Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

 

A Rainha da Inglaterra faz cocô,

como também faz o rei da gabança;

faço eu, faz Nicolas (lá na França)

e faz o kurima'ta1 – que está de uaiô.2

 

 

Também fez o Rei-Sol3, da França,

e o Lorde Byron4, lá na Inglaterra.

Ora, não há ser nesta bendita Terra

quem tenha o privilégio da livrança.

 

 

Isto aí é bótimo e é educativo,

porque nos identifica via merda.

É uma coisícula que se herda,

exempli gratia, do tal do genitivo.5

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: http://g1.globo.com/
(Atualizado em 16/06/09 - 20h:24min)

 

 

 

Anália Rodrigues de Jesus

Anália Rodrigues de Jesus

 

 

 

A ex-cozinheira Anália Rodrigues de Jesus, de 103 anos, está há cinco dias internada no Centro de Saúde Dr. Rodrigo Argolo, em Presidente Tancredo Neves (BA). Ela espera por uma vaga na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para tratamento de problemas respiratórios. — Eu quero sair daqui, meu filho. Sou velha, mas ainda quero viver — disse Anália.

 

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) deu os primeiros socorros à paciente ainda dentro da casa da filha, Valdiva Souza.

 

A equipe médica levou a paciente para o centro de saúde, onde foi acomodada em uma maca de 40 centímetros de largura dentro da sala de reanimação. (Grifo meu).

 

A chefe administrativa do posto, Adriana Barreto, disse que o local deveria servir apenas para atendimento de urgência. O centro de saúde informou que, desde o dia do internamento, tem feito contatos diários com a Central de Regulação de Leitos da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (SESAB), mas ainda não há vaga.

 

Segundo a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, a centenária será transferida para o Hospital Especializado Octávio Mangabeira (HEOM), no bairro do Pau Miúdo, onde ocupará um leito de UTI. O local é o mais adequado para a paciente, por ser hospital de referência em doenças respiratórias.

 

 

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Em vista de tudo isto, eu não posso deixar de perguntar: Será que estes filhos-da-puta não têm mãe? Será que estes filhos-da-puta não fazem cocô? E, se fazem, será que é furta-cor e cheira a Fleur De Rocaille? Ora, tenham a santa paciência! Isto é uma enervante e irritativa absurdeza! Será que, por outro lado e por exemplo, o Excelentíssimo Senhor José Alencar, vice-presidente do Brasil e a quem admiro, e a Excelentíssima Senhora Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil do Governo Brasileiro e a quem também admiro, nas vezes recentes que precisaram se internar em São Paulo para tratar da saúde, também foram acomodados em uma maca de merda de 40 centímetros de largura, e tiveram que esperar, esperar, esperar, esperar, esperar, esperar? Ora, eu não quero nem mais nem menos para a Anália e para o resto dos brasileiros; quero apenas que o tratamento dispensado aos ricos e poderosos seja o mesmo tratamento concedido aos que não têm como pagar um plano de saúde. Eu só vou lembrar (ou ensinar) uma coisinha a todos vocês que, desavergonhadamente, privilegiam e filho-da-puteiam: no Devachan, não há privilégios; poderá ser um estágio de má aventurança ou de boa-venturança. Vai do (des)merecimento de cada um! Nesta matéria, como, de fato, em nenhuma outra, funcionam os abominandos, nefandos e execrandos negócios com Deus!

 

Oh, realismo mágico! Vou digitar novamente a frase derradeira de Quincas Berro D'Água (o rei dos vagabundos da Bahia, o senador das gafieiras, o patriarca da zona do baixo meretrício), segundo Quitéria do Olho Arregalado (amante amorosa do de cujus) que estava ao seu lado, junto com Curió, Cabo Martim, Pé-de-Vento, Negro Pastinha e outros inseparáveis: Cada qual cuide de seu enterro, impossível não há. (Jorge Amado; In: A Morte e a Morte de Quincas Berro D'água)

 

Bem, bem, forte Anália, que não é Amélia, mas que é uma mulher de verdade: enquanto você espera que os sacanocratas tomem vergonha na fisionomia, receba, de todo o meu Coração, este ramalhete que pintei para você. Eu não sou bom em pintura e em muitas outras coisas, mas como você, com os seus certamente bem vividos 103 anos, também não deve estar divisando lá muito bem, fica mesmo a melhor das minhas intenções. Um beijo. Depois, a gente se encontra lá no céu!

