CARLOS MINC
(Pensamentos Ecológicos e Outras Reflexões)

 

 

 

 

Carlos Minc

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Há quem goste e há quem não goste de Carlos Minc. Eu, particularmente, não estou interessado em sua coleção de coletes, se ele apóia a legalização do uso da maconha, se é midiático, se seus codinomes na Vanguarda Popular Revolucionária eram Jair, José ou Orlando, se adora paradas 'gays', se isto ou se aquilo. Estou interessado, sim, em suas ações à frente do Ministério do Meio Ambiente do Brasil. Isto porque, já tive a oportunidade de discutir este tema, mesmo que parássemos agorinha mesmo de poluir o Planeta, as conseqüências de nossas irresponsabilidades passadas não ficarão impunes; a Terra haverá de cobrar – e já anda cobrando! – sacanagem por sacanagem, putedo por putedo, o que foi e ainda está sendo feito com e contra ela. Por isto, estou divulgando este despretensioso estudo, que registra alguns pensamentos do Ministro Carlos Minc Baumfeld, que, seja como for, tem muito a ensinar a todos nós, particularmente em temas relacionados com a defesa do meio ambiente.

 

Se Albert Einstein (1879 1955) estiver certo – No meio de qualquer dificuldade encontra-se a oportunidade – a Humanidade, com todos os problemas ambientais que vem enfrentando, está com um saco de oportunidades à sua disposição para aprender a tomar vergonha na fuça.

 

 

 

 

 

 

 

Curriculum Vitæ

 

 

 

Nascido em julho de 1951, no Rio de Janeiro, Carlos Minc Baumfeld é casado e pai de dois filhos.

 

Estudou no Colégio Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, em 1967, foi vice-presidente da AMES (Associação Metropolitana dos Estudantes Secundaristas). Líder estudantil, participou ativamente da resistência contra a ditadura militar, sendo preso em 1969, com 18 anos, e exilado. Em 1979, com a Anistia, voltou ao Brasil. Sobre o tempo de expatriação forçada, Minc afirmou: — Não sou daqueles exilados sofredores. Foi um saco; mas aproveitei muito. É claro que havia percalços.

 

Economista, foi professor-adjunto do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), obteve o mestrado em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Técnica de Lisboa (1978) e doutorou-se em Economia do Desenvolvimento pela Universidade de Paris I - Sorbonne (1984).

 

Eleito deputado estadual pelo Rio de Janeiro em 1986, Carlos Minc está em seu sexto mandato consecutivo. Em 2007, Carlos Minc foi nomeado Secretário de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro. Em 27 de maio de 2008, foi empossado como Ministro de Estado do Meio Ambiente. Em certa ocasião, afirmou: — Não pedi para ser ministro. Nem queria. Mas, quando aceitei, coloquei algumas condições para o presidente. Ele me garantiu que não haveria ingerência política nas ações do IBAMA. Não consulto ninguém.

 

Fundador do Partido Verde (PV), Carlos Minc foi eleito deputado estadual pela primeira vez pelo PV. Em 1990, 1994 e 1998 foi reeleito pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Em 1989, recebeu o Prêmio Global 500, concedido pela ONU aos que se destacam mundialmente nas lutas em defesa do meio ambiente.

 

Com 130 leis aprovadas, sua ação parlamentar abrange temas como a defesa do meio ambiente, segurança pública, saúde no trabalho, ética na política e fiscalização do orçamento e da execução orçamentária do Estado do Rio de Janeiro.

 

Publicações:

 

Como Fazer Movimento Ecológico (Editora Vozes; 1985).

A Reconquista da Terra (Editora Zahar; 1986).

Ecologia e Política no Brasil (Espaço e Tempo/Iuperj; 1987), organizado por José Augusto Pádua, em co-autoria com Fernando Gabeira e outros.

Despoluindo a Política (Editora Relume Dumará; 1994).

