A CIÊNCIA DOS ESPÍRITOS

(Segunda parte)

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo (segunda parte) tem por objetivo apresentar para reflexão alguns fragmentos (poucos ligeiramente editados) da obra A Ciência dos Espíritos, de autoria do sábio KaBaLista francês Éliphas Lèvy – o mais importante ocultista do século XIX. Resumidamente, a obra é uma tentativa de reconciliar a razão com a fé, já que a harmonia, segundo Éliphas, resulta da analogia dos contrários. E assim, talvez, se possa definir fé como o reconhecimento confiante da razão de uma verdade pessoalmente experienciada.

 

 

 

 

 

 

Fragmentos da Obra

 

 

 

O que nesta vida não conseguirmos alcançar [compreender] só poderemos raciocinar por hipóteses.1

 

 

 

 

A Natureza, que não faz nada de inútil, não dá aos seres existentes necessidades que não devam [possam] ser satisfeitas.

'Novem sunt hierarchiœ.' Nove é o número hierárquico.

'Schema misericordiam dicit sed et Judicium.' O Nome Divino significa misericórdia porque quer dizer Julgamento [Justiça].

A Natureza, segundo a Filosofia de Hermes, jamais opera por sobressaltos.

O Grande Adão [ADM] – o Homem Universal e Completo, que era representado pela Árvore da Vida, estendendo, em cima e embaixo da Terra, galhos e raízes encerra em um só espírito todos os espíritos e todas as almas.

 

 

 

 

A morte retorna sempre à vida, e o próprio mal serve de renovação e de alimento para o bem. A morte, assim, não existe, e o homem não sai jamais da Vida Universal.2

A Inteligência Universal é como a luz do Sol, que repousa ao mesmo tempo sobre todos os astros, e que é refletida pelos astros para se iluminar uns aos outros.

Somos todos membros de um só corpo, e o homem que procura suplantar e destruir outro homem é como a mão direita que, por inveja, procuraria cortar a mão esquerda. Aquele que mata, se mata, aquele que injuria, se injuria, aquele que rouba, se rouba, aquele que fere, se fere, porque [todos] os outros estão em nós e nós estamos neles [todos].3

A riqueza torturará e abaterá os ricos enquanto houver pobres que careçam de pão.

A Lei é inflexível, mas, a misericórdia não tem limites. A Lei condena, mas, a misericórdia perdoa. Por si mesmo, o inferno nunca se comove com a sua presa, mas, poderemos lançar uma corda àquele que se deixou cair.

Aqueles que não cultivaram sua inteligência durante sua existência ficam, após a morte, em um estado de torpor e de estupor cheio de angústias e de inquietude [como tenho dito, em uma espécie de pesadelo de repetição]; têm dificuldade em retomar a consciência de si mesmos, estão no vazio e na noite, não podem nem subir nem descer, e são incapazes de se corresponder, seja com o céu [em sentido místico], seja com a Terra. São tirados, pouco a pouco, deste estado pelos eleitos que os instruem, os consolam e os esclarecem. Depois, [se houver mérito,] conseguem ser admitidos para novas experiências...

Existem espíritos elevados, espíritos inferiores e espíritos medíocres. Entre os espíritos elevados, podem-se distinguir também os mais elevados, os menos elevados e aqueles que ficam entre os dois. A mesma distinção pode ser feita em relação aos espíritos inferiores e aos espíritos medíocres. Assim temos três classes e nove categorias de espíritos. Esta hierarquia natural levou a supor, por analogia, as três classes e as nove ordens dos anjos, e depois, por inversão, os três círculos e os nove degraus do inferno.

A Sabedoria [ShOPhIa] afasta os fantasmas e nos faz comunicar com os espíritos superiores pela contemplação das Leis da Natureza e o estudo dos Números Sagrados.

A Substância é uma; porém, o número, o peso e a medida determinam a forma das coisas.

 

 

 

 

A Verdadeira Vida não existe sem Liberdade.4

A virtude é a força moral – que só se produz em razão da resistência – e as tentações são necessárias para se chegar à virtude.5

Se o ser-aí-no-mundo não nascesse [(re)encarnasse] nem morresse [desencarnasse], dormiria absorvido na eternidade, e jamais poderia conquistar sua própria imortalidade.

