Amor
é não ter. Inclusive amor é a desilusão do que
se pensava que era amor. E não é prêmio; por isso, não
envaidece.
Gosto
dos venenos, os mais lentos! Das bebidas, as mais fortes! Dos cafés,
os mais amargos! E dos delírios, os mais loucos. Você pode
até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer: E daí eu
adoro voar!
Suponho
que me entender não é uma questão de inteligência,
e, sim, de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca.
Amor
é quando é concedido participar um pouco
mais. Poucos querem o amor porque o amor é a grande desilusão
de tudo o mais. E poucos suportam perder todas as outras ilusões.
É
difícil perder-se. É tão difícil, que, provavelmente,
arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que me achar seja, de novo,
a mentira de que vivo.
Fique
de vez em quando sozinho, senão você será submergido.
Até o amor excessivo dos outros pode submergir uma pessoa.
Passei a minha vida tentando corrigir
os erros que cometi na minha ânsia de acertar. Ao tentar corrigir
um erro, eu cometia outro. Sou uma culpada inocente.
O que verdadeiramente somos é
aquilo que o impossível cria em nós.
Até
cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual
é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.
Nem entendo aquilo que entendo: estou
infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço.
Porque
há o direito ao grito. Então, eu grito.
O
que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em
nós.
Depois
de toda luta e de cada descanso, quero me levantar forte e pronta, como
um cavalo novo.
Uns
cosem pra fora; eu coso pra dentro.
O
que obviamente não presta sempre me interessou muito. Gosto, de um
modo carinhoso, do inacabado, do malfeito, daquilo que, desajeitadamente,
tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão.
Escuta:
eu te deixo ser. Deixa-me ser, então.
Amanheci
em cólera. Não, não, o mundo não me agrada.
A maioria das pessoas está morta e não sabe, ou está
viva com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de
nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá
remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece...
Não
sei qual a minha culpa, mas, peço perdão.
Ouça:
respeite mesmo o que é ruim em você. Respeite, sobretudo, o
que imagina que é ruim em você. Não copie uma pessoa
ideal, copie você mesma; é este seu único meio de viver.
Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou
por covardia ia ser punida, e iria para um inferno qualquer. Se é
que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão.
Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é
tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente
imoral é ter desistido de si mesma. Gostaria mesmo que você
me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando
se pactua com a comodidade da alma.
Divertir
os outros, um dos modos mais emocionantes de existir.
Sou
um monte intransponível no meu próprio caminho. Mas, às
vezes, por uma palavra tua ou por uma palavra lida, de repente, tudo se
esclarece.
O que estou eu a dizer? Estou dizendo
amor. E à beira do amor, estamos nós.
Deve-se
viver, apesar de.
O
que faço desta lucidez? Sei que esta minha lucidez pode se tornar
o inferno humano. Já me aconteceu antes.
Só
me comprometo com a vida que nasça com o tempo e com ele cresça.
Só no tempo há espaço para mim.
Aliás
– descubro eu agora –
eu também não faço a menor falta, e
até o que escrevo um outro escreveria.
Enquanto
eu tiver perguntas e não houver respostas, continuarei a escrever.
Já
que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com
palavras as entrelinhas.
O
que o ser humano mais aspira é se tornar ser humano.
Não
tenho medo nem das chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas.
Pois eu também sou o escuro da noite.
Faça com que eu saiba ficar
com o nada e, mesmo assim, me sentir como se estivesse pleno de tudo...
Talvez a pergunta vazia fosse apenas
para que um dia alguém não viesse a dizer que ela nem ao menos
havia perguntado. Por falta de quem lhe respondesse, ela mesma parecia se
ter respondido: é assim porque é assim.
E se me achar esquisita, respeite
também. Até eu fui obrigada a me respeitar.
Sou
um coração batendo no mundo.
Juro que há em meu rosto sério
uma alegria, até mesmo divina, para dar.
Vivo no quase, no nunca e no sempre.
É que o mundo de fora também
tem o seu ‘dentro’; daí a pergunta, daí os equívocos.
O mundo de fora também é íntimo. Quem o trata com cerimônia
e não o mistura a si mesmo não o vive, e é quem realmente
o considera ‘estranho’ e ‘de fora’. A palavra ‘dicotomia’
é uma das mais secas do dicionário.
Minhas
desequilibradas palavras são o luxo de meu silêncio. Escrevo
por acrobáticas aéreas piruetas; escrevo por profundamente
querer falar. Embora escrever só esteja me dando a grande medida
do silêncio.