Ecologia e Cidadania (Editora Moderna; 1997), está na terceira edição. Adotado por 120 escolas públicas e privadas do Brasil, o livro Ecologia e Cidadania aborda temas como ecologia urbana e do trabalho, educação ambiental e o meio ambiente na história.

 

 

 

 

Pensamentos Ecológicos
e
Outras Reflexões

 

 

 

 

Sem Planeta, Não Haverá Economia
por
Carlos Minc Baumfeld

 

 

 

Carlos Minc

Carlos Minc


 

Vivemos um drama sem precedentes na História da Humanidade. A deterioração dos recursos naturais é de tal ordem, que sua capacidade de reposição se esgotou. Pelos dados da Global Footprint Network, a biocapacidade da Terra, ou seja, a capacidade de os seus ecossistemas produzirem recursos e absorverem resíduos era de 54% em 1961.

 

Em 2005, portanto, antes da crise econômica global, já havia ultrapassado em 30% a biocapacidade máxima do Planeta. Em outras palavras, a Humanidade está consumindo o que a Natureza torna disponível numa velocidade e num patamar superiores à capacidade que tem de repor. Construímos um modelo econômico que privilegia o consumo desenfreado em detrimento do próprio planeta.

 

Tal realidade, agora, é agravada pelos efeitos do aquecimento global. Se não estabilizarmos em breve as emissões de gases do efeito estufa, revertendo a curva de crescimento, o colapso ambiental do Planeta será só uma questão de tempo. As economias de algumas regiões mais críticas já sofrem os impactos do aquecimento.

 

Se os países não adotarem medidas consistentes na convenção do clima, em dezembro, em Copenhague, pode não haver futuro para a Economia nos próximos 50 anos. A crise atual pode trazer lições importantes sobre o que e onde investir para salvar o Planeta.

 

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas - IPCC, na sigla em inglês, prevê que, se houver um aumento maior de 2% na temperatura global até 2100, deverá haver caos na produção de alimentos e impactos extremamente negativos em várias atividades produtivas ao redor do mundo. No Nordeste brasileiro, pelo menos 30% de suas atividades econômicas serão fortemente afetadas.

 

Não há mais tempo a perder. Sem uma redução sistemática e significativa nos níveis de emissão de CO2, o mundo terá que enfrentar uma crise econômica capaz de fazer com que a atual, que já mostra sinais claros de recuperação, pareça um pequeno susto.

 

Quando olhamos para o quadro de hoje, com queda na produção agrícola, no setor industrial e nos investimentos globais, imaginamos um quadro para daqui a menos de 40 anos, quando não será mais suficiente ter vontade política e recursos dos contribuintes dos países desenvolvidos para encontrar soluções.

 

Precisamos aprender com a crise atual. Se, por um lado, ela representou prejuízos econômicos para grande parte dos países, com investimentos de mais de US$ 1 trilhão para salvar bancos e empresas falidas, por outro, pode nos trazer ensinamentos preciosos. Este é, eu diria, o lado positivo dessa crise. Quando estive na África, em fevereiro passado, em reunião do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA, autoridades e especialistas de vários países buscavam formular as bases para uma nova Economia – uma Economia de baixo carbono.

 

Baseada em padrões de sustentabilidade, a Economia verde foi saudada como um modelo voltado para o enfrentamento dos efeitos das mudanças climáticas e também para a recuperação econômica mundial em novas bases, em bases sustentáveis.

 

O Diretor-executivo do PNUMA, Achim Steiner, um dos maiores especialistas na Economia verde, defende a necessidade de novos investimentos para o renascimento econômico com sustentabilidade.

 

Quando esteve em meu gabinete, em Brasília, há pouco tempo, apresentou-me números otimistas de crescimento da 'Green Economy'. Vem aumentando o número de empresas e governos que investem em atividades que, de alguma forma, direta ou indiretamente, contribuem para a preservação e a conservação do meio ambiente, com a redução efetiva das emissões de gases-estufa.

