Este
estudo (segunda parte) tem por objetivo apresentar para reflexão
alguns fragmentos (poucos ligeiramente editados) da obra A Ciência
dos Espíritos, de autoria do sábio
KaBaLista
francês Éliphas Lèvy – o mais importante ocultista
do século XIX. Resumidamente, a obra é uma tentativa de reconciliar
a razão com a fé, já que a
harmonia, segundo Éliphas,
resulta da analogia
dos contrários. E assim, talvez, se possa definir fé
como o reconhecimento confiante da razão de uma verdade pessoalmente
experienciada.
Fragmentos
da Obra
O que nesta vida não conseguirmos
alcançar [compreender]
só poderemos raciocinar por hipóteses.1
A
Natureza, que não faz nada de inútil, não dá
aos seres existentes necessidades que não devam [possam]
ser satisfeitas.
'Novem
sunt hierarchiœ.' Nove é o número hierárquico.
'Schema
misericordiam dicit sed et Judicium.' O Nome Divino significa misericórdia
porque quer dizer Julgamento [Justiça].
A
Natureza, segundo a Filosofia de Hermes, jamais opera por sobressaltos.
O
Grande Adão [ADM]
– o Homem Universal e Completo, que era representado pela
Árvore da Vida, estendendo, em cima e embaixo da Terra, galhos e
raízes –
encerra em um só espírito todos os espíritos e
todas as almas.
A
morte retorna sempre à vida, e o próprio mal serve de renovação
e de alimento para o bem. A morte, assim, não existe, e o homem não
sai jamais da Vida Universal.2
A Inteligência Universal é
como a luz do Sol, que repousa ao mesmo tempo sobre todos os astros, e que
é refletida pelos astros para se iluminar uns aos outros.
Somos
todos membros de um só corpo, e o homem que procura suplantar e destruir
outro homem é como a mão direita que, por inveja, procuraria
cortar a mão esquerda. Aquele que mata, se mata, aquele que injuria,
se injuria, aquele que rouba, se rouba, aquele que fere, se fere, porque
[todos] os outros
estão em nós e nós estamos neles [todos].3
A
riqueza torturará e abaterá os ricos enquanto houver pobres
que careçam de pão.
A
Lei é inflexível, mas, a misericórdia não tem
limites. A Lei condena, mas, a misericórdia perdoa. Por si mesmo,
o inferno nunca se comove com a sua presa, mas, poderemos lançar
uma corda àquele que se deixou cair.
Aqueles
que não cultivaram sua inteligência durante sua existência
ficam, após a morte, em um estado de torpor e de estupor cheio de
angústias e de inquietude [como
tenho dito, em uma espécie de pesadelo de repetição];
têm dificuldade em retomar a consciência de si mesmos, estão
no vazio e na noite, não podem nem subir nem descer, e são
incapazes de se corresponder, seja com o céu
[em sentido místico], seja com a Terra. São tirados,
pouco a pouco, deste estado pelos eleitos que os instruem, os consolam e
os esclarecem. Depois, [se
houver mérito,] conseguem ser admitidos para novas experiências...
Existem
espíritos elevados, espíritos inferiores e espíritos
medíocres. Entre os espíritos elevados, podem-se distinguir
também os mais elevados, os menos elevados e aqueles que ficam entre
os dois. A mesma distinção pode ser feita em relação
aos espíritos inferiores e aos espíritos medíocres.
Assim temos três classes e nove categorias de espíritos. Esta
hierarquia natural levou a supor, por analogia, as três classes e
as nove ordens dos anjos, e depois, por inversão, os três círculos
e os nove degraus do inferno.
A
Sabedoria [ShOPhIa]
afasta os fantasmas e nos faz comunicar com os espíritos
superiores pela contemplação das Leis da Natureza e o estudo
dos Números Sagrados.
A
Substância é uma; porém, o número, o peso e a
medida determinam a forma das coisas.
A
Verdadeira Vida não existe sem Liberdade.4
A
virtude é a força moral – que só se produz em
razão da resistência – e as tentações são
necessárias para se chegar à virtude.5
Se
o ser-aí-no-mundo não nascesse [(re)encarnasse]
nem morresse [desencarnasse],
dormiria absorvido na eternidade, e jamais poderia conquistar sua própria
imortalidade.