Dá-me
a tua mão desconhecida que a vida está me doendo e eu não
sei como falar. A realidade é delicada demais. Só a realidade
é delicada; minha irrealidade e minha imaginação são
mais pesadas.
Aceitar-me
plenamente? É uma violentação de minha vida. Cada mudança,
cada projeto novo causa espanto: meu Coração está espantado.
É por isto que toda as minhas palavras têm um Coração,
onde circula sangue.
Eu
escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa.
Não altera em nada... Porque, no fundo, a gente não está
querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de
um modo ou de outro...
Eu só escrevo quando eu quero.
Eu sou uma amadora e faço questão de continuar a ser amadora.
Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo
mesmo de escrever ou então em relação ao outro. Eu
faço questão de não ser profissional, para manter minha
liberdade.
Pertencer
é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto
e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil.
E depois a sede volta, e é no deserto mesmo que caminho!
Perder-se também é
caminho!
Escrever
é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível,
é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria
apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar
uma vida que não foi abençoada.
Eu
não sabia que se pode tudo, meu Deus!
Saudade é um pouco como fome.
Só passa quando se come a presença. Mas, às vezes,
a saudade é tão profunda, que a presença é pouco:
quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro, para
uma unificação inteira, é um dos sentimentos mais urgentes
que se tem na vida.
A
única verdade é que vivo. Sinceramente, eu vivo. Quem sou?
Bem, isso já é demais!
Entender
é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras.
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não
entender, do modo como falo, é um dom... O bom é ser inteligente
e não entender. É uma benção estranha, como
ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma
doçura de burrice. Só que, de vez em quando, vem a inquietação:
quero entender um pouco. Não demais; mas pelo menos entender que
não entendo.
Eu
fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando
as compreensões, eu amava. Não sabia que somando as incompreensões
é que se ama verdadeiramente.
Não
quero ter a terrível limitação de quem vive apenas
do que é possível fazer sentido. Eu não: quero é
uma verdade inventada.
Quero
sempre ter a garantia de, pelo menos, estar pensando que entendo; não
sei me entregar à desorientação.
É
preciso antes subir penosamente até, enfim, atingir a altura de poder
cair.
O
que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesmo.
Os
bichos me fantasticam. Eles são o tempo que não se conta.
Pareço ter certo horror daquela criatura viva que não é
humana e que tem meus próprios instintos, embora livres e indomáveis.
Às vezes, eletrizo-me ao ver um bicho. Estou agora ouvindo o grito
ancestral dentro de mim: parece que não sei quem é mais a
criatura, se eu ou o bicho.
Quando se ama, não é
preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer
dentro de nós.
Pois,
em mim mesma, eu vi como é o inferno... E porque minha alma é
tão ilimitada que já não sou eu, e porque ela está
tão além de mim é que sempre sou remota a mim mesma;
sou-me inalcançável como me é inalcançável
um astro... O mistério do destino humano é que somos fatais,
mas temos a liberdade de cumprir ou não o nosso fatal: de nós
depende realizarmos o nosso destino fatal... Mas de mim depende eu vir a
ser o que fatalmente sou... E não preciso sequer cuidar da minha
alma; ela cuidará fatalmente de mim, e não tenho que fazer
para mim mesma uma alma: tenho apenas que escolher viver. Somos livres,
e este é o inferno.
Quando me comunico com criança,
é fácil porque sou muito maternal. Quando me comunico com
adulto, na verdade, estou me comunicando com o mais secreto de mim mesma,
daí é difícil... O adulto é triste e solitário.
A criança tem a fantasia muito solta.
Que
ninguém se engane: só se consegue a simplicidade através
de muito trabalho.
É-se. Sou-me. Tu te és.
É
uma infâmia nascer para morrer não se sabe quando nem onde.
Deixo
oculto o que preciso ser oculto e que precisa se irradiar em segredo. Calo-me.
Abandone-se.
Tente tudo suavemente. Não se esforce por conseguir. Esqueça
completamente o que aconteceu, e tudo voltará com naturalidade.
Perder-se
significa ir achando, e nem saber o que fazer do que se for achando.
Sem
entender jamais o que havia de bom em ser gente, em sentir-se cansada, em
diariamente falir; só os Iniciados compreendem essa nuance de vício
e esse refinamento de vida.
Ser um ser permissível a si
mesmo é a glória de existir.
Não entendo e tenho medo de
entender; o material do mundo me assusta, com seus planetas e baratas.
A
felicidade aparece para aqueles que choram./Para
aqueles que se machucam./Para
aqueles que buscam e tentam sempre./E
para aqueles que reconhecem/a
importância das pessoas que passam por suas vidas.
