CHARLES BAUDELAIRE
(Reflexões)

 

 

 

Charles Baudelaire

Charles Baudelaire

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo é uma pequena coletânea de reflexões de Charles Baudelaire – um poeta e teórico da arte francês.

 

 

 

Nota Biográfica

 

 

 

Charles-Pierre Baudelaire (Paris, 9 de abril de 1821 – Paris, 31 de agosto de 1867) foi um poeta e teórico da arte francesa. É considerado um dos precursores do Simbolismo e reconhecido internacionalmente como o fundador da tradição moderna em poesia, juntamente com Walt Whitman, embora tenha se relacionado com diversas escolas artísticas. Sua obra teórica também influenciou profundamente as artes plásticas do século XIX.

 

Baudelaire nasceu em Paris em 9 de abril de 1821. Estudou no Colégio Real de Lyon e Lycée Louis-le-Grand (de onde foi expulso por não querer mostrar um bilhete que lhe foi passado por um colega).

 

Em 1840, foi enviado pelo padrasto, preocupado com sua vida desregrada, à Índia, mas nunca chegou ao destino. Parou na Ilha da Reunião e retornou a Paris. Atingindo a maioridade, ganhou a posse da herança do pai. Por dois anos viveu entre drogas e álcool, na companhia de Jeanne Duval. Em 1844, sua mãe entrou na justiça, acusando-o de pródigo, e, então, sua fortuna passou a ser controlada por um notário.

 

Em 1857, foi lançado As Flores do Mal, contendo 100 poemas. Baudelaire foi acusado, no mesmo ano, pela justiça, de ultrajar a moral pública. Os exemplares foram apreendidos, e Baudelaire pagou 300 francos de multa e a editora 100 francos.

 

Esta censura se deveu a apenas seis poemas do livro. Baudelaire aceitou a sentença e escreveu seis novos poemas, mais belos que os suprimidos, segundo ele.

 

Mesmo depois disto, Baudelaire tentou ingressar na Academia Francesa. Entre os estudiosos, há divergências sobre a principal razão pela qual Baudelaire tentou isto. Uns dizem que foi para se reabilitar aos olhos da mãe (que desta forma lhe daria mais dinheiro), e outros dizem que ele queria se reabilitar com o público em geral, que via suas obras com maus olhos em função das duras críticas que ele recebia da burguesia.

 

Baudelaire morreu prematuramente sem sequer conhecer a fama, em 1867, em Paris, e seu corpo está sepultado no Cemitério do Montparnasse, em Paris.

 

 

 

Reflexões Baudelairianas

 

 

 

A admiração começa onde acaba a compreensão.1

 

A música perfura o céu.

 

Teus olhos são lassos, amante!
Olhos em sono a se perder,
Nesta posição tão distante
Pode surpreender-te o prazer.
E, pelo pátio, o jorro de água
Não cala nunca o seu rumor,
E entretém a extasiada mágoa
Em que pode me atirar o amor.

Mas o amor irradia!
E é o de flores,
E de Febo, a alegria.
Enche-o de cores.
E, tal chuva, desfia
Imensas dores.

 

O amor é um crime que não se pode realizar sem cúmplice.2

 

Aos olhos da saudade – ah! como é pequeno o mundo!

 

É preciso estar sempre embriagado. Eis aí tudo: é a única questão. Para não sentirdes o horrível fardo do tempo, que rompe os vossos ombros e vos inclina para o chão, é preciso embriagar-vos sem trégua. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa maneira. Mas embriagai-vos. E se, alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre a grama verde de um precipício, na solidão morna do vosso quarto, vós acordardes, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que foge, a tudo que geme, a tudo que anda, a tudo que canta, a tudo que fala, perguntai que horas são. E o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio, responder-vos-ão: 'É hora de embriagar-vos!' Para não serdes os escravos martirizados do tempo, embriagai-vos. Embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa maneira!