O
Número Três – a Terceira Luz – exprime o Amor.
A Quarta Luz é a vida natural e elementar.A Quinta Luz é a
Estrela Pentagramática, o símbolo da Quintessência,
o símbolo da Vontade que dirige os Elementos. A existência
é um dia seguido de uma noite, que faz pressentir um despertar [prosseguir],
seguido de uma nova existência [ciclos].
'Sex
dies geneseos sunt sex litterœ BeREShITh.'
[BeREShITh BaRA
ELOHIM]. Os seis dias da Gênese são
as seis letras da palavra
6
'Quatuor
flumina ex uno fonte. In medio unius sunt sex et dat decem.' As quatro fontes
do éden saem de uma fonte no meio da qual há seis, e ao todo
somam dez.
'Factum
fatum quia fatum verbum est.' Um fato é uma fatalidade porque uma
fatalidade é uma razão.7
'Portœ
jubilœum sunt.' As Portas são um jubileu. Segundo os LaBaListas,
há Cinqüenta Portas da Ciência que, juntas, formam a Ciência
Geral e Universal.8
'Abraham
semper vertitur ad austrum.' Abraão sempre se volta em direção
ao vento do sul. Isto é, em direção ao vento que traz
a chuva.9
O
Belo é o esplendor da Verdade, e este esplendor Illumina o Universo.
'Copula
cum ThiPhAReTh et generatio tua benedicetur.' Desposa a Suprema Beleza e
tua geração será abençoada.
'Dæmon
est Deus inversus.' O diabo é Deus invertido. O diabo não
é senão a antítese de Deus, e, se pudesse ter uma existência
real, Deus certamente não existiria.
'Duo
erunt unum. Quod intra est fiet extra e nox sicut dies illuminabitur'. Dois
farão apenas um. O que está dentro se produzirá fora
e a noite será iluminada como o dia. Deus e a Natureza, a autoridade
e a liberdade, a fé e a razão, a religião e a ciência,
[o 1 e o 2] são
princípios eternos que ainda não estão conciliados.
Eles existem, no entanto, e como não podem se destruir mutuamente,
é necessário que se conciliem. O modo de conciliá-los
é tentar distingui-los e equilibrar um pelo outro. A sombra é
necessária à luz. São as noites que marcam e medem
os dias.10
A
Verdadeira Vida
Éliphas:
a Verdadeira Vida
não existe sem Liberdade.
Eu digo:
a Lídima Liberdade
não
existe sem Compreensão.
Todavia,
a Compreensão
depende
de Esforço e de Mérito.
E, o
Esforço e o Mérito
são
irmãos do Amor Impessoal.
No
entanto, Amor Impessoal
tão-só
incondicionalmente
e, sempre,
categoricamente.
Semelhante
ao Æternum
Verbum!
Æternum
Verbum
Dimissum
et Inenarrabile,
porém,
cognoscibile!
Tudo
depende de nós!
Continua...
______
Notas:
1. Mas,
que, sempre, haja coerência na proposição que se admite.
Se, por hipótese, admitirmos que um Rhiniodon
tipus poderá se casar com uma Iridomyrmex
humilis, só poderemos concluir que seus filhotes serão
ou Rhinumilis
ou Iridotipus,
o que é simplesmente um absurdo!
2. Isto
é só uma explicação (ou uma tentativa de explicação)
poética, romântica e animadora, e Éliphas sabia disto,
pois, a própria Lei da Reencarnação, se for mal compreendida,
fará mais mal e estragos do que carreará o bem e a tranqüilidade.
A Vida Universal é una, sim; mas, para Dela participarmos conscientemente
é preciso, no mínimo, mérito e trabalho incessante.
A reencarnação não fará isto por ninguém,
até porque reencarnar é um Privilégio adquirido, não
uma obrigatoriedade ou lei irrevogável. Os absolutamente e inteiramente
cruéis (que não se arrependem e não mudam, digamos
assim) s(er)ão entropizados – o que não altera em nada
a Unidade da Vida Universal, porque crueldade é crueldade, e lúmen
é lúmen!