O
futuro mais brilhante/é
baseado num passado intensamente vivido./Você
só terá sucesso na vida/quando
perdoar os erros/e
as decepções do passado.
Existe
a trajetória; e a trajetória não é apenas um
modo de ir. A trajetória somos nós mesmos. Em matéria
de viver, nunca se pode chegar antes.
Tenho medo de dizer porque no momento
em que tento falar, não só não exprimo o que sinto,
como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo.
Tudo
o que poderia existir, já existe. Nada mais pode ser criado, senão
revelado.
Uma
resposta traz em si outra pergunta.
Na
pobreza do corpo e do espírito eu toco na santidade; eu quero sentir
o sopro do meu além, para ser mais do que eu, pois tão pouco
sou.
Renda-se,
como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece, como eu
mergulhei. Não se preocupe em entender; viver ultrapassa qualquer
entendimento.
Liberdade
é pouco. O que desejo ainda não tem nome.
Uma
das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de,
se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive,
muitas vezes, é o próprio apesar de que nos empurra para frente.
Foi o apesar de que me deu uma angústia que, insatisfeita, foi a
criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e
fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi.
E, desde logo, desejando você, esse teu corpo que nem sequer é
bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira; com a alma
também. Por isso, não faz mal que você não venha;
esperarei quanto tempo for preciso.
Meu
Deus, me dá a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias
e noites, todos vazios de Tua presença. Me dá a coragem de
considerar este vazio como uma plenitude. Faz com que eu seja a Tua amante
humilde, entrelaçada a Ti em êxtase. Faz com que eu possa falar
com este vazio tremendo e receber como resposta o amor materno que nutre
e embala. Faz com que eu tenha a coragem de Te amar, sem odiar as Tuas ofensas
à minha alma e ao meu corpo. Faz com que a solidão não
me destrua. Faz com que minha solidão me sirva de companhia. Faz
com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faz com que eu saiba ficar com
o nada, e, mesmo assim, me sentir como se estivesse plena de tudo. Recebe
em Teus braços meu pecado de pensar.
Tenho
várias caras. Uma é quase bonita; outra é quase feia.
Sou um o quê? Um quase tudo.
Amar
os outros é a única salvação individual que
conheço: ninguém estará perdido se der amor e, às
vezes, receber amor em troca.
Só
o que está morto não muda! Repito por pura alegria de viver:
a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não
vale a pena!
Viver
em sociedade é um desafio porque, às vezes, ficamos presos
a determinadas normas que nos obrigam a seguir regras limitadoras do nosso
ser ou do nosso não-ser... Quero dizer com isso que nós temos,
no mínimo, duas personalidades: a objetiva, que todos ao nosso redor
conhecem, e a subjetiva... Em alguns momentos, esta se mostra tão
misteriosa que se perguntarmos quem somos, não saberemos dizer ao
certo! Agora, de uma coisa eu tenho certeza: sempre devemos ser autênticos.
As pessoas precisam nos aceitar pelo que somos e não pelo que parecemos
ser... Aqui reside o eterno conflito da aparência versus essência.
E você... O que pensa disto?
Que
desafio, hein? Nunca sofra por não ser uma coisa ou por sê-la...
Vivo
de esboços não acabados e vacilantes. Mas me equilibro como
posso, entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e Deus.
À
duração da minha existência dou uma significação
oculta que me ultrapassa. Sou um ser concomitante: reúno em mim o
tempo passado, o presente e o futuro, o tempo que lateja no tique-taque
dos relógios.
Mesmo
minhas alegrias, como são solitárias às vezes! E uma
alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar
com um presente todo embrulhado com papel enfeitado de presente nas mãos,
e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo
me ver em situações patéticas e, por uma espécie
de contenção, evitando o tom de tragédia, então,
raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.
Sou
uma filha da Natureza:
quero pegar, sentir, tocar, ser.
E tudo isso já faz parte de um todo,
de um mistério.
Sou uma só... Sou um ser.
E deixo que você seja. Isto lhe assusta?
Creio que sim. Mas vale a pena.
Mesmo que doa. Dói só no começo.
Só
se sente nos ouvidos o próprio Coração...
Pois, nós não fomos feitos
senão para o pequeno silêncio.
Tudo,
no mundo, começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra
molécula, e nasceu a vida. Mas, antes da pré-história
havia a pré-história da pré-história, e havia
o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei
que o Universo jamais começou.
Não
me dêem fórmulas certas porque eu não espero acertar
sempre. Não me mostrem o que esperam de mim porque vou seguir meu
Coração! Não me façam ser o que não sou.
Não me convidem a ser igual. Sinceramente, sou diferente!