 

Quando o cinzento céu, como pesada tampa,
Carrega sobre nós e nossa alma atormenta,
E a sua fria cor sobre a Terra se estampa,
O dia transformado em noite pardacenta;

Quando se muda a Terra em úmida enxovia
De onde a Esperança, qual morcego espavorido,
Foge, roçando ao muro a sua asa sombria,
Com a cabeça a dar no teto apodrecido;

Quando a chuva, caindo a cântaros, parece
De uma prisão enorme os sinistros varões,
E em nossa mente em febre a aranha fia e tece,
Com paciente labor, fantásticas visões,

Ouve-se o bimbalhar dos sinos retumbantes,
Lançando para os céus um brado furibundo,
Como os doridos ais de espíritos errantes
Que a chorar e a carpir se arrastam pelo mundo.

Soturnos funerais deslizam tristemente
Em minh'alma sombria. A sucumbida esperança,
Lamenta-se, chorando; e a Angústia, cruelmente,
Seu negro pavilhão sobre os meus ombros lança!

 

Um mar de neblina banhava os edifícios e os agonizantes no fundo dos hospitais.3

 

O poeta é como o príncipe das nuvens. As suas asas de gigante não o deixam caminhar.

 

Arte pura é criar uma mágica sugestiva, contendo a um só tempo o objeto e o sujeito, o mundo exterior ao artista e o próprio artista.

 

Se o veneno, a paixão, o estupro, a punhalada
Não bordaram ainda com desenhos finos
A trama vã de nossos míseros destinos,
É que nossa alma arriscou pouco ou quase nada.

 

Manejar sabiamente uma língua é praticar uma espécie de feitiçaria evocatória.

 

Homem livre; tu sempre gostarás do mar.

 

Só nos esquecemos do tempo quando o utilizamos.4

 

O homem que só bebe água tem algum segredo que pretende ocultar dos seus semelhantes.

 

A nossa alma é um ''três mastros'' em busca do seu Ícaro.

 

Não podendo suportar o amor, a Igreja quis ao menos desinfetá-lo. E, então, fez o casamento.

 

Apenas é igual a outro quem prova sê-lo, e apenas é digno da liberdade quem a sabe conquistar.

 

Como foi a imaginação que criou o mundo, ela o governa.

 

Odeio o movimento que desloca as linhas.5

 

 

Eu, realmente, não consigo entender.
O que há de odioso nesta animação?
Pictorialmente, simboliza nossa vida.

 

Há que trabalhar, ainda que não seja por gosto, ao menos por desespero, uma vez que, bem vistas as coisas, trabalhar é menos aborrecido do que nos divertirmos.

 

Quanto mais se quer, melhor se quer.6

 

A imaginação é positivamente aparentada com o infinito.7

 

A imaginação é a rainha do real, e o possível é uma das províncias do real.

 

Todos os grandes poetas se tornam natural e fatalmente críticos.

 

Quem não souber povoar a sua solidão também não conseguirá se isolar entre as pessoas.

 

Amar as mulheres inteligentes é um prazer de pederasta.8

 

Deus é o único ser que, para reinar, nem precisa existir.

 

Existem, em todo o homem, a todo o momento, duas postulações simultâneas: uma a Deus, outra a Satanás. A invocação a Deus, ou espiritualidade, é um desejo de se elevar; aquela a Satanás, ou animalidade, é uma alegria de se precipitar no abismo.

 

Todo homem saudável consegue ficar dois dias sem comer. Sem a poesia, jamais!

 

A gramática, a mesma árida gramática, transforma-se em algo parecido a uma feitiçaria evocatória; as palavras ressuscitam revestidas de carne e osso, o substantivo, em sua majestade substancial, o adjetivo, roupa transparente que o veste e dá cor como um verniz, e o verbo, anjo do movimento que dá impulso à frase.

 

A felicidade é composta de pequenos prazeres.

 

O comércio, na sua essência, é satânico.

 

Para o comerciante, até a honestidade é uma especulação financeira.

 

O trabalho não é o sal que conserva as almas mumificadas?

 

O que há de mais absurdo do que o progresso, já que o homem, como está provado pelos fatos de todos os dias, é sempre igual e semelhante ao homem, isto é, sempre em estado selvagem.

 

A fatalidade possui uma certa elasticidade a que é costume se chamar de liberdade humana.