 

Um estudo do PNUMA mostra que, em 2008, foram investidos US$ 155 bilhões em produção de energia limpa, superando em 5% o montante investido no ano anterior. O destaque foi para a energia solar, com investimentos de US$ 33,5 bilhões, com um crescimento de 49%.

 

Ainda é pouco, em termos das necessidades ambientais planetárias. Mas, pelo menos, esses sinais apontam caminhos claros para a Humanidade dar a volta por cima. São um alento, trazendo esperanças de um futuro melhor para nossos filhos e netos.

 

Em Kyoto, o impasse entre meio ambiente e crescimento econômico resultou em metas de emissões tímidas. Agora, do sucesso da Conferência do Clima de Copenhague, no final do ano, poderá sair um balizador importante, que revelará a real disposição dos países desenvolvidos e os em desenvolvimento para salvar o Planeta.

 

Precisamos ter em conta que não se trata de tentar proteger de crises as Economias deste ou daquele país. A questão não é que Economia desejamos, porque, sem Planeta, não haverá Economia nenhuma.


 

 

O Rio de Janeiro eu conheço muito bem, mas o Brasil eu conheço muito mal.

 

A degradação ambiental da Amazônia não pode ser enfrentada apenas com o IBAMA e a Polícia Federal. Sem o ordenamento fundiário e o planejamento territorial, sem o incremento da pesquisa e das tecnologias florestal e regional, a falta de alternativas sustentáveis e a impunidade ameaçarão sempre o ecossistema e provocarão sucessivos aumentos de emissão de CO2.

 

Hoje é mais fácil e barato um agente desmatar a floresta nativa do que produzir mais em área degradada. Temos de inverter esse quadro.

 

A destruição da Floresta Amazônica continuará se não houver a regularização fundiária, o ordenamento territorial por meio do ZEE (Zoneamento Ecológico-Econômico), o Fundo Amazônia, o financiamento de um modelo de desenvolvimento inclusivo e não predatório, a transformação e a valorização da cadeia de produtos do extrativismo, o manejo florestal e a implementação do PAS (Plano Amazônia Sustentável). Isto representaria um atentado à biodiversidade, às populações tradicionais e às comunidades indígenas. Representaria também o não-cumprimento do Plano Nacional sobre Mudança do Clima, festejado em dezembro passado na Conferência do Clima na Polônia pelo secretário-geral da ONU e por Al Gore como um significativo avanço da posição do Brasil.

 

Enquanto estivermos à frente do Ministério do Meio Ambiente, participaremos das lutas de estudantes, das rádios comunitárias de cidadania, dos direitos dos homossexuais e por mais segurança pública. Continuaremos juntos por uma sociedade mais justa e libertária.

 

Visão integrada exige ações para melhorar o ambiente nas cidades.

 

Vamos defender a Amazônia, a Mata Atlântica e o Pantanal, mas temos que cuidar do esgoto, do lixo e das tecnologias que devem ser cada vez mais limpas nas fábricas. Esta é a visão integrada de defesa do ambiente urbano.

 

Um ponto que nos levará ainda a buscar consenso se refere à construção de um modelo viável, com base em instrumentos econômicos e tributários que fomentem processos e coeficientes e favoreçam a inovação tecnológica, no sentido de diferenciar, do ponto de vista tributário, os equipamentos adequados às boas práticas, às novas oportunidades de negócios, aos ciclos e coeficientes e à geração de emprego/renda.

 

Posso falar com tranqüilidade que Dilma Rousseff não participou dessa ação. Eu garanto.1

 

O sucesso da preservação dos ecossistemas depende da consciência e da mudança de comportamentos. A educação ambiental profunda supõe uma ampla disponibilidade de informações, exercícios de análise, práticas de monitoramento, centrais de reciclagem, trabalho com as famílias e com as escolas, interação com as unidades de conservação e conhecimento dos problemas e soluções ambientais para indústrias, ecossistemas e comunidades da região. No caso das escolas, o ideal é tirarmos os alunos das salas de aula, levando-os para conhecer de perto os problemas locais, o desmatamento de uma encosta, a poluição de um rio.