O Número Três – a Terceira Luz – exprime o Amor. A Quarta Luz é a vida natural e elementar.A Quinta Luz é a Estrela Pentagramática, o símbolo da Quintessência, o símbolo da Vontade que dirige os Elementos. A existência é um dia seguido de uma noite, que faz pressentir um despertar [prosseguir], seguido de uma nova existência [ciclos].

 

 

 

 

'Sex dies geneseos sunt sex litterœ BeREShITh.' [BeREShITh BaRA ELOHIM]. Os seis dias da Gênese são as seis letras da palavra 6

'Quatuor flumina ex uno fonte. In medio unius sunt sex et dat decem.' As quatro fontes do éden saem de uma fonte no meio da qual há seis, e ao todo somam dez.

'Factum fatum quia fatum verbum est.' Um fato é uma fatalidade porque uma fatalidade é uma razão.7

'Portœ jubilœum sunt.' As Portas são um jubileu. Segundo os LaBaListas, há Cinqüenta Portas da Ciência que, juntas, formam a Ciência Geral e Universal.8

'Abraham semper vertitur ad austrum.' Abraão sempre se volta em direção ao vento do sul. Isto é, em direção ao vento que traz a chuva.9

O Belo é o esplendor da Verdade, e este esplendor Illumina o Universo.

'Copula cum ThiPhAReTh et generatio tua benedicetur.' Desposa a Suprema Beleza e tua geração será abençoada.

'Dæmon est Deus inversus.' O diabo é Deus invertido. O diabo não é senão a antítese de Deus, e, se pudesse ter uma existência real, Deus certamente não existiria.

'Duo erunt unum. Quod intra est fiet extra e nox sicut dies illuminabitur'. Dois farão apenas um. O que está dentro se produzirá fora e a noite será iluminada como o dia. Deus e a Natureza, a autoridade e a liberdade, a fé e a razão, a religião e a ciência, [o 1 e o 2] são princípios eternos que ainda não estão conciliados. Eles existem, no entanto, e como não podem se destruir mutuamente, é necessário que se conciliem. O modo de conciliá-los é tentar distingui-los e equilibrar um pelo outro. A sombra é necessária à luz. São as noites que marcam e medem os dias.10

 

 

 

 

A Verdadeira Vida

 

 

 

Éliphas: a Verdadeira Vida

não existe sem Liberdade.

Eu digo: a Lídima Liberdade

não existe sem Compreensão.

 

Todavia, a Compreensão

depende de Esforço e de Mérito.

E, o Esforço e o Mérito

são irmãos do Amor Impessoal.

 

No entanto, Amor Impessoal

tão-só incondicionalmente

e, sempre, categoricamente.

Semelhante ao Æternum Verbum!

 

Æternum Verbum

Dimissum et Inenarrabile,

porém, cognoscibile!

Tudo depende de nós!

 

 

Continua...

 

 

 

 

 

 

______

Notas:

1. Mas, que, sempre, haja coerência na proposição que se admite. Se, por hipótese, admitirmos que um Rhiniodon tipus poderá se casar com uma Iridomyrmex humilis, só poderemos concluir que seus filhotes serão ou Rhinumilis ou Iridotipus, o que é simplesmente um absurdo!

2. Isto é só uma explicação (ou uma tentativa de explicação) poética, romântica e animadora, e Éliphas sabia disto, pois, a própria Lei da Reencarnação, se for mal compreendida, fará mais mal e estragos do que carreará o bem e a tranqüilidade. A Vida Universal é una, sim; mas, para Dela participarmos conscientemente é preciso, no mínimo, mérito e trabalho incessante. A reencarnação não fará isto por ninguém, até porque reencarnar é um Privilégio adquirido, não uma obrigatoriedade ou lei irrevogável. Os absolutamente e inteiramente cruéis (que não se arrependem e não mudam, digamos assim) s(er)ão entropizados – o que não altera em nada a Unidade da Vida Universal, porque crueldade é crueldade, e lúmen é lúmen!