 

Liberdade e fatalidade são contrárias uma à outra; vistas de perto e de longe, são uma só vontade.

 

O belo é sempre raro.

 

 

 

Na declaração dos direitos do homem, esqueceram de incluir o direito a se contradizer.

 

A vida é um hospital onde cada doente está possuído pelo desejo de mudar de cama.

 

Para conhecer a felicidade é preciso ter a coragem de a engolir.

 

O poeta goza deste privilégio incomparável: pode, a seu capricho, ser ele mesmo ou ser outro.

 

Relativamente ao gênio, o público é um relógio que se atrasa.

 

O que é o amor?
A necessidade de sair de si.
O homem é um animal adorador.
Adorar é se sacrificar e se prostituir.
Assim, todo amor é prostituição.

 

Tu que, como uma punhalada,
Invadiste meu coração triste,
Tu que, forte como manada
De demônios, louca surgiste,

Para no espírito humilhado
Encontrar o leito ao ascendente,
Infame a que eu estou atado
Tal como o forçado à corrente,

Como a seu jogo o jogador,
Como à garrafa o beberrão,
Como aos vermes a podridão
– Maldita sejas, como for!

Implorei ao punhal veloz
Dar-me a liberdade, um dia.
Disse, após, ao veneno atroz
Que me amparasse a covardia.

Mas não! O veneno e o punhal
Disseram-me de ar zombeteiro:
"Ninguém te livrará afinal
De teu maldito cativeiro.

Ah!, imbecilde o teu retiro!
Se te livrássemos um dia,
Teu beijo ressuscitaria
O cadáver de teu vampiro!"

 

Existem manhãs em que abrimos a janela, e temos a impressão de que o dia está nos esperando.

 

Como os finais de tarde outonais são penetrantes! Ah! Penetrantes até a dor!

 

Que demônio benévolo é esse que me deixou assim envolto em mistério, em silêncio, em paz e em perfumes?

 

Sim, o tempo reina; ele retomou sua brutal ditadura. E está me empurrando, como se eu fosse um boi, com seu duplo aguilhão: "Vai, anda, burrico! Vai, sua, escravo! Vai, vive, maldito".

 

Minha alma me parecia tão vasta e pura quanto a cúpula do céu que me envolvia!

 

Há uma terra que se parece contigo, onde tudo é belo, rico, tranqüilo e honesto, onde a fantasia ergueu e decorou uma China ocidental, onde a vida é doce de respirar, onde a felicidade se une ao silêncio. É lá que devemos ir viver, é lá que devemos ir morrer!

 

Toda pessoa traz em si uma dose de ópio natural incessantemente secretada e renovada.

 

Esses tesouros, esses móveis, esse luxo, essa ordem, esses perfumes, essas flores miraculosas és tu. Ainda és tu, esses grandes rios e canais tranqüilos. Os enormes navios que eles levam, todos carregados de riquezas e de onde sobem os cantos monótonos da manobra, são meus pensamentos que dormem ou se resolvem no teu peito. Suavemente, tu os conduzes para o mar, que é o infinito, espelhando as profundezas do céu na limpidez da tua bela alma; e quando, cansados do marulho e abarrotados de produtos do Oriente, eles regressam ao porto natal, são de novo meus pensamentos enriquecidos que voltam do infinito a ti.

 

Quero representar uma diversão inocente. Há poucos divertimentos que não sejam culpáveis!

 

Sou apaixonado pelo mistério, porque sempre tenho a esperança de desvendá-lo.

 

Parece-me que sempre estaria bem lá onde não estou. E essa questão de mudança é uma das que não cesso de discutir com minha alma.

 

 

 

Tenho as recordações de um velho milenário!

Um grande contador, um prodigioso armário,
Cheiinho, a abarrotar, de cartas memoriais,
Bilhetinhos de amor, recibos, madrigais,
Mais segredos não tem do que eu na mente abrigo.
Meu cérebro faz lembrar descomunal jazigo;
Nem a vala comum encerra tanto morto!

