da ciência, da honestidade e da religião, mas não dá a ciência, a virtude e a religião; estas são adquiridas apenas com a prece, com o estudo e com o esforço pessoal.

 

A educação é necessária para todos.

 

O que são os ricos sem Sabedoria, senão porcos engordados com farelo? Os pobres sem o conhecimento das coisas o que são, senão burros de carga? Um homem de bom aspecto mas ignorante o que é, senão um papagaio de bela plumagem? Ou então, como disse Diógenes Laércio, uma bainha de ouro com um punhal de chumbo? A quem um dia caberá comandar outros, como reis, príncipes, magistrados, pastores e doutores de igreja, a estes, mais do que a ninguém, é necessária a educação profunda da Sabedoria. Assim como os guias precisam ter olhos treinados e os intérpretes a língua, a trompa precisa ser capaz de tocar e a espada de cortar. Do mesmo modo, os súditos precisam ser iluminados, para que saibam obedecer com prudência os que comandam com sabedoria; não por obrigações e com servil obséquio, mas de bom grado e por amor à ordem. Isto porque uma criatura racional deve ser guiada pela razão, e não por meio de gritos, cárcere, pancadas; e aqueles que agem de modo diferente ofendem a Deus, que neles também apôs sua imagem. Lamentavelmente, os assuntos humanos estarão cheios – como estão – de violência e descontentamento. Fique estabelecido, pois, que a todos os que nasceram homens a educação é necessária, para que sejam homens e não animais ferozes, não animais brutos, não paus inúteis. Segue-se que alguém só estará acima dos outros se for mais preparado do que os outros.

 

No homem é sólido e dourado apenas e o que foi absorvido na primeira idade.

 

Para orientar e guiar as crianças, são mais úteis os exemplos do que as regras: se algo é ensinado a uma criança, pouco fica gravado, mas se for mostrado o que os outros fazem, ela logo os imitará, sem precisar de ordens.

 

Se quisermos servir a Deus, ao próximo e nós mesmos, devemos ter piedade em relação ao próximo e ciência em relação a nós mesmos.

 

Quem se vê a si mesmo e os outros cobertos de infinitas manchas, e sente já que as suas úlceras e as dos outros supuram cada vez mais, e tem o nariz cheio do terrível odor que delas sai; quem se vê a si e aos outros estar no meio de perigosíssimas voragens e despenhadeiros a girar entre laços tensos; mais ainda, quem se vê conduzido por precipícios ininterruptos, e que este e aquele se precipitaram já, é difícil que não se arrepie, que não se sinta aterrado, que não morra de dor.

 

A maior parte dos homens é presa de coisas terrenas e passageiras, e até da iminentíssima morte... No lugar do amor mútuo e da mansidão, estão ódios recíprocos, inimizades, guerras e carnificinas. No lugar da justiça, está a iniqüidade, a injustiça, as opressões, os furtos e as rapinas. No lugar da castidade, está a impureza e a obscenidade dos pensamentos, das palavras e das ações. No lugar da simplicidade e da veracidade, estão as mentiras, as fraudes e os enganos. No lugar da humildade, está o fausto e a soberba de uns para com os outros.

 

Sob o Sol não há nenhum outro caminho mais eficaz para corrigir as corrupções humanas do que a reta educação da juventude... 'Instrui o jovem no caminho que deve seguir, e ele não se afastará dele, mesmo quando for velho.' (Provérbios, XXII, 6, apud Comenius).

 

Se se devem aplicar remédios às corruptelas do gênero humano, importa fazê-lo de modo especial por meio de uma educação sensata e prudente da juventude. Importa fazer precisamente como quem quer renovar um pomar, o qual tem necessariamente de plantar novas arvorezinhas e de as tratar com muito cuidado, para que cresçam belas e grandes. Com efeito, para transplantar árvores velhas e nelas infundir fecundidade, não basta a força da arte. Portanto, as mentes simples e não ainda ocupadas e estragadas por vãos preconceitos e costumes mundanos são as mais aptas para amar a Deus.