3. Qualquer crença
religiosa ou qualquer aquisição Iniciática é
estéril e inútil, se não houver a compreensão
de que somos individualidades viventes sob a mesma e única Unidade,
o que é equivalente a entender e admitir que somos todos Um.
4. Mas, a Liberdade
só poderá ser conquistada pela Compreensão.
5. As tentações,
em princípio, podem ser classificadas como malditas ou benditas.
São malditas quando catalisam mudanças para baixo e para o
lado esquerdo; são benditas quando desencadeiam mudanças para
cima e para o lado direito. Mas, como parece ser necessário descer
e visitar a esquerda (mortificação inconsciente) para poder
subir e conhecer a direita (imortalização consciente), então,
no frigir dos ovos, não estará errado aquele que admitir que
todas as tentações são efetivamente benditas. Mas,
se examinarmos este tema sob um ângulo estritamente metafísico,
é possível que cheguemos à conclusão que não
há esquerda, direita, em cima ou embaixo, e, como conseqüência,
não há nem pecado
nem virtude. O que há é um Estado Ideal de Harmonia Cósmica,
de Bem, de Beleza e de Preservação Perpétua, que não
conhecemos in totum,
mas, que, de alguma forma, o sentimos por intuição, e que
o buscamos – e o haveremos de buscar! – ad
æternum. Lembre-se sempre disto: o alcançamento
absoluto e defitivo do que quer que seja geraria estagnação
ou cessação de movimento, e isto, em termos universais, é
impossível. Por isto, um éden aconchegante e uma geena supliciante
per omnia sæcula
sæculorum
não podem ser, não podem existir e não
podem acontecer. No Universo, não existe o definitivo, o para sempre;
apenas o próprio Universo é definitivo e para sempre, porque,
sendo incriado e desde sempre existente, não poderá se transformar
em coisa nenhuma ou em inexistência. Big
Bang (ou Grande Explosão) e Big
Crunch (ou Grande Colapso) são conceitos físicos
equivocados. Como o nada poderia gerar alguma coisa? Como qualquer coisa
poderia se transformar (ou ser transformada) em nada?
Big
Bang ‹—›
Big Crunch
(Animação Pitoresca)
6. BeREShITh
BeRE
+ ShITh.
BeRE
(BRA)
2–200–1
2 + 200 + 1 = 203
2 + 0 + 3 = 5 —› HE,
símbolo da Vida Absoluta. ShITh
300–10–400
300 + 10 + 400 = 710 7 + 1
+ 0 = 8 —› HeT,
que significa repouso. Movimento – Repouso. BeRE—ShITh.
A soma teosófica das cifras de BeREShITh
conduz ao número 913, que, por adição (9 + 1 + 3),
é igual a 13, e que, posteriormente, reduz-se a 4. 13 está
associado a MeM,
décima terceira letra do alfabeto hebreu, e 4 é o Valor Externo
da letra DaLeT.
Ambas as letras têm um sentido complementar que envolve os conceitos
de maternidade, de fecundidade, de passividade, de abundância, de
nutrição e de divisão.
7. Na
verdade, como explica o próprio Éliphas, não
há fatalidade: tudo o que é deveria ser. Tudo o que acontece
deverá acontecer. Nada poderá suceder no Universo
que não tenha uma causa-origem, e que, como fim, remate ou conclusão,
no espaço e no tempo, não produza um efeito-conseqüência.
A admissibilidade da sorte, do azar ou do por acaso são desconhecimentos,
o que não significa que o Universo seja constantemente determinístico,
ainda que todos os fenômenos da Natureza estejam ligados entre si
(interligados) por rígidas relações de causalidade,
e que as Leis Universais excluam o acaso e a indeterminação.
Todavia, uma Inteligência Preparada, Ilustrada, e Privilegiada, que
seja capaz de conhecer o estado presente do Universo, necessariamente estaria
apta também a prever o futuro, e, Magikamente,
pois tudo é Magia, de certa forma e em um certo sentido, reconstituir
ou reconstruir o passado. Isto também não implica que compensações
possam ser abolidas ou apagadas, mas, sim, que poderão ser modificadas.