— Eu sou um cemitério estranho, sem conforto,
Onde vermes aos mil – remorsos doloridos –
Atacam de preferência os meus mortos queridos.
Eu sou um toucador, com rosas desbotadas,
Onde jazem no chão as modas desprezadas,
E onde, sós, tristemente, os quadros de Boucher
Fluem o doce olor de um frasco de Gellé.

Nada pode igualar os dias tormentosos
Em que, sob a pressão de invernos rigorosos,
O tédio, fruto infeliz da incuriosidade,
Alcança as proporções da imortalidade.

Desde hoje, não és mais, ó matéria vivente,
Do que granito envolto em terror inconsciente.
A emergir de um Saara movediço, brumoso!
Velha esfinge que dorme um sono misterioso,
Esquecida, ignorada, e cuja face fria
Só brilha quando o Sol dá a boa-noite ao dia!

 

Aspiro a um repouso absoluto e a uma noite contínua. Poeta das loucas voluptuosidades do vinho e do ópio, não tenho outra sede a não ser a de um licor desconhecido na Terra, e que nem mesmo a farmacopéia celeste poderia me proporcionar. Um licor que não é feito nem de vitalidade, nem de morte, nem de excitação, nem de nada. Nada saber, nada ensinar, nada querer, nada sentir, dormir e sempre dormir, tal é atualmente a minha única aspiração. Aspiração infame e desanimadora, porém, sincera.

 

É impossível percorrer uma qualquer gazeta, seja de que dia for, ou de que mês, ou de que ano, sem aí encontrar, em cada linha, os sinais da perversidade humana mais espantosa, ao mesmo tempo em que as presunções mais surpreendentes de probidade, de bondade, de caridade e as afirmações mais descaradas relativas ao progresso e à civilização. Qualquer jornal, da primeira linha à última, não passa de um tecido de horrores. Guerras, crimes, roubos, impudicícias, torturas, crimes dos príncipes, crimes das nações, crimes dos particulares, uma embriaguez de atrocidade universal. E é com este repugnante aperitivo que o homem civilizado acompanha a sua refeição de todas as manhãs. Tudo, neste mundo, transpira o crime: o jornal, a muralha e o rosto do homem. Não compreendo que uma mão pura possa tocar em um jornal sem uma convulsão de asco.

 

 

 

 

Há loucuras matemáticas e loucos que pensam que dois e dois são três? Noutros termos, a alucinação pode, se estas palavras não uivam [serem acasaladas juntas], invadir as coisas de puro raciocínio? Se, quando um homem adquire o hábito da preguiça, do devaneio, da mandriice, ao ponto de deixar incessantemente para o dia seguinte as coisas importantes, um outro homem o acorda uma manhã com grandes chicotadas e o chicoteia sem piedade até que, não podendo trabalhar por prazer, trabalha por medo, este homem –o chicoteador não seria realmente amigo dele, seu benfeitor? Aliás, pode se afirmar que o prazer chegaria depois, com muito mais justo título do que se diz: o amor chega depois do casamento. Do mesmo modo, em política, o verdadeiro santo é aquele que chicoteia e mata o povo, para bem do povo.9

 

Em cada minuto somos esmagados pela idéia e pela sensação do tempo. E apenas existem dois meios para escapar a tal pesadelo, para esquecê-lo: o prazer e o trabalho. O prazer gasta-nos. O trabalho fortifica-nos. Escolhamos. Quanto mais nos servimos de um destes meios, mais o outro nos inspira repugnância.

 

As nações apenas possuem grandes homens sem a sua intervenção, como as famílias. Fazem todos os esforços para não tê-los. E, assim, o grande homem precisa, para existir, de possuir uma força de agressão maior do que a força de resistência desenvolvida por milhões de indivíduos.

 

Um pouco de trabalho, repetido trezentas e sessenta e cinco vezes, dá trezentas e sessenta e cinco vezes um pouco de dinheiro, isto é, uma soma enorme. Ao mesmo tempo, a glória está feita. Do mesmo modo, uma porção de pequenos gozos compoe a felicidade. Criar uma banalidade, é o gênio. Devo criar uma banalidade.