 

Educar providamente a juventude é providenciar para que os espíritos dos jovens sejam preservados das corruptelas do mundo e para que as sementes de honestidade sejam neles lançadas por meio de admoestações e de exemplos castos e contínuos, estimuladas para que germinem felizmente, e, por fim, providenciar para que as suas mentes sejam imbuídas de um verdadeiro conhecimento de Deus, de si mesmas e da multiplicidade das coisas, de tal forma que se habituem a ver a luz à Luz de Deus, e a amar e a venerar, acima de tudo, o Pai das Luzes.

 

A arte de ensinar não exige mais do que uma disposição tecnicamente bem feita do tempo, das coisas e do método.

 

Que tesouro de instrução conseguirás, se a cada hora aprenderes, nem que seja um único teorema de uma ciência, uma única regra de aplicação técnica, uma narrativa ou uma máxima elegante (coisas que, claramente, não requerem esforço).

 

As coisas todas só atraem a juventude quando adequadas à sua idade e quando as explicações são muito claras e intercaladas com algumas amenidades ou com assuntos menos sérios, mas sempre aprazíveis. É isso que significa unir o útil ao agradável. [Se é assim, e como minha mãe era tripeira, posso, aqui, contar uma amenidade. Conta-se que em um shopping center do Porto, terra natal de minha mãe, lá uma tarde acabou a luz. Dez portugueses ficaram presos no elevador e trinta nas escadas rolantes!!!]

 

Facilitará o estudo do aluno quem lhe mostrar como usar na vida cotidiana aquilo que está sendo ensinado.2

 

A escola tem a missão de ocupar os jovens só com coisas sérias.

 

Por que vagar entre opiniões diferentes sobre as coisas quando se busca conhecer o que são as coisas realmente?

 

O homem instruído com fundamento é como uma árvore que se sustenta com as próprias raízes e a linfa; por isto, estará sempre vigoroso (aliás, fica mais robusto a cada dia que passa) verdejante, e produz flores e frutos.

 

Tudo o que se ensina deve ser consolidado por razões que não permitam dúvidas nem esquecimentos.

 

De tudo que se aprende, é preciso buscar logo a utilidade, para não se aprender nada de inútil.3

 

A instrução nunca chegará a ser realmente sólida se, paralelamente, não se instituírem repetições e exercícios, freqüentes e bem feitos.

 

É melhor ter no bolso uma moeda de ouro do que cem de chumbo.

 

Devem ser banidos das escolas todos os autores que ensinam só palavras, sem dar a conhecer nada de útil.4

 

O juízo correto acerca das coisas é o verdadeiro fundamento de todas as virtudes.5

 

O triste vício do egoísmo é estritamente relacionado com a natureza corrupta que faz desejar apenas o proveito próprio, sem atentar para as necessidades dos outros.6

 

É preciso manter os filhos longe das más companhias para que não sejam por elas corrompidos.

 

Antes de mais nada, acredito que todos concordam que a disciplina deve ser exercida contra quem erra, mas não porque errou (o que foi feito, feito está), mas para que não erre mais. Portanto, deve ser exercida sem paixões, sem ira, sem ódio, mas, com simplicidade e sinceridade, de tal modo que mesmo aquele a quem for aplicada a disciplina perceba que é para seu bem e que é ditada pelo afeto paterno de quem tem a responsabilidade de guiá-lo; assim, poderá percebê-la com o mesmo espírito com que se toma um remédio amargo receitado pelo médico.

 

Quem ignora o seu próprio mal dele não cuida; quem não sente dor não geme; quem não percebe o perigo não estremece nem quando está sobre o abismo ou sobre o precipício. Assim, não é de espantar que não se preocupe aquele que não nota as desordens que afligem o gênero humano.

 

Nada é mais difícil do que perder os hábitos adquiridos. O hábito de fato é uma segunda natureza, e tu podes expulsar a natureza à força, mas ela sempre retorna. É lógico que nada é mais difícil do que reeducar um homem que recebeu má educação; depois que a árvore cresceu – seja ela alta ou baixa, com ramos esticados ou curvos – uma vez adulta, assim permanecerá e não se deixará modificar.7

 

Se quisermos igrejas, famílias e Estados bem organizados e florescentes, antes de mais nada, ponhamos em ordem as escolas, fazendo-as florescer para que se tornem realmente forjas de homens e viveiros de homens de igreja, de família e de Estado; só assim alcançaremos nossos fins, e não de outro modo.