 

 

 

 

3. Qualquer crença religiosa ou qualquer aquisição Iniciática é estéril e inútil, se não houver a compreensão de que somos individualidades viventes sob a mesma e única Unidade, o que é equivalente a entender e admitir que somos todos Um.

4. Mas, a Liberdade só poderá ser conquistada pela Compreensão.

5. As tentações, em princípio, podem ser classificadas como malditas ou benditas. São malditas quando catalisam mudanças para baixo e para o lado esquerdo; são benditas quando desencadeiam mudanças para cima e para o lado direito. Mas, como parece ser necessário descer e visitar a esquerda (mortificação inconsciente) para poder subir e conhecer a direita (imortalização consciente), então, no frigir dos ovos, não estará errado aquele que admitir que todas as tentações são efetivamente benditas. Mas, se examinarmos este tema sob um ângulo estritamente metafísico, é possível que cheguemos à conclusão que não há esquerda, direita, em cima ou embaixo, e, como conseqüência, não há nem pecado nem virtude. O que há é um Estado Ideal de Harmonia Cósmica, de Bem, de Beleza e de Preservação Perpétua, que não conhecemos in totum, mas, que, de alguma forma, o sentimos por intuição, e que o buscamos – e o haveremos de buscar! – ad æternum. Lembre-se sempre disto: o alcançamento absoluto e defitivo do que quer que seja geraria estagnação ou cessação de movimento, e isto, em termos universais, é impossível. Por isto, um éden aconchegante e uma geena supliciante per omnia sæcula sæculorum não podem ser, não podem existir e não podem acontecer. No Universo, não existe o definitivo, o para sempre; apenas o próprio Universo é definitivo e para sempre, porque, sendo incriado e desde sempre existente, não poderá se transformar em coisa nenhuma ou em inexistência. Big Bang (ou Grande Explosão) e Big Crunch (ou Grande Colapso) são conceitos físicos equivocados. Como o nada poderia gerar alguma coisa? Como qualquer coisa poderia se transformar (ou ser transformada) em nada?

 

 

Big Bang ‹—› Big Crunch
(Animação Pitoresca)

 

 

6. BeREShITh BeRE + ShITh. BeRE (BRA) 2–200–1 2 + 200 + 1 = 203 2 + 0 + 3 = 5 —› HE, símbolo da Vida Absoluta. ShITh 300–10–400 300 + 10 + 400 = 710 7 + 1 + 0 = 8 —› HeT, que significa repouso. Movimento – Repouso. BeRE—ShITh. A soma teosófica das cifras de BeREShITh conduz ao número 913, que, por adição (9 + 1 + 3), é igual a 13, e que, posteriormente, reduz-se a 4. 13 está associado a MeM, décima terceira letra do alfabeto hebreu, e 4 é o Valor Externo da letra DaLeT. Ambas as letras têm um sentido complementar que envolve os conceitos de maternidade, de fecundidade, de passividade, de abundância, de nutrição e de divisão.

7. Na verdade, como explica o próprio Éliphas, não há fatalidade: tudo o que é deveria ser. Tudo o que acontece deverá acontecer. Nada poderá suceder no Universo que não tenha uma causa-origem, e que, como fim, remate ou conclusão, no espaço e no tempo, não produza um efeito-conseqüência. A admissibilidade da sorte, do azar ou do por acaso são desconhecimentos, o que não significa que o Universo seja constantemente determinístico, ainda que todos os fenômenos da Natureza estejam ligados entre si (interligados) por rígidas relações de causalidade, e que as Leis Universais excluam o acaso e a indeterminação. Todavia, uma Inteligência Preparada, Ilustrada, e Privilegiada, que seja capaz de conhecer o estado presente do Universo, necessariamente estaria apta também a prever o futuro, e, Magikamente, pois tudo é Magia, de certa forma e em um certo sentido, reconstituir ou reconstruir o passado. Isto também não implica que compensações possam ser abolidas ou apagadas, mas, sim, que poderão ser modificadas. O carma, ainda que indelével, como tudo, poderá ser transmutado, por um Triângulo Transmutativo: Amor (Misericórdia) + Arrependimento (Sincero) + Compreensão (Libertadora). Enfim, as fatalidades existem e acontecem porque, de maneira geral, somos incapazes de prevê-las e inaptos para rearranjá-las. Por último, darei um exemplo banal que ilustra tudo isto. Imagine que você está dirigindo por uma estrada qualquer. O carro está em movimento porque seu pé está no acelerador (causa-origem). De repente, à sua frente, aparece um dinossauro-bico-de-pato atravessando a estrada. Só há duas opções: seguir em frente e colidir com o dinossauro ou frear. E assim, todas as causas-origens poderão ser mantidas e seguir seus cursos implacáveis e produzir seus efeitos-conseqüências ou ser modificadas. Tudo depende de nós. Infelizmente, para a imensa maioria dos seres-aí-no-mundo, não é a ShOPhIa que está no comendo, mas, a inscientìa, que vai atropelando de formigas-açucareiras a megalossauros!