 

 

 

 

 

Cada cidadão deve contribuir economizando energia, plantando árvores, reciclando lixo e regulando o motor de seus carros. O Planeta está sendo destruído, devido à ganância, ao produtivismo, ao desperdício e à irresponsabilidade. Devemos agir de forma solidária, planejada e global, antes que o derretimento das geleiras inunde cidades e países, destruindo as espécies que sobreviveram às práticas predatórias.

 

Alguns representantes do agronegócio, na verdade, são grandes desmatadores em latifúndios, usando monoculturas, queimadas, agrotóxicos. O agricultor familiar tem mais consciência ambiental. Ele depende da conservação dos solos e das nascentes e terá tratamento diferenciado.

 

Somos asfixiados pelos dutos antigos e os dos valérios, pelos escândalos negocistas das privatizações e pela quebra de sigilo do caseiro, pelo caixa 2 de sempre e pela impunidade. Só podemos nos fortalecer bebendo a água da fonte das lutas ecológicas, estudantis, resistindo contra os preconceitos, contra o massacre da juventude excluída e das meninas prostituídas, contra o fechamento de rádios comunitárias e enfrentando o populismo fundamentalista.

 

Tem alguns momentos em que a Igreja erra feio. Um deles é a questão da camisinha. Se a gente fosse atrás da Igreja, quantas pessoas não estariam doentes? Como é que uma religião pode dizer que é fraterna e solidária com todos se pressiona os parlamentares a não aprovarem a lei que criminaliza a homofobia? Quem se opõe à aprovação dos projetos que criminalizam a homofobia é co-responsável pela multiplicação dos crimes que nada têm de fraternos e solidários.

 

É uma insensatez planetária a posição dos dois maiores poluidores do Planeta de não ratificarem um acordo na Conferência de Copenhague. Não pode haver o abraço dos poluidores que condene o Planeta a virar um deserto.

 

O Brasil não será a lata de lixo do Planeta. Vamos multar, vamos mandar de volta e vamos cobrar responsabilidade de países que têm um discurso ambiental avançadíssimo e enviam seu lixo químico para países em desenvolvimento.

 

Pernambuco é um desastre do desastre. O que ocorre lá é uma lambança generalizada com apoio político e impunidade. Esses usineiros estão na ilegalidade, são uns fora-da-lei. Pernambuco é o pior estado do Brasil na preservação da Mata Atlântica. Não vamos dar sossego para os usineiros com costa quente política. Acabou a moleza... Eles são criminosos ambientais. Essa turminha é brava!

 

Todos sabem que sou um crítico do programa nuclear brasileiro.

 

A tecnologia é fundamental para o nosso trabalho, desde o monitoramento do clima e do ambiente, que vem sendo feito como o apoio do INPE, até a criação de alternativas tecnológicas limpas. Sem a tecnologia viabilizando alternativas energéticas, alternativas às cadeias produtivas, nossos esforços são paliativos.

 

