CURVA-LINHA-RETA

CURVA-LINHA-RETA
(Reta-Linha-Curva)

Rodolfo Domenico Pizzinga

Se o ser-humano-aí-no-mundo for capaz de alcançar a dimensão da sua Eternidade, ele obterá o máximo do que é capaz. [In: A Clara Virtude do Zen, de autoria de Manly Palmer Hall.]

Onde quer que a linha reta surja no âmbito de um domínio completo, teremos uma tendência ao hiper-intelectualismo e ao materialismo. Portanto, onde quer que tenhamos apenas uma linha reta, estaremos comprometendo a composição estética de qualquer estrutura com a qual estejamos interessados. A linha reta é fria. A linha curva, que é a linha da graça e da beleza, simboliza a vitória, por assim dizer, do intelecto sobre a verdadeira consciência [ego] do indivíduo. [Ibidem.]

Portanto, sendo a linha reta a linha da força e a linha curva a linha da graça e da beleza, juntas, sustentam o mundo. Elas, também, devem manter a consciência do Buscador Zen. Desta forma, a idéia da mistura dos dois fatores para produzir uma curva-linha-reta [ou uma reta-linha-curva] é um lembrete sutil da natureza do estado de consciência que o Zen exige. Neste sentido, devemos sempre considerar esses dois fatores em todos os momentos da experiência consciente. [Ibidem.]

Reta sempre deverá ser a ação;

curva e grácil, porém, deverá ser a reação.

Reta sempre deverá ser a aprendizagem;

curva e grácil, porém, deverá ser a execução.

Reta sempre deverá ser a sabedoria;

curva e grácil, porém, deverá ser a utilização.

Reta sempre deverá ser a prudência;

curva e grácil, porém, deverá ser a aplicação.

Reta sempre deverá ser a observação;

curva e grácil, porém, deverá ser a misericórdia.

Reta sempre deverá ser a razão;

curva e grácil, porém, deverá ser a apreciação.

Reta sempre deverá ser a convicção;

curva e grácil, porém, deverá ser a bondade.

Reta sempre deverá ser a busca;

curva e grácil, porém, deverá ser a efetividade.

Reta sempre deverá ser a virtude;

curva e grácil, porém, deverá ser a beleza.

Reta sempre deverá ser a justiça;

curva e grácil, porém, deverá ser a amorosidade.

Reta sempre deverá ser a verdade;

curva e grácil, porém, deverá ser a tolerância.

Reta sempre deverá ser a liberdade;

curva e grácil, porém, deverá ser a mudança.

Reta sempre deverá ser a existência;

curva e grácil, porém, deverá ser a presença.

Reta sempre deverá ser a Compreensão;

curva e grácil, porém, deverá ser a Illuminação.

Reta sempre deverá ser a Cristificação;

curva e grácil, porém, deverá ser a Internalização.

Reta sempre deverá ser a Kundalini;

curva e grácil, porém, deverá ser a Ressurreição.

Reta sempre deverá ser a nossa

;

curva e grácil, porém, deverá ser a nossa .

Reta sempre deverá ser a Iniciação;

curva e grácil, porém, deverá ser a Divinização.

Em pelo menos uma medida, toda obstinação, representada pela linha reta, é escravidão, pois, constrói muros de prisão. A linha reta, como a conhecemos, é consistência obstinada, o que é perigoso. A linha reta é uma determinação poderosa, que pode ser expressa através da ambição cruel de um ditador, que tem apenas uma idéia em sua mente, e que vive e morre por essa idéia. [Ibidem.] [Este é o caso, por lastimável exemplo, do Senhor Presidente-ditador, que, nas primeiras horas do dia 24 de fevereiro de 2022, surpreendendo o mundo civilizado, anunciou a cruel, desumana e assassina operação militar de invasão da Ucrânia, que a tem destruído completamente e genocidado o povo ucraniano. Esta aventura despótico-militar putiniana se tornou um dos maiores conflitos militares na Europa, desde a Segunda Guerra Mundial, desencadeando a maior crise de segurança no continente, desde a Guerra Fria. Bem, o que eu não consigo compreender é a confortável inércia-imobilização do Ocidente em relação a este extermínio destrucionista deliberado, considerando que as sanções impostas à Federação Russa são uma espécie de lero-lero mole para boi dormir, já que constrangem apenas o que é desimportante, insignificante e inócuo. A Federação Russa está pouco ligando para estas sanções com açúcar, e, pelo andar da carruagem, putinizadoramente, reduzirá a Ucrânia a escombros e, horrendamente, cadaverizará a população ucraniana. Todos nós pagaremos um alto preço por esta aventura: nós-aqueles que a parimos e nós-aqueles que estamos a assistir o parto com submissa complacência. O fato é que, para dar só um exemplo, os europeus não querem sentir frio, e a produtora estatal de gás russo continua a fornecer gás natural para a Europa, via Ucrânia.]

Destruição da Ucrânia e Genocídio do Povo Ucraniano
(Este mapa não retrata a real destruição da Ucrânia)

A linha reta, que nos parece o verdadeiro símbolo do sucesso, está sempre próxima de um símbolo de desastre psicológico. Representa vontade completa e teimosia; é um poderoso estímulo à ambição. É a inflexibilidade e a crueldade de um único propósito. Marcha não apenas contra as diferenças comuns, mas, também, contra o que é bom, verdadeiro e correto. A linha reta traz consigo, portanto, a imagem ou o símbolo do perigo, que sempre espreitam dentro do ego, que tem certas atitudes impassíveis e inevitáveis que não podem variar, mas, que devem continuar como a bala que sai do cano da arma procurando seu alvo. No entanto, mesmo a bala, em sua trajetória, apresenta uma curva. Todavia, muitas vezes, o homem não é dócil. Ele continua imisericordioso fazendo o que decide fazer. Em todo simbolismo oriental, a linha curva representa aceitação e a resignação. É a força para inclinar a cabeça à vontade do que é maior. Quase todos os cultos colocam o corpo em uma posição curva de algum tipo. O egoísta é sempre retratado de pé enfrentando o inevitável com grande entusiasmo, mas, o sábio costuma ser mostrado com a cabeça baixa, e, muitas vezes, com os ombros caídos, porque não tem o peculiar egoísmo agressivo que, novamente, a linha reta, na arte e no simbolismo, parece indicar tão claramente. Enfim, o Zen tenta combinar ou reunir em uma relação harmoniosa o mistério das linhas retas e curvas. E chegamos à constatação de que o Zen é essencialmente uma linha reta do erro à verdade, ou seja, é uma linha reta que tem curvas magníficas. As linhas retas são necessárias porque o caminho reto para a verdade é semelhante ao caminho direto do rio para o mar, é o caminho mais direto, mas, também, é um caminho de regulação contínua para o inevitável. O grande rio segue a inclinação da Terra, e, por esta curva, chega mais rapidamente ao mar. Assim, o indivíduo, com propósitos certos e bem definidos, deve, freqüentemente, cumprir esses propósitos por esse tortuoso problema de regulação, seguindo o grande arco largo que conduz pelo caminho mais curto ao objetivo. Portanto, a linha reta curvada não é uma contradição: é a simples afirmação de um fato, de uma verdade e de uma realidade, que podem ser conhecidos pela experiência, mas, que não podem ser totalmente explicados pela mente. Este é o tipo de quebra-cabeça com o qual a Filosofia Zen é tão ricamente ornamentada. [Ibidem.]

Música de fundo:

The More I See You
Composição: Harry Warren (música) & Mack Gordon (letra)
Interpretação: The Sunset Strings

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