O carma, ainda que indelével, como tudo, poderá ser transmutado,
por um Triângulo Transmutativo: Amor (Misericórdia) + Arrependimento
(Sincero) + Compreensão (Libertadora). Enfim, as fatalidades
existem e acontecem porque, de maneira geral, somos incapazes de prevê-las
e inaptos para rearranjá-las. Por último, darei um exemplo
banal que ilustra tudo isto. Imagine que você está dirigindo
por uma estrada qualquer. O carro está em movimento porque seu pé
está no acelerador (causa-origem). De repente, à sua frente,
aparece um dinossauro-bico-de-pato atravessando a estrada. Só há
duas opções: seguir em frente e colidir com o dinossauro ou
frear. E assim, todas as causas-origens poderão ser mantidas e seguir
seus cursos implacáveis e produzir seus efeitos-conseqüências
ou ser modificadas. Tudo depende de nós. Infelizmente, para a imensa
maioria dos seres-aí-no-mundo, não é a ShOPhIa
que está no comendo, mas, a inscientìa,
que vai atropelando de formigas-açucareiras a megalossauros!
8. As
Cinqüenta Portas da Inteligência, segundo Kircher e citadas por
Gérard Encausse (Papus), dividem-se em seis classes, quais sejam:
primeira classe – Princípio dos Elementos (constituída
de Dez Portas); segunda classe – Década dos Mistos (constituída
de Dez Portas); terceira classe – Década da Natureza Humana
(constituída de Dez Portas); quarta classe – Ordens dos Céus,
Mundo das Esferas (constituída de Dez Portas); quinta classe –
Das Nove Ordens de Anjos, Mundo Angélico (constituída de Nove
Portas); e sexta classe – AIN
SOPh, Deus Imenso (Classe Exclusiva). Esta é a única
Porta que o homem mortal não conheceu e pela qual nenhuma pesquisa
do espírito penetrou, bem como, Moisés não conseguiu
entrar. Para se ultrapassar esta Porta e conhecer os segredos que Ela esconde,
é preciso ressurgir assintoticamente no seio de AIN
SOPh. O Zohar trata dos atributos da Divindade (os
dez Sephirah,
no singular, Sephiroth),
dos quatro mundos, do bem e do mal, da alma humana e da salvação.
O Apocalipse de São João também é considerado
um Livro KaBaLístico,
mas, todas as três obras têm por fundamento a Gênese,
de Moisés. A língua de Moisés embute sempre, minimamente,
três sentidos: material, simbólico e espiritual. Para os KaBaListas,
números, medida e peso presidem o Universo, e a criação
(manifestação) forma uma Unidade de causas e de efeitos, de
tal sorte que cada causa está associada a um número específico.
Deve-se também levar em conta que cada letra hebraica é uma
potência efetiva, englobando três funções, quais
sejam: uma hieroglífica, uma numérica e uma ideativa.
9. Voltar-se
em direção ao vento do sul, em direção ao vento
que traz a chuva, é, conhecendo, utilizar e fazer funcionar
o Verbum Dimissum
et Inenarrabile. Mas, utilizar e fazer funcionar o Verbum
Dimissum et Inenarrabile é uma responsabilidade desmesurada,
notável e extraordinária, que mesmo os que O conhecem são
prudentes e cautelosos em usá-Lo, pois, sabem que, se O utilizarem
e O fizerem funcionar, passarão, ipso
facto, a ser responsáveis pelo seu uso e pelas ações
Dele decorrentes.
10.
Na verdade, o Universo é e existe harmonizado, ordenado e conciliado.
Nós é que, com Ele, ainda não estamos totalmente nem
concordados nem congraçados nem unificados, e isto gera desespero,
dor e morte. Daí, as sucessivas encarnações, para que
possamos, muito devagar, bem devagarinho, ir adquirindo vergonha na carantonha
e ir trocando a fronha.
E dá de reencarnar... Reencarnar...
Reencarnar...
Música
de fundo:
The Elders/Sanctuary
Compositor: Miklos Rozsa
Fonte:
http://gosong.net/download/w-K9QT2JATQ/
King_Of_Kings_Original_Soundtrack-04.html
Páginas
da Internet consultadas:
http://www.usask.ca/childpain/research/safe/
http://www.mssl.ucl.ac.uk/www
_astro/agn/universe.html
http://www.changethethought.com/
category/animated-gifs/
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