Sobre a campanha 'Saco é um Saco', que pretende mobilizar o consumidor para reduzir o uso de sacolas plásticas no Brasil: Começando pelo objetivo, queremos atingir o consumidor. O foco é cada dona de casa, cada jovem, cada pai de família comprando no supermercado, na farmácia, na quitanda, na padaria. A idéia é ajudar o indivíduo, que pega inocentemente a sacolinha — ali tão fácil, tão à vontade — a fazer uma conta que ele não faz. A sacola não é de graça. Quando descartada, gera um custo alto para a população, para o poder público e para o meio ambiente. Cada sacolinha que nós descartamos tem uma pegada ecológica oculta, tem uma conta socioambiental que não está na cabeça do consumidor. A sacolinha plástica é perfeita para os nossos objetivos. Não se trata de um produto simbólico; ela é bem real, é utilizada todos os dias pelos cidadãos brasileiros e gera um impacto acumulativo significativo. Você sabia que cada brasileiro consome 66 sacolas plásticas por mês? E que é de 135 milhões o volume descartado todo mês? Quando eu era Secretário de Meio Ambiente no Rio de Janeiro, antes de me tornar ministro, elaborei um decreto que se transformou em um projeto de lei regulando o uso das sacolinhas. Vários Estados e municípios estão preocupados com o assunto. Acho que é papel do Ministério conscientizar os consumidores e induzir as mudanças de comportamento que levem a população na direção da cidadania ambiental... Vários países já baniram a sacola plástica como, por exemplo, a China, e, no Canadá, a cidade de Toronto. Até há pouco tempo, falava-se que o bom era o plástico oxi-biodegradável, que, na verdade, não se biodegrada coisa nenhuma; apenas fragmenta a matéria em milhares de pedacinhos, criando um novo resíduo não-biodegradável. O bioplástico, feito de amido de milho ou de outras fontes, parecia uma solução ótima, mas, com o agravamento do aquecimento global, será mais uma fonte emissora de gases do efeito estufa, quando o que se deseja é diminuir as emissões dos lixões e dos aterros sanitários. Sendo bem realista, sem diminuir a ternura, o ideal é reduzirmos o uso da sacola plástica e caminharmos com tranqüilidade para banirmos a sacolinha em um futuro próximo. Nossa campanha pretende explorar várias alternativas, e a criatividade da moçada vai aparecer. Você lembra como era antigamente? Um mosaico de soluções: o carrinho de feira, o papel da padaria, o jornal embrulhando o peixe... O importante é passarmos a mensagem de que é preciso pensar antes de consumir. Quando o problema do aquecimento global se agrava e o meio ambiente se degrada tão dramaticamente, não podemos alegar inocência.

 

Vamos defender a Amazônia. Não vamos deixar queimar a Amazônia. A gente conta com os seringueiros, com os castanheiros, com as nações indígenas e com a consciência da rapaziada. Vamos defender o cerrado, a caatinga, a Amazônia, a mata atlântica e o 'reggae'. O 'reggae' é a liberdade.

 

O pré-sal é uma riqueza que reverterá para o lado social, mas isso não pode ser acompanhado pela explosão de CO2. Para explorar a reserva, o Brasil terá de investir em tecnologias para captura e estocagem do CO2.

 

O Brasil não precisa plantar cana-de-açúcar em áreas de preservação ambiental, como o Pantanal ou na Amazônia, uma vez que há terras suficientes para a produção de etanol. Se a produção se der em áreas de preservação ambiental, outros países podem usar isto contra o Brasil e estabelecerem barreiras comerciais para prejudicar o País.

 

Quanto ao lixo nuclear, não há solução definitiva. Os países colocam esse material em contêineres isolados e os enterram em lugares com estabilidade geológica para não correr o risco de haver vazamentos, onde fica guardado por centenas de anos. O Brasil precisa construir destinações de longa duração, mais seguras do que o método usado atualmente, que é a manutenção dos resíduos em piscinas no nível do mar.

 

Vejo com bons olhos o 'pitching',2 porque eu sei que outros países, sobretudo da Europa, usam essa modalidade, que é uma modalidade que sai da frieza dos números, de estatísticas de projetos enlatados. No 'pitching' a pessoa tem que chegar lá e mostrar o seu programa, o seu filme, a sua criatividade e o seu enfoque para uma banca examinadora de alto nível analisar.