 

Quem nos deu a vontade nos fará atingir o objetivo: devemos pedir à Misericórdia Divina e esperar com confiança.

 

Todos os que têm a tarefa de formar homens devem educá-los de tal forma que vivam conscientes de sua dignidade e de sua excelência: que procurem, pois, orientar seus esforços para este supremo fim.

 

Tudo existe em função do homem, inclusive o tempo. Por isto, não será concedido ao mundo uma duração maior do que a necessária para completar o número dos eleitos.8

 

O número dos maus é infinitamente maior que o dos bons.9

 

Assim como é certo que o tempo transcorrido no útero materno é uma preparação para a vida no corpo, também o tempo transcorrido no corpo é preparação para a vida que dará continuidade à vida presente e durará por toda a eternidade. Bem-aventurado aquele que sai do útero materno com os membros bem formados; mil vezes bem-aventurados é aquele que deixar esta vida com a alma limpa.

 

Se fosse concedido ao homem mil anos, durante os quais fosse adquirindo sempre novos conhecimentos, e se ele passasse de um conhecimento a outro, ainda assim teria novos objetos para conhecer, tal é a inexaurível capacidade da mente humana. O conhecimento é como um abismo sem-termo.

 

 

 

 

Devemos admirar o espelho da Sabedoria de Deus, que obrou de tal modo que a massa não muito grande do cérebro fosse suficiente para receber milhares e milhares de imagens.

 

Abstenhamo-nos de limitar a graça de Deus, pois Ele está pronto a derramá-la sobre nós com prodigalidade.

 

Ninguém cuide realmente de ser se não tiver aprendido a se comportar como homem, ou seja, se não tiver sido formado nas coisas que fazem o homem.

 

A educação deverá ser iniciada muito cedo, porque, na vida, não se deve só aprender por aprender; deve-se aprender a agir. Convém, pois, que sejamos instruídos o mais depressa possível sobre o que se deve fazer na vida, para que não nos aconteça ter de abandoná-la antes de termos aprendido a nos comportar.

 

O homem – que por toda a vida tem infinitas coisas para conhecer, experimentar e fazer – deve abrir a tempo os seus sentidos à contemplação das coisas.

 

Para que o homem possa ser formado para a Humanidade, Deus lhe concedeu os anos da juventude, durante os quais é incapaz de fazer outras coisas, tendo condições apenas de se formar.

 

É muito perigoso deixar de infundir no homem, desde o berço, regras salutares de vida.

 

Em primeiro lugar, todo o homem nasceu para o mesmo fim principal: o de ser homem, ou seja, criatura racional senhora das outras criaturas, imagem manifesta de seu criador. Portanto, todos, quando forem devidamente instruídos nas letras, nas virtudes e na religião, devem se tornar capazes de levar a vida presente de modo útil e de se preparar dignamente para a vida futura.

 

A essência da alma é composta por três faculdades (que correspondem à Trindade incriada): intelecto, vontade e memória. O intelecto aplica-se à observação da diversidade dos objetos (até as pequeníssimas minúcias). A vontade provê a opção, ou seja, a escolha das coisas profícuas e a rejeição das coisas nocivas. A memória retém, para uso futuro, as coisas que antes ocuparam o intelecto e a vontade, recordando à alma a sua dependência de Deus e suas missões; sob esse aspecto, chama-se também consciência. Para que estas faculdades possam cumprir bem as suas tarefas, é necessário instruí-las nas coisas que iluminam o intelecto, dirigem a vontade e estimulam a consciência, para que o intelecto conheça com agudeza, a vontade escolha sem erros e a consciência anseie por consagrar tudo a Deus. Portanto, assim como essas faculdades (intelecto, vontade e consciência), por constituírem uma só alma, não podem ser separadas, também os três ornamentos da alma (instrução, virtude e piedade) não devem ser separados.

