CHOREI
E OREI PELO NÃO-SER
(Onde
Foram Parar as Cores?)
Rodolfo Domenico
Pizzinga
As
guerras e as revoluções – há sempre uma
ou outra em curso – chegam, na leitura dos seus efeitos, a
causar não horror, mas, tédio. Não é
a crueldade de todos aqueles mortos e feridos, o sacrifício
de todos os que morrem batendo-se, ou são mortos sem que
se batam, que pesa duramente na alma: é a estupidez que sacrifica
vidas e haveres a qualquer coisa inevitavelmente inútil.
Todos os ideais e todas as ambições são um
desvairo de comadres homens. Não há império
que valha que por ele se parta uma boneca de criança. Não
há ideal que mereça o sacrifício de um comboio
de lata. Que império é útil ou que ideal profícuo?
Tudo é Humanidade... Neste mundo, dormimos sobre o lado esquerdo,
e ouvimos nos sonhos a existência opressa do Coração.
Fernando
Pessoa, in: Livro
do Desassossego
O
mal de quem apaga as estrelas é não
se lembrar de que não é com candeias que se ilumina
a vida.
Miguel
Torga, in: Diário (1948)
Eu
apaguei uma estrela.
Tu festejaste a estupidez.
Ele não pescou bulhufas.
Nós só comemos ilusões.
Vós preferis as alabardas.
Eles perduram genuflexos.
Rodolfo
Pizzinga
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Onde foram parar
as cores?
nde foram parar as cores?
Por onde andarão
os amores?
Era acolhedor; agora,
anda frio!
Mudo, deus-pio não
dá um pio!
A alegria
se tornou comoção,
a confiança virou
frustração,
a AIDS embalsamou o amor,
de já hoje benquerer
é rancor!
O
Sistema? Só engordando!
O zé-povo? Só
minguando!
Nossas flores? Plastificadas!1
As más-fés?
Am-pli-fi-ca-das!
Decepa-se
por fictícios uns
– alguns que são
nenhuns.
Oblata-se vindicando dobro;
o conjectural não
tem cobro.
Peta-se
para faturar ilusões,
corrompe-se por uns tostões,
conspira-se para depor
o rei...
Oh!,
Pasárgada – terra-sem-lei!
Em
Pasárgada, há de tudo.
Como deus-pio, o rei é
mudo!
Acredite: lá é
outra civilização.
Lá,
há um processo seguro
para fazer sumir dedo-duro!
Prostitutas? Aos Milhares!
Para orar? Não
há altares!
Então,
um
pintou:
esbarrondou e enjambrou!
Eu vi; mas, nada pude
fazer.
Chorei e orei pelo não-ser!
Meu
Coração, opresso, sangrou!
Minh'alma, ferida, se
convulsou!
O arco-da-aliança
ficou cinzento!
E o morto-vivo ficou amarelento!
E
foi mixando o mânvântâra:
cada qual embalando sua
tara.
—
Por que vivi de forma tão fútil?
— Por que preferi ser tão
desútil?
Simbolicamente...
(Por que minha vida foi fútil?
Por que eu pude ser
tão inútil?)