Queres
te tornar um Iogue do Círculo do Tempo? Então, ó
'Lanu':
Não
creias que te sentando em florestas escuras, em orgulhosa reclusão,
longe dos homens; não creias que a vida alimentada de plantas
e raízes, saciada a sede com a neve da Grande Cordilheira –
não creias, ó devoto – que isto te levará
à meta da libertação final.
Não
julgues que partir ossos e lacerar carne e músculos te unirão
ao teu Eu Silencioso1.
Não julgues que, vencidos os pecados da tua forma grosseira,
ó Vítima das tuas Sombras2,
teu dever esteja cumprido para com a Natureza e os homens.
Os
Benditos Seres desdenharam tal conduta. O Leão da Lei, o Senhor
da Misericórdia3,
percebendo a verdadeira causa do sofrimento humano, imediatamente
abandonou o doce mas egoísta descanso dos tranqüilos desertos.
De 'Âranyaka'4
Ele se tornou o Instrutor da Humanidade. Depois de haver ingressado
no 'Nirvana', 'Julai'5
pregou em montanhas e planícies e proferiu discursos nas cidades
aos Devas, aos homens e aos Deuses6.
Semeia
ações bondosas e colherás os seus frutos. A inação
num ato de misericórdia se converte em ação num
pecado mortal.
Assim
diz o Sábio:
Queres
te abster da ação? Não é assim que tua
Alma obterá libertação. Para alcançar
o 'Nirvana' é preciso alcançar o autoconhecimento, e
o autoconhecimento é filho de atos amorosos.
Tem
paciência, Candidato, como quem não teme fracassos nem
corteja êxitos. Fixa o olhar da tua Alma na Estrela cujo raio
és7,
a Flamejante Estrela que brilha dentro das obscuras profundezas do
Ser Permanente, nos campos ilimitados do Ignoto.
Tem
perseverança como aquele que tem de persistir eternamente.
Tuas sombras vivem e desvanecem8;
aquilo que em ti viverá para sempre, aquilo que em ti 'conhece'
(porque é Conhecimento)9
não é da vida fugaz; é o Homem que-foi, que-é
e que-haverá-de-ser, para quem a hora nunca soará.
Se
queres colher doce paz e descanso, Discípulo, semeia sementes
do mérito os campos de futuras colheitas. Aceita as dores do
nascimento.
Afasta-te
da luz do Sol para a sombra, a fim de abrires mais espaço a
outros. As lágrimas que regam o solo árido da dor e
da tristeza fazem nascer as flores e os frutos da retribuição
cármica. Da fornalha da vida humana e do seu fumo denso, saltam
chamas aladas, chamas purificadas, que, erguendo-se alto, sob o olhar
cármico, tecem, por fim, o tecido glorioso das três Vestes
da Senda.
Essas
Vestes são: 'Nirmanakâya', 'Sambhogakâya', e 'Dharmakâya'
– a Veste Sublime.10
A
Voz do Silêncio
(As Duas Sendas, versículos 131 a 141)
Helena Petrovna Blavatsky (1.831 – 1.891)