 

Vãos desejos: os dias passados não voltarão. Nenhum de nós, já entrado em anos, voltará a ser jovem para poder aprender a levar a vida de modo mais idôneo. Só nos resta uma coisa a fazer: ajudar nossos pósteros na medida do possível, mostrando os erros em que nossos preceptores nos lançaram e indicando o caminho para evitá-los.

 

Não se faz um mercúrio com qualquer madeira, dizem alguns; eu respondo que de qualquer homem se faz um homem, desde que não haja corrupção.

 

Deus quis nos conceder apenas o tempo que considerou suficiente à preparação de uma vida melhor. Para este fim, a vida é suficientemente longa, se soubermos dela fazer bom uso.

 

Quem trabalha com destreza e paixão, sabendo o que, onde, quando e como é necessário fazer e deixar de fazer, não terá desenganos. No entanto, é verdade que às vezes até os mais experientes não obtêm resultados (pois para o homem é quase impossível realizar tudo com tal precisão que não lhe escape algum erro de um modo ou de outro), mas aqui não ocupamos da perícia ou do acaso, porém da arte, ou seja, do modo como é possível prevenir os acidentes.

 

A criança não pode ser instruída enquanto é pequena demais, porque a raiz da inteligência ainda está escondida. Instruir o homem na velhice é tardio demais, pois a inteligência e a memória começam a arrefecer; na idade madura, isto é difícil porque é trabalhoso reunir as forças da mente, que estão dispersas nas várias ocupações. Portanto, isto deve ser feito na juventude, quando o vigor da vida e da mente estão em ascensão; neste momento, todas as faculdades estão crescendo e lançando raízes profundas.

 

Se, em qualquer parte do mundo, há alguém que possa dar ou descobrir algum bom conselho, ou que possa, à força de gemidos, de suspiros, de prantos e de lamentações, obter de Deus a graça de ver qual a melhor maneira possível de conduzir a juventude, não deve estar calado, mas aconselhar, pensar e pedir. 'Maldito aquele que faz um cego errar no caminho' (Deuteronômio, XXVII, 18). Maldito, portanto, também aquele que, podendo reconduzir o cego ao bom caminho, o não reconduz. 'Ai daquele que escandalizar um só destes pequeninos' (Mateus, XVIII, 6 e 7). Portanto, ai também daquele que, podendo afastar os escândalos, os não afasta. 'Deus não quer que se abandone o jumento ou o boi que anda errante pelas selvas e pelos campos ou que caiu debaixo da carga, mas, quer que se socorra, ainda que se não saiba de quem é, ainda que se saiba que é de um inimigo nosso' (Êxodo, II, 3, 4; Deuteronômio, XXII, 1).

 

O fim último do homem está fora desta vida... Esta vida não é senão uma preparação para a Vida Eterna... Os graus da preparação para a eternidade são três: conhecermo-nos a nós mesmos (e conosco todas as coisas), governarmo-nos e dirigirmo-nos para Deus.

 

Toda a juventude, de ambos os sexos, deve ser enviada às escolas... Nas escolas, a formação deve ser universal.

 

O fundamento das reformas escolares é a ordem em tudo... A ordem perfeita da escola deve ir buscar-se em a Natureza... Para uma educação perfeita do homem todo, requer-se todo o tempo da juventude, ou seja, 24 anos.

 

Os anos da idade ascendente sevem ser subdivididos em quatro partes distintas: infância, puerícia, adolescência e juventude, atribuindo a cada uma destas partes seis anos e uma escola peculiar, de modo que: 1º) O regaço materno seja a escola da infância; 2º) A escola primária ('ludus literarius') ou escola pública de língua vernácula seja a escola da puerícia; 3º) A escola de latim ou o ginásio seja a escola da adolescência; e 4º) A Academia e as viagens sejam a escola da juventude.

 

Exortação aos pais: Vós, caríssimos pais, a cuja fé Deus confiou preciosíssimos tesouros – as suas pequeninas imagens vivas – educai os vossos filhos no temor de Deus, preparando, assim, dignamente, o caminho para aquela cultura mais universal.