 

O Brasil está numa luta finalmente reconhecida. Não tínhamos planos de mudanças climáticas, agora temos. Não tínhamos meta de redução da emissão de carbono, agora temos. Não tínhamos o Fundo para a Amazônia, agora temos. Não monitorávamos todos os biomas brasileiros, só Amazônia. Agora estamos monitorando o Cerrado, a Caatinga etc. Então, acho que é hora de a população brasileira conhecer melhor a fauna, a flora, as características do nosso País, a possibilidade de viver com dignidade sem destruir nossos recursos naturais. Podemos aproveitar o grão, a fruta, a resina, a seiva, o mel, tudo aquilo que faz milhares, milhões de pessoas viverem dessas cadeias da biodiversidade sem destruí-las; ao contrário, preservando-as.

 

É preciso motivar as pessoas para todas as possibilidades de sustentabilidade. A idéia de que a floresta, o bioma e a Natureza são obstáculos vem da época do colonialismo, do escravismo colonial. Destruir a Amazônia a ferro e fogo, a Mata Atlântica a ferro e fogo. Hoje em dia, o que vale mais é a floresta em pé. Mas não basta dizer isso. É preciso criar as oportunidades.

 

A maior parte das pessoas não tem idéia do que seja zoneamento econômico e ecológico. E há várias outras questões que as palavras dizem. Por exemplo, mudanças climáticas, todo mundo se preocupa. Que regiões serão mais afetadas? Os nossos estudos até agora mostram que o nordeste brasileiro será a região mais afetada. O aumento de dois graus na temperatura até o final do século, seguramente vai aumentar mais do que isso. O nordeste pode perder um terço da sua Economia por causa da desertificação da Caatinga, do Semi-Árido, em suma. E áreas do litoral, sobretudo baixadas, onde estão as populações pobres, nas favelas. Então, as pessoas vêem as geleiras se derretendo, e daqui a pouco não se dão conta que isso vai aumentar a inundação de áreas do Rio, de São Paulo, da Bahia, do Recife, onde essas populações moram. Já há enchente hoje; imagina quando o mar subir mais trinta centímetros? O que fazer para prevenir isso? Isto se chama adaptação.

 

Carlos Minc em nota em resposta ao Governador do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), que o chamou de veado e maconheiro: É um truculento ambiental que quer destruir o pantanal com a plantação de cana-de-açúcar. Essa declaração revela o seu caráter.

 

O poder público é um espaço onde se materializam os diversos tipos de pressão. Quem não souber ser pressionado, que não vá para o poder público... Sou pressionado, mas também pressiono. Sou duro na hora de negociar.

 

Mania pelos coletes: Pois é, alguém descobriu uma foto minha em Portugal, no exílio, com colete. Mas eu não usava tanto como agora. Hoje em dia, se não uso, as pessoas ficam chateadas comigo. Virei refém do modelito. Perguntam se foi roubado, se sujou, se rasgou, ou coisas como 'você não gosta mais de mim'? Todo mundo já usou um colete na vida. Colete pode ter várias cores; não pesa que nem um casaco, é ideal para um lugar quente como o Rio de Janeiro, pode ser usado numa festa. Em suma, é uma peça do vestuário que te dá muita flexibilidade. Uma camisa lisa com colete fica uma coisa muito criativa.

 

Como todo mundo, fui torturado. Era o lado democrático da ditadura. Porrada pra todo mundo, um horror. Você fica totalmente entregue à máquina de torturar miolos. Um dos lugares onde me torturaram foi a Vila Militar, em Realengo, no Rio. E lá, não muito longe, tinha uma escola. As crianças ouviam gritos e as professoras reclamavam. Então, eles punham música alta para as crianças não ouvirem os gritos. Só que quando a música começava as crianças choravam, porque sabiam que alguém estava sendo massacrado... Quando meus pais foram me ver na prisão, eu completamente detonado, um dos militares contou para o meu pai o que haviam feito comigo. Meu pai teve até um problema no coração. É vivo até hoje, mas convive com problemas. Descreveram com detalhes o que fizeram. Imagina o pai de um menino de 18 anos, o cara apóia, investe, o cara tá na escola, tem boas notas, tá dançando, namorando, jogando xadrez, se dando bem em matemática e, de repente, está sendo massacrado. E ele sem poder fazer nada. Não contaram para informá-lo, foi para agredir mais.