 

 

 

Ramalhete para Anália

Ramalhete para Anália


 

 

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Notas:

1. Kurima'ta, em tupi, é um peixe teleósteo, caraciforme, da família dos curimatídeos, especificamente do gênero Prochilodus, com ampla distribuição nos rios brasileiros: é conhecido por curibatá, curimatá, curimatã, curimataú, curimba, curumatá, curumatã, curumbatá, grumatá, grumatã e papa-terra.

2. Uaiô (ou uaiúa) é a condição que faz que os peixes, em alguns igarapés e rios da Amazônia, tentem respirar fora da água, por carência momentânea de oxigenação desta, causada por repiquete (mudança súbita da direção do vento), vazante (período de águas baixas no leito de um rio) etc.

3. Luís XIV de Bourbon (em francês Louis XIV; Saint-Germain-en-Laye, 5 de setembro de 1638 - Versalhes, 1º de setembro de 1715), conhecido como Rei-Sol, foi o maior monarca absolutista da França, e reinou de 1643 a 1715. A ele é atribuída a famosa frase L'État c'est moi (O Estado sou eu), apesar de grande parte dos historiadores entender que isto é apenas um mito.

4. George Gordon Byron, 6º Barão Byron (Londres, 22 de janeiro de 1788 – Missolonghi, 19 de abril de 1824), melhor conhecido como Lorde Byron, foi um destacado poeta britânico e uma das figuras mais influentes do Romantismo. Byron é considerado como um dos maiores poetas europeus, e é muito lido até os dias de hoje. Também foi um dos primeiros escritores a descrever os efeitos da maconha. A fama de Byron não se deve somente aos seus escritos, mas também a sua vida – considerada extravagante até in extremis vitæ momentis – que incluiu numerosas amantes, dívidas, separações e alegações de incesto. Lorde Byron foi famosamente descrito pela romancista e aristocrata britânica Lady Caroline Lamb (13 de novembro de 1785 – 26 de janeiro de 1828) como louco, mau e perigoso para se conhecer. Fofocando: ela devia conhecê-lo muito bem, pois teve um tempestuósus casus com Lorde Byron, em 1812, quando era casadíssima com o Visconde Melbourne! E o Visconde? Será que perdoou a escorregadela?

 

 

Lorde Byron
Lady Caroline

 

 

Versos Inscritos Numa Taça Feita de um Crânio, de Lorde Byron. (Tradução de Castro Alves e ligeiramente editada por mim.)

 

Não, não te assustes: não fugiu o meu espírito.
Vê em mim um crânio, o único que existe,
Do qual, muito ao contrário de uma fronte viva,
Tudo aquilo que flui jamais é triste.

Vivi, amei, bebi; tal como tu, morri.
Que renuncie e terra aos ossos meus.
Enche! Não podes me injuriar; tem o verme
Lábios mais repugnantes do que os teus olhos.

Onde outrora brilhou, talvez, minha razão,
Para ajudar os outros brilhe agora, e
Substituto haverá mais nobre que o vinho,
Se o nosso cérebro já se perdeu?

Bebe enquanto puderes; quando tu e os teus
Já tiveres partido, uma outra gente
Possa te redimir da Terra que te abraçar,
E festeje com o morto e a própria rima tente.

E por que não? Se as fontes geram tal tristeza
Através da existência - curto dia -
Redimidas dos vermes e da argila,
Ao menos possam ter alguma serventia.

 

Nota editada das fontes:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Lady_Caroline_Lamb

http://pt.wikipedia.org/wiki/Lord_Byron

5. O caso genitivo é um caso gramatical que indica uma relação, principalmente de posse, entre o nome no caso genitivo e outro nome. Em um sentido mais geral, pode-se pensar esta relação de genitivo como uma coisa que pertence a algo, que é criada a partir de algo ou, de outra maneira, derivando de alguma outra coisa.

Nota editada da fonte:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Caso_genitivo

 

Fundo musical:

Clair de Lune (Claude Debussy)

Fonte:

http://www.eadcentral.com/go/1/1/0/
http://www.claudenadeau.net/ecouter.html