 

Exortação aos formadores da juventude: Vós, formadores da juventude, que com fé consagrais os vossos esforços a plantar e a regar as pequeninas plantas do paraíso, fazei sérios votos para que estas pequeninas plantas, conforto das vossas fadigas, se tornem belas o mais cedo possível e se preparem para ser úteis no máximo grau. Efetivamente, sendo vós chamados 'a plantar os céus e a fundar a Terra' (Isaías, LI, 16), poderá acontecer-vos coisa mais agradável do que ver o fruto abundantíssimo das vossas fadigas? Que esta vossa celeste vocação, assim como a confiança em vós depositada pelos pais, entregando-vos os seus filhos, seja como que um fogo na medula dos vossos ossos que vos não dê a paz e, por meio de vós, também aos outros, até que o fogo desta luz inflame e ilumine brilhantemente toda a nossa pátria.

 

Exortação às pessoas ilustradas: vós, pessoas instruídas, a quem Deus dotou de sabedoria e de juízo penetrante, para que possais julgar destas coisas e, com o vosso prudente conselho, melhorar sempre mais os projetos bem ideados, não hesiteis em trazer também as vossas centelhas, e mesmo até os vossos archotes e os vossos foles, para atiçar melhor este fogo sagrado. Que cada um de vós pense nestas palavras de Cristo: 'Eu vim trazer o fogo à Terra, e que quero eu, senão que ele se acenda?' (Lucas, XII, 49). Se Ele quer que o seu fogo arda, ai daquele que, podendo trazer qualquer coisa para inflamar essas chamas, não traz senão, talvez, os fumos da inveja, da denigração e da oposição. Lembrai-vos da remuneração que promete aos servos bons e fiéis que empregam os talentos que lhes foram confiados para negociar, de modo a ganharem outros, e como ameaça os preguiçosos que enterram os seus talentos! (Mateus, XXV). Temei, portanto, que só vós sejais instruídos, e esforçai-vos por fazer progredir também os outros na instrução. Sirva-vos de estímulo o exemplo de Sêneca, que afirmou: 'Desejo transfundir nos outros tudo aquilo que sei'. E igualmente: 'Se a sabedoria me fosse dada com a condição de a manter fechada e de a não comunicar, recusá-la-ia'10 (Carta 27). Não negueis, portanto, a ninguém, de todo o povo cristão, o vosso saber e a vossa sabedoria, mas dizei antes com Moisés: «Quem me dera que todo o povo de Deus profetizasse!» (Números, 11,29). Uma vez que, formar bem a juventude, é formar também e reformar a Igreja e o Estado[5], nós, que não ignoramos isto, havemos de estar para aí ociosos, enquanto os outros estão vigilantes?



 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. A Escolástica (ou Escolasticismo) é uma linha dentro da filosofia medieval, de acentos notadamente cristãos, surgida da necessidade de responder às exigências da fé, ensinada pela Igreja, considerada, então, como a guardiã dos valores espirituais e morais de toda a Cristandade. Por assim dizer, a Escolástica foi responsável pela unidade de toda a Europa, que comungava da mesma fé. Esta linha vai do começo do século IX até ao fim do século XVI, ou seja, até ao fim da Idade Média. Este pensamento cristão deve o seu nome às artes ensinadas na altura pelos escolásticos nas escolas medievais. Estas artes podiam ser divididas em trivio (Gramática, Retórica e Dialética) ou quadrívio (Aritmética, Geometria, Astronomia e Música). A Escolástica resulta essencialmente do aprofundar da Dialética.

2.

 

Pitágoras de Samos foi um filósofo e matemático grego que nasceu em Samos entre 570 a.C. e 571 a.C. e morreu em Metaponto entre 496 a. C. e 497 a.C. Na época de Pitágoras, um problema não solucionado era determinar as relações entre os lados de um triângulo retângulo. Pitágoras provou que, em um triângulo retângulo, a soma dos quadrados (das áreas) dos catetos é igual ao quadrado (da área) da hipotenusa. O primeiro número irracional a ser descoberto foi a raiz quadrada do número 2, que surgiu exatamente da aplicação do teorema de Pitágoras em um triângulo de catetos valendo 1:

 

 

Por ser um número irracional, a raiz quadrada de dois não pode ser expressa como um número finito de casas decimais. Uma aproximação é: 1, 41421 35623 73095 04880 16887... Na vida cotidiana, tanto o teorema de Pitágoras quanto a raiz quadrada de dois têm trocentas mil aplicações.