8. As Cinqüenta Portas da Inteligência, segundo Kircher e citadas por Gérard Encausse (Papus), dividem-se em seis classes, quais sejam: primeira classe – Princípio dos Elementos (constituída de Dez Portas); segunda classe – Década dos Mistos (constituída de Dez Portas); terceira classe – Década da Natureza Humana (constituída de Dez Portas); quarta classe – Ordens dos Céus, Mundo das Esferas (constituída de Dez Portas); quinta classe – Das Nove Ordens de Anjos, Mundo Angélico (constituída de Nove Portas); e sexta classe – AIN SOPh, Deus Imenso (Classe Exclusiva). Esta é a única Porta que o homem mortal não conheceu e pela qual nenhuma pesquisa do espírito penetrou, bem como, Moisés não conseguiu entrar. Para se ultrapassar esta Porta e conhecer os segredos que Ela esconde, é preciso ressurgir assintoticamente no seio de AIN SOPh. O Zohar trata dos atributos da Divindade (os dez Sephirah, no singular, Sephiroth), dos quatro mundos, do bem e do mal, da alma humana e da salvação. O Apocalipse de São João também é considerado um Livro KaBaLístico, mas, todas as três obras têm por fundamento a Gênese, de Moisés. A língua de Moisés embute sempre, minimamente, três sentidos: material, simbólico e espiritual. Para os KaBaListas, números, medida e peso presidem o Universo, e a criação (manifestação) forma uma Unidade de causas e de efeitos, de tal sorte que cada causa está associada a um número específico. Deve-se também levar em conta que cada letra hebraica é uma potência efetiva, englobando três funções, quais sejam: uma hieroglífica, uma numérica e uma ideativa.

9. Voltar-se em direção ao vento do sul, em direção ao vento que traz a chuva, é, conhecendo, utilizar e fazer funcionar o Verbum Dimissum et Inenarrabile. Mas, utilizar e fazer funcionar o Verbum Dimissum et Inenarrabile é uma responsabilidade desmesurada, notável e extraordinária, que mesmo os que O conhecem são prudentes e cautelosos em usá-Lo, pois, sabem que, se O utilizarem e O fizerem funcionar, passarão, ipso facto, a ser responsáveis pelo seu uso e pelas ações Dele decorrentes.

10. Na verdade, o Universo é e existe harmonizado, ordenado e conciliado. Nós é que, com Ele, ainda não estamos totalmente nem concordados nem congraçados nem unificados, e isto gera desespero, dor e morte. Daí, as sucessivas encarnações, para que possamos, muito devagar, bem devagarinho, ir adquirindo vergonha na carantonha e ir trocando a fronha.

 

 


E dá de reencarnar... Reencarnar... Reencarnar...

 

 

Música de fundo:

The Elders/Sanctuary
Compositor: Miklos Rozsa

Fonte:

http://gosong.net/download/w-K9QT2JATQ/
King_Of_Kings_Original_Soundtrack-04.html

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.usask.ca/childpain/research/safe/

http://www.mssl.ucl.ac.uk/www
_astro/agn/universe.html

http://www.changethethought.com/
category/animated-gifs/

http://charmeddesign1012.blogspot.com.br/2012
/04/featured-wrap-bracelet-charm-tree-of.html

http://www.clker.com/
clipart-dripping-faucet-1.html

http://s483.photobucket.com/

 

 

Direitos autorais:

As animações, as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las, se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei do ar imediatamente.