 

O mundo só caminha através do mal-entendido. É através do mal-entendido universal que toda a gente se põe de acordo. Porque se, por infelicidade, as pessoas se compreendessem, nunca poderiam se pôr de acordo. O homem de espírito, aquele que nunca se porá de acordo com ninguém, deve se aplicar em amar a conversa dos imbecis e a leitura dos maus livros. Extrairá funções amargas que lhe compensarão largamente a fadiga.

 

«As ilusões», dizia-me o meu amigo, «talvez sejam em tão grande número quanto as relações dos homens entre si ou entre os homens e as coisas. E, quando a ilusão desaparece, ou seja, quando vemos o ser ou o fato tal como existe fora de nós, experimentamos um sentimento bizarro, metade dele complicada pela lástima da fantasia desaparecida, metade pela surpresa agradável diante da novidade, diante do fato real».

 

Eu mal posso conceber um tipo de beleza em que não haja melancolia.10

 

Um livro é um jardim, um pomar, um armazém, uma festa, uma empresa, a propósito, um conselheiro, um grande número de conselheiros.

 

O senso comum nos ensina que as coisas da Terra existem apenas um pouco, e que a verdadeira realidade está apenas nos sonhos.

 

Tudo o que é belo e nobre é o produto da razão e do cálculo.

 

 

 

 

Sempre ser um poeta, mesmo em prosa.

 

Seria difícil, para mim, não concluir que o tipo mais perfeito de beleza masculina é Satanás, como retratado por Milton.11

 

Existem apenas três seres dignos de respeito: o padre, o soldado, o poeta. Para saber, para matar, para criar.

 

O mal é cometido sem esforço, naturalmente, fatalmente. Já a bondade é sempre o produto de alguma arte.

 

Brilho... E a noite depois! Fugitiva beldade
De um olhar que me fez nascer segunda vez.
Não mais te hei de rever, senão na eternidade?

 

Eu tenho tantas lembranças como se eu tivesse mil anos de idade.12

 

Os homens e as mulheres sabem, desde o nascimento, que o mal se encontra em todo prazer sensual.

 

Eu tenho cultivado minha histeria com prazer e terror.

 

O que é a arte? Prostituição.

 

Relembrar é apenas uma forma de sofrimento.

 

Para a arte, uma paixão frenética é um cancro que devora tudo o resto.

 

Há momentos, na existência, em que o tempo e o espaço são mais profundos, e a consciência da existência é imensamente aumentada.

 

A Natureza nada mais é do que a voz interior de auto-interesse.

 

Nada poderá ser feito, se não for pouco a pouco.

 

A dança pode revelar todo o mistério que está oculto na música, e tem o mérito adicional de ser humana e palpável. A dança é poesia com braços e pernas.

 

 

 

 

Qualquer um que não aceite as condições da vida vende sua alma.

 

Como uma criança pequena, eu senti, no meu Coração, dois sentimentos contraditórios: o horror à vida e o êxtase da vida.

 

Um dândi nunca poderá ser um homem vulgar.

 

Mesmo nos séculos mais monstruosos e insensatos, o apetite imortal pela beleza sempre encontrou satisfação.

 

Talvez fosse bom ser alternadamente a vítima e o carrasco.

 

A modernidade é o transitório, o efêmero e o contingente. A modernidade é a metade da arte, sendo a outra metade o eterno e o imutável.

 

 

 

 

A Natureza é um templo em que as colunas da vida, por vezes, proferem palavras confusas. Mas, lentamente, através de florestas de símbolos, o homem vai se aproximando, e aprende a observá-la com olhares familiares.

 

Duas qualidades literárias fundamentais: sobrenaturalismo e ironia.

 

Quem se atreveria a atribuir à arte a função estéril de imitar a Natureza?

 

Qualquer um, desde que saiba ser divertido, tem o direito de falar de si mesmo.

 

Mesmo que se conseguisse provar que Deus não existe, a religião ainda seria santa e divina.

 

Para mim, tudo se torna alegoria.

 

Para cada carta recebida de um credor, se você escrever cinqüenta linhas sobre um assunto extraterrestre, você será salvo.