 

Digamos que participei de várias formas do movimento de resistência. Eu estava na clandestinidade, mas tenho uma resistência a entrar nessas questões porque tudo isso é muito desqualificado pelos próprios ditadores... e tinha essa história das torturas. Então, prefiro dizer que participei sob as formas que existiam, como vários jovens da minha geração, sem nenhum destaque especial.

 

Sobre o amor livre: Vivemos o amor livre. Havia a teoria das relações múltiplas. Era tudo teorizado. As pessoas criticavam a monogamia burguesa; diziam que era uma relação de propriedade. Não era nada do tipo 'vamos cair na gandaia'; era uma coisa impregnada de conteúdo revolucionário... No nosso meio não havia fidelidade. Você podia namorar com uma pessoa e sair com outra. E naquela época não havia AIDS... As meninas de esquerda eram mais livres. Também havia alguns líderes estudantis que, embora também tivessem um discurso contra a ditadura, eram mais conservadores. E a gente queria trazê-los para a esquerda. Quando todos os argumentos ideológicos fracassavam, o argumento final era o seguinte: — Olha, nossas meninas são livres para namorar, não são que nem essas burguesinhas que não dão pra ninguém. Aí muita gente veio para a esquerda.

 

Minha estréia sexual foi com uma namoradinha, aos 15 anos. Um amigo meu me emprestou um quartinho porque na época não havia motel. Foi meio sem jeito, mas foi muito bom. Ela tinha mais experiência do que eu; era uma daquelas de esquerda.

 

Adoro paradas 'gays'! Fico em transe. Me divirto; solto geral. Geral! Não perco uma. Mas não sou daqueles que fazem discurso e vão embora, não! Fico dançando até o fim. Eu me sinto à vontade. Fiz muitas campanhas também. Teve uma que fiz com o Fernando Gabeira no Le Boy…3

 

Sobre o projeto de lei que tenta reduzir de 80% para 50% a área de reserva legal na Amazônia, e o decreto legislativo, em tramitação na Comissão de Constituição e Justiça do Congresso, que pretende derrubar o decreto do Executivo, de dezembro de 2007, que estabelece mecanismos para inibir o avanço do desmatamento ilegal na Amazônia: Isto é inaceitável. Caso sejam aprovados, vão transformar a Amazônia em carvão.

 

Sobre o projeto de lei que equipara o tráfico de animais silvestres ao tráfico de armas e drogas: Vamos diferenciar a vovozinha que ouve o pássaro que o netinho apanhou na floresta do sujeito que pegou mil pássaros e enviou para Alemanha. Este último terá que cumprir penas equivalentes aos crimes de tráfico de armas e drogas.

 

Segundo o ministro, tratar o usuário de maconha como criminoso é um erro. Neste sentido, sugeriu que os deputados analisem estudos médicos que comprovariam que o efeito da maconha é inferior ao do álcool no organismo humano. Se a maconha fosse legalizada, se fosse como álcool e cigarro, que fazem mal, a situação seria diferente. Se o cigarro fosse proibido ao invés de ir ao armazém, você teria que subir o morro para comprar. Não quero dizer que a minha tese é melhor ou pior do que a de ninguém, mas estamos em uma Democracia.

 

Qualquer maneira de amor vale a pena.

 

 

 

 

 

Eu sou um midiático assumido e serei sempre. Não me envergonho disso. Nada tenho a esconder. E se você faz coisas maravilhosas que saem no Diário Oficial, ninguém fica sabendo. Quando eu era deputado estadual, fiz uma lei que obrigava os motéis do Rio a oferecerem de graça ao menos três camisinhas para cada cliente. Para divulgar a iniciativa, peguei um camisão de 18 metros e coloquei no obelisco da Avenida Rio Branco, bem no centro, o símbolo fálico do Rio de Janeiro. Enquanto o Jornal Nacional não deu a camisinha gigante, ninguém sabia que podia ir para o motel e exigir: — Ei, cadê as minhas camisinhas?

