Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Queres te tornar um Iogue do Círculo do Tempo? Então, ó 'Lanu':

Não creias que te sentando em florestas escuras, em orgulhosa reclusão, longe dos homens; não creias que a vida alimentada de plantas e raízes, saciada a sede com a neve da Grande Cordilheira – não creias, ó devoto – que isto te levará à meta da libertação final.

Não julgues que partir ossos e lacerar carne e músculos te unirão ao teu Eu Silencioso1. Não julgues que, vencidos os pecados da tua forma grosseira, ó Vítima das tuas Sombras2, teu dever esteja cumprido para com a Natureza e os homens.

Os Benditos Seres desdenharam tal conduta. O Leão da Lei, o Senhor da Misericórdia3, percebendo a verdadeira causa do sofrimento humano, imediatamente abandonou o doce mas egoísta descanso dos tranqüilos desertos. De 'Âranyaka'4 Ele se tornou o Instrutor da Humanidade. Depois de haver ingressado no 'Nirvana', 'Julai'5 pregou em montanhas e planícies e proferiu discursos nas cidades aos Devas, aos homens e aos Deuses6.

Semeia ações bondosas e colherás os seus frutos. A inação num ato de misericórdia se converte em ação num pecado mortal.

Assim diz o Sábio:

Queres te abster da ação? Não é assim que tua Alma obterá libertação. Para alcançar o 'Nirvana' é preciso alcançar o autoconhecimento, e o autoconhecimento é filho de atos amorosos.

Tem paciência, Candidato, como quem não teme fracassos nem corteja êxitos. Fixa o olhar da tua Alma na Estrela cujo raio és7, a Flamejante Estrela que brilha dentro das obscuras profundezas do Ser Permanente, nos campos ilimitados do Ignoto.

Tem perseverança como aquele que tem de persistir eternamente. Tuas sombras vivem e desvanecem8; aquilo que em ti viverá para sempre, aquilo que em ti 'conhece' (porque é Conhecimento)9 não é da vida fugaz; é o Homem que-foi, que-é e que-haverá-de-ser, para quem a hora nunca soará.

Se queres colher doce paz e descanso, Discípulo, semeia sementes do mérito os campos de futuras colheitas. Aceita as dores do nascimento.

Afasta-te da luz do Sol para a sombra, a fim de abrires mais espaço a outros. As lágrimas que regam o solo árido da dor e da tristeza fazem nascer as flores e os frutos da retribuição cármica. Da fornalha da vida humana e do seu fumo denso, saltam chamas aladas, chamas purificadas, que, erguendo-se alto, sob o olhar cármico, tecem, por fim, o tecido glorioso das três Vestes da Senda.

Essas Vestes são: 'Nirmanakâya', 'Sambhogakâya', e 'Dharmakâya' – a Veste Sublime.10

 

 

A Voz do Silêncio
(As Duas Sendas, versículos 131 a 141)
Helena Petrovna Blavatsky (1.831 – 1.891)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Oh! O Círculo do Tempo!

O tempo... Que é tempo

e que também não é tempo!

 

 

Serei um Nirmanakâya!

Serei um Sambhogakâya!

Não serei Dharmakâya!

 

 

Diligente, conquistarei!

Por mérito, ascensionarei!

Compassivo, renunciarei!

 

 

 

 

 

 

Se não houver salvação11 para um,

não haverá salvação para nenhum!

Desde sempre, somos todos UM!

 

 

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Eu Silencioso = Eu Superior – o Sétimo Princípio.

2. Nas Escolas Místicas, nossos Corpos Físicos são chamados de Sombras.

3. Buddha.

4. Ermitão que, ao se tornar Iogue, se retira para as selvas e vive em um bosque.

5. Julai é o nome chinês para Tathâgata – um dos títulos aplicados a todo Buddha.

6. Todas as tradições do Norte e do Sul concordam em mostrar Buddha abandonando sua solidão logo que resolveu o problema da vida – isto é, ao receber a Illuminação interior – e instruindo publicamente os homens.

7. Segundo o ensinamento esotérico, cada Ego Espiritual é um dos raios de um Espírito Planetário.

8. Os Corpos Físicos, chamados Sombras, são transitórios.

9. No homem, menciona-se Mente (Manas) como o princípio pensante do Ego, isto é, como sendo o próprio Conhecimento, porque os Egos humanos são chamados de Manasaputras – os filhos da Mente Universal, os filhos nascidos da Mente de Brahma.

10. Kâya, no Budismo, significa, literalmente, corpo. Representa um modo de manifestação da verdade (relativa) ou de manifestação em uma esfera da verdade, principalmente os três kâyas ou trikâya: o Nirmanakâya, o Sambhogakâya e o Dharmakâya. Os três kâyas contêm uma doutrina de como e por quais modos se dá a manifestação do Buddha. Nirmanakâya é a mais concreta das manifestações que adquire um corpo, aparecendo em benefício dos que são incapazes de perceber o Sambhogakaya. Compreende as experiências sensíveis que envolvem os elementos – Terra, Ar, Água, Fogo, Espaço – e as manifestações de formas compostas por esses elementos como os objetos e seres da Natureza e mesmo as pessoas. Representa todos os desejos e o desejo de conhecer a verdade ou a felicidade. Corresponde à Fala do Buddha. Sambhogakâya é a manifestação da forma pura e perceptível dos grandes praticantes. Representa a verdade que é conhecida pela forma e pela idéia. Corresponde à Mente do Buddha. Dharmakâya é a manifestação da verdade em forma (relativamente) absoluta para além da necessidade de discriminação em conceitos. Representa a verdade que está além da forma e da idéia. Corresponde ao Corpo do Buddha.

11. Para quem acredita e augura que haja algum tipo de salvação, negociada ou porque a ela admite ter feito jus, normalmente, esta presumida mas auspiciosa salvação é individual. No máximo, a acreditabilidade salvacionista ou o desejo salvífico incluem apenas parentes próximos e alguns poucos amigos muito queridos. Quem mora do outro lado da rua não entra nesta cogitação. É mais ou menos assim: cada um que se vire e que trate de convencer seu Deus que merece ser salvo. Todavia, mística e iniciaticamente, é preciso que se entenda que, se salvação há, ela é tão-só de nós mesmos, de nossa, por assim dizer, mâyâ-astral-objetividade; e por mais difícil de ser compreendido que possa ser, ao mesmo tempo, no tempo que é tempo e que não é tempo, ela deverá ser individual e coletivamente. Por isto – ou melhor, por muito mais do que isto – queiramos ou não queiramos, gostemos ou não gostemos, conformados com a Lei ou não conformados com a Lei, se não houver salvação para um, não poderá haver salvação para nenhum! Somos todos UM! Desde sempre! Agora, imagine que você tenha que fazer uma viagem. Como você poderia viajar deixando seu braço direito na casa da sua sogra e sua perna esquerda na casa do seu compadre? Ninguém viaja aos pedaços! Nem o Herman Monstro conseguiria realizar essa proeza! Nem tomando uma daquelas pílulas transformativas do vovô!

 

 

 

 

Fundo musical:

A&S

Fonte:

http://br.geocities.com/mimifantasy01/midi.htm