 

 

 

 

Considero inútil e tedioso representar o que existe, porque nada do que existe me satisfaz. A Natureza é feia,13 e eu prefiro os monstros da minha fantasia, que são positivamente triviais.

 

Se o poeta se deixar possuir por uma moral objetiva, ele diminuirá sua força poética.

 

A crítica nasceu desde o ventre de arte.

 

Tanto na Literatura como na Ética, assim como na glória, não há perigo em ser sutil. A aristocracia nos isola.

 

Precisamos ter cuidado com pessoas comuns, de bom senso, sentimentais, inspiradas e óbvias.

 

Quase toda a nossa originalidade vem do selo que o tempo imprime sobre nossa sensibilidade.

 

Progresso Grande heresia da decadência.14

 

 

 

 

A vida é rica em assuntos poéticos e maravilhosos. Nós estamos envolvidos e mergulhados em uma atmosfera de maravilhas, mas, geralmente, não percebemos isto.

 

Quem ama a vida faz do mundo inteiro sua família, assim como o amante do belo sexo considera bonitas todas as mulheres que encontrou, as que poderão vir a ser ser encontradas e as que são impossíveis de ser encontradas.

 

Um padre é um ser imenso, porque ele consegue fazer com que a multidão acredite em coisas espantosas.

 

Existem tantos tipos de beleza como há diversas maneiras de se buscar a felicidade.

 

Prazer nos consome. Trabalho nos fortalece. Temos que escolher.

 

Se você vem do céu ou do inferno, o que importa, ó Beleza!

 

 

 

 

 

Pitaquinho Inocente

 

 

 

Eu queria tanto dar um pitaco,

que do Baudê subtraí um naco.

Como um padre é um ser imenso,

 

Necessitamos já parar de ouvir,

para, lá dentro, podermos sentir.

Persistindo o complexo de manada,

como a Estrada será encontrada?

 

Temos de separar o joio do trigo,

Em nós, há tudo que precisamos.

Chega de pregadores e de amos!

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Eu penso que seja exatamente o contrário, isto é: a admiração começa quando tem início a compreensão. Não é possível haver admiração verdadeira sem que haja afinidade moral/espiritual compreensiva. Admirar sem compreender é fideísmo esmagador.

2. Se o amor é um crime que não se pode realizar sem cúmplice, o Amor Impessoal não precisa de qualquer cúmplice.

3. O Universo foi, é e será, apesar dos vivos e dos mortos.

4. Não há inutilidade maior do que não fazer nada.

5. Sobre a imaginação, Albert Einstein (1879 – 1955) disse uma frase lapidar: A imaginação é mais importante do que o conhecimento.

6. Depende do querer. Há coisas que, quanto mais sequer, pior se quer. Seja como for, de maneira geral, o querer é uma ilusão.

7. Para se admitir esta frase como verdadeira, é preciso mudar uma coisinha. Se mudarmos esta coisinha, ficará assim: A imaginação é positivamente aparentada com o ilimitado. Para Platão (428? – 347? a.C.), o potencial de extensão era considerado limitado, finito; podia ser adjetivado de peiron (limitado, claramente determinado). O conceito de infinito propriamente dito era algo irracional, impensável, sem sentido. Aristóteles (384 – 322 a.C.), discípulo de Platão, cuja doutrina marcou muitos pensadores da História, como, particularmente, Tomás de Aquino (1225 – 1274), também recusou a existência do infinito como algo real ou pensável. Em boa parte, isto se deveu aos paradoxos que o conceito de infinito encerra, como mostrou Zenão de Eléia (cerca de 490/485 a.C.? – 430 a.C.?), que levavam a concluir o infinito como um conceito negativo, irracional e não pensável.

 

 

Infinito

 

 

8. Ué! Agora fiquei meio embatucado. Primeiro, que a palavra pederasta não se usa mais. Aliás, esta palavra nunca deveria ter existido, pois conota preconceito, e, de repente, poderá até ser confundida com pediatra. Segundo... Porra! Agora boiei mesmo. O que tem a ver aquela palavra que não se usa mais e que nunca deveria ter existido com as mulheres? Sei lá. Acho que monsieur Baudê, quando rabiscunhou isto, estava mais do que bêbado; estava mesmo trêbado. Quis fazer uma gracinha, mas, sifu em bleublancrouge!