3. O que poderá interessar a um aluno que faz Engenharia Mecânica aprender, entre outras inutilidades, que os subníveis eletrônicos são subdivisões das camadas eletrônicas de um átomo, e que são designados pelas letras minúsculas, s, p, d, f, g, h et cetera? O que poderá interessar a um aluno que faz Engenharia Mecânica saber que o subnível s tem 2 elétrons, que o subnível p tem 6 elétrons, que o subnível d tem 10 elétrons e que o subnível f tem 14 elétrons? O que poderá interessar a um aluno que faz Engenharia Mecânica conhecer que a ordem crescente dos subníveis de energia é 1s < 2s < 2p < 3s < 3p < 4s < 3d < 4p < 5s < 4d < 5p < 6s < 4f < 5d < 6p < 7s < 5f < 6d ... Envergonhado, confiteor Deo omnipotenti que eu já ensinei esta baboseira!

4. Da mesma forma que é impossível se estudar anatomia sem um cadáver disponível, da mesma forma que é impossível se aprender a dar injeção sem uma bunda disponível, é uma total inutilidade se estudar Química, Física e Biologia sem um laboratório de apoio. E assim, qual a utilidade de se fazer um garoto decorar que o sódio é menos reativo do que o potássio, que o precipitado de sulfato de bário é branco e que a diluição de ácido sulfúrico concentrado (em água) produz uma reação perigosíssima e altamente exotérmica? Bolas! Lhufas! Em laboratório, em pequenas quantidades, tudo isto pode ser demonstrado com a maior facilidade e à saciedade.

5. Por que vender a idéia de um céu, de um purgatório e de um inferno, se estas coisas não existem? Por que fazer as pessoas acreditarem em arrebatamento, em salvação eterna e em milagres, se estas coisas não existem? Por que o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria necessitam que as pessoas comunguem reparadoramente em nove primeiras sextas-feiras (consecutivas) e em nove primeiros sábados (consecutivos) para serem consolados? Se falhar uma sexta-feira ou um sábado, porventura os referidos Sagrados Corações se desconsolarão? Será necessário recomeçar do zero a Dupla Novena? E se a pessoa morrer no meio do caminho?

6. Não deixa de ser uma forma de egoísmo (pois é uma argüição em proveito próprio) querer que as pessoas contribuam obrigatoriamente com, pelo menos, R$ 30,00 por mês a título de dízimo. Ora, R$ 30,00, para mim, não representa nada; mas, para quem ganha salário-mínimo, é uma fortuna. Pior são os negócios com Deus, estimulados, todos os dias, ao limite da insânia, por mil e um pastores eletrônicos! E assim, por induzimento, pensa o pacóvio: Darei tanto de dízimo; mas receberei de volta dez vezes esse tanto!

7. Acredito que os nove meses de gestação e os primeiros sete anos de vida são a base para o futuro. Tudo que for incorporado neste espaço de tempo dificilmente será modificado no futuro. Certas espoletas poderão ou não inflamar no tempo está por vir dependendo de como foram as experiências e o intercurso familiar neste período.

8. A palavra AThMa é equivalente a um Número: 1440 (1000 + 400 + 40). Em sonometria moderna, é o Hierarca Sonométrico do Modo Musical de Mi, ao mesmo tempo em que corresponde à Harpa Arcangélica Solar do Zodíaco. Mi, em sânscrito, expressa tudo o que atravessa, irradia e penetra, ao mesmo tempo em que abarca, circunda e compreende. MIHAeL. 1440 multiplicado por 100, corresponde ao Hierarca do Modo Inarmônico da Sabedoria Divina. Por isso, para não haver nenhum equívoco, no Livro da Revelação (VII, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e XIV, 1, 2, 3), ele soa através de 144000 Harpas, e é cantado por 144000 Eleitos. Mas, 144000 9 (1 + 4 + 4). Logo, em princípio, todos são elegíveis. E assim, como não poderia deixar de ser, a elegibilidade depende só de nós, já que somos responsáveis por tudo.