 

 

 

 

A consciência ambiental, às vezes, dá saltos, e estamos em um desses momentos. Há 25 anos, éramos chamados de profetas do Apocalipse, os exóticos, os alucinados, os doidos. Não existia Ministério do Meio Ambiente, secretarias e as empresas não tinham diretoria de meio ambiente. Agora, todos os países começam a discutir muito seriamente. Nossa guerra é contra o modelo predatório que empobrece o povo e degrada os ecossistemas.

 

Eu brigava com os ônibus urbanos por causa da fumaça preta que eles liberam. Fiz uma lei sobre isso, mas ninguém lia. Então, decidi colocar batatas nas válvulas e os ônibus acabavam parando. Isto é um instrumento de luta. Vou duas vezes por mês, no mínimo, à Amazônia. E prometo que vou fazer isso até o último dia do mandato. Assim, eu fico sabendo como as coisas estão na linha de frente. Vejo carro do IBAMA crivado de balas, o pessoal sem aparelho de comunicação. E outra coisa: o ministro subir em cima do trator e derrubar forno de carvão levanta a moral do pessoal. A pessoa sai na TV, valoriza. Isso também ajuda a dissuadir os criminosos ambientais.

 

Saudações eco-libertárias do Carlos Minc.

 

 

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Levar US$ 2,6 milhões de um cofre do ex-governador paulista Adhemar de Barros, em julho de 1969.

2. O 'pitching' é um instrumento jurídico que visa selecionar conteúdos com agilidade, conforme a necessidade uma determinada emissora. Entre outros, são aceitos programas de educação ambiental e de sustentabilidade. O modelo de contratação por 'pitching' permite selecionar, com mais agilidade, conteúdos inéditos para serem veiculados.

3. Criada pelo francês Gilles, a boate gay Le Boy é freqüentada também pelo público simpatizante. Com pé-direito alto, equivalente a quatro andares, tem um bar no meio. A pista de dança é o ponto central da boate, e conta com dançarinos de sunguinhas e com o corpo malhado, rebolando para os clientes.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.institutoares.org.br/fpd_informa_
nota.asp?cod=140&q=1GV2RQM34P&top=

http://www.noticiasdaamazonia.com.br/7734-
carlos-minc-legalidade-ambiental-na-amazonia/

http://www.revistaopinioes.com.br/
cp/materia.php?id=581

http://www.guiavegano.com.br/vegan/bem-estar
-animal/o-cotidiano-de-um-protetor-de-animais

http://blog.opovo.com.br/blogdoeliomar/carlos
-minc-apoia-a-descriminalizacao-da-maconha/

http://gestocult.wordpress.com/2009/04/03/
carlos-minc-muito-alem-do-meio-ambiente/

http://www.hojenoticias.com.br/direito/carlos
-minc-defende-energia-limpa-para-o-brasil/

http://www.marchadamaconha.org/

http://www.akatu.org.br/central/opiniao/2009/
carlos-minc-e-preciso-pensar-antes-de-consumir/

http://jbonline.terra.com.br/pextra/
2009/11/16/e161124260.asp

http://euelenossomundo.blogspot.com/2009/
05/o-ministro-carlos-mink-disse-tem-alguns.html

http://oglobo.globo.com/

http://www.mma.gov.br/estruturas/cgti/
_arquivos/curriculum_carlos_minc.pdf

http://www.minc.com.br/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Minc

 

Música de fundo:

Apesar de Você
Composição e interpretação: Chico Buarque de Holanda

Fonte:

http://www.belasmidis.com/
Nacional/Chico_Buarque/index.html