9. Acho que não é nada disto; monsieur Baudê continua trêbado. Eu, pessoalmente, detesto receber ou dar chicotadas. Na verdade, dar, não dou; e quando alguém tenta me dar uma porretada, fico muito puto da vida. E penso que ninguém se torne melhor apanhando. Tudo vai de saliva e de diálogo. O que adiantou ou tem adiantado toda a tirania que que se viu e que se vê mundo afora?

10. Ora, beleza é harmonia; melancolia é doença. Beleza não casa com melancolia. Monsieur Baudê está melhorando, mas, continua meio trêbado.

11. Aqui, monsieur Baudê teve uma baita recaída!

12. Nossas lembranças são a soma de dois fatores: as lembranças propriamente ditas e as relembranças.

13. Monsieur Baudê foi o único cara que conheci que teve o atrevimento de dizer que a Natureza é feia. Feio é o cacete.

14. O progresso não é herético nem é decadente. O que acontece é que, com o progresso, naturalmente, emergem alguns filhotes indesejáveis e degenerados. E é exatamente para que a degeneração não destrua inteiramente o que progrediu, normalmente, um ciclo de atividade é seguido por um ciclo de dormência ou de inatividade. Sem esta quietude necessária tudo estaria perdido. A coisa toda é, mais ou menos, com o que acontece conosco: se não dormirmos, pifaremos.

 

 

 

 

14. Contra-senso, bem entendido, em tudo aquilo que consista e se traduza em fideísmo teológico obsoleto e nas diversas coisas que daí derivam, como, por exemplo, celibato obrigatório, intolerância contra os homossexuais, veiculação esdrúxula da existência de um céu e de um inferno para sempre, inaceitabilidade da camisinha, infalibilidade papal em questões de fé e de moral etc. Ou a Igreja Católica dá rapidinho uma guinada em sua ortodoxia medieval ou, daqui a pouco, vai acabar tendo que pedir emprestado fiéis a outras religiões, tantos são os descontentamentos e tantas são as frustrações dos católicos em geral.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://download.amplific.org/download/fnf001/

http://www.crazywebsite.com

http://www.brainyquote.com/quotes/
authors/c/charles_baudelaire_4.html

http://www.brainyquote.com/quotes/
authors/c/charles_baudelaire_3.html

http://mi9.com/wallpaper/
a-single-red-rose_15870/

http://beta.photobucket.com/images/
ally+mcbeal+dancing+baby/

http://www.brainyquote.com/quotes/
authors/c/charles_baudelaire_2.html

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http://www.tumblr.com/tagged/art%20gif

http://www.dreamstime.com/royalty-free-stock-image
-cartoon-portrait-happy-man-image17855666

http://pepecasals.wordpress.com/
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http://www.citador.pt/textos/
a/charles-baudelaire

http://www.citador.pt/poemas/
a/charles-baudelaire

http://societeperrier.com/articles/davidope-
creates-a-loop-life-with-his-animated-gifs/

http://pensador.uol.com.br/autor/
charles_baudelaire/3/

http://pensador.uol.com.br/autor/
charles_baudelaire/2/

http://www.kqed.org/arts/movies/
article.jsp?essid=104606

http://www.prof-edigleyalexandre.com/
2012/06/um-gif-infinito.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Infinito

http://www.citador.pt/frases/
citacoes/a/charles-baudelaire/30

http://www.citador.pt/frases/
citacoes/a/charles-baudelaire/20

http://www.citador.pt/frases/
citacoes/a/charles-baudelaire/10

http://www.citador.pt/frases/
citacoes/a/charles-baudelaire

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Charles_Baudelaire

http://pt.wikiquote.org/wiki/
Charles_Baudelaire

 

Música de fundo:

Ma Vie
Composição e interpretação: Alain Barrière

Fonte:

http://www.4shared.com/

 

Direitos autorais:

As animações, as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las, se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei do ar imediatamente.