9. Aqui discordo integralmente de Comenius. Direi, até que o número dos maus é infinitamente menor do que o dos bons. O que acontece é que a perversidade é mais retumbante e nos causa maior impressão; basta lembrar, por exemplo, da Segunda Guerra Mundial. Simplesmente, como advogou Comenius, se o número dos maus fosse infinitamente maior do que o número de homens de boa vontade, este Planeta, há muito tempo, já não seria a Escola Cósmica para o qual foi programado. Mutatis mutandis, belalugosiando*, é como borboletas que caíssem em um formigueiro; depois de laceradas e tragadas as borboletas, as formigas, como se estivessem em um festim diabólico, acabariam por, freneticamente, se devorar a si próprias. Não! Sem dúvida, estamos melhorando! Quem sabe, um dia, sejamos todos borboletas!

* O ator Béla Lugosi (1882 – 1956) foi catapultado para o estrelato por suas interpretações cinematográficas vampirescas.

10. Esta sentença faz lembrar um episódio da vida de Max Heindel. Max Heindel em uma certa época estava em Berlim, e quando se aprestava para partir, recebeu, inesperadamente, a visita de um dos Irmãos (Fratres Seniores) da Ordem Rosacruz – um dos Hierofantes dos Mistérios – que se prontificou a lhe transmitir os ensinamentos Rosacruzes, desde que Max se comprometesse e mantê-los em segredo. Sabendo, por experiência própria, o que é sofrer devido à ânsia de conhecimento, foi incapaz de satisfazer o pedido do Irmão Maior, e recusou aceitar o que quer que fosse que não pudesse partilhar com os seus irmãos no mundo, que sabia tão animicamente famintos como ele. O Hierofante se retirou, mas ao cabo de um mês apareceu-lhe novamente e disse-lhe que tinha passado na prova do egoísmo. Se Max Heindel tivesse aceitado a oferta de guardar os conhecimentos sem os partilhar, ele, o Hierofante, não teria regressado. Quem guarda só para si o que deve ser distribuído acaba implodindo; o saber egoísta se torna veneno e a solidão corrói o homem por dentro. Todavia, deve ser dito que só não pode ser divulgado o que for estritamente pessoal, e cada qual, certamente, sabe bem a diferença entre o que é pessoal e o que pode e deve fraternalmente ser comunicado.

 

Bibliografia básica para consulta recomendada e referida em coladaweb.com:

GASPARIN, João Luiz. Comenius ou da arte de ensinar tudo a todos. São Paulo: Papirus, 1994.

COVELLO, Sérgio Carlos. Comenius, a construção da pedagogia. São Paulo: SEJAC, 1991.

RIBOULET, L. História da Pedagogia. São Paulo: F.T.D., 1951.

WALKER, Daniel. Comenius, o criador da didática moderna. Juazeiro do Norte: HB Editora, 2001.

COMENIUS, João Amós. Didáctica Magna. Fundação Caloustre Gulbenkian. 4ª ed. Praga, 1957.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.fraternidaderosacruz.org
/mh_bibliografia.htm

http://pt.shvoong.com/humanities/
1659593-idade-m%C3%A9dia-idade-das-trevas/

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Pit%C3%A1goras

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Escol%C3%A1stica

http://www.ebooksbrasil.org/
eLibris/didaticamagna.html

http://www.coladaweb.com/
perso/comenius.htm

http://www.culturabrasil.pro.br/
didaticamagna/didaticamagna-comenius.htm

http://www.centrorefeducacional.com.br/
comenius.htm

http://pt.wikiquote.org/
wiki/Com%C3%AAnio

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Comenius

 

Fundo musical:

Come Rain Or Come Shine

Fonte:

http://www